segunda-feira, 26 de abril de 2010

Venezuela/"ENCONTRO SINDICAL NOSSA AMÉRICA TERÁ CARÁTER MAIS AMPLO"

25 abril 2010/Vermelho http://www.vermelho.org.br

A 3ª edição do Encontro Sindical Nossa América (ESNA) será realizada entre os dias 22 e 24 de julho, em Caracas (Venezuela), e deve contar com a participação de muito mais entidades e organizações do que aquelas que a precederam. Para João Batista Lemos, secretário adjunto de Relações Internacionais da CTB, essa abertura do evento é importante para o continente, pois as batalhas políticas que estão por vir exigem esforço concentrado de todos os movimentos progressistas da região.

Batista tem viagem marcada para Caracas para esta segunda-feira (26), onde se encontrará com os outros membros do Grupo de Trabalho que organiza os preparativos para a terceira edição do ESNA. Nos dias 28 e 29 de abril, cerca de 60 lideranças sindicais de todo o continente devem participar de um seminário da capital venezuelana, com vistas ao grande Encontro marcado para julho.

Em entrevista ao Portal CTB, Batista contou um pouco dos objetivos desta viagem preparatória, explicou como se dará esse caráter mais amplo do ESNA e analisou o cenário político do continente, com destaque para as eleições que estão por vir. Confira abaixo:

CTB: Você embarca para Caracas nesta segunda-feira com quais perspectivas?

Batista:
Viajamos com uma perspectiva muito boa para esse encontro, que será uma reunião de preparação para a terceira edição do ESNA. Devemos reunir toda a coordenação, com dirigentes sindicais de 16 organizações do continente, tendo aí também gente dos Estados Unidos, do México, da América Central, do Caribe e aqui da América do Sul, para que preparemos o temário do terceiro encontro, que se dará em torno de um balanço mais político do que ocorreu em nosso continente desde o segundo encontro, realizado em setembro do ano passado.

Permanece um avanço muito grande das forças progressistas e populares na região, como por exemplo com a vitória presidencial de Pepe Mujica, no Uruguai, mas há também uma ofensiva muito forte da direita, como no Chile, e o fortalecimento dos paramilitares na Colômbia. Isso mostra que a direita retomou sua iniciativa política. Por isso é que vamos discutir sobretudo a questão da integração do continente. As organizações envolvidas no ESNA têm consciência de que não há saída para os projetos de desenvolvimento nacionais sem um caráter integrador. Vamos debater como nos integrar ainda mais e como garantir na Unasul os interesses da classe trabalhadora da região.

CTB: O fato de a terceira edição do ESNA acontecer na Venezuela é algo simbólico dentro desse atual momento político?

Batista:
Sim, sem dúvida. Lá existem duas centrais sindicais que são fruto do processo revolucionário bolivariano (Central Socialista de Trabalhadores e União Nacional de Trabalhadores). Na Venezuela, em setembro, haverá eleições legislativas. Na eleição passada, a direita não lançou candidatos, ao contrário do que vai ocorrer agora. Isso mostra que ela vem se articulando no próprio país também. Essa organização dos trabalhadores venezuelanos mostra os resultados da revolução e é claro que também vamos tentar aprender um pouco com eles.

A luta dos trabalhadores tem que ser feita com a perspectiva do poder. E essa experiência na Venezuela, portanto, pode ser muito rica, interessante. Além disso, os trabalhadores de todo o continente vão levar sua solidariedade ao governo daquele país. Creio que poderemos dar um salto muito grande nesse terceiro encontro, pois ele será muito mais representativo que o segundo. Aqui em São Paulo, reunimos organizações de 24 países da América.

Agora, certamente virão mais. A CUT-Colômbia, por exemplo, já soltou uma nota oficial de que irão participar, assim como a CUT-Chile — ambas vão acompanhar os trabalhos como entidades participantes do ESNA. Isso mostra que o encontro é uma proposta justa e um grande espaço para a discussão dos assuntos dos trabalhadores do continente. E é certo também que vamos ampliar mais: movimentos sociais também deverão prestigiar o ESNA, como o MST, por exemplo, que inclusive já vai mandar três representantes agora para o encontro preparatório.

CTB: Como essa preparação vem sendo amarrada com as forças políticas da região e da Venezuela, mais especificamente?

Batista:
Isso é algo que vem sendo conduzido de forma muito boa para nós, pois o ministro venezuelano Nicolas Maduro (Relações Exteriores) é alguém que tem clara consciência do papel da classe trabalhadora para o desenvolvimento do continente. Ele vem nos dando total apoio, assim como a ministra Maria Cristina (Trabalho), que também foi do movimento de trabalhadores, militou no setor de educação. Esse apoio vem sendo fundamental para garantir a representatividade do 3º ESNA.

CTB: De que forma vem sendo trabalhado esse relacionamento com os governos, pensando na necessidade de os trabalhadores manterem certa posição crítica e seguirem lutando com independência por suas reivindicações?

Batista:
Isso é importante, pois defendemos a autonomia dos movimentos sociais e de trabalhadores em relação aos partidos, aos governos e aos patrões. Mas, para nós, essa autonomia não significa neutralidade. Nesses processos nós temos lado —sempre estaremos junto da classe trabalhadora, das transformações sociais e de governos que se identificam com as aspirações dos trabalhadores.

Vamos ter eleições no final do ano no Brasil e temos que ter o apoio dos trabalhadores de todo o continente para que o ciclo de mudanças iniciado por Lula em 2003 não passe por um retrocesso. O mesmo vale para a Venezuela, com suas eleições legislativas, para que o PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela) mantenha maioria no Congresso.

A nossa luta passa necessariamente pela política. Não há integração soberana e solidária sem governos progressistas. Só foi possível derrotar a Alca (Área de Livre Comércio das Américas) devido à ação e ao respaldo dos governos democráticos e progressistas, com o apoio dos movimentos sociais.

CTB: Dentro desse cenário político internacional, como a CTB vem se posicionando?

Batista
: A CTB tem acertado muito, tanto no ponto de vista das propostas aqui no Brasil como no continente. Ela é movida pelos interesses e aspirações da classe trabalhadora. Nada mais do que isso. Por isso é que, para a classe trabalhadora jogar um papel protagonista tanto em papel nacional quanto internacional, a unidade de ação das centrais é fundamental. A classe dividida tem menos força, mas quando há união em nosso país e em nosso continente, ela tem a capacidade de mover muita coisa. (Fonte: Portal CTB)

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