22 março
2016, Sputnik Brasil http://br.sputniknews.com
(Rússia)
Robson
Fernandjes
Diversos líderes da América Latina têm se manifestado contra a iminência de um golpe no Brasil. Por trás das campanhas midiáticas a favor do impeachment de Dilma e da prisão do ex-presidente Lula, ganha força a tese de uma articulação de interesses estrangeiros com movimentos de direita para desestabilizar governos de esquerda no continente.
Na
sexta-feira (18), o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos,
Luis Almagro, defendeu a continuidade da Operação Lava Jato, mas reiterou que
não há fundamento jurídico para tirar a presidenta Dilma Rousseff do cargo.
Segundo ele, a líder da nação demonstra, pelo contrário, um claro compromisso
com a transparência institucional e com a defesa dos ganhos sociais alcançados
pelo país na última década.
“Neste momento, a sua
coragem e honestidade são ferramentas essenciais para a preservação e o
fortalecimento do Estado de Direito”, disse Almagro.
Também na sexta-feira, os governos do Uruguai, da Bolívia e da Venezuela
se manifestaram contra o golpe orquestrado no Brasil.
Uruguai
"Fiel defensor
do princípio de não intervenção nos assuntos internos de outros Estados, mas ao
mesmo tempo respeitoso do Estado de Direito e dos valores democráticos, o
Uruguai confia
que as diferenças internas existentes no Brasil serão
resolvidas no marco do regime democrático", afirma o comunicado da
chancelaria uruguaia, reproduzido pela agência EFE.
Em entrevista ao jornal La República publicada no domingo (20), o
ex-vice-chanceler uruguaio Roberto Conde, candidato à presidência do país pela
coalizão de esquerda Frente Ampla, também disse que uma das “prioridades
imediatas” que Montevideo deve encarar é a agressividade crescente dos
movimentos de direita, tanto no Uruguai como no contexto internacional, de
onde, segundo ele, agiria uma direita “muito agressiva” que provoca divisões
territoriais e guerras e viola reiteradamente o princípio de não-intervenção
que rege a relação entre Estados soberanos.
Bolívia
"A direita no
Brasil quer voltar por meio de um golpe no Congresso e um golpe judicial para
castigar o Partido dos Trabalhadores, o partido do companheiro Lula, e para
tirar e julgar a companheira Dilma", pronunciou-se o presidente da
Bolívia, Evo Morales, em reunião com mineiros no povoado de Colquiri, no oeste
do país, acrescentando que a "direita sul-americana e a direita
americana" querem "castigar" Lula para que um dirigente sindical
nunca mais volte a ser presidente.
Equador
Segundo afirmou o chefe de Estado do Equador, Rafael Correa, em
entrevista veiculada na televisão estatal do país, está em curso no continente
latino-americano um "novo plano Condor" contra os governos
progressistas da região, do qual faria parte o ataque jurídico-midiático ao
governo Dilma.
"Já não se
precisa mais de ditaduras militares, se precisa de juízes submissos, se precisa
de uma imprensa corrupta que inclusive se atreva a publicar conversas privadas,
o que é absolutamente ilegal", disse Correa.
Venezuela
O presidente da Venezuela Nicolas Maduro, por sua vez, já havia se
pronunciado na quinta-feira (17) sobre o assunto.
"Há um golpe de
estado midiático e judicial contra a presidente Dilma Rousseff e contra Lula da
Silva, líder do Brasil e da nossa América", disse Maduro, discursando no
Palácio de Miraflores.
Segundo ele, "vários presidentes latino-americanos" estão
"muito preocupados" com a situação no Brasil.
Argentina
Até mesmo o líder argentino Mauricio Macri defendeu, em entrevista ao
jornal La Nación publicada no domingo, a decisão de Dilma de nomear Lula
ministro da Casa Civil, manifestando um "apoio institucional" de
Buenos Aires à presidenta.
"Quero crer que
ela fez isso para fortalecer seu governo do ponto de vista operacional, não
para encobrir uma causa judicial. Desse ponto de vista, é absolutamente válido.
Agora, não cabe a segunda intenção, que não me consta", disse Macri,
expoente da direita liberal.
Em todos
esses países, a popularidade de partidos e movimentos da direita aparenta estar
crescendo, ensejada pelo aprofundamento da crise econômica regional — na
qual a queda internacional dos preços do petróleo, patrocinada pelos EUA em
conluio com a Arábia Saudita, exerce papel de considerável destaque — e
pela crise política, em meio às denúncias de corrupção que, apesar do escopo
fenomenal, têm sido acompanhadas seletivamente pela grande mídia.
Segundo muitos analistas, de fato, a crise vai além das dificuldades
econômicas e políticas particulares a cada nação e envolvem interesses de
grandes corporações e o respaldo velado dos EUA.
O jornalista Glenn Greenwald, que ajudou o ex-analista da NSA Edward
Snowden a denunciar ao mundo o escândalo dos programas de espionagem civil dos
EUA a nível global, afirmou na sexta-feira, em matéria no jornal The
Intercept, que "as corporações de mídia" do Brasil agem como
"organizadoras de protestos" e "máquinas de relações públicas de
partidos da oposição".
"Os interesses mercadológicos representados por esses veículos
midiáticos", destacou Greenwald, "são quase que totalmente
pró-impeachment e estão ligados à história da ditadura militar".
"De forma
simples, essa é uma campanha para subverter as conquistas democráticas
brasileiras por grupos que por muito tempo odiaram os resultados de eleições
democráticas, marchando de forma enganadora sob uma bandeira anti-corrupção:
bastante similar ao golpe de 1964. De fato, muitos na direita do Brasil anseiam
por uma restauração da ditadura, e grupos nesses protestos “anti-corrupção”
pediram abertamente pelo fim da democracia”, observou o jornalista.
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