7 de agosto de 2015, Gazeta
Russa http://br.rbth.com/brics (Rússia)
Capital de US$ 100 bilhões do
Novo Banco do Brics já desperta o desejo dos setores público e privado, dentro
e fora do grupo.
Embora só comece a
financiar os primeiros projetos a partir do ano que vem, o Novo Banco de
Desenvolvimento do Brics, que iniciou suas atividades ainda durante a 7° cúpula
do grupo, no início de julho, já tem pretendentes a seus fundos, avaliados em
US$ 100 bilhões.
Com volume de capital
autorizado modesto, se comparado ao do Banco Mundial, que maneja US$ 2
trilhões, o Novo Banco tem candidatos das mais diversas áreas, tanto do setor
público, como do privado, e até de países europeus.
Os países-membros,
porém, terão direitos exclusivos na instituição, e a Rússia, que perdeu a
possibilidade de pedir crédito junto do BERD (Banco Europeu para a Reconstrução
e o Desenvolvimento) deve aproveitar a nova oportunidade, com a seleção dos
beneficiários programada para se iniciar já no final do ano.
“Em um momento em que
as empresas russas têm acesso cortado ao capital norte-americano e europeu, o
surgimento de uma fonte alternativa de investimentos deve ter um efeito
benéfico na economia russa”, diz o diretor do
departamento econômico da
Fundação Instituto de Energia e Finança, Marcel Salikhov.
Público x privado
Algumas empresas
privadas do país já manifestaram interesse no banco. Uma delas foi a holding
agroindustrial moscovita Miratorg, que teve joint venture com a Sadia no
enclave russo de Kaliningrado entre 2007 e 2009, quando adquiriu a parcela da
brasileira.
“Mas só poderemos
discutir mais detalhes quando todas as condições e o mecanismo de interação do
mutuário com o banco forem conhecidos. Ainda é cedo para falar sob quais
condições esse financiamento pode ser interessante”, declarou um porta-voz da
Miratorg à Gazeta Russa.
“As empresas russas
esperam receber exatamente os mesmos recursos que as companhias dos outros
países do Brics”, diz a economista especializada em Brics Aleksandra Morozkina.
No Brasil, o setor
privado também reivindica acesso aos fundos. No início do ano, por exemplo, a
secretária-executiva dos Brics da Confederação Nacional das Indústrias (CNI),
Silvia Menicucci, disse à imprensa que uma das demandas dos empresários é que o
banco complemente financiamentos que, atualmente, não são oferecidos pelo Banco
Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES), como projetos de infraestrutura de
empresas brasileiras fora do país ou projetos conjuntos entre o Brasil e outro
país para investir em um terceiro mercado.
Apesar dos rumores de
que o banco nasce inicialmente voltado aos projetos públicos, seu acordo de
criação, assinado em Fortaleza no ano passado, prevê “apoio a projetos públicos
e privados” de “infraestrutura e desenvolvimento sustentável no Brics e em
outras economias emergentes e países em desenvolvimento”.
Essa foi uma das
preocupações levantadas na segunda edição da reunião “paralela” do Brics,
realizada em Fortaleza por representantes da sociedade civil em 2014.
Então, membros de
ONGs, movimentos sociais e pesquisadores questionavam a utilização do banco
para financiar grandes projetos infraestruturais com ganhos para governos e
empresas ligadas a esses, e a possível ausência de projetos para beneficiar
diretamente a população, como hospitais, escolas ou obras de saneamento básico.
Energia e risco
A nova instituição dá
pistas de que poderá ter boa disposição para financiar projetos de alto risco,
normalmente rejeitados por seus análogos.
Em discurso na
plenária da cúpula, o presidente russo Vladímir Pútin anunciou que o banco do
Brics investirá em projetos conjuntos de grande porte em infraestrutura de
transporte e energia, bem como o desenvolvimento industrial dos países-membros.
Na presidência do grupo, o país chegou a propor um roteiro para a cooperação.
“Realizamos consultas
em nossos círculos de negócios e já incluímos no roteiro cerca de 50 projetos e
iniciativas. Entre eles está a proposta de instituição de uma associação no
setor energético, a criação de um centro internacional de pesquisas em energia
e de uma união da indústria de fundição”, declarou Pútin.
Além disso, no mês
passado, o ex-dirigente do Banco Central da África do Sul, Tito Mboweni, disse
à TV Bloomberg que o banco, que deverá ter uma filial para a África
subsaariana, tem total capacidade de socorrer a estatal de energia elétrica do
país, a Eskom Holdings SOC Ltd.
A companhia terá um
deficit de caixa de US$ 18 bilhões até 2018 porque está construindo usinas de
energia para ampliar sua capacidade. Para tanto, a Eskom implementa apagões
rotativos regularmente desde o início do ano, devido às dificuldades
encontradas para satisfazer a demanda, limitando o crescimento econômico.
E, apesar do foco nos
países do próprio grupo, o acordo de criação do banco não exclui a prestação de
socorro a países que não sejam membros.
Ainda em junho,
divulgou-se que o vice-ministro das Finanças russo, Serguêi Stortchak, cogitou
a possibilidade de o novo banco conceder crédito a projetos de desenvolvimento
na Grécia.
A declaração foi
feita durante visita a Moscou do ministro grego da Reforma Industrial, do Meio
Ambiente e da Energia, Panagiotis Lafazanis. Então, no auge da crise, o grego
reafirmou o interesse do país europeu em se tornar membro não fundador do Novo
Banco de Desenvolvimento do Brics, de acordo com sua assessoria.
Inovação ambiciosa
Outra fatia interna
do grupo que mostrou interesse nos fundos foi a dos jovens entre 20 e 35 anos
que participaram do 1° Fórum da Juventude do Brics, realizado no final de julho
também em Ufá.
Com participantes
também da Organização para Cooperação de Xangai (Índia, Cazaquistão,
Quirguistão, China, Paquistão, Rússia, Tadjiquistão e Uzbequistão) e da Coreia
do Sul, a reunião terminou com a proposta de criação de um “Banco de Ideias”.
“[Os projetos de
inovação do ‘Banco de Ideias’] serão analisados e, possivelmente, quando o
Banco de Desenvolvimento do Brics avançar, poderão receber apoio”, anunciou
Elena Sutormina, representante no evento da Câmara Pública da Rússia, uma das
agências organizadoras do fórum.
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