17
agosto 2015, Macauhub http://www.macauhub.com.mo (China)
A
revisão que a China está a fazer do seu modelo de ajuda ao desenvolvimento
deverá reforçar a articulação com entidades multilaterais, mantendo como
centrais os empréstimos preferenciais para infra-estruturas, de acordo com uma
análise da Brookings Institution.
Yun
Sun, analista da Brookings, que tem estudado o papel de África na diplomacia
chinesa, afirma no seu mais recente trabalho sobre o assunto que os empréstimos
com condições preferenciais (ou bonificados), semelhantes aos que têm sido
concedidos a Angola e Moçambique, são já a maior componente da ajuda externa
chinesa, representando quase 56% do total entre 2010 e 2012.
Em
relação a África, no “futuro próximo” o “grosso” da ajuda deverá ser concedida
através de empréstimos preferenciais, que juntamente com a ajuda ao
desenvolvimento representam um conjunto de “recursos financeiros altamente
valiosos para
as vastas necessidades de desenvolvimento de infra-estruturas”,
afirma Yun Sun.
O
Ministério chinês das Relações Exteriores deverá divulgar nos próximos meses um
conjunto de linhas orientadoras para a ajuda externa, por forma a enquadrar o
elevado crescimento de montantes esperado nos próximos anos, em linha com o
registado no passado recente.
Entre
2010 e 2012, a ajuda concedida pela China atingiu 90 mil milhões de yuan, quase
um terço do total desde 1949, assumindo-se como uma “formidável alternativa à
ajuda ocidental”, segundo Yun Sun.
Alguns
analistas na China vêm vindo a defender uma redução do peso de empréstimos
preferenciais e dos projectos de infra-estruturas, mas tal parece chocar com as
actuais prioridades do governo chinês, que passam pelo estabelecimento de
ligações, nomeadamente no eixo da chamada “Nova Rota da Seda.”
Yun
Sun adiantou que nos próximos anos os empréstimos preferenciais para infra-estruturas
“vão ser considerados de forma favorável na ajuda externa chinesa.”
Em
África, Angola e Moçambique estão entre os principais beneficiários destes
empréstimos – a China já é o maior credor bilateral de Moçambique, depois de
ter aumentado em 160%, desde 2012, o financiamento a este país, onde estão a
ser preparados importantes investimentos com capital chinês.
Com
um novo empréstimo de 400 milhões de dólares anunciado no mês passado, o peso
do financiamento da China a Moçambique deverá crescer quase 50%, face aos
valores actuais do crédito bilateral concedido.
O
novo empréstimo destina-se à construção de uma linha de transmissão eléctrica
de 600 quilómetros, entre as províncias moçambicanas de Zambézia e Nampula,
segundo informações avançadas pelo governo moçambicano.
No
caso de Angola, os dois países estabeleceram em 2010 uma parceria estratégica,
com a China a fornecer linhas de crédito e Angola a pagar com petróleo, que fez
com que o comércio bilateral aumentasse mais de 2000% entre 2002 e 2012.
O
nível de apoio a Angola foi de tal ordem, e o regime de ajuda tão eficaz, que
acabou por ser alargado a outros países com o nome de “Modelo Angola” – acordos
de financiamento com baixas taxas de juro para os países africanos, garantidos
com o fornecimento de matérias-primas.
Para
os países africanos, este apoio surgiu numa altura em que tinham grande
dificuldade em aceder a financiamento.
O
orçamento de ajuda externa chinês suporta a diferença entre os juros de mercado
e o juro bonificado sobre os empréstimos, o suficiente para aumentar a procura
deste financiamento, que também assegura contractos para empresas chinesas e
ajuda a assegurar recursos naturais, afirma o analista da Brookings,
instituição privada norte-americana.
Yun
Sun afirmou ainda que o futuro do apoio chinês passará também por maior
financiamento multilateral, com iniciativas conjuntas do Banco Asiático de
Investimento em Infra-estruturas, liderado pela China, com o Banco Mundial e
Banco de Desenvolvimento Asiático.
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