17 junho 2014, ODiario.info http://www.odiario.info (Portugal)
O Conselho Português para a Paz e a Cooperação manifesta a sua
extrema preocupação com a escalada militar e o autêntico massacre que as forças
armadas ucranianas e grupos paramilitares nazifascistas ao serviço das
autoridades golpistas de Kiev estão a levar a cabo no Leste da Ucrânia,
nomeadamente em Donetsk e Lugansk.
Centenas de ucranianos foram já mortos e muitos procuraram já
refúgio, designadamente na Federação Russa, como consequência das incursões
militares e dos bombardeamentos, sem que a chamada «comunidade internacional»
os denuncie, condene e faça algo para os impedir. Pelo contrário, a junta
golpista de Kiev conta – também nos seus hediondos crimes – com o beneplácito e
o apoio explícito dos EUA, da NATO e da União Europeia.
Estes cruéis bombardeamentos são o corolário trágico de um golpe de
Estado que colocou no poder em Kiev os grandes oligarcas em aliança com
tenebrosas forças que se reivindicam do fascismo e do nazismo – que funcionaram
e funcionam como «tropa de choque» de poderosos interesses internos e externos.
Desde o primeiro momento, as forças golpistas não tardaram em
pôr
em causa, na Ucrânia, as mais elementares liberdades democráticas e direitos
das populações de língua russa, largamente maioritárias no Sul e Leste da
Ucrânia, assim como a acção das organizações políticas e populares que lhe
resistem, nomeadamente através da intimidação, da agressão e da ameaça de
ilegalização da sua actividade.
* * *
As recentes «eleições presidenciais», que deram a vitória a Petro
Porochenko, foram de facto tudo menos democráticas. Não só os eleitores de uma
parte importante do país as rejeitaram, como não estiveram reunidas as
condições mínimas para um escrutínio legítimo. Vários foram, aliás, os
candidatos opositores do golpe que acabaram por retirar as suas candidaturas
depois de terem sido objectivamente impedidos de fazer campanha livremente,
sendo que alguns foram mesmo alvo de espancamentos e atentados por parte dos grupos
nazifascistas que sustentam a junta de Kiev.
O apoio à junta golpista por parte dos principais oligarcas do país
– entre os quais o recém-«eleito» Petro Porochenko, um dos homens mais ricos da
Ucrânia –, deita por terra um dos argumentos centrais dos autores do golpe,
isto é, que este correspondia aos legítimos anseios do povo ucraniano de pôr
fim à corrupção e poder dos oligarcas. O objectivo desta brutal ofensiva contra
as populações do Donbas visa esmagar toda e qualquer resistência ao golpe, procurando
estender o domínio dos golpistas de Kiev a toda a Ucrânia.
A proclamação das Repúblicas Populares de Lugansk e Donetsk
(independentemente do juízo que cada um faça destes acontecimentos) foram,
essencialmente, uma expressão de resistência popular perante a explícita
declaração de guerra da junta fascista de Kiev contra as populações ucranianas
de língua russa, maioritárias no Leste da Ucrânia. Recorde-se que uma das
primeiras medidas assumidas após o golpe foi precisamente a proibição da língua
russa – falada, há que lembrar, por uma grande parte dos ucranianos.
A natureza fascista do novo poder de Kiev – apoiado, nunca é demais
repetir, pelas principais potências ocidentais – fica clara na sua própria
composição, integrando forças assumidamente fascistas e neonazis, como o
partido Svoboda (Liberdade) – até há pouco tempo denominado «Partido Nacional
Socialista» –, e o Sector de Direita – organização paramilitar responsável por
espancamentos, torturas e assassinatos, que se encontra actualmente a ser integrada
na nova Guarda Nacional ucraniana. O massacre de Odessa, em que perto de uma
centena de pessoas foram assassinadas – queimadas, espancadas ou executadas –
na Casa dos Sindicatos daquela cidade, onde se encontravam refugiados
activistas anti-golpistas, é um dos mais brutais crimes perpetrados na Ucrânia,
com uma clara marca nazifascista.
Saliente-se ainda que são as forças que levaram a cabo o golpe,
instigadas e apoiadas pelos EUA, a NATO e a UE, que, igualmente, são as
primeiras responsáveis pela afirmação de auto-determinação da população da
Crimeia e sua reintegração na Federação Rússia.
* * *
O CPPC alerta para a ingerência dos EUA, da NATO e da UE que,
manipulando reais e justos sentimentos de revolta do povo ucraniano para com o
governo deposto de Ianukovitch – que se insere no processo de súbito
empobrecimento do povo e longa pilhagem do país desde o desaparecimento da
União Soviética, no início dos anos 90 do século passado – para colocar no
poder forças leais e empenhadas em servir a perigosa agenda provocadora e
aventureira dos Estados Unidos da América e da NATO de crescente tensão e
confrontação com a Federação Russa.
Para se entender o problema ucraniano há que o inserir no cerco à
Federação Russa há muito levado a cabo pelos EUA e patente: no alargamento da
NATO para o Leste da Europa, no verdadeiro «anel de fogo» que representam as
inúmeras bases militares instaladas na Europa e na Ásia Central; na
destabilização da Geórgia ou na promoção e apoio às múltiplas «revoluções
coloridas» protagonizadas em muitos dos países vizinhos; e no projecto do (mal)
chamado «escudo anti-míssil» que se apresenta como pretenso dispositivo
defensivo dos EUA, mas que de facto visa ameaçar a paridade nuclear dissuasora,
agravando o risco de desenlace de holocausto nuclear.
O CPPC alerta ainda para a verdadeira «guerra mediática» em torno
da situação na Ucrânia, repetida e amplificada pelos poderosos meios de
comunicação à disposição das grandes potências ocidentais, que promoveram o
golpe de Fevereiro e apoiam o novo poder oligárquico e fascista e os sucessivos
massacres por ele praticados.
Campanha mediática com a qual se pretende apresentar o governo
golpista de Kiev como «democrático» e «legítimo» (quando na verdade este é
integrado por forças neonazis e fascistas e chegou ao poder através de um golpe
de Estado preparado e financiado a partir do exterior, nomeadamente pelos EUA e
a UE) e as populações do Leste da Ucrânia como «terroristas» e «separatistas
pró-russas» e não, como seria correcto, antifascistas.
O CPPC apela de todos os que defendem a paz, a democracia, o
progresso e a justiça social, para que, neste momento difícil, se solidarizem
com o povo ucraniano para travar o passo ao fascismo e àqueles que manobram com
as suas justas aspirações para cumprir agendas económicas e geo-estratégicas
com consequências perigosas e imprevisíveis para a paz e a estabilidade na
Europa.
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