segunda-feira, 2 de setembro de 2019

Mercosul, Brasil/Direitos indígenas na Constituição não podem ser alterados, aponta análise jurídica do Cimi sobre PECs 187 e 343


27/08/2019, Conselho Indigenista Missionário-Cimi* (Brasil) https://cimi.org.br/2019/08/direitos-indigenas-constituicao-nao-podem-ser-alterados-aponta-analise-juridica-cimi-pecs-187-343/

Nota técnica da Assessoria Jurídica do Cimi aponta que direitos 
constitucionais indígenas são cláusulas pétreas e PECs 343 e 187
são inconstitucionais   Foto: Fábio Nascimento/MNI

Por Assessoria de Comunicação do Cimi

Em nota técnica sobre as Propostas de Emenda à Constituição (PECs) 187/2016 e 343/2017, a Assessoria Jurídica do Conselho Indigenista Missionário – Cimi avalia que ambas as proposições são inconstitucionais, por atingirem cláusulas pétreas da Constituição Federal e por pretender alterar diretos humanos protegidos pela legislação internacional, a exemplo da Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

As PECs, que tramitam conjuntamente na Câmara dos Deputados, pretendem alterar os direitos reconhecidos aos povos indígenas nos artigos 231 e 232 da Constituição Federal de 1988. A análise aponta que tais artigos tratam de direitos e garantias individuais e coletivas e são, portanto, cláusulas pétreas, “resguardadas pela imutabilidade constitucional”.

“Todos os elementos do direito indígena
que conformam o Capítulo VIII da CF/88, do Título VIII, são direitos individuais indígenas, em certo plano; mas, vão muito além, diante da cosmovisão, por serem direitos indisponíveis manejados no plano da coletividade, considerando a relação multicultural e pluriétnica das gentes indígenas”, afirma a nota técnica.
“A apropriação as riquezas naturais por terceiros, particulares, existentes em território indígena, é eminentemente inconstitucional”

Propostas inconstitucionais
A nota da Assessoria Jurídica do Cimi analisa ponto a ponto cada uma das propostas que tramitam na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJC) da Câmara dos Deputados.

A PEC 343/2017, de autoria do deputado Nelson Padovani (PSDB-PR), é consideradaa mais danosa das duas e apontada como inconstitucional porque, além da tentativa de alterar as cláusulas pétreas dos artigos 231 e 232, afronta a autonomia dos povos indígenas, ao prever a cessão de terras demarcadas para a exploração por não índios e a abrir caminho para a exploração de recursos hídricos e minerais sem autorização do Congresso Nacional.

“O usufruto das terras indígenas é exclusivo”, afirma a nota. “A apropriação as riquezas naturais por terceiros, particulares, existentes em território indígena, é eminentemente inconstitucional”.

“Permitir que a Funai exerça a tutela indígena é fazer retroceder o direito humano do índio em 30 anos, quando vigorava a política integracionista que pretendia a eliminação completa dos povos indígenas”

(Fotos/Povos indígenas manifestam-se contra as PECs 187 e 343 na CCJC da Câmara dos Deputados, em Brasília. Foto: Tiago Miotto/Cimi)

A peça também destaca a inconstitucionalidade da proposta que previa que os acordos para a exploração agropecuária das terras indígenas por fazendeiros seriam negociados entre não indígenas interessados e a Fundação Nacional do Índio (Funai), sem a participação dos povos indígenas.

“Permitir que a Funai exerça a tutela indígena é fazer retroceder o direito humano do índio em pelo menos 30 anos, quando vigorava a política integracionista, que pretendia a eliminação completa dos povos indígenas e das diferenças culturais em um período de poucos décadas”, expõe a Assessoria Jurídica.

No caso da PEC 187/2016, de autoria do deputado Vicentinho Júnior (PL-TO), a proposta, além de inconstitucional, é considerada “irrelevante” e “inócua” pela análise técnica. A proposta pretende alterar o artigo 231 para incluir uma autorização explícita a “atividades agropecuárias e florestais” em terras indígenas – algo que já é permitido pela própria constituição.

Segundo a nota, a PEC 187 traz “uma ideia positiva, mas inócua, de romper com o preconceito quanto a produção e comercialização indígena. Esse tipo de exercício pernicioso, caso aconteça, deve ser punido pelo Estado, por meio de suas instituições, mas nunca por meio de uma Emenda à Constituição”.

“Se é o caso de contribuir com os povos indígenas, seja na produção, seja na comercialização, necessário que se crie as condições por meio de políticas públicas locais e regionais, mas nunca mexendo na Constituição”, conclui a análise jurídica.

A nota também relembra a ampla participação dos povos indígenas durante o processo Constituinte, nos anos de 1987 e 1988, para destacar a legitimidade conjunto normativo-constitucional indígena que integra a Constituição Federal de 1988.

“Nesse sentido, qualquer mudança que implique em radicalização do texto constitucional é viciada, é ilegítima e tende a colocar por terra o que foi construído com a direta participação dos grupos indígenas”, afirma a nota.


*O Cimi é um organismo vinculado à CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) que há 45 anos atua em defesa dos direitos dos povos indígenas do Brasil.


Os invasores estão matando a nossa vida e derramando a sangue da nossa floresta
29/08/2019, Tlaxcala (México) http://www.tlaxcala-int.org/article.asp?reference=26859
Tlaxcala, a rede internacional de tradutores pela diversidade linguística

COMUNICADO DOS MUNDURUKU


A nossa autodemarcação e defesa do nosso território continua.

Nós o povo Munduruku do Médio e Alto Tapajós continuamos a autodemarcação do nosso território Daje Kapap Eipi, conhecido como Terra Indígena Sawre Muybu. Nós andamos mais que 100 km no nosso território, na terra que já possui o Relatório Circunstancial de Identificação e Delimitação publicado no diário oficial desde abril de 2016.

Organizados em 5 grupos– os guerreiros Pusuru Kao, Pukorao Pik Pik, Waremucu Pak Pak, Surup Surup e a guerreira Wakoborun– continuamos defendendo o nosso território sagrado. Assim sempre foi a nossa resistência. Como nossos antepassados sempre venciam as batalhas e nunca foram atingidos pelas flechas dos inimigos, nós também continuamos limpando os nosso picos, fiscalizando, formando grupos de vigilância e abrindo novas aldeais, como Karoebak no Rio Jamanxim.

Durante essa quinta etapa da autodemarcação e nossa retomada, nós encontramos novas aberturas e vários ramais de madeireiros e palmiteiros dentro da nossa terra. Nós expulsamos dois grupos de madeireiros que invadiram o nosso território. Ficamos muito revoltados por ver as nossas árvores derrubadas e as nossas castanheiras como torra de madeira em cima de um caminhão. E nós sabemos que quando retiram madeira, vão querer transformar nossa terra em um grande pasto para criar gado.

Por isso, demos um prazo de 3 dias para os invasores retirarem todo o equipamento deles. Nós estávamos armados com nossos cânticos, nossa pintura, nossas flechas e a sabedoria dos nossos antepassados. E com muita pressão, eles passaram a madrugada toda retirando 11 máquinas pesadas, 2 caminhões, 1 quadriciclo, 1 balsa e 8 motos. Todos sem placa.

(Foto/Indígenas e ribeirinhos partiram para as extremidades do território com o intuito de fazer a limpeza dos picos da autodemarcação. Foto: Mariana Pontes/Cimi Norte 2)

Na retomada, andamos 26 km vigiando os ramais que os madeireiros fizeram no nosso território e bebendo água suja do rio Jamanxim que está poluída pelo garimpo. Sozinhos conseguimos expulsar madeireiros que nem o ICMBIO, IBAMA e FUNAI conseguiram. E sabemos que dentro da Flona de Itaituba II, tem pista de pouso.

Os invasores estão matando a nossa vida e derramando a sangue da nossa floresta. A nossa vida está em perigo. Mas por isso, nós vamos continuar mostrando a nossa resistência e a nossa autonomia. Somos capazes de cuidar e proteger o nosso território para nossos filhos e as futuras gerações. Ninguém vai fazer medo e ninguém vai impedir porque nós mandamos na nossa casa que é nosso território. Estamos aqui defendendo o que é nosso e não dos pariwat. Por isso sempre vamos continuar lutando pelas demarcações dos nossos territórios. Nunca vão nos derrubar. Nunca vamos negociar o que é sagrado.Será que vai precisar morrer outros parentes, como aconteceu com a liderança Wajãpi, para que os órgãos competentes atuem?

Muito obrigado a Associação Indígena Pariri
Fonte: https://bit.ly/2ZxQxTw
Data de publicação do artigo original: 29/07/2019
URL deste artigo: http://www.tlaxcala-int.org/article.asp?reference=26859

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