31.05.2014, Правда.Ру, Pravda.ru http://www.pravda.ru (Россия, Rússia)
OS BRICS E O FIM DE BRETTON WOODS
Fatos históricos importantes, muitas vezes, passam em
branco para seus contemporâneos. Nos dias 15, 16 e 17 de julho, em Fortaleza,
ocorre a VI Cúpula dos BRICS. As Cúpulas têm reunido os Chefes de Estado de
Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul anualmente desde 2009. A reunião
de Fortaleza deverá consolidar os BRICS como uma organização dotada de
instrumentos concretos para influir na economia e política internacionais. Este
evento não tem merecido a atenção devida na mídia, na academia e nos debates da
internet.
por Igor
Grabois, especial para o Viomundo, 25 de maio de 2014
Os círculos bem-pensantes e a mídia no Brasil se
espelham na Europa e nos EUA. Desprezam a integração sul-americana e torcem o
nariz para as iniciativas Sul-Sul. Uma política brasileira para a África
provoca reações entre o escárnio e a ojeriza.
Promovem uma campanha sistemática contra
o MERCOSUL.
Querem a ALCA e o TAFTA (acordo de comércio e investimentos entre EUA e União
Européia).
Quanto aos BRICS, a conversa é de que eles não têm
nada em comum, exceto o tamanho. Pois eles têm muitas coisas em comum: o
inimigo.
Os BRICS representam 43% da população mundial, 27% do
PIB mundial e apenas 15% das cotas do FMI. Pelo critério do poder de compra, a
China é a primeira economia mundial, a Índia a quarta, o Brasil a sétima e a
Rússia a décima economia mundial. Estão fora do G-8, que voltou a ser G-7, após
a expulsão da Rússia em função da crise ucraniana.
Crescimento econômico, agricultura, participação no
comércio exterior, indústria, produção de energia etc, todos os dados mostram a
ascensão dos BRICS e a estagnação do G-7.
Rússia, Índia. China e Brasil aumentam a cada ano
fiscal seus gastos militares. Do G-7, apenas o Japão amplia seus gastos
militares para se contrapor à China. Os outros cortam gastos, inclusive os EUA,
apesar do gigantismo de sua máquina militar. A despeito da projeção dos países
BRICS, há um movimento para obstar a influência política e econômica desses
países.
Neste quadro, nada mais lógico do que a associação de
Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Desde a primeira cúpula dos BRICS
em Ekaterinenburgo, em 2009, os acordos multilaterais e bilaterais se
multiplicaram. Ciência e tecnologia, energia, compartilhamento de estatísticas,
agricultura, energia, educação, defesa, espaço, em suma, a materialização de
uma tirada de um diretor do Goldman Sachs é veloz.
Enquanto os BRICS aprofundam os laços, a reação de
EUA, União Européia e Japão é cada vez mais barulhenta.
Não pode haver dúvidas dos verdadeiros alvos dos
ataques dos EUA e União Européia na Ucrânia, na Síria e na Venezuela. Os EUA
resolveram, agora, indiciar oficiais chineses por ciberespionagem... Snowden
que o diga.
The Economist e Financial
Times assumiram o
papel de porta-voz dos rentistas brasileiros e estrangeiros na luta contra o
que a política econômica brasileira pode ter de intervenção estatal e
distributivista.
Desde 1945, o mundo capitalista foi regido pelos
acordos de Bretton Woods, cidade do Massachusets, onde os vitoriosos da segunda
guerra -- sem a União Soviética -- se reuniram para elaborar medidas para
evitar crises como a de 1929.
Foi criado um banco de desenvolvimento, o Banco
Mundial e um fundo para prevenir e combater crises cambiais, o FMI. E mais
importante, elegeram o dólar como moeda de conversibilidade internacional. A
solvência de um país passou a ser medida pela quantidade de dólares que possui.
Porém, o arranjo de Bretton Woods mostrou sinais de
esgotamento a partir da crise do petróleo nos anos 70. A dívida dos países
latino-americanos e do leste europeu explodiu. A terapia do FMI matava os
doentes, ao invés de curá-los.
A América Latina enfrentou a recessão econômica e a
tragédia social sob a égide do Fundo. E a política do Fundo não preveniu as
crises cambiais, ao contrário, contribuíram para agravá-las.
China e Rússia, após a queda do socialismo real em
1989/90, não foram absorvidos no sistema Bretton Woods. Argentina e Brasil,
principais clientes do Fundo, se livraram dos "empréstimos-ponte" na
década passada. O Fundo passa a ser visto como um estorvo, não uma solução. O
FMI se dedica, agora, a detonar as economias da Grécia, Portugal, Espanha e
Irlanda para garantir o euro e as aplicações de banqueiros alemães.
Em 2010, no auge da insolvência dos países do sul da
Europa, chegou-se a um acordo no Conselho de Governadores do FMI. Haveria nova
distribuição das cotas do Fundo, diminuindo o poder de EUA, União Européia e
Japão. Em troca, os BRICS compareceriam com 70 bilhões de dólares. Um alívio
para a Europa em crise. O Congresso estadunidense, simplesmente, rejeitou o
acordo no início deste ano. A gestão do FMI continua como dantes e os 70
bilhões não vão aparecer. Como diz aquela subsecretária, f*-se a União
Européia.
Fortaleza, julho de 2014. Os Chefes de Estado dos
BRICS assinarão o acordo de criação do Novo Banco de Desenvolvimento, o Banco
dos BRICS. Mais, assinarão um Acordo Contingente de Reservas. Um Banco Mundial
e um FMI dos BRICS. China e Rússia fecharam acordo de fornecimento de gás
nominado em rublos e yuans. Brasil e China já fazem parte do seu comércio
nominado nas respectivas moedas nacionais.
As duas entidades financeiras, inicialmente, terão
atuação nos países signatários. Nada impede que atuem junto a países fora dos
BRICS. É só o começo. Afinal, para que acumular dólares, aturar as
idiossincrasias das autoridades monetárias estadunidenses se os ventos batem em
outra direção?
Timothy Bancroft-Hinchey
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BRICS, БРИКС: Brasil, Rússia, Índia, China, South Africa, Бразилия, Россия, Индия, Китай, Южная Африка
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