21 marzo 2016, Pagina12 http://www.pagina12.com.ar (Argentina)
Por Emir
Sader
Los acelerados acontecimientos en Brasil transforman
cada día el escenario del destino de Lula, del país y de América Latina. En dos
semanas, del 4 al 18 de marzo, Lula salió de detenido a orador de la
manifestación más grande en San Pablo, aclamado por centenas de millares de
personas.
No habían pasado muchas
horas hasta que el más arbitrario y truculento juez del Supremo Tribunal Federal,
Gilmar Mendes, valiéndose de las vacaciones del Tribunal, bajara un decreto
prohibiendo a Lula asumir como ministro del gobierno de Dilma Rousseff.
Mientras tanto, para componer el escenario de opera buffa en el peor Congreso
que Brasil jamás haya tenido–el último en ser elegido con financiamiento
empresarial de las campañas– ha avanzado, bajo la conducción del unánimemente
reconocido como el más corrupto de los políticos brasileños –Eduardo Cunha– en
los intentos de impeachment de la presidenta de la república.
Todo parece un juego
lleno de escaramuzas, por detrás del cual muchas veces no aparece lo que
realmente está en disputa. El empeño de la alianza entre los medios
monopólicos, sectores del Poder Judicial y de la Policía Federal, y los
partidos de derecha, demuestra que se juegan todo lo que pueden en intentar
excluir a Lula de la vida política. Porque él sigue siendo el candidato
favorito para volver a la presidencia de Brasil en 2018 pero, además, es quien
puede rescatar el gobierno de Rousseff, superando la ya prolongada y profunda
crisis brasileña.
Es todo lo que la
derecha intenta impedir. Que Lula asuma con el cargo de ministro de
coordinación del gobierno de Dilma Rousseff, con amplio apoyo popular. Las
extraordinarias manifestaciones del día 18 han demostrado que la izquierda ha
recuperado su capacidad de movilización y que Lula sigue como el líder
incuestionado de la izquierda. Los que, desde adentro y desde afuera de Brasil,
se han precipitado a anunciar la muerte política de Lula, han revelado que sus
deseos están muy lejos de la realidad.
Pero el juego sigue
abierto. Lo más importante es la decisión de
si Lula asume su cargo en el
gobierno. En caso que lo haga, que es lo más probable, se va a poder combinar
su acción desde adentro del gobierno, con la perspectiva de retomar el
crecimiento económico y fortalecer las políticas sociales, con las
movilizaciones populares por todo el país –las próximas están programadas para
31 de marzo.
El destino de Lula
define el destino de Brasil. En el caso que no lo puedan excluir de la vida
política, tendrá un rol esencial en el rescate del gobierno de Rousseff y, si
lo logra, será el candidato ampliamente favorito en las elecciones del 2018. El
camino para la derecha en Brasil seguirá cerrado por un tiempo largo.
Pero si la derecha
logra excluir a Lula de la vida política, el futuro de Brasil, con sus
consecuencias para toda América Latina, será totalmente opuesto. De ahí que los
momentos actuales en Brasil son decisivos.
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Brasil/CONTRA O GOLPE, COM UMA MULTIDÃO NAS RUAS
20 março 2016, Carta Maior (Brasil)
Darío Pignotti, de Brasília, para o Página/12
Como em suas melhores épocas, diante de uma manifestação muito maior que o esperado, o ex-presidente pediu para que se respeitasse a democracia e o voto
“Não vai ter
golpe”. Um Luiz Inácio Lula da Silva inteiro, inspirado, de camisa
vermelhíssima, falou ontem em São Paulo diante de uma multidão, possivelmente
maior do que a esperada pelos próprios organizadores do ato, e que certamente
caiu como um balde de água fria naqueles que davam por certa a queda da
presidenta Dilma Rousseff. “Na terça, eu vou levar para a Dilma uma foto deste
ato, para que ela saiba que aqui, em São Paulo, há muita gente querendo que ela
governe este país, que não vai ter golpe”, disse Lula ao encerrar seu discurso,
e a multidão respondeu unânime “não vai ter golpe, não vai ter golpe!”.
O ex-presidente, que na quinta foi nomeado ministro-chefe da Casa Civil pela presidente Dilma Rousseff, comentou que espera poder exercer o cargo, apesar da enxurrada de medidas cautelares disparadas por juízes e um ministro do Supremo Tribunal Federal, que parecem (e na verdade estão) sincronizadas para impedir que ele atue no gabinete.
“Quero dizer para vocês que para aqueles que nós temos que convencer aqueles que não gostam da gente que a democracia é acatar o resultado do voto da maioria do povo brasileiro”, afirmou Lula, para uma plateia de militantes do PT, da Central Única dos Trabalhadores e do Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra, entre outros movimentos sociais. Os responsáveis pelo evento calcularam cerca de 500 mil pessoas na Avenida Paulista. A Polícia Militar, que obedece à oposição, cifrou em menos de 100 mil.
Centenas de milhares de pessoas se mobilizaram nesta sexta pelas principais ruas e avenidas das principais cidades do Brasil, em defesa da democracia. As multidões se repetiram em cidades tão distantes como Brasília, Rio de Janeiro, Fortaleza e Recife, onde os manifestantes pronunciaram seu respeito à democracia, contra o golpe que está em marcha.
O ex-presidente, que na quinta foi nomeado ministro-chefe da Casa Civil pela presidente Dilma Rousseff, comentou que espera poder exercer o cargo, apesar da enxurrada de medidas cautelares disparadas por juízes e um ministro do Supremo Tribunal Federal, que parecem (e na verdade estão) sincronizadas para impedir que ele atue no gabinete.
“Quero dizer para vocês que para aqueles que nós temos que convencer aqueles que não gostam da gente que a democracia é acatar o resultado do voto da maioria do povo brasileiro”, afirmou Lula, para uma plateia de militantes do PT, da Central Única dos Trabalhadores e do Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra, entre outros movimentos sociais. Os responsáveis pelo evento calcularam cerca de 500 mil pessoas na Avenida Paulista. A Polícia Militar, que obedece à oposição, cifrou em menos de 100 mil.
Centenas de milhares de pessoas se mobilizaram nesta sexta pelas principais ruas e avenidas das principais cidades do Brasil, em defesa da democracia. As multidões se repetiram em cidades tão distantes como Brasília, Rio de Janeiro, Fortaleza e Recife, onde os manifestantes pronunciaram seu respeito à democracia, contra o golpe que está em marcha.
“Eu perdi as
eleições de 1989, 1994 e 1998. Em nenhum momento eu sai às ruas para protestar
contra quem ganhou… Agora, eles achavam que iam ganhar (em 2014), não
imaginaram que a Dilma ganharia deles no segundo turno. Eles que se dizem tão
educados, não souberam aceitar a derrota, e faz um ano e três meses que están
obstruindo o governo da Dilma”, disse Lula. A oposição “tenta dar um golpe
contra a Dilma, para antecipar as eleições. Nós, que lutamos pela democracia,
não vamos a aceitar um golpe”, clamou o ex-presidente.
Em seguida, Lula fez uma menção às marchas a favor do impeachment, realizadas no domingo passado, onde as cores dominantes eram o amarelo e o verde, e não se tolerava alguém vestido de vermelho. “Embora vistam a camiseta da seleção, eles não são mais brasileiros que nós, que preferimos levar roupa vermelha, como a cor do sangue de Jesus Cristo”.
“Eles – continuou, e sua voz parecia um trovão – não gostam quando aumenta o dólar e não podem viajar para Miami, mas nós queremos viajar aqui mesmo no Brasil, para Garanhuns ou para a Bahia”.
A comparação entre “eles e nós” eletrizou o público, que cantava o velho grito “olêêêêê, olê olê olááááá… Lulaaaaa, Lulaaaaa”.
Nos próximos dias, análises mais ponderadas, abastecidas de números detalhados, permitirão medir a real dimensão política da concentração realizada nesta sexta 18/3, na Avenida Paulista e em diversas outras capitais do Brasil. Minutos depois de iniciada a desconcentração do público na principal avenida de São Paulo, surgiu uma evidência: Lula confirmou ser o único político brasileiro capaz de convocar tamanha quantidade de pessoas.
O contraste entre o ex-presidente torneiro mecânico com os cardeais da oposição não deixa dúvidas. Cinco dias antes do ato das esquerdas, quando centenas de milhares de opositores de Dilma e Lula lotaram a mesma Avenida Paulista – entre os quais havia milhares de simpatizantes da ditadura militar – impediram o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o senador Aécio Neves, de realizarem seus discursos. Ambos foram expulsos da manifestação sob o grito de “corruptos”.
Alckmin e Neves são dois caciques do PSDB, partido que lidera a oposição, o mais interessado em derrubar a presidenta Dilma Rousseff, para chegar ao poder pela porta dos fundos. Mas nenhum deles goza da simpatia popular, nem mesmo entre as classes médias, que são a massa de manobra do plano golpista.
Longe de qualquer tipo de pluralismo, a Rede Globo de televisão, também força opositora, que havia transmitido ao vivo todas as horas da mobilização pelo impeachment, não concedeu igual cobertura ao discurso de 24 minutos de Lula, durante o qual a emissora preferiu levar ao ar uma telenovela.
Ainda assim, um dos colunistas políticos do diário O Globo, Jorge Bastos Moreno, aceitou que o evento realizado na frente do Museu de Arte de São Paulo e em outras 25 capitais foi maior do que o esperado pela direita. “É muito significativa a reação petista, mostra que o país está dividido, é surpreendente o número de manifestantes a favor do governo que estão nas ruas do país… isso foi uma ducha de água fria para a oposição”, analisou o jornalista global.
O líder do Partido dos Trabalhadores adotou um claro tom de crítica ao golpe, dar nomes aos responsáveis pelo plano para derrubar Dilma Rousseff, algo que ficou a cargo de outros oradores.
Lula contou que quando aceitou o convite da presidenta para ser parte do gabinete, disse a ela que “eu não vou exigir muito de você Dilma, só quero que você sorria dez vezes por dia para governar o país com tranquilidade”.
No início do seu discurso, ele confessou estar emocionado pela impressionante quantidade de público reunido na frente do MASP, e anunciou que chegava ao governo de Dilma com ânimo de voltar a ser o “Lulinha Paz e Amor”, apesar dos ataques recebidos cotidianamente.
O último deles foi anunciado depois do ato, pelo ministro do STF, Gilmar Mendes, um declarado simpatizante do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que voltou a suspender a nomeação de Lula como ministro. Ele também autorizou o juiz Sérgio Moro, o personagem mais admirado pela oposição, a retomar as rédeas da investigação sobre Lula, com relação ao escândalo de corrupção na petroleira Petrobras. Mais cedo, um tribunal de Brasília e outro do Rio de Janeiro haviam anulado as decisões que suspendiam a nomeação do líder do PT, reabilitando Lula a exercer o cargo ao qual havia jurado, mas somente durante o lapso de algumas horas. O tribunal regional da capital do país havia dado lugar à apelação apresentada pelo governo brasileiro, que argumentou “falta de imparcialidade” por parte do juiz Itagiba Catta Preta Neto, do Tribunal Federal de Brasília, outro aberto partidário da oposição e declarado eleitor do ex-candidato presidencial Aécio Neves.
Desse cenário, se observa que o partido dos juízes radicalizou seu plano de choque e proscrição contra Lula. Sérgio Moro, na quarta-feira passada, grampeou uma ligação telefônica entre Lula e Dilma, uma hora depois entregou a gravação aos grandes meios, que a reproduzem insistentemente, para estimular um setor ensandecido da sociedade, que foi às ruas outra vez, exigindo a queda do governo.
“Moro grampeou a democracia quando invadiu a presidenta Dilma. Moro tem que ser castigado, mas nós dizemos daqui: golpistas, não passarão”, bradou o presidente da Central Única dos Trabalhadores, Vágner Freitas, aplaudido por um público quase unanimemente vestido de vermelho. Minutos depois, foi a vez de Lula tomar a palavra.
Pela manhã, Dilma havia investido contra as ações ilegais do juiz.
“Em muitos lugares do mundo, quem grampeia (as ligações de) um presidente vai preso, se não tem autorização da Corte Suprema… Grampeie (o telefone) do presidente dos Estados Unidos para ver o que acontece”, desafiou Dilma.
Tradução: Victor Farinelli “Eu perdi as eleições de 1989, 1994 e 1998. Em nenhum momento eu sai às ruas para protestar contra quem ganhou… Agora, eles achavam que iam ganhar (em 2014), não imaginaram que a Dilma ganharia deles no segundo turno. Eles que se dizem tão educados, não souberam aceitar a derrota, e faz um ano e três meses que están obstruindo o governo da Dilma”, disse Lula. A oposição “tenta dar um golpe contra a Dilma, para antecipar as eleições. Nós, que lutamos pela democracia, não vamos a aceitar um golpe”, clamou o ex-presidente.
Em seguida, Lula fez uma menção às marchas a favor do impeachment, realizadas no domingo passado, onde as cores dominantes eram o amarelo e o verde, e não se tolerava alguém vestido de vermelho. “Embora vistam a camiseta da seleção, eles não são mais brasileiros que nós, que preferimos levar roupa vermelha, como a cor do sangue de Jesus Cristo”.
“Eles – continuou, e sua voz parecia um trovão – não gostam quando aumenta o dólar e não podem viajar para Miami, mas nós queremos viajar aqui mesmo no Brasil, para Garanhuns ou para a Bahia”.
A comparação entre “eles e nós” eletrizou o público, que cantava o velho grito “olêêêêê, olê olê olááááá… Lulaaaaa, Lulaaaaa”.
Nos próximos dias, análises mais ponderadas, abastecidas de números detalhados, permitirão medir a real dimensão política da concentração realizada nesta sexta 18/3, na Avenida Paulista e em diversas outras capitais do Brasil. Minutos depois de iniciada a desconcentração do público na principal avenida de São Paulo, surgiu uma evidência: Lula confirmou ser o único político brasileiro capaz de convocar tamanha quantidade de pessoas.
O contraste entre o ex-presidente torneiro mecânico com os cardeais da oposição não deixa dúvidas. Cinco dias antes do ato das esquerdas, quando centenas de milhares de opositores de Dilma e Lula lotaram a mesma Avenida Paulista – entre os quais havia milhares de simpatizantes da ditadura militar – impediram o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o senador Aécio Neves, de realizarem seus discursos. Ambos foram expulsos da manifestação sob o grito de “corruptos”.
Alckmin e Neves são dois caciques do PSDB, partido que lidera a oposição, o mais interessado em derrubar a presidenta Dilma Rousseff, para chegar ao poder pela porta dos fundos. Mas nenhum deles goza da simpatia popular, nem mesmo entre as classes médias, que são a massa de manobra do plano golpista.
Longe de qualquer tipo de pluralismo, a Rede Globo de televisão, também força opositora, que havia transmitido ao vivo todas as horas da mobilização pelo impeachment, não concedeu igual cobertura ao discurso de 24 minutos de Lula, durante o qual a emissora preferiu levar ao ar uma telenovela.
Ainda assim, um dos colunistas políticos do diário O Globo, Jorge Bastos Moreno, aceitou que o evento realizado na frente do Museu de Arte de São Paulo e em outras 25 capitais foi maior do que o esperado pela direita. “É muito significativa a reação petista, mostra que o país está dividido, é surpreendente o número de manifestantes a favor do governo que estão nas ruas do país… isso foi uma ducha de água fria para a oposição”, analisou o jornalista global.
O líder do Partido dos Trabalhadores adotou um claro tom de crítica ao golpe, dar nomes aos responsáveis pelo plano para derrubar Dilma Rousseff, algo que ficou a cargo de outros oradores.
Lula contou que quando aceitou o convite da presidenta para ser parte do gabinete, disse a ela que “eu não vou exigir muito de você Dilma, só quero que você sorria dez vezes por dia para governar o país com tranquilidade”.
No início do seu discurso, ele confessou estar emocionado pela impressionante quantidade de público reunido na frente do MASP, e anunciou que chegava ao governo de Dilma com ânimo de voltar a ser o “Lulinha Paz e Amor”, apesar dos ataques recebidos cotidianamente.
O último deles foi anunciado depois do ato, pelo ministro do STF, Gilmar Mendes, um declarado simpatizante do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que voltou a suspender a nomeação de Lula como ministro. Ele também autorizou o juiz Sérgio Moro, o personagem mais admirado pela oposição, a retomar as rédeas da investigação sobre Lula, com relação ao escândalo de corrupção na petroleira Petrobras. Mais cedo, um tribunal de Brasília e outro do Rio de Janeiro haviam anulado as decisões que suspendiam a nomeação do líder do PT, reabilitando Lula a exercer o cargo ao qual havia jurado, mas somente durante o lapso de algumas horas. O tribunal regional da capital do país havia dado lugar à apelação apresentada pelo governo brasileiro, que argumentou “falta de imparcialidade” por parte do juiz Itagiba Catta Preta Neto, do Tribunal Federal de Brasília, outro aberto partidário da oposição e declarado eleitor do ex-candidato presidencial Aécio Neves.
Desse cenário, se observa que o partido dos juízes radicalizou seu plano de choque e proscrição contra Lula. Sérgio Moro, na quarta-feira passada, grampeou uma ligação telefônica entre Lula e Dilma, uma hora depois entregou a gravação aos grandes meios, que a reproduzem insistentemente, para estimular um setor ensandecido da sociedade, que foi às ruas outra vez, exigindo a queda do governo.
“Moro grampeou a democracia quando invadiu a presidenta Dilma. Moro tem que ser castigado, mas nós dizemos daqui: golpistas, não passarão”, bradou o presidente da Central Única dos Trabalhadores, Vágner Freitas, aplaudido por um público quase unanimemente vestido de vermelho. Minutos depois, foi a vez de Lula tomar a palavra.
Pela manhã, Dilma havia investido contra as ações ilegais do juiz.
“Em muitos lugares do mundo, quem grampeia (as ligações de) um presidente vai preso, se não tem autorização da Corte Suprema… Grampeie (o telefone) do presidente dos Estados Unidos para ver o que acontece”, desafiou Dilma.
Tradução: Victor Farinelli
Em seguida, Lula fez uma menção às marchas a favor do impeachment, realizadas no domingo passado, onde as cores dominantes eram o amarelo e o verde, e não se tolerava alguém vestido de vermelho. “Embora vistam a camiseta da seleção, eles não são mais brasileiros que nós, que preferimos levar roupa vermelha, como a cor do sangue de Jesus Cristo”.
“Eles – continuou, e sua voz parecia um trovão – não gostam quando aumenta o dólar e não podem viajar para Miami, mas nós queremos viajar aqui mesmo no Brasil, para Garanhuns ou para a Bahia”.
A comparação entre “eles e nós” eletrizou o público, que cantava o velho grito “olêêêêê, olê olê olááááá… Lulaaaaa, Lulaaaaa”.
Nos próximos dias, análises mais ponderadas, abastecidas de números detalhados, permitirão medir a real dimensão política da concentração realizada nesta sexta 18/3, na Avenida Paulista e em diversas outras capitais do Brasil. Minutos depois de iniciada a desconcentração do público na principal avenida de São Paulo, surgiu uma evidência: Lula confirmou ser o único político brasileiro capaz de convocar tamanha quantidade de pessoas.
O contraste entre o ex-presidente torneiro mecânico com os cardeais da oposição não deixa dúvidas. Cinco dias antes do ato das esquerdas, quando centenas de milhares de opositores de Dilma e Lula lotaram a mesma Avenida Paulista – entre os quais havia milhares de simpatizantes da ditadura militar – impediram o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o senador Aécio Neves, de realizarem seus discursos. Ambos foram expulsos da manifestação sob o grito de “corruptos”.
Alckmin e Neves são dois caciques do PSDB, partido que lidera a oposição, o mais interessado em derrubar a presidenta Dilma Rousseff, para chegar ao poder pela porta dos fundos. Mas nenhum deles goza da simpatia popular, nem mesmo entre as classes médias, que são a massa de manobra do plano golpista.
Longe de qualquer tipo de pluralismo, a Rede Globo de televisão, também força opositora, que havia transmitido ao vivo todas as horas da mobilização pelo impeachment, não concedeu igual cobertura ao discurso de 24 minutos de Lula, durante o qual a emissora preferiu levar ao ar uma telenovela.
Ainda assim, um dos colunistas políticos do diário O Globo, Jorge Bastos Moreno, aceitou que o evento realizado na frente do Museu de Arte de São Paulo e em outras 25 capitais foi maior do que o esperado pela direita. “É muito significativa a reação petista, mostra que o país está dividido, é surpreendente o número de manifestantes a favor do governo que estão nas ruas do país… isso foi uma ducha de água fria para a oposição”, analisou o jornalista global.
O líder do Partido dos Trabalhadores adotou um claro tom de crítica ao golpe, dar nomes aos responsáveis pelo plano para derrubar Dilma Rousseff, algo que ficou a cargo de outros oradores.
Lula contou que quando aceitou o convite da presidenta para ser parte do gabinete, disse a ela que “eu não vou exigir muito de você Dilma, só quero que você sorria dez vezes por dia para governar o país com tranquilidade”.
No início do seu discurso, ele confessou estar emocionado pela impressionante quantidade de público reunido na frente do MASP, e anunciou que chegava ao governo de Dilma com ânimo de voltar a ser o “Lulinha Paz e Amor”, apesar dos ataques recebidos cotidianamente.
O último deles foi anunciado depois do ato, pelo ministro do STF, Gilmar Mendes, um declarado simpatizante do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que voltou a suspender a nomeação de Lula como ministro. Ele também autorizou o juiz Sérgio Moro, o personagem mais admirado pela oposição, a retomar as rédeas da investigação sobre Lula, com relação ao escândalo de corrupção na petroleira Petrobras. Mais cedo, um tribunal de Brasília e outro do Rio de Janeiro haviam anulado as decisões que suspendiam a nomeação do líder do PT, reabilitando Lula a exercer o cargo ao qual havia jurado, mas somente durante o lapso de algumas horas. O tribunal regional da capital do país havia dado lugar à apelação apresentada pelo governo brasileiro, que argumentou “falta de imparcialidade” por parte do juiz Itagiba Catta Preta Neto, do Tribunal Federal de Brasília, outro aberto partidário da oposição e declarado eleitor do ex-candidato presidencial Aécio Neves.
Desse cenário, se observa que o partido dos juízes radicalizou seu plano de choque e proscrição contra Lula. Sérgio Moro, na quarta-feira passada, grampeou uma ligação telefônica entre Lula e Dilma, uma hora depois entregou a gravação aos grandes meios, que a reproduzem insistentemente, para estimular um setor ensandecido da sociedade, que foi às ruas outra vez, exigindo a queda do governo.
“Moro grampeou a democracia quando invadiu a presidenta Dilma. Moro tem que ser castigado, mas nós dizemos daqui: golpistas, não passarão”, bradou o presidente da Central Única dos Trabalhadores, Vágner Freitas, aplaudido por um público quase unanimemente vestido de vermelho. Minutos depois, foi a vez de Lula tomar a palavra.
Pela manhã, Dilma havia investido contra as ações ilegais do juiz.
“Em muitos lugares do mundo, quem grampeia (as ligações de) um presidente vai preso, se não tem autorização da Corte Suprema… Grampeie (o telefone) do presidente dos Estados Unidos para ver o que acontece”, desafiou Dilma.
Tradução: Victor Farinelli “Eu perdi as eleições de 1989, 1994 e 1998. Em nenhum momento eu sai às ruas para protestar contra quem ganhou… Agora, eles achavam que iam ganhar (em 2014), não imaginaram que a Dilma ganharia deles no segundo turno. Eles que se dizem tão educados, não souberam aceitar a derrota, e faz um ano e três meses que están obstruindo o governo da Dilma”, disse Lula. A oposição “tenta dar um golpe contra a Dilma, para antecipar as eleições. Nós, que lutamos pela democracia, não vamos a aceitar um golpe”, clamou o ex-presidente.
Em seguida, Lula fez uma menção às marchas a favor do impeachment, realizadas no domingo passado, onde as cores dominantes eram o amarelo e o verde, e não se tolerava alguém vestido de vermelho. “Embora vistam a camiseta da seleção, eles não são mais brasileiros que nós, que preferimos levar roupa vermelha, como a cor do sangue de Jesus Cristo”.
“Eles – continuou, e sua voz parecia um trovão – não gostam quando aumenta o dólar e não podem viajar para Miami, mas nós queremos viajar aqui mesmo no Brasil, para Garanhuns ou para a Bahia”.
A comparação entre “eles e nós” eletrizou o público, que cantava o velho grito “olêêêêê, olê olê olááááá… Lulaaaaa, Lulaaaaa”.
Nos próximos dias, análises mais ponderadas, abastecidas de números detalhados, permitirão medir a real dimensão política da concentração realizada nesta sexta 18/3, na Avenida Paulista e em diversas outras capitais do Brasil. Minutos depois de iniciada a desconcentração do público na principal avenida de São Paulo, surgiu uma evidência: Lula confirmou ser o único político brasileiro capaz de convocar tamanha quantidade de pessoas.
O contraste entre o ex-presidente torneiro mecânico com os cardeais da oposição não deixa dúvidas. Cinco dias antes do ato das esquerdas, quando centenas de milhares de opositores de Dilma e Lula lotaram a mesma Avenida Paulista – entre os quais havia milhares de simpatizantes da ditadura militar – impediram o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o senador Aécio Neves, de realizarem seus discursos. Ambos foram expulsos da manifestação sob o grito de “corruptos”.
Alckmin e Neves são dois caciques do PSDB, partido que lidera a oposição, o mais interessado em derrubar a presidenta Dilma Rousseff, para chegar ao poder pela porta dos fundos. Mas nenhum deles goza da simpatia popular, nem mesmo entre as classes médias, que são a massa de manobra do plano golpista.
Longe de qualquer tipo de pluralismo, a Rede Globo de televisão, também força opositora, que havia transmitido ao vivo todas as horas da mobilização pelo impeachment, não concedeu igual cobertura ao discurso de 24 minutos de Lula, durante o qual a emissora preferiu levar ao ar uma telenovela.
Ainda assim, um dos colunistas políticos do diário O Globo, Jorge Bastos Moreno, aceitou que o evento realizado na frente do Museu de Arte de São Paulo e em outras 25 capitais foi maior do que o esperado pela direita. “É muito significativa a reação petista, mostra que o país está dividido, é surpreendente o número de manifestantes a favor do governo que estão nas ruas do país… isso foi uma ducha de água fria para a oposição”, analisou o jornalista global.
O líder do Partido dos Trabalhadores adotou um claro tom de crítica ao golpe, dar nomes aos responsáveis pelo plano para derrubar Dilma Rousseff, algo que ficou a cargo de outros oradores.
Lula contou que quando aceitou o convite da presidenta para ser parte do gabinete, disse a ela que “eu não vou exigir muito de você Dilma, só quero que você sorria dez vezes por dia para governar o país com tranquilidade”.
No início do seu discurso, ele confessou estar emocionado pela impressionante quantidade de público reunido na frente do MASP, e anunciou que chegava ao governo de Dilma com ânimo de voltar a ser o “Lulinha Paz e Amor”, apesar dos ataques recebidos cotidianamente.
O último deles foi anunciado depois do ato, pelo ministro do STF, Gilmar Mendes, um declarado simpatizante do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que voltou a suspender a nomeação de Lula como ministro. Ele também autorizou o juiz Sérgio Moro, o personagem mais admirado pela oposição, a retomar as rédeas da investigação sobre Lula, com relação ao escândalo de corrupção na petroleira Petrobras. Mais cedo, um tribunal de Brasília e outro do Rio de Janeiro haviam anulado as decisões que suspendiam a nomeação do líder do PT, reabilitando Lula a exercer o cargo ao qual havia jurado, mas somente durante o lapso de algumas horas. O tribunal regional da capital do país havia dado lugar à apelação apresentada pelo governo brasileiro, que argumentou “falta de imparcialidade” por parte do juiz Itagiba Catta Preta Neto, do Tribunal Federal de Brasília, outro aberto partidário da oposição e declarado eleitor do ex-candidato presidencial Aécio Neves.
Desse cenário, se observa que o partido dos juízes radicalizou seu plano de choque e proscrição contra Lula. Sérgio Moro, na quarta-feira passada, grampeou uma ligação telefônica entre Lula e Dilma, uma hora depois entregou a gravação aos grandes meios, que a reproduzem insistentemente, para estimular um setor ensandecido da sociedade, que foi às ruas outra vez, exigindo a queda do governo.
“Moro grampeou a democracia quando invadiu a presidenta Dilma. Moro tem que ser castigado, mas nós dizemos daqui: golpistas, não passarão”, bradou o presidente da Central Única dos Trabalhadores, Vágner Freitas, aplaudido por um público quase unanimemente vestido de vermelho. Minutos depois, foi a vez de Lula tomar a palavra.
Pela manhã, Dilma havia investido contra as ações ilegais do juiz.
“Em muitos lugares do mundo, quem grampeia (as ligações de) um presidente vai preso, se não tem autorização da Corte Suprema… Grampeie (o telefone) do presidente dos Estados Unidos para ver o que acontece”, desafiou Dilma.
Tradução: Victor Farinelli
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