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de setembro de 2019, 17:29 h, Brasil 247 (Brasil) https://www.brasil247.com/midia/confira-em-portugues-a-integra-da-entrevista-de-lula-ao-le-monde?fbclid=IwAR1zrwqdSTqh742NaJtevRpYaRNr2FMilHIdiCGBRmRMMmupAulkQdX-npk
Traduzido por Sylvie Giraud
Ex-presidente falou na conversa com o
repórter do jornal francês Bruno Meyerfeld sobre Bolsonaro ser "o
resultado de uma rejeição da polícitica", "não fazer nada", só
"destruir" e ainda a respeito da Amazônia, quando defendeu que o
Brasil cuide da região, discordando do presidente da França, Emmanuel Macron;
leia a íntegra
Lula: "Bolsonaro é sobretudo, o resultado de uma rejeição da política"
O
ex-presidente brasileiro cumpre, desde abril de 2018, oito anos e dez meses de
prisão por corrupção. "Tudo o que eu quero é que reconheçam minha
inocência", explica ele em entrevista ao "Le Monde".
É com o
passo firme que Luiz Inácio Lula da Silva aparece em uma sala anônima da sede
da polícia federal de Curitiba (Paraná), transformada em sala de imprensa. É
aqui, neste prédio sem alma, que o ex-presidente, condenado por corrupção,
cumpre, desde abril de 2018, sua sentença de oito anos e dez meses de prisão.
Aos 73 anos, o líder da esquerda brasileira não perdeu em nada sua verve. Ele
se apresenta, com a barba bem cortada, terno escuro e gravata de cor púrpura ao
pescoço. O estilo é presidencial e a simbologia muito clara: Lula ainda está
atuante, em plena ação. Ele concedeu ao Le Monde sua primeira entrevista
à mídia francesa desde sua prisão.
Após
um ano e meio na prisão, o senhor começa a se sentir desencorajado ou cansado?
Não, me
sinto bem, moral e fisicamente. Estou em paz porque sei da razão pela qual
estou aqui. Sei que sou inocente e que aqueles que me prenderam são mentirosos.
Sou uma pessoa otimista. Minha mãe me transmitiu isso. Então, sim, a prisão é
uma prova de fogo. Mas tenho muita energia, estou
muito sereno. Tenho certeza de que vou ganhar.
muito sereno. Tenho certeza de que vou ganhar.
Como
está organizado seu dia a dia?
Assisto
filmes, televisão, converso com meus advogados. Ando 9 quilômetros por dia!
Espero o tempo passar ... Também leio muito, estudo a história das lutas
sociais no Brasil. Fico horrorizado ao ver que todos aqueles que lutaram pelo
povo neste país, como Zumbi [escravo insurgente no século XVII],
Tiradentes [revolucionário do século XVIII] ou Antonio Conselheiro [pregador
do século XIX], foram decapitados, enforcados ou queimados vivos, e
constatar que o povo não sabe quem são, como se nunca tivessem existido.
O
senhor se identifica com eles?
Sim. Me
considero um pouco como uma versão moderna de todos eles. Mas meu caso tem um
formato mais sofisticado. No que me diz respeito, o judiciário não foi usado
para fazer justiça, mas política.
A
França e o Brasil passaram por uma crise diplomática em torno da questão da
preservação da Amazônia, com, ao fundo, insultos lançados pelo presidente Jair
Bolsonaro contra Emmanuel Macron. Como o senhor viveu esse episódio?
Eu sempre
tive excelentes relações com todos os presidentes franceses, tanto da esquerda
como da direita; com Chirac, Sarkozy e Hollande. Sou solidário com Emmanuel
Macron, depois dos insultos que foram endereçados à sua esposa. Foi de uma
grosseria, jamais vista e isso não tem nada a ver com o povo brasileiro.
Em sua
opinião, quais são as soluções para os incêndios que estão devastando a
Amazônia?
O povo
deve reagir. Os brasileiros devem se mobilizar e se manifestar em defesa do
meio ambiente. Pois nada se pode esperar de Bolsonaro ou de seus ministros nessa
questão. Devo aproveitar para lembrar que meu governo, o do Partido dos
Trabalhadores, foi o que melhor cuidou da Amazônia. Foi sob meu mandato que foi
criado o fundo, financiado pela Alemanha e Noruega, para proteger a floresta.
Criei um plano de prevenção que ajudou a reduzir o desmatamento ilegal. Fui
também o Presidente que inaugurou 114 áreas naturais protegidas no país.
Cuidamos do meio ambiente e cuidamos bem.
No
entanto, sob sua presidência (2003-2011) e sob a de Dilma Rousseff (2011-2016),
houve muitas críticas feitas por ambientalistas. Particularmente sobre a
construção da barragem de Belo Monte, na Amazônia... O PT está verdadeiramente
em posição de dar lições sobre a questão da Amazônia?
Olhe, nem
Deus escapa às críticas! Para um governo, é ainda mais difícil. Fizemos tudo o
que era possível fazer. Belo Monte era uma necessidade para este país. Foi
construída com o acordo de todas as comunidades indígenas que moravam lá. O
Brasil precisava desenvolver seu potencial hidrelétrico. 80% da energia
produzida pelo Brasil é limpa. Nos sentimos orgulhosos disso!
O
senhor apoia a ideia, sugerida por Emmanuel Macron, de uma internacionalização
da Amazônia?
Não! A
Amazônia é de propriedade do Brasil. Faz parte do patrimônio brasileiro. E é o
Brasil que deve cuidar dela. Não há ambiguidade nisso! O que não justifica que
você seja ignorante e que a ajuda internacional não seja importante. Mas a
Amazônia não pode ser um santuário para a humanidade. Ressalto que 20 milhões
de pessoas vivem lá, precisam comer e trabalhar. Também devemos cuidar delas,
sem deixar de levar em consideração a preservação do meio ambiente.
Após
oito meses de governo, o que lhe inspira a presidência de Jair Bolsonaro?
Bolsonaro
não faz nada. Ele destrói. Destrói a educação cortando o financiamento das
universidades que não conseguem mais pagar bolsas de estudo. Destrói os
direitos dos trabalhadores pelos quais tanto lutamos. Destrói a indústria ao
privatizar as empresas brasileiras, particularmente a Petrobras – o que é um
crime! É um governo de destruição, sem nenhuma visão de futuro, sem um
programa, que não tem competência para exercer o poder. É por isso que
Bolsonaro diz tanta bobagem, que insultou a esposa de Macron e Michelle
Bachelet, que briga com Maduro ... É uma loucura total. E por trás, ele se
submete totalmente a Trump. Eu nunca vi nada igual!
O
"antipetismo", ou rejeição do PT, é muito forte dentre uma parte da
população no Brasil. Não chegou a hora de fazer autocrítica, ou mesmo de virar
uma página, criar um novo partido ou mudar seu nome?
O PT não
precisa ser autocrítico. Por que autocrítica? A que respeito? O PT não deve
mudar de nome, mas mudar o que está na cabeça das pessoas. A verdade é que eu
teria vencido as eleições, mesmo preso, se tivesse sido autorizado pelo juiz a
participar! Além disso, Fernando Haddad [candidato do PT na votação de 2018
contra Bolsonaro] ainda assim conquistou 47 milhões de votos. Não é pouco!
O PT é
grande, é o partido de esquerda mais extraordinário do mundo. É um partido
muito bem organizado. Ele chega em primeiro ou segundo lugar a cada eleição, e
isso, há vinte anos. Então, sim, perdemos uma eleição, é verdade. Mas perder é
normal em uma democracia. Nem sempre podemos vencer. No Brasil, existem muitos
antipetistas, mas há também muitas pessoas que acreditam no partido e outras
ainda que precisam ser convencidas.
Não
haverá questionamentos de sua parte?
No
Brasil, sempre tivemos pessoas com discurso ultrarreacionário vencendo as
eleições: isso não é novidade. Bolsonaro é sobretudo o resultado de uma
rejeição da política. Nestes momentos da história, onde a política é tão
odiada, as pessoas são desencaminhadas pelo primeiro monstro que está por
perto. É lamentável, mas aconteceu.
Apesar
das revelações do site "The Intercept" sobre os bastidores da
"Lava Jato", seus reiterados pedidos de libertação foram rejeitados
ou adiados pelos tribunais. O senhor ainda tem esperança de ser libertado?
Há um
pacto entre a grande mídia, os promotores e o juiz Sergio Moro [no comando
da operação anticorrupção "Lava Jato", e hoje Ministro da Justiça].
Eles espalharam tantas mentiras sobre mim que não têm coragem de desfazer seu
julgamento. Ainda este domingo [8 de setembro], a imprensa revelou novas
informações, mostrando que Moro havia mentido ao STF. Esse tipo de
comportamento, por parte de um juiz, eu não perdoo. Mas tenho certeza de que
vou sair daqui, e de que um dia essas pessoas serão responsabilizadas pelo que
aconteceu neste país. Continuo confiando na justiça, embora saiba que ela está
submetida a várias pressões.
O
senhor aceitaria o regime semiaberto? Ou cumprir sua sentença em casa, com uma
pulseira eletrônica, como isso deveria lhe ser permitido a partir do final de
setembro?
Não peço
nenhum favor, nenhuma redução de pena. Somente justiça! Minha casa não é uma
prisão. E pulseiras no tornozelo, isso é bom para os pombos-correio! Tudo o que
desejo é que reconheçam minha inocência.
A
sociedade brasileira está atualmente muito polarizada. O senhor não teme pela
sua vida se deixar a prisão?
Uma pessoa
como eu, que nasceu onde nasceu, que comeu pão pela primeira vez na vida aos 7
anos de idade, que foi dormir várias vezes sem jantar e que chegou lá onde eu
cheguei, essa pessoa não pode ter medo. O Brasil é um país de paz, com um povo
apegado à alegria de viver. Aqueles que tentam transformá-lo em uma nação de
ódio deveriam ter vergonha!
Quero
deixar a prisão e ir falar com o povo, para que volte esse gostinho de ser
brasileiro. Sou um homem sem espírito de vingança, sem ódio. O ódio dá azia,
dores de cabeça e nos pés! Estou bem, justamente porque me coloquei do lado da
verdade. No final, ela sempre triunfa.
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