22/03/2016
Atualizado em 23/03/2016, Jornal GGN http://jornalggn.com.br (Brasil)
Tenho criticado
insistentemente o Procurador Geral da República Rodrigo Janot, não devido a
informações negativas sobre ele, mas às positivas. Jamais cobraria atitudes
republicanas de Eduardo Cunha, José Serra ou Fernando Henrique Cardoso.
Sobre Janot sempre
ouvi afirmações elogiosas quanto ao seu espírito público, de Procuradores ou de
Ministros da Suprema Corte.
Mas, no turbilhão da
Lava Jato, não consegui vislumbrar as virtudes mencionadas. Janot definiu a
estratégia da Lava Jato e comandou as diversas etapas, sempre tendo em mente a
luta contra o ogro, a aliança invencível das grandes corporações com o mundo
político. Contra o ogro valia tudo, especialmente o uso incessante da mídia, a
conclamação às massas, o uso abusivo das informações.
Gradativamente vimos
outro monstro tomando forma, o sentimento de ódio que se disseminou pela
sociedade, a onipotência salvacionista de procuradores se comportando como
turba, indo a manifestações, brigando nas redes sociais como se não fossem
autoridades investidas de prerrogativas constitucionais.
O jogo foi virando. O
MPF deixou de ser o lado fraco da luta contra a corrupção, para se transformar
no poder absoluto, arrogante, impiedoso, amparado no clamor das turbas, o
espírito de linchamento contra o qual o Direito erigiu uma construção lenta,
penosa, que permitiu gradativamente à civilização se impor sobre a barbárie. E
o Janot do qual me falavam não aparecia.
Hoje, finalmente,
Janot se fez presente.
Em um comunicado ao
seu exército, com o título “União e Serenidade”, pela primeira vez viu-se de
forma explícita o exercício da responsabilidade institucional sendo praticado
por quem comanda um dos poderes de fato da República:
"Não podemos
permitir que as paixões das ruas encontrem guarida entre as nossas hostes.
Somos Ministério Público. A sociedade favoreceu-nos, na Constituição, com as
prerrogativas necessárias para nos mantermos alheios aos interesses da política
partidária e até para a defendermos de seus desatinos em certas ocasiões. Se
não compreendermos isso, estaremos não só insuflando os sentimentos
desordenados que fermentam as paixões do povo, como também traindo a nossa
missão e a nossa própria essência".
Disse mais. Que os
procuradores evitassem o personalismo e o messianismo e que a Lava Jato é
importante e necessária, “mas não pode ser vista como solução dos problemas do
Brasil”.
“Conclamo todos os
membros do Ministério Público ao cumprimento dos seus deveres para com o país.
Devemos dar combate incessante às corrupção, seja onde for e doa a quem doer,
mas há de ser preservar sempre as instituições. A Lava Jato certamente não
salvará o Brasil, até porque se tivéssemos essa pretensão, já teríamos falhado
antes mesmo de começar”.
Finalmente, pede a
paz geral, humildade e sabedoria, lembrando os grandes estadistas da história
da humanidade, Abraham Lincoln, Nelson Mandela e Winston Churcill. Segundo ele,
“os três enfrentaram divisões, radicalizações e combates sangrentos, mas
apostaram na pacificação da sociedade e hoje servem de parâmetros no processo
civilizatório”.
Diz Janot que
Lincoln, “como grande estadista, sabia que, por mais justa que fosse a sua
causa, vencer a guerra a qualquer custo não seria alternativa válida. O país,
após o conflito, deveria sobreviver ou não haveria verdadeira vitória”.
Terminou lembrando
Mandela, que mesmo “brutalmente injustiçado decidiu seguir por um caminho que
não levasse seu país a se desintegrar em uma luta fratricida e de consequências
imprevisíveis”.
E, finalmente,
finalmente, finalmente, lembrou que a instituição fica e as pessoas passam.
“Desejo que, unidos no cumprimento do próprio dever, tenhamos, nas nossas
mentes e nossos corações, a ideia firme de que se o Ministério Público
brasileiro durar mil anos, os homens possam dizer de nós: Este foi o seu melhor
momento”.
Se conseguirá colocar
o saci de volta na garrafa, o tempo dirá. Nos próximos dias se verá até onde se
pode apostar no republicanismo de Janot.
Torço para que o
Ministério Público Federal volte a ter a responsabilidade e a grandeza que
permitiram legitimar as prerrogativas que receberam daqueles que conseguiram
derrotar a ditadura.
E torcendo para que o
Brasil se reencontre com o Brasil, nossa melhor sintese:
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