Esta semana foi prenhe
de acontecimentos políticos à volta dos posicionamentos acrobáticos de Afonso
Dhalkama face à paz no país. É que ele continua a proclamar aos quatro
ventos que é pacifista, mas vai tomar o poder à forca ou vai governar à força
nas seis províncias onde diz que ganhou eleições, sabendo que as mesmas eram
presidenciais e legislativas.
Continua
a afirmar que tem comandos preparados para fazerem isso e que se alguém
aproximar-se, há-de ver, porque eles sabem matar, o que, aliás, não é de
admirar, já que uma boa parte da sua vida foi passada nestas cenas.
A
Associação dos Combatentes da Luta de Libertação Nacional (ACLLN), na voz do
seu secretário-geral, veio esta semana alertar às Forças de Defesa e Segurança
e à população para
estas manobras da Renamo e do seu líder tendentes a conduzir
de novo o país à guerra e advertiu Afonso Dhlakama de que ele pode pagar uma
“factura política elevada” pela sua conduta anti-democrática, se de facto
quiser levar o país a uma nova guerra.
A
ACLLN reitera que s eleições de Outubro último foram livres, justas e
transparentes e que se as mesmas tivessem sido fraudulentas, a Renamo não teria
os 88 assentos que detém agora na Assembleia da República, nem assentos nas
assembleias provinciais, algumas das quais são por si presididas.
Esta
semana, também a Comissão Politica da Frelimo veio a terreiro marcar a sua
posição em relação aos acontecimentos dos últimos dias. Considera que a postura
assumida pela Renamo e o seu líder faz parte “das manobras dilatórias que têm
por finalidade” impedir a desmilitarização e a reinserção económica e social
dos seus homens e o cumprimento efectivo do Acordo de Cessação das Hostilidades
Militares, assinado em Setembro do ano passado.
A
Comissão Política da Frelimo defende também que a paz é um bem comum e
conquista colectiva do povo moçambicano e que deve continuar a ser preservado
por todos e por cada um dos moçambicanos, promovendo acções que contribuam para
o diálogo permanente na família, na comunidade e na sociedade.
É
que todos nós queremos a paz. Ninguém de bom senso deseja a guerra por qualquer
que seja o interesse, muito menos por interesses de outrem, como parece ser o
caso da Renamo.
A
guerra é sangue derramado, é matança, é destruição. É ódio contra o próprio
irmão. Então, não tem razão de ser.
Quem
defende hoje a guerra ou uso de força, será que se esqueceu das consequências
da última, dita dos “16 anos”? Ou se está nas tintas para isso”?
Segundo
dados históricos, essa guerra dos “16 anos” provocou no nosso país, um milhão
de mortos, 454 mil crianças de idade inferior a 15 anos mortas entre 1981 e
1988; sete mil crianças deficientes devido às minas entre 1980 e 1993;
cinquenta mil pessoas amputadas, das quais sete mil crianças e mulheres. Acima
de 250 mil crianças órfãs e não acompanhadas. As crianças foram submetidas a
repetidas experiências traumáticas: ameaças de morte, terror, agressões,
processos sistemáticos de desumanização, fome, sede, malnutrição, exploração
pelo trabalho, abuso sexual, envolvimento em actos militares.
As
consequências dessa guerra foram também cerca de 1/3 de crianças morrendo antes
dos cinco anos; mil por cada 10.000 nado-vivos de taxa de mortalidade materna;
1/3 da população malnutrida; 2/3 da população na pobreza absoluta; mais de 150
aldeias e localidades destruídas; cerca de 4.5 milhões de deslocados internos;
mais de 1.5 milhão de refugiados no exterior, sobretudo nos países vizinhos;
acima de sete 7 biliões de dólares de prejuízos para a economia nacional; mais
de metade da rede rodoviária destruída ou inviabilizada; mais de 50% das
unidades sanitárias destruídas; mais de mil e 800 escolas destruídas e mil e
500 lojas rurais destruídas, entre outros prejuízos incalculáveis.
Será
que é disto que Afonso Dhlakama fala quando diz que quer tomar o poder à forca?
É disto que ele tem saudades quando diz que vai montar um quartel-general em
Morrumbala?
Ele
conclama a multidão, que vai agitando e açulando, contra um governo
democraticamente eleito, em concordância com a Constituição da República, de
aprovação consensual com o contributo activo da própria Renamo. Viola as regras
mais elementares do viver democrático, incita à violação.
Imaginemos,
porém, o que aconteceria nos EUA, na Inglaterra, em Portugal ou na Dinamarca,
se o principal líder da oposição aparecesse em público a anunciar que iria
construir quartéis, ou um quartel-general, para os seus homens, e que, se as
FDS o perseguissem, corrê-las-ia a tiro!
Esquece
Dhlakama que estamos num Estado de Direito, que ele próprio lhe sabota o
caminho rumo à construção plena, invertendo-lhe a marcha.
Um
desses obstáculos, que mina as estruturas do Estado, é a existência duma Renamo
armada. É que as armas impõem o silêncio ditado pelo vencedor de ocasião,
vencedor este que pretende impor o direito da força, recusando a força do
direito. Os partidos passam a ser exércitos que se preparam para a guerra. Se
se sentam à mesa do diálogo, levam as metralhadoras a tiracolo. A atmosfera
envolvente é tecida pelo medo, em vez de favorecer a convivência pacífica. O
medo paralisa e destrói, enquanto a convivência pacífica impulsiona a paz e o
desenvolvimento. O medo gera a turbulência na sociedade, a convivência pacífica
é condição para a construção da liberdade.
A
existência de uma Renamo armada “para o que der e vier” atinge gravemente o
Estado de Direito plasmado na Constituição da República. Há, porém,
altifalantes, muitos deles na nossa própria Imprensa, que vão acrescentando
mais sonoridade à accao turbulenta do líder da Renamo, colocando destaque nesse
enfoque de guerra. Tudo isto para criar um clima de agitação, já que a Renamo
se sente incapaz de progredir em terrenos saudáveis, organizando-se,
democraticamente, para obter a vitória.
Finalizando,
o Presidente da República teve esta semana um gesto nobre em prol da
preservação da paz. De mãos abertas convidou Dhlakama para um encontro-reflexão
sobre os caminhos a seguir para que a paz reine definitivamente no país. Em vez
de aceitar o convite, Dhlakama preferiu ensimesmar-se no espectáculo de massas,
da ameaça e da arruaça. De continuar a dizer que vai tomar o poder à força e
que tem homens armados para isso.
Esperemos
que não seja tarde para perceber que o espírito de tolerância tem limites e que
a tolerância não pode ser confundida com fraqueza.
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