7 agosto 2015,
Opera Mundi http://operamundi.uol.com.br (Brasil)
Antonio Martins, Outras
Palavras
Pequim quer
converter sua moeda, o Yuan, num rival para o dólar. Isso sacudiria a ordem
financeira e geopolítica mundial
Foi um empate.
Pressionado há meses pela China, para que dê ao yuan status semelhante
ao do dólar, euro, libra (inglesa) e iene (japonês), o Fundo Monetário Internacional
(FMI) adiou a
decisão. Por ora, a divisa chinesa não fará parte da cesta de moedas em que se
baseiam os Direitos Especiais de Saque (SDR, em inglês), a principal
referência monetária adotada pelo Fundo. Mas ao anunciar a decisão, o Comitê Executivo do
Fundo decidiu, ao mesmo tempo, antecipar para 2016 uma nova reunião que
decidirá sobre a composição dos SDR. Em condições normais, ela só ocorreria em
2022.
Está em jogo é muito
mais que um reconhecimento formal. A importância do yuan como moeda
internacional cresce
aceleradamente desde 2009, quando a Pequim decidiu empenhar-se empenhar-se nesse sentido. À época, a
China já era a segunda maior economia do mundo (ultrapassou
os EUA em 2014, segundo certos critérios), mas o uso do yuan era residual.
Reprodução
A ação de Pequim mudou
rapidamente o cenário. Hoje, 22% das transações comerciais da China são feitas
em sua própria moeda. Como o comércio exterior chinês é o maior do mundo, o
yuan
disparou. Tornou-se a quinta divisa mais usada nas transações globais.
Cerca de 50 bancos centrais do mundo já investem suas reservas em yuan – embora
em quantidades ainda pequenas, em comparação ao dólar.Mais: a liderança chinesa está trabalhando ativamente para lançar, em curto prazo, um Sistema Internacional de Pagamento Chinês (CIPS, em inglês), que permitirá fazer pagamentos em qualquer parte do mundo e rivalizará com o SWIFT, baseado no dólar. Se todos estes passos se completarem, haverá duas consequências geopolíticas de grande relevância.
Primeira: os EUA
perderão a capacidade de impor sanções financeiras a países “dissidentes” –
como fazem atualmente contra Rússia e Irã. Haverá ao menos uma alternativa
internacional para os excluídos por Washington.
Segunda, e muito mais
importante: os EUA serão, aos poucos, privados da condição de emissores da
única moeda universalmente aceita. Isso dá a Washington o que o governo do
presidente francês Charles de Gaulle qualificou, nos anos 1960, como “privilégio
exorbitante”. Desde então, não há alternativa ao dólar; mas, a partir de 1973, o
governo norte-americano decidiu romper unilateralmente os acordos de
Bretton Woods – que obrigavam a converter em ouro os dólares em poder de outros
países. Na prática, enquanto durar esta ordem, o Tesouro norte americano poderá
sempre imprimir dólares, para fazer frente às importações de bens estrangeiros
ou aos imensos gastos militares que permitem manter sua hegemonia militar.
A emergência
internacional de Pequim e do yuan abre, em todo o mundo, uma enorme janela de
oportunidades. A América Latina, por exemplo, poderia aproveitá-la para
construir condições de livrar-se das restrições financeiras que o domínio da
moeda norte-americana ainda impõe (leia nosso
texto a respeito). O problema é que ainda falta a vontade política
necessária para tanto…
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