20 junho 2014, ODiario.info http://www.odiario.info (Portugal)
Entre as similitudes do fascismo clássico com os regimes de George
W. Bush e Barack Obama, López y Rivas destaca a componente militarista das
cruzadas neocoloniais actuais, a fé cega na tecnologia bélica, o favoritismo
concedido às grandes corporações do chamado complexo militar-industrial, o
ultranacionalismo, o racismo genocida que aniquila povos inteiros e o social
darwinismo resultante da imposição a ferro e fogo das políticas neoliberais.
Com base em dois manuais do Pentágono e num «guia cultural» das
forças especiais dos Estados Unidos, Gilberto López y Rivas dá-nos uma obra [1]
de grande actualidade que nos permite compreender, se também lermos as
entrelinhas, o que se passou no quadro de uma falsa guerra às drogas durante o
mandato de Felipe Calderón [N.do T.: presidente do México de 2006 a 2012], e o
que está agora a acontecer em termos de segurança e violência, no regime
autoritário de Enrique Peña Nieto.
O texto parte do conceito de «terrorismo global de Estado» para
caracterizar a violenta política do capitalismo na sua actual fase, e mostra
alguns traços neofascistas das guerras coloniais dos Estados Unidos e dos seus
aliados europeus da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) nos
começos do século XXI.
Para isso, o autor recorre a uma definição clássica de fascismo
formulada em 1935 pela Internacional Comunista, que coloca ser «o fascismo no
poder uma ditadura clara e terrorista dos elementos mais reaccionários, mais
chauvinistas e mais imperialistas do capital financeiro».
Mas como o mundo
mudou nos últimos 70 anos, e o nazi-fascismo correspondeu a realidades
concretas que germinaram na Europa a partir do primeiro pós-guerra do século
passado, adverte-nos que ainda não se criou uma definição mais adequada ou uma
categoria para caracterizar a violência terrorista do capital financeiro nos
nossos dias.
Entre as similitudes do fascismo clássico com os regimes de George
W. Bush e Barack Obama, López y Rivas destaca a componente militarista das
cruzadas neocoloniais actuais, a fé cega na tecnologia bélica, o favoritismo
concedido às grandes corporações do chamado complexo militar-industrial (com
epicentro no Pentágono), o ultranacionalismo, o racismo genocida que aniquila
povos inteiros e o social darwinismo resultante da imposição a ferro e fogo das
políticas neoliberais. Elementos que, juntamente com a transgressão dos quadros
ideológicos e políticos da repressão «legal» (justificada pelo quadro jurídico
tradicional), a aplicação de facto de medidas de excepção, bem como a
utilização de métodos belicistas «não convencionais» para desestabilizar,
invadir e ocupar territorialmente países, exterminar oposições políticas e o
protesto social, configuram a base do novo colonialismo em curso de matriz
estadunidense.
Com está anunciado no subtítulo da obra e dada a sua profissão
[antropólogo], Gilberto López y Rivas dá enfases à utilização, pelo Pentágono,
de antropólogos e outros cientistas sociais nas unidades de combate das tropas
de ocupação estadunidenses no Afeganistão e no Iraque. O autor parte de um
artigo de David Rohde no New York Times de Outubro de 2007, que define o
envolvimento das ciências sociais nos actos bélicos como uma «nova arma crucial
nas operações contra-insurrecionais» no âmbito de um «programa experimental» do
Departamento de Defesa, iniciado nesse mesmo ano.
O dito programa, que tem os seus antecedentes no recurso a
antropólogos nas campanhas contra-insurrecionais dos Estados Unidos durante a
guerra do Vietname e no Plano Camelot experimentado no Chile em meados dos anos
sessenta, levou agora um importante sector da academia estadunidense a
considerá-lo como uma «prostituição daquela disciplina».
Um ano antes, a Associação Antropológica Americana tinha condenado
por unanimidade «o uso do conhecimento antropológico como elemento de tortura
física e psicológica» na prisão de Abu Ghraib, no Iraque. Não obstante, a
antropóloga Montgomery McFate, criadora do programa Sistema Operativo de
Investigação Humana na acção do Pentágono – a quem, diz Gilberto, se impôs a
tarefa de «educar» os militares – dedicou-se a convencer os estrategos da
contra-insurreição que a «antropologia social pode ser uma arma mais eficaz que
a artilharia». Uma visão cínica e beligerante que o autor não duvida em
classificar como própria de «antropologia mercenária».
Como expressão desse envolvimento da alta burocracia académica com
a maquinaria de guerra dos Estados Unidos, cita a publicação, em Julho de 2007,
do Manual de campo da contra-insurreição 3-24, editado pela Universidade de
Chicago, a mesma donde saíram Milton Friedman e os seus Chicago boys em 1973,
ainda o Palácio de la Moneda fumegava, para experimentar a aterragem das
políticas neoliberais no Chile, depois do golpe militar de Richard Nixon, Henry
Kissinger e o general Augusto Pinochet.
Coordenado pelo general Augusto Petraeus, que esteve responsável
das forças expedicionárias dos Estados Unidos no Iraque, o Manual mostra a
falta de ética daquele centro de ensino superior e dos seus «intelectuais
mercenários», no que David Price, citado pelo autor, descreveu como uma
«prostituição da antropologia ao serviço das guerras do império».
No prefácio do Manual, assinado por Petraeus e pelo general James
Amos do corpo de Marines, avançam-se alguns elementos e conceitos-chave para
entender a renovação ou a actualização da contra-insurreição. Entre eles o
recurso á acção conjunta das forças de combate (soldados e marines) com acções
frequentemente associadas a repartições não-militares. Isto implica a cooperação
e coordenação intergovernamental do Departamento de Defesa com os restantes
serviços da chamada «comunidade de inteligência» (CIA, DEA, FBI, etc.) e,
também, entre outras, da Agência para o Desenvolvimento Internacional dos
Estados Unidos (USAID na sigla inglesa), dependente do Departamento de Estado.
É também necessário que as campanhas de contra-insurreição
disponham de «forças flexíveis» adaptáveis a circunstâncias diversas num dado
país, com líderes castrenses «ágeis, bem informados e culturalmente astutos»
Isto é, capazes de «compreender» as culturas dos «nativos» que se rebelam
contra a ordem estabelecida.
Devido ao facto de desde há mais de meio século os sucessivos
inquilinos da Casa Branca se arrogarem o direito de intervir militarmente em
qualquer parte do mundo, com a justificação da extraterritorialidade das suas
operações de contra-insurreição, os actuais estrategos do Pentágono utilizam
uma endrominação jurídica denominada «nação hospedeira», cujo governo «convida»
os Estados Unidos a intervir no seu território contra o seu próprio povo. Por
exemplo, para citar um caso próximo, o México de Filipe Calderón.
Mas devido ao facto de a nova modalidade bélica do Pentágono ser
contra o que define como «inimigos irregulares» ou «assimétricos» e não contra
exércitos profissionais, o Manual inclui uma série de aspectos e tarefas
«não-militares» que devem fazer parte da contra-insurreição na sua actual fase.
Entre eles estão matérias complexas como a governação, o desenvolvimento
económico, a administração pública e o império da lei, tudo combinado com as
formas mais conhecidas da «guerra interna», isto é, as acções militares
directas ou encapotadas, a guerra psicológica, a guerra suja, a acção cívica, o
controlo da população, o paramilitarismo, e mercenarismo e o uso da economia e
dos meios de difusão massiva como armas de guerra.
Outros aspectos chave da contra-insurreição são os trabalhos de
inteligência e a análise e aprendizagem da sociedade de um país objectivo, dos
grupos étnicos que o habitam, a forma de governo, as forças coercivas do
Estado, as suas instituições, cultura, linguagem, percepções, valores, redes,
crenças da população, para o que se recorre a peritos em antropologia, economia
e ciências políticas, que têm um papel importante no que tecnicamente se
conhece como «Preparação de Inteligência no Campo de Batalha».
Tudo isto visa saber qual o apoio ou tolerância da população para
com um grupo guerrilheiro, um governante ou dirigente político, as suas
capacidades e vulnerabilidades, as suas tácticas, estratégias e formas de
organização. Cada dirigente é objecto de um escrutínio detalhado que inclui a
sua vida pessoal, trajectória, crença, ideologia, temperamento, educação e um
longo etecetera. Para recolher a informação utilizam-se todos os tipos de
inteligência: humana (que inclui a obtenção de dados de jornalistas,
académicos, políticos, empresários, empreiteiros, militares e polícias do
governo fantoche ou a desestabilizar), a inteligência militar, o interrogatório
de presos e desertores muitas vezes através da tortura, a escuta telefónica e a
espionagem das redes da internet – como ficou evidenciado com as revelações de
Edward Snowden sobre o papel da Agência Nacional de Segurança (NSA) –, a que se
somam as formas rotineiras de obtenção de informação, através do reconhecimento
e da vigilância, bem como o uso de sensores, câmaras, inteligência espacial,
análises de arquivos de propriedade, financeiros, conteúdo de celulares e
computadores.
López y Rivas cita outro documento, o Manual de Equipamento Humano
no Terreno, elaborado pelo militar Nathan Finney em 2008, que é utilizado para
preparar e treinar especialistas militares e académicos fornecidos por empresas
fornecedoras do Pentágono, que juntamente com soldados integram pequenas equipas
compostas por cinco a nove pessoas, cuja tarefa é apoiar os comandantes no
teatro de guerra.
Isto é, para além das matérias tradicionais que o comando deve ter
em conta: missão, inimigo, terreno e condições meteorológicas, tropas amigas e
apoios disponíveis, são necessários outros dados sobre a cultura local e os
factores políticos, económicos e religiosos da população, que lhes são
proporcionados por estas equipas mistas de soldados e civis. Isto porque,
segundo o Manual, «a dimensão humana é a própria essência da guerra irregular».
Como aponta o autor, estas pequenas equipas constituídas por 5 a 9
membros, contam com um líder, normalmente um oficial no activo ou na reserva,
um cientista social, um processador de informação e dois analistas, sendo
óptimo que haja uma mulher, alguém que fale língua local e uma outra pessoa que
seja perita no país em questão.
Ambos os manuais são utilizados na chamada dominação do espectro
completo (full spectrum), noção desenhada pelo Pentágono antes do 11 de
Setembro de 2001, que abarca uma política combinada onde aspecto militares,
económicos, mediáticos e culturais têm objectivos comuns. Dado que o espectro é
geográfico, espacial, social e cultural, para impor a dominação é preciso haver
o consentimento. Isto é, inculcar na sociedade sensos «comuns» que através de
imagens, e uma narrativa adequada provoquem o conformismo nas massas,
levando-as a aceitar a visão do poder hegemónico do mundo, o que cria massas
conformistas que aceitem de forma acrítica e passiva a manutenção e a
reprodução da ordem estabelecida ou, no caso de um país e um governante
considerado «hostil» por Washington, criar um inimigo a derrotar através de
meias verdades, mentiras e mitos, como parte da guerra psicológica e das
operações encapotadas.
Essa é a tarefa que o Pentágono deixa para as grandes cadeias de
multimédia sob controlo de monopólios privados que, por processos de
desestabilização como os de Cuba e Venezuela recorrem ao terrorismo mediático,
instigando magnicídios e golpes de Estado.
Outro documento citado pelo autor que se soma aos anteriores é o
Guia para o assessor das forças especiais que, segundo o antropólogo David
Price – parafraseando Emily Post – é «um manual de etiqueta da
contra-insurreição». Para Price, o principal propósito do Guia é instruir e
treinar os militares para interagirem melhor com outras culturas. O documento foi
elaborado para evitar o choque cultural dos frágeis boinas verdes (como se
denominam agora os soldados das forças armadas da Marinha estadunidense).
Um quarto documento utilizado por López y Rivas para estruturar a
obra que apresentamos é o Manual de campo 31-20-3, tácticas, técnicas e
procedimentos de defesa interna para as Forças Especiais no estrangeiro,
terceiro de uma série produzida pelo Departamento de Defesa, cujo propósito
político-militar é a defesa dos interesses nacionais estadunidenses (entenda-se,
os interesses das corporações e o acesso a territórios com valor geopolítico e
a recursos geoestratégicos como o petróleo, a água doce, a biodiversidade e
outros), através da assessoria e treino contra-insurrecional de tropas de
«sipaios» na nação hóspede x». O que nos remete, no caso de México de Calderón
e do actual, aos cursos e assessorias militares recebidos por membros da
Secretaria da Defesa Nacional e da Secretaria da Marinha.
Sobre isto, o Manual esclarece uma série de facetas sobre a guerra
de contra-insurreição, entre elas as acções prévias a uma missão de
intervenção, as autorizações de treino, o desenvolvimento de tropas de elite
(aberto ou encapotado) na nação hóspede, os programas de instrução de tropas,
as operações tácticas, o controlo da população, as operações conjuntas, tal
como os anexos que incluem operações de inteligência, forças de autodefesa
civil (paramilitares), estabelecimento de bases e um etecetera que inclui os
meios de difusão massiva (a imprensa, escrita, radiofónica e televisiva) e,
naturalmente, o Serviço de Informação dos Estados Unidos (USIA) adstrito a cada
embaixada de Washington no mundo. O que reporta a tarefas de propaganda,
desinformação e terrorismo mediático, em coordenação com as operações de guerra
psicológica do Pentágono.
Cabe destacar, como sublinha López Y Rivas no seu texto, a
importância que o Manual atribui ao recrutamento e integração de forças
paramilitares ou irregulares e esquadrões da morte, como parte integrante das
actividades de contra-insurreição. A sua missão é a guerra suja e/ou o chamado
«caçar-matar» utilizado por «forças amigas» como uma «técnica» (sic) em
operações de consolidação. Isto é, caçar e destruir ou exterminar inimigos
isolados.
Cito textualmente: «A equipa de caçar-matar consiste em duas
secções: os caçadores e os assassinos. Os caçadores devem estar levemente
equipados e ser extremamente móveis. A sua missão é localizar as forças
inimigas enquanto mantêm comunicação permanente com os executores, que estão
alerta e prontos para entrar em acção. Quando os caçadores fazem o contacto,
notificam os assassinos».
Destaque-se o ênfase do Manual sobre a missão principal das forças
especiais num país hóspede: organizar, treinar, aconselhar e desenvolver a
capacidade táctica e técnica das forças militares locais, para que possam
derrotar a insurreição ou o «inimigo interno» sem o envolvimento directo dos
Estados Unidos, e recorrendo, se necessário, à acção clandestina de
organizações de civis armados, seja sob a forma de paramilitares, de
mercenarismo ou de grupos de autodefesa.
No caso do México, através da Iniciativa Mérida (2007), sob a
cortina da guerra às drogas, e com a aquiescência servil de Felipe Calderón que
subordinou a Sedena, a Semar, a Polícia Federal, o Cisen e outras estruturas do
aparelho de segurança do Estado às correspondentes estruturas estadunidenses, o
esquema teve um saldo conhecido: uma catástrofe humanitária. Mais de 150 mil
mortos, muitos assassínios de forma sumária e extrajudicial (alguns
provavelmente vítimas do «caçar-matar» do manual norte-americano), 30 mil
detidos-desaparecidos e 250 mil deslocados à força. Com a agravante de a guerra
de contra-insurreição estadunidense ser instrumental à estratégia de assumir o
controlo da «nação hóspede», o que efectivamente ocorreu em matéria de
segurança e inteligência sob o regime genocida de Calderón.
Referimos acima a importância que o Pentágono dá à luta ideológica
no campo da informação; o papel dos meios de difusão massiva como arma
estratégica e política. Um parágrafo citado por López y Rivas é, só por si,
eloquente:
«As guerras modernas têm lugar em espaços para lá dos elementos simplesmente físicos do campo de batalha. Um dos mais importantes são os meios de comunicação, nos quais (…) a “batalha da narrativa” se dará. Os nossos inimigos reconheceram que para o êxito a percepção é tão importante como o próprio facto (…). Ao fim do dia, a percepção do que se passou importa mais do que o que realmente se passou. Dominar a narrativa de qualquer operação, seja ela militar ou de outro tipo rende enormes dividendos. Fracassos no terreno minam o apoio às nossas políticas e operações, e actualmente podem arruinar a reputação do país e a sua posição no mundo».
Deve dizer-se que Calderón conseguiu impor nas manchetes dos meios
de comunicação a «sua» narrativa sobre a «guerra» das drogas. Por sua vez, os
seus patrocinadores em Washington conseguiram por vezes fabricar a imagem do
México como um «Estado falhado» (perda de controlo físico do território
nacional, erosão da autoridade governamental, crise económica aguda, corrupção
grave, incapacidade de prestar serviços públicos e cobrar impostos), o que lhes
permitiu desencadear no México um processo acelerado que, centrado numa
violência caótica e de aparência demencial – dado que foi uma violência
friamente calculada – derivou na militarização, na paramilitarização e na
mercenarização do país. Tal como antes já acontecera na Colômbia.
No final do texto, num parágrafo sobre «o narcotráfico como arma do
império», o nosso autor apoia-se no argentino Marcelo Colussi ao assinalar que
os Estados Unidos encontraram nesse campo de batalha (o da falsa guerra às
drogas), um terreno fértil para prolongar e readequar a sua estratégia de
controlo social universal.
Uma população assustada é muito mais manejável. É por isso que em
regiões e países onde existem recursos geoestratégicos como petróleo, gás
natural, água doce, biodiversidade, etc., e/ou focos de resistência popular,
aparece o «demónio» do narcotráfico e das respostas político-militares de
Washington.
Em rigor, e independentemente de na Colômbia e no México haver
traficantes de drogas ilícitas, os dois países foram escolhidos como plataforma
da guerra de contra-insurreição e de guerra social desencadeada contra as
diferentes formas de resistências e oposições políticas.
Tenho algumas dúvidas sobre as afirmações de López y Rivas de que
os grupos da economia criminosa tenham recursos materiais superiores aos das
Forças Armadas mexicanas, pelo menos no que respeita a armamento e equipas de
inteligência. Mas concordamos com ele e com Pablo González Casanova quanto à
chamada globalização ser um processo de dominação e apropriação do mundo, no
quadro de uma reconversão transnacional do sistema capitalista.
No quadro de uma guerra de amplo espectro ou espectro completo, a
«territorialidade da dominação» – de acordo com a expressão estabelecida por
Ana Esther Ceceña há mais de um lustre – combina interesses de segurança e
económicos relacionados com o acesso a zonas privilegiadas pelas suas matérias-primas
e recursos estratégicos, com uma acção de controlo directo sobre as populações
e pontos geográficos determinantes, para os quais foram desenhados mega
projectos de infra-estruturas (redes multimodais de estradas, portos,
aeroportos, vias férreas, canais, cabos de fibra óptica). Como resumiu em 2007
o Observatório Latino-americano de Geopolítica, «trata-se de transformar o
território; de o adequar às novas mercadorias, às novas tecnologias e aos novos
negócios. Quadriculá-lo, ordená-lo, torná-lo funcional e… produtivo».
Esse é, a meu ver, o que está a acontecer e a consolidar-se de uma
forma acelerada no México desde 2007 até ao presente, e esta obra de López y
Rivas é essencial para ver como actua a contra-insurreição do Pentágono na
prossecução dos seus fins.
Deixei para o final as palavras de um veterano da guerra do Iraque:
«Fui um assassino psicopata porque me treinaram para matar. Não nasci com essa mentalidade. Foi o Corpo de Infantaria da Marinha quem me educou para ser um gangster das corporações estadunidenses, um delinquente. Treinaram-me para cumprir cegamente a ordem do Presidente dos Estados Unidos e trazer-lhe para casa o que ele pedisse, sem qualquer problema de ordem moral. Eu era um psicopata porque nos ensinaram a disparar primeiro e a perguntar depois, como o faria um doente e não um soldado profissional que só deve enfrentar-se com outro soldado. Se havia que matar mulheres e crianças, fazíamo-lo. Portanto não eramos soldados mas mercenários».
Creio que esta confissão poderá reflectir um pouco o que se está a
passar no México, consequência do treino militar do Pentágono aos corpos de
elite do Exército, da Marinha de Guerra e da Polícia Federal. Muitas mortes
poderão atribuídas a assassinos profissionais que estão a actuar como mercenários
de uma potência estrangeira em território nacional.
Parabéns ao autor, cuja longa e comprometida trajectória permite
constatar que o campo popular conta com académicos e antropólogos que com a sua
obra e a sua militância enfrentam decididamente o Pentágono e o poder
capitalista transnacional.
Nota do tradutor:
[1] Estudiando la contrainsurgencia de Estados Unidos - Manuales, mentalidades y uso de la antropologia, de Gilberto López y Rivas, Editorial Ocean Sur]
[1] Estudiando la contrainsurgencia de Estados Unidos - Manuales, mentalidades y uso de la antropologia, de Gilberto López y Rivas, Editorial Ocean Sur]
* Jornalista uruguaio radicado no México do quadro redactorial do
diário mexicano La Jornada
Este texto foi publicado em
http://www.rebelion.org/noticia.php?id=185704
Tradução: Paulo
Gascão
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