27 abril 2010/Vermelho http://www.vermelho.org.br
Eron Bezerra *
O XV Festribal reuniu por uma semana, em São Gabriel da Cachoeira, as 22 etnias “indígenas” que habitam o alto rio negro. Mais de 5 mil pessoas acompanharam com redobrada atenção um desfile da genuína manifestação cultural daquela que é, sem dúvidas, a maior festa indígena do país.
Participei do evento, juntamente com a Deputada Vanessa Grazziotin, a convite das lideranças indígenas da região, de vários vereadores aliados e do prefeito Pedro Garcia, índio Tariano.
O município de São Gabriel da Cachoeira tem aproximadamente 32 mil habitantes, dos quais 85% são indígenas. O município tem como língua oficial o português e mais três línguas co-oficiais – Nheengatu, Tukano e Baniwa – por força da lei 145/2002, aprovada pela Câmara de
Vereadores do município.
Na prática essas são as línguas utilizadas pela maioria da população daquela região na comunicação cotidiana. O Nheengatu, por exemplo, é uma espécie de língua geral da Amazônia. Pertence a subfamília tupi-guarani e é falada por mais de 30 mil pessoas, apenas no alto rio negro.
A particularidade do Festribal, aquilo que lhe torna peculiar, não é apenas a magnitude do evento. Sua singularidade reside no fato de que o espetáculo não é uma encenação da cultura indígena e sim uma demonstração ao vivo dessa rica e desconhecida cultura, lamentavelmente desconhecida pela maioria do povo brasileiro.
A disputa central, por uma questão organizativa, ficou restrita a Tukanos e Barés, que procuraram traduzir a cultura de várias outras etnias, como Arapasso, Baniwa, Dessana, Maku, Siriano, Tariana, Yanomami, etc.
Esse aparente caldeirão cultural, todavia, vive em harmonia. E a razão dessa harmonia tem causas objetivas, dentre as quais se pode destacar: demarcação das terras indígenas; respeito às suas manifestações culturais e integração plena do ponto de vista profissional e político dessas etnias.
Essa integração também pode ser mensurada em atos concretos. A maioria dos soldados do exército brasileiro que servem naquela região pertence a alguma dessas etnias. Gestores de órgãos públicos como FUNAI, professores, radialistas e dezenas de outros profissionais igualmente são índios. Sem mencionar que boa parte dos Vereadores e o próprio prefeito são de alguma etnia típica daquela região. Creio que o alto rio negro é um bom laboratório para quem honestamente quer compreender a nem sempre pacifica convivência entre povos e etnias nesse imenso Brasil.
* Eron Bezerra -- Engenheiro Agrônomo, Professor da UFAM, Deputado Estadual Licenciado, Secretário de Agricultura do Estado do Amazonas, Membro do CC do PCdoB.
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