quinta-feira, 11 de outubro de 2007

"Africa Austral é região geo-estratégica mais importante para Portugal fora da Europa"

Pretória (África do Sul), 11 outubro 2007 - O ministro dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado, destacou a importância da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC) para Portugal, considerando que é a região "mais importante do ponto de vista geo-estratégico para Portugal fora da Europa".
Em declarações à Lusa em Pretória, a capital sul-africana, Luís Amado salientou que Portugal tem em toda a região "considerando Angola, Moçambique, o Zimbabué, a RDCongo e, em particular a África do Sul, o maior potencial geo-estratégico fora da Europa, incluindo comunidades portuguesas, influência política, a rede diplomática e as missões de paz" em que está envolvido.
Amado justifica com esta importância estratégica a visita que efectuará hoje à sede da SADC, na capital do Botsuana, e os encontros que terá com o secretário-executivo da organização, o moçambicano Tomaz Salomão, e o chefe de Estado Festus Mogae, bem como o encontro que terá à tarde em Pretória com o Presidente sul-africano Thabo Mbeki.
A visita de Luís Amado à África do Sul e ao Botsuana divide-se em duas vertentes: como presidente em exercício do Conselho de Ministros da União Europeia (EU), chefia hoje uma `troika` noencontro anual do Acordo de Comércio, Desenvolvimento e Cooperação (TDCA) entre a UE e Pretória.
Na qualidade de ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal (que ocupa a Presidência da UE) desdobra-se em contactos bilaterais no âmbito da política externa portuguesa e da organização da cimeira Europa/África que deverá realizar-se em 8 e 9 de Dezembro em Lisboa.
Desdramatizando as ameaças britânicas de não-participação na cimeira caso o Presidente do Zimbabué, Robert Mugabe, nela participe, o chefe da diplomacia portuguesa insiste na necessidade de diálogo com África e no respeito pelas instituições africanas e pelos seus códigos de actuação.
"Temos que respeitar a dinâmica de afirmação de soberania de todos os Estados da região, a importância do processo politico de integração regional, a dimensão africana e de apropriação do processo político pelos africanos que está no código genético de toda a relação política do continente neste momento e as iniciativas regionais dedicadas à situação no Zimbabué", acautelou o governante.
Luís Amado garantiu que a União Europeia não deixa de ter uma visão e uma actuação bilaterais relativamente ao Zimbabué e à sua situação interna e revelou que no Conselho de Ministros da UE da próxima segunda-feira a situação zimbabueana voltará a ser analisada.
"Não podemos é, na UE, confundir a nossa actuação, visão e os instrumentos de acção no plano bilateral - sanções inteligentes contra o regime incluídas - com a nossa abordagem à cimeira Europa/África. São planos distintos. A União Africana é uma instituição de referência multilateral internacional, prestigiada e reconhecida pela ONU, um parceiro para a mediação e regulação de muitos conflitos, tem no seu código de princípios os valores da democracia e respeito pelos direitos humanos, e por isso temos que a privilegiar como interlocutor e respeitar as suas regras", referiu o MNE português.
Para Amado, o tempo em que os europeus, com as regras da Conferência de Berlim do século passado, diziam a África que queriam dialogar mas impunham as regras, já passou e os europeus perceberam isso.
"O que é importante agora é olhar para o futuro sem pôr em causa os nossos valores e os nossos princípios", assegurou Amado, garantindo que a UE continuará a exercer pressão política e diplomática sobre Harare.
Na entrevista à Lusa, Luís Amado admitiu um cenário em que Robert Mugabe possa vir a estar presente na cimeira e ser forçado a ouvir "as críticas e opiniões de muitos países europeus e até africanos sobre o seu regime", como sugeriu a chanceler alemã Ângela Merkel a semana passada na presença do Presidente sul-africano Thabo Mbeki.
"Se a reunião de Lisboa vier a contar com a participação do sr. Mugabe ele terá que ouvir aquilo que vier a ser dito não só pelos países europeus como por alguns de uma linha africana que é crítica da sua actuação e governação e que eu sei que existe", salientou o MNE português.
"Mas estou convencido de que cimeira marcará uma mudança de página nas relações da Europa com África e a circunstância de termos pela primeira vez todos os chefes de Estado europeus e todos os chefes de Estado africanos reunidos na Europa, com a possibilidade de aprovarem uma estratégia conjunta, definirem um plano de acção, definirem um mecanismo de cooperação entre as suas estruturas de integração, entre a UE e a UA é, do nosso ponto de vista, suficientemente importante do ponto de vista estratégico no relacionamento entre os dois continentes para reduzir o impacto da participação ou não de Robert Mugabe", concluiu. (António Pina/RTP/Lusa)

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