21 agosto 2015, Mercosul
& CPLP + BRICS
Da
Redação
Em artigo publicado no jornal O País, Sérgio Vieira, um antigo combatente da luta de libertação nacional de Moçambique que ocupou vários cargos no governo, rejeitou as acusações de corrupção feitas por grupos direitistas no Brasil e no exterior contra o ex-presidente Lula.
Na sua coluna “Carta a
muitos amigos”, Vieira afirmou categoricamente que “NUNCA o
Presidente Lula procurou influenciar Moçambique para trabalhar com esta ou
aqueloutra empresa brasileira. Estive no encontro em Maputo.”
Disse que Lula empenhou-se para que houvesse um bom relacionamento entre
as empresas do Brasil e de Moçambique. “Do nosso
lado também sempre agimos assim.” – enfatizou.
Sérgio Vieira é membro-fundador da Frente de Libertação
de Moçambique (FRELIMO). Após a independência nacional, foi o primeiro membro
do governo a viajar ao Brasil em missão oficial e a assinar acordos de
cooperação entre os dois países.
Ao longo da sua carreira, ocupou, entre outros,
os cargos de
governador
do Banco de Moçambique, ministro da Agricultura, vice-ministro da Defesa e
ministro da Segurança.
--------------- Trecho do artigo:
Numa campanha
contra a corrupção no Brasil onde se busca indiciar o Presidente Lula e a
Presidente Dilma, tenta-se afirmar que ele interveio a favor de uma empresa
brasileira, aquando da sua visita de Estado a Moçambique, nos tempos de Joaquim
Chissano.
Falando do que
sei e testemunhei posso declarar:
A meu
conhecimento NUNCA o Presidente Lula procurou influenciar Moçambique para trabalhar
com esta ou aqueloutra empresa brasileira. Estive no encontro em Maputo.
Claro que
como qualquer governante buscou que houvesse um bom relacionamento entre as
empresas brasileiras e moçambicanas, públicas ou privadas. Do nosso lado também
sempre agimos assim.
Eu mesmo
no final dos anos 70 desloquei-me ao Brasil a convite do Chanceler Saraiva
Guerreiro, fui recebido pelo Presidente Figueiredo (creio) e assinei os
primeiros acordos com o Brasil. Fui o primeiro membro do governo moçambicano a
deslocar-se ao Brasil.
Sobre a
VALE:
Recebi e
falei com os 3 concorrentes para a aquisição da CARBOMOC. Tratava-se da VALE,
ANGLO AMERICAN, MITSUBITCHI BILLINGTON. Na época dirigia o GPZ.
Nenhuma
empresa me tentou fazer qualquer tipo de oferta, comissão ou solicitou que
influenciasse a decisão final.
O Governo
moçambicano havia requerido:
Que se
pagassem 300 milhões de US$ pela aquisição da CARBOMOC;
Que se
apresentasse uma garantia ilimitada dum banco respeitado sobre a continuação da operação.
APENAS A
VALE PREENCHEU OS REQUISITOS. As duas outas empresas fizeram ofertas de 200
milhões de US$ para a compra e garantias de 300 milhões.
O Júri de
que NÃO FIZ PARTE pronunciou-se a favor da oferta da VALE a única que preenchia
o solicitado pelo Governo.
O Conselho
de Ministros aprovou a decisão do júri.
Em
Moatize testemunhei a entrega do cheque de 300 milhões pelo Sr. Agnelli ao
Presidente Chissano.
No seu
início a VALE comportou-se bem no referente ao reassentamento das pessoas que
viviam no perímetro da CARBOMOC.
Posteriormente
agiu de MODO INFAME E DESUMANO no reassentamento das pessoas que viviam na
Benga para onde se estendeu. Falei com os dirigentes locais da VALE e o Governo
e depois publicamente, como muitos outros, eu denunciei.
Tanto quanto
saúdo a vontade brasileira de lutar contra a corrupção, devo dizer que adoraria
que essa vontade e força se manifestassem em Moçambique e nos países do
Primeiro-Mundo donde partem os corruptores e onde primam os escândalos, as
fraudes e especulações bancárias que levam à ruína e miséria populações
inteiras. As instituições financeiras de Bretton Woods e o Banco Central
Europeu fecham os olhos aos corruptores e impõem regras às vítimas que
facilitam a corrupção.
*Sérgio Vieira: Membro-fundador da Frente
de Libertação de Moçambique (FRELIMO), estudou Direito em Portugal até segundo ano, prosseguiu
os estudos na Bélgica, França e Argélia, onde integrou a representação da
FRELIMO. Nos anos que precederam a independência de Moçambique, foi secretário
dos dirigentes Eduardo Mondlane, 1967/1969, e Samora Machel, de 1970/1975.
Depois da independência, ocupou vários cargos: director do Gabinete do
Presidente da República Samora Machel, 1975/1977, governador do Banco de
Moçambique, 1978/1981, ministro da Agricultura, 1981/1983, vice-ministro da
Defesa, 1983/1984, ministro da Segurança, 1984/1987, deputado da
Assembleia da República, o parlamento, em cinco legislaturas. Foi pesquisador
do Centro de Estudos Africanos da Universidade Eduardo Mondlane, instituição,
da qual foi diretor de 1987 a 1992. Em 2001 tornou-se diretor-geral do Gabinete
do Plano de Desenvolvimento do Vale do Zambeze.
Em 2009, publicou “Participei, por isso testemunho”, obra de consulta obrigatória
sobre a luta de libertação em Moçambique e em outros países africanos que
resistiam à ocupação colonial. O livro aborda ainda episódios importantes
verificados na etapa de consolidação das novas nações independentes.
--------------- Artigo na íntegra:
CARTA A MUITOS
AMIGOS
18
agosto 2015, O País http://opais.sapo.mz (Moçambique)
Sérgio Vieira*
Nestes últimos tempos a comunicação social ofertou-nos
com numerosos comentários sobre o abate no Zimbabué de um leão, com o nome de Cecil. As
redes sociais sobretudo nos EUA e na Europa até desencadearam uma campanha de
assinaturas, já vão lá um bom milhão.
Factualmente parece que o caçador, um dentista americano, não escolheu oCecil,
este foi-lhe indicado pelos guias da coutada. Pagou 50.000US$ pelo animal.
Perguntas e reflexões sobre o evento:
Quem indicou o alvo e portanto culpado pelo abate? O
caçador ou os guias locais?
Um milhão de assinaturas condenando o acto. Quantos
milhares de assinaturas pela morte ou assassínio de crianças na África, no
Médio Oriente, na América Latina? Mortas por gangues de traficantes,
assassinadas pelos ditos drones e vistas como danos colaterais, afogadas no
Mediterrâneo?
Quantas assinaturas e apoios aos camponeses e criadores
de gado que perdem os seus animais devorados por leões? Quantas as pessoas
mortas pelos leões, leopardos, etc.
O Presidente Obama lamentou-se do seu insucesso no controlo do comércio de
armas nos Estados Unidos. Um miúdo que recebeu uma arma como presente de anos
matou 9 pessoas numa igreja, outro matou um bebé seu irmão, um terceiro entrou
para um cinema e lá fez uma mortandade.
Onde estão as assinaturas contra o assassinato dos inocentes quando pessoas
tratem-se de crianças, adultos, idosos? Onde a indignação contra a matança dos inocentes?
Onde as campanhas da comunicação social contra estas situações horrendas?
Quem manda a comunicação social tocar a música da indignação e porquê?
Numa campanha contra a corrupção no Brasil onde se busca indiciar o
Presidente Lula e a Presidente Dilma, tenta-se afirmar que ele interveio a
favor de uma empresa brasileira, aquando da sua visita de Estado a Moçambique,
nos tempos de Joaquim Chissano.
Falando do que sei e testemunhei posso declarar:
A meu conhecimento NUNCA o Presidente Lula procurou
influenciar Moçambique para trabalhar com esta ou aqueloutra empresa
brasileira. Estive no encontro em Maputo.
Claro que como qualquer governante buscou que houvesse um
bom relacionamento entre as empresas brasileiras e moçambicanas, públicas ou
privadas. Do nosso lado também sempre agimos assim.
Eu mesmo no final dos anos 70 desloquei-me ao Brasil a
convite do Chanceler Saraiva Guerreiro, fui recebido pelo Presidente Figueiredo
(creio) e assinei os primeiros acordos com o Brasil. Fui o primeiro membro do
governo moçambicano a deslocar-se ao Brasil.
Sobre a VALE:
Recebi e falei com os 3 concorrentes para a aquisição da
CARBOMOC. Tratava-se da VALE, ANGLO AMERICAN, MITSUBITCHI BILLINGTON. Na época
dirigia o GPZ.
Nenhuma empresa me tentou fazer qualquer tipo de oferta,
comissão ou solicitou que influenciasse a decisão final.
O Governo moçambicano havia requerido:
Que se pagassem 300 milhões de US$ pela aquisição da
CARBOMOC;
Que se apresentasse uma garantia
ilimitada dum banco
respeitado sobre a continuação da operação.
APENAS A VALE PREENCHEU OS REQUISITOS. As duas outas
empresas fizeram ofertas de 200 milhões de US$ para a compra e garantias de 300
milhões.
O Júri de que NÃO FIZ PARTE pronunciou-se a favor da
oferta da VALE a única que preenchia o solicitado pelo Governo.
O Conselho de Ministros aprovou a decisão do júri.
Em Moatize testemunhei a entrega do cheque de 300 milhões
pelo Sr. Agnelli ao Presidente Chissano.
No seu início a VALE comportou-se bem no referente ao
reassentamento das pessoas que viviam no perímetro da CARBOMOC.
Posteriormente agiu de MODO INFAME E DESUMANO no
reassentamento das pessoas que viviam na Benga para onde se estendeu. Falei com
os dirigentes locais da VALE e o Governo e depois publicamente, como muitos
outros, eu denunciei.
Tanto quanto saúdo a vontade brasileira de lutar contra a corrupção, devo
dizer que adoraria que essa vontade e força se manifestassem em Moçambique e
nos países do Primeiro-Mundo donde partem os corruptores e onde primam os
escândalos, as fraudes e especulações bancárias que levam à ruína e miséria
populações inteiras. As instituições financeiras de Bretton Woods e o Banco
Central Europeu fecham os olhos aos corruptores e impõem regras às vítimas que
facilitam a corrupção.
Na busca de contribuir gostaria que a majestade da
Justiça se mostrasse mais modesta no seu despesismo e ostentação.
Vivi no tempo em que magistrados do Supremo, Procurador-Geral e outros
altos dignatários viviam no que se chamava bairro
dos ministros, onde ainda habitam personalidades como Joaquim Chissano,
Marcelino dos Santos, alguns antigos Conselheiros do Supremo.
Sim, tratava-se de vivendas, relativamente modestas, propriedade do Estado
e nada que se aproximasse das rendas de 6.000US$ mensais que se menciona.
Escoltas, motos? Havia quanto muito e inclusive para os Ministros a viatura
de função e uma outra bem modesta para deslocações particulares. A mim coube-me
um Lada e de cor verde alface berrante, para
mal dos meus pecados. 4x4 pertencia à instituição, utilizava o titular do
ministério, tribunal, ou um outro que lá trabalhasse e necessitasse para uma
deslocação específica em missão de serviço e jamais para ir visitar a sua
quinta!
Havia ameaças sérias de segurança, da parte do apartheid
que bombardeou Matola, e a quem abatemos um avião não pilotado, o que hoje se
chama de drones, na baía
de Maputo. O apartheid enviou comandos a Maputo que assassinaram moçambicanos
inocentes, nomeadamente na Julius Nyerere, fez atentados com bombas, um no Centro de Estudos
Africanos da UEM
que matou Ruth First, outro que feriu e fez amputar um braço a Albie Sachs.
Nada que se compare com o presente.
Em contrapartida a majestade da Justiça aceita que conservatórias, onde se
regista a nossa vida e a quem recorremos no quotidiano, estejam à mercê de
incêndios, rebentamento de canos de água, etc. Ficamos privados dos nossos
registos que necessitamos para tudo e mais alguma coisa.
A majestade da Justiça coabita com a morosidade dos
processos e aguardam-se anos para que Justiça seja
feita. Meritíssimos e Venerandos devem reflectir,
ponderar e jamais os sobrecarregarmos com pressas. Ámen!
P.S. Celebraram-se
os setenta anos do holocausto nuclear no Japão. Muitos analistas crêem que as
bombas mais que dirigidas contra o Japão destinavam-se a advertir a URSS da
superioridade americana.
Todos estão conscientes dos riscos para a Humanidade resultantes das armas
de destruição massiva. Além dos EUA, Rússia, Inglaterra e França já se
inscreveram no clube nuclear a China, a Índia, o Paquistão e secretamente com
mais de 600 engenhos segundo o Presidente Carter, Israel. Apenas a África do
Sul saiu do clube nefando.
Pela paz e o fim da ameaça dos horrores, o meu abraço,
SV
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