Luana Lourenço/Repórter da Agência Brasil
Nas represas dessas usinas, o metano é produzido pela ação de bactérias na decomposição da matéria orgânica que ficou submersa com a formação do lago – florestas inteiras, em alguns casos.
Pelos cálculos de um grupo de pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o incremento na produção pode chegar a 30%. De acordo com o pesquisador do Inpe Luis Bambace, um dos autores do estudo, todas as hidrelétricas do planeta são responsáveis por emissões entre 14 milhões e 24 milhões de toneladas de metano por ano. O potencial de aquecimento do metano é cerca de 20 vezes maior que o dióxido de carbono, gás conhecido como o grande vilão efeito estufa. Desse modo, outro efeito esperado com o aproveitamento energético é a redução dos impactos dessas estruturas no aquecimento global.
Cerca de 1% do metano das hidrelétricas é liberado pela superfície do reservatório, mas as maiores quantidades, concentradas nas partes mais profundas, são lançadas na atmosfera quando a água passa pelas turbinas e vertedouros (aberturas por onde escoa a água da represa). “Na hora em que você baixa a pressão, acontece uma coisa similar a uma garrafa de refrigerante quando é aberta: o gás é eliminado com força”, explica Bambace.
Para evitar que o gás chegue à atmosfera, a idéia do grupo do Inpe é capturá-lo no fundo da represa e para isso, os pesquisadores defendem soluções baratas, como a instalação de lonas e bóias para construir uma barreira física e impedir que águas profundas cheguem às turbinas e vertedouros. Sem a possibilidade de escape, o gás ficaria concentrado no fundo do reservatório. “Esse aumento de concentração viabiliza alguns processos de extração comercial de metano”, diz Bambace.
A água rica em metano seria transportada, por tubulações, para a superfície até estruturas preparadas para “colher” o gás. “Para extrair, é possível fazer borbulhar o gás, ou gerar névoa por meio de nebulizadores de impacto: você gera névoa e faz o metano se difundir para dentro de um vaso, uma coluna de absorção”, explica.
Segundo Bambace, partes do modelo experimental já estão sendo testadas em laboratório, mas a construção do mecanismo depende da usina em que ele vai operar e dos resultados de mitigação das emissões na superfície. “Estamos em negociação com alguns grupos para intensificar a monitoração de carbono em várias represas, nas regiões Norte, Sul, Sudeste e no exterior”, adiantou.
Pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), o biólogo Alexandre Kemenes também patenteou uma tecnologia para aproveitamento de metano em hidrelétricas. Diferentemente do grupo de Bambace, o pesquisador avalia ser mais eficiente retirar o gás quando a água passa pelas turbinas da usina, não no fundo dos reservatórios.
“Imagino que as turbinas facilitariam a coleta do metano porque a área de saída é uma região bem pequena, poderia ser feita uma barreira física para segurar todo aquele gás”, comenta. Para Kemenes, apesar das diferenças, os dois modelos são aplicáveis, dependendo do tamanho da hidrelétrica. “O nosso se aplica a uma área bem reduzida. Em Tucuruí, por exemplo, por causa do fluxo [de águas nas turbinas] muito intenso, seria melhor interceptar o gás com o método deles [Inpe]”, compara.
Empresas brasileiras de operação de hidrelétricas já demonstraram interesse pela tecnologia, segundo Kemenes, mas o pesquisador prefere não arriscar um prazo para o início do aproveitamento: “Depende de investimento: de quem quer investir, do quanto querem investir”. Na avaliação do pesquisador, estimular esse tipo de tecnologia pode ser uma opção mais viável que a construção de novas usinas. “É mais compensador aproveitar todo o metano das hidrelétricas amazônicas antes de construir outra hidrelétrica na região”, avalia.
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