7 abril 2010/(ADITAL) Agência de Informação Frei Tito para a América Latina
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Ante o intenso avanço militar estadunidense na Colômbia - com o controle de sete bases militares - organizações sociais e personalidades democráticas do país decidiram agir e fundar a "Coalizão Colômbia Não Bases". O movimento já tem a adesão de mais de 150 organizações colombianas que não aceitam a presença de tropas estrangeiras controlando a Colômbia.
Amanhã (8), durante ato público na capital Bogotá que será realizado para oficializar a atuação da Coalizão, um documento contendo a assinatura de todos os que são contrários ao controle militar estadunidense será divulgado para fortalecer a luta pela soberania colombiana. Estarão presentes organizações sociais, dirigentes políticos e convidados internacionais que apoiam a causa da "Coalición Colombia No Bases".
Para falar sobre a iniciativa e suas ações prioritárias a ADITAL conversou com Enrique Daza, que é membro do comitê propulsor da Coalizão Colômbia Não Bases, diretor do Centro de Estudos do Trabalho e porta-voz da Rede Colombiana de Ação Frente ao Livre Comércio (Recalca).
A apresentação da Coalizão acontecerá na Universidade Autônoma da Colômbia, às 18h30. Mais informações sobre a programação do ato de lançamento da Coalizão no site: www.colombianobases.org ou por meio do endereço eletrônico colombianobases@gmail.com.
Adital - Como foi a articulação para reunir mais de 150 organizações contra um tema tão urgente como é a implementação de bases estadunidenses na Colômbia?
Enrique Daza - É um processo que começou inclusive antes de se assinar o Acordo, em 30 de outubro de 2009. Porque o governo, por meio do então Ministro de Defesa e hoje candidato à presidência, Juan Manuel Santos, sempre negou que a Colômbia fosse receber a base de Manta. Mas meses antes da assinatura do acordo um meio de comunicação, a revista Cambio, deu detalhes concretos sobre o Acordo que o governo nunca desmentiu. A partir desse momento iniciamos um trabalho de denúncia, inclusive com um debate no Congresso da República, em que se pôs em evidência que o Acordo era para entregar o controle de, pelo menos, sete bases militares colombianas ao exército estadunidense. E assim foi: quando se conheceu o acordo, depois de assinado, se revelou que o exército estadunidense poderia fazer uso dessas sete bases e "as que sejam necessárias", segundo indica o mesmo documento.
Vimos então a necessidade de formar uma Coalizão, a mais ampla possível, de setores democráticos, de caráter pacífico, de resistência civil, para defender a soberania. É que não existe uma agressão maior à soberania de um país que permitir que tropas estrangeiras atuem sem controle dentro de seu território. Essa é a maior claudicação que se pode conceber, e no caso colombiano nem sequer foi produto de uma derrota militar. Não, o próprio governo a assinou!
Começamos a reunir as organizações sociais mais importantes e decidimos realizar um pronunciamento que nos permitisse falar com outras organizações e personalidades. Uma vez reunimos as assinaturas, propusemos organizar um evento público em que se lançasse a declaração e se conformasse a Coalizão Colômbia Não Bases. Todo este processo se realizou no marco da Grande Coalizão Democrática, que é um espaço de articulação das lutas sociais na Colômbia, que pertencem as quatro centrais sindicais do país, os partidos políticos de oposição e o grosso do movimento social.
Adital - O tema gerou muita polêmica em toda a América Latina. Você acredita que a repercussão terá resultados positivos e receberá mais adesões da sociedade?
Enrique Daza - Quando se instalou a base estadunidense em Manta, em 1999, a maioria dos equatorianos a viram como algo positivo. Inclusive os moradores da ilha criaram grandes ilusões com as perspectivas econômicas que isto poderia gerar. Os que lutaram desde o começo por sua expulsão enfrentaram grandes obstáculos, mas os mesmos fatos provocados por essa presença militar encarregaram-se de dar-lhes a razão. A Coalizão Não às Bases no Equador foi crescendo e adquirindo mais força, somando cada vez mais setores e fortalecendo essa unidade. Tanto que foi um ponto importante da campanha presidencial que finalmente ganhou Correa, e uma de suas primeiras decisões mais tarde como presidente. Hoje o Equador não tem bases militares estadunidenses, produto da mobilização social.
Cremos que na Colômbia o tema vai criar muita força. Ainda falta a sentença da Corte Constitucional, que não está assegurada. Mas se chega a ser a favor das bases, é nosso trabalho fazer com que a maioria dos colombianos compreenda as nefastas implicações que isto terá para seu futuro e para o de seus filhos. Para a economia, para o trabalho e para o controle das riquezas naturais que possui esta nação. Recordemos que não estamos falando de qualquer exército; é o exército da maior potência militar que já existiu na história, o mesmo exército que hoje tem invadido o Irã, Afeganistão e que se aproveitou de um desastre natural para ocupar novamente o Haiti.
Para enfrentar essas bases militares se requer a unidade de trabalhadores, indígenas, afros, mulheres, estudantes, empresários nacionais, intelectuais, artistas e todos os colombianos que queiram lutar por sua nação.
Adital - A partir de seu lançamento, como se dará o trabalho da Coalizão? Quais serão suas prioridades?
Enrique Daza - Em 8 de abril realizaremos o lançamento oficial da Coalizão Colômbia Não Bases. Essa assembleia reunirá inicialmente às organizações que assinaram a declaração, que será apresentada neste dia, mas convidamos a todas as demais que queiram somar. A natureza da Coalizão é clara: resistência da sociedade civil pela soberania e pela democracia. Após esse dia, a Coalizão definirá uma série de eventos nacionais e internacionais em que participará.
Esperamos contar com o apoio de movimentos populares e de personalidades de todo o mundo. A prioridade é informar que o objetivo dessas bases não é o da cooperação, como se quis mostrar, senão que a pretensão estadunidense é converter a Colômbia em uma plataforma militar para controlar suas próprias riquezas naturais e as dos demais países da região. Também para impedir o alcance de processos democráticos e antineoliberais na América Latina.
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