Vermelho /10 Julho 2007
Um grupo formado pelos principais partidos de esquerda do Peru, além de diversos movimentos sociais progressistas peruanos, divulgou nesta segunda-feira (9) uma carta aberta endereçada ao presidente Alan Garcia, na qual estão elencadas diversas mudanças necessárias ao desenvolvimento do país.
O tom da carta é bem forte e cobra do presidente grande parte de suas promessas de campanha. A esquerda acusa Garcia de continuísmo, e relembra que durante as eleições seu discurso pregava a necessidade de uma mudança responsável, até agora não colocada em prática.
Confira abaixo a carta:
"Prezado presidente Alan Garcia,
Em 2006, o senhor defendeu uma "mudança responsável". Após um ano de gestão, é evidente que o senhor trocou a mudança pelo continuísmo. Mantém a política econômica neoliberal, que torna os ricos mais ricos e abandona os pobres à própria sorte, e persiste em velhos estilos políticos, enquanto a corrupção e o abuso de poder aumentam, provocando indignação e frustração.
Seu governo – uma aliança com os grupos econômicos, o fujimorismo a Unidade Nacional – é responsável pelo fato de o Peru ter perdido uma oportunidade histórica, por debilitar sua soberania e vai contra a corrente das mudanças das mudanças na América Latina. A economia cresce, graças aos altos preços internacionais de nossos recursos naturais. Isso gera uma enorme renda que deveria servir para fortalecer e modernizar a educação e a saúde públicas (universais e gratuitas), para construir infra-estrutura e promover a agricultura e a pequena e micro empresa. Mas isso não é feito. Não se busca a justiça social. O senhor e seu gabinete mantêm a desavergonhada concentração de riqueza nas maõs de poucos, enquanto a maioria pobre sofre a alta do custo de vida, o desemprego e o trabalho sem direitos.
Os senhores garantem escandalosos privilégios tributários às multinacionais que se apropriam de nossos recursos naturais, ao invés de aplicar-lhes uma Reforma Tributária que faça pagar mais aqueles que ganham mais. Não regulam e nem reduzem – a favor da população e dos produtores – as tarifas de serviços fundamentais. Reduzem e manipulam os programas sociais, desprotegem a Amazônia, maltratam aos trabalhadores e congelam seus salários, enquanto propagam uma suposta bonança econômica.
O senhor diz que irá terminar com a demagogia, mas suas promessas não-cumpridas e a necessidade desatendida da população provocaram, há quatro meses, justos protestos e mobilizações em 11 regiões. Dezenas de milhares de homens e mulheres do campo e das cidades reclamam contra o aumento do custo de vida e dos salários congelados, exigem desenvolvimento e progresso nacional, enquanto as multinacionais têm enormes privilégios. Exigem oito horas de trabalho, direito a férias, à sindicalização e à negociação coletiva. Educação e saúde públicas e universais. Os grêmios do campo reclamam uma política agrária coerente, crédito acessível e apoio técnico, ameaçados – como os pequenos e micros empresários – pela competência desleal de um Tratado de Livre Comércio, feito pelas costas da população, enquanto é imposta a ela um ministro banqueiro que sabota o Banco Agrário e se desentende com os cocaleiros.
O senhor e seu gabinete respondem com prepotência a quem reclama paz e justiça. Um Ministério do Interior que criminaliza o protesto social é inaceitável, como o é um ministro que ameaça à população. Os protestos crescem com razão. Eles não serão calados com a repressão, o medo e a perseguição aos dirigentes sociais que lutam junto a seu povos.
Pelo aqui exposto, senhor presidente, as forças políticas abaixo assinadas exigem uma mudança de rota e de políticas para sair do atraso e da pobreza, construir uma sociedade justa, que faça respeitar sua soberania e integridade, que dê oportunidade de progresso para todos. Pedimos ao senhor que cumpra com seus compromissos, que abandone a soberba e a ameaça e licencie a esse gabinete, como gesto de uma possível retificação de uma gestão de um governo continuista e apoiada em uma aliança política espúria e ilegítima.
O país exige mudanças. Por isso, junto aos numerosos movimentos sociais, apoiamos a Jornada Nacional de Luta Cívica e Popular de 11 de julho. Também respaldamos a paralisação agrária convocada para 11 e 12 de julho. Escute essas vozes. Atenda suas demandas. Mude de rumo. Os povos do Peru assim o exigem, seguros de que, unidos e conscientes de ser a fonte final do poder legítimo, construirão um Novo Peru."
P.S. Este documento foi assinado pelos seguintes partidos e agrupações: Partido Nacionalista Peruano, Movimento Nova Esquerda, Partido Comunista Peruano, Partido Socialista, Comitê Malpica e Partido Socialista Revolucionário.
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