29/08/2019, Conselho
Indigenista Missionário-Cimi* (Brasil) https://cimi.org.br/2019/08/para-organizacoes-indigenas-manifestacoes-de-bolsonaro-baseiam-se-em-ignorancia-e-racismo/
Por
Ascom Cimi
Povos indígenas repudiam ataques
preconceituosos de Bolsonaro, que afirmou que demarcações “inviabilizam o
Brasil”
Organizações
indígenas e indigenistas publicaram nesta semana documentos que repudiam os
ataques de Jair Bolsonaro aos povos indígenas e a Constituição Federal. A
afirmativa de Bolsonaro foi de que “demarcação de terras indígenas, áreas de
proteção ambiental, quilombolas, parques nacionais, levam a um destino que nós
já sabemos, insolvência do Brasil”, além de referir-se aos povos indígenas como
“massa de manobra que inviabilizam o progresso”.
As cartas
publicadas em repúdio sustentam uma postura de abominação às falas de Jair
Bolsonaro durante reunião com governadores da Amazônia Legal. A reunião que
ocorreu em Brasília (DF) foi convocada pelo governo para debater o combate às
queimadas na região amazônica. Contudo, segundo as organizações, serviu de
janela para preconceitos e racismo contra as populações tradicionais.
“O que
inviabiliza o Brasil é a violência, a corrupção, o Estado paralelo promovido
pelas milícias que dominam parte das grandes cidades do país e a falta de investimento
em educação, saúde, cultura, esporte e infraestrutura”, rebateu em nota a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro
(Foirn).
Representante
de 23 povos e 750 comunidades indígenas no Noroeste amazônico, a Foirn pontua
que
narrativa assumida pelo presidente da República desde sua candidatura
apenas acirra conflitos e violências contra os povos indígenas. “O presidente
Jair Bolsonaro vem propagando o ódio e tentando fazer uma campanha de difamação
dos povos tradicionais, movendo a opinião pública contra nós”, escreve nota.
“Já vimos
esse tipo de estratégia sendo usada em outros tristes momentos da história
mundial, como na Alemanha nazista, que promoveu um dos maiores genocídios da
História”.
O
documento divulgado pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib)
classifica a postura de Bolsonaro como alicerçada em “ignorância e racismo”.
“Sob o argumento de que somos tutelados pelo estrangeiro, segue pregando sua
política genocida, etnocida, antiecológica e anti-indígena”, afirma Apib. Para
a articulação de referência nacional do movimento indígena no Brasil, o
presidente não apenas assume uma política de desmonte de órgão ambientais como
Ibama e o ICMBio, mas também “incita criminosamente as invasões ilegais de
nossas terras por parte de madeireiros, garimpeiros, grileiros”.
O Conselho Indigenista Missionário (Cimi), em nota,
caracterizou o recorrente discurso de Bolsonaro como conscientemente falso, com
declarações que “potencializam o preconceito, o racismo e o sentimento de ódio
contra os povos indígenas, cidadãos brasileiros historicamente vilipendiados e
violentados em nosso país”. O Cimi afirma que, com sua postura, Jair Bolsonaro
“afronta e violenta não somente os povos indígenas, mas também a própria
Constituição Brasileira”, que garante a eles o direito originário às suas
terras tradicionais devidamente demarcadas e protegidas.
Retrocessos
Orquestrados
Direitos
constitucionais eram postos na berlinda na Câmara dos Deputados, a poucos
quarteirões da reunião de Bolsonaro com governadores da Amazônia Legal. Estava
em pauta na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJC) a PEC 187, que
pretende alterar o artigo 231 para incluir uma autorização explícita a
“atividades agropecuárias e florestais” em terras indígenas – algo que já é
permitido pela Constituição. O que está em jogo, segundo a Apib, é um
verdadeiro retrocesso que atende o lobby poderoso do agronegócio brasileiro ao
“atropelar direitos, vidas e coloca em risco o futuro da humanidade”.
“Esses
conjuntos de medidas maléficas, somadas ao desmantelamento de políticas nas
mais diversas áreas, de saúde, educação, assistência, segurança e outras, nos
jogam à revelia de nossa própria sorte, numa tentativa de nos expulsar mais uma
vez de nossa terras e matar nossa cultura”, comenta Apib.
“Com esta
PEC 187 estamos abrindo o Artigo 231 da Constituição Federal, que é justamente
o artigo que vem presar pela sobrevivência física e cultural dos Povos
Indígenas”, sustentou a deputada Joenia Wapichana (Rede RO) durante a Comissão
de Constituição e Justiça e Cidadania (CCJC). “O Artigo 231 é considerado
direito fundamental, cláusula pétrea, e não deveria ser modificado para atender
direitos estranhos, individualistas, e que visam exploração por terceiros.
Abrir o artigo 231 é provocar um desmonte dos direitos constitucionais dos
povos indígenas”.
Por 33 a
18 votos, a bancada ruralista aprovou na noite de ontem a admissibilidade da proposta PEC 187, de relatoria do
deputado Vicentinho Júnior (PSB-TO). Indígenas do povo Xukuru Kariri (AL) que
acompanhavam a votação, após seu término, protocolaram um documento solicitando
a não instauração da Comissão Especial para analisar a proposta, próxima etapa
de tramitação.
*O Cimi é um organismo vinculado à CNBB (Conferência Nacional dos Bispos
do Brasil) que há 45 anos atua em defesa dos direitos dos povos indígenas do
Brasil.
Mercosul, Brasil/Nota do Cimi*: Bolsonaro mente e afronta a Constituição brasileira ao atacar os povos indígenas
27/08/2019,
Conselho Indigenista Missionário-Cimi (Brasil) https://cimi.org.br/2019/08/nota-do-cimi-bolsonaro-mente-e-afronta-a-constituicao-brasileira-ao-atacar-os-povos-indigenas/
Frente a
tantas agressões que sofrem do presidente, o Cimi manifesta solidariedade aos
povos originários do Brasil
O
presidente Bolsonaro insiste na mentira e na sorrateira tergiversação. Diante
da devastação ambiental provocada por desmatamentos e queimadas criminosas,
especialmente na região amazônica, mantém atitude incendiária e de repugnante
agressividade aos povos originários e aos seus direitos de existência digna.
Com isso,
afronta e violenta não somente os povos indígenas, mas também a própria
Constituição Brasileira, que garante a eles o direito originário às suas terras
tradicionais devidamente demarcadas e protegidas, onde possam viver dignamente
com suas organizações sociais, costumes, línguas, crenças e tradições (Artigo
231 da Constituição Federal).
O Artigo
20 da Constituição Brasileira estabelece que as terras indígenas são Bens do
Estado brasileiro. Frente a isso, as acusações, públicas e recorrentes, do
presidente da República de que a demarcação de terras indígenas atentaria
contra o interesse e a soberania nacional são conscientemente falsas, injustas
e potencializam o preconceito, o racismo e o sentimento de ódio contra os povos
indígenas, cidadãos brasileiros historicamente vilipendiados e violentados em
nosso país.
Frente a
tantas agressões que sofrem do presidente da República, o Cimi manifesta
irrestrita solidariedade aos povos originários do Brasil e reitera o
compromisso no apoio às lutas que fazem em defesa de suas vidas e projetos de
futuro.
Respeite
os povos originários e a Constituição de nosso país, presidente Bolsonaro.
Conselho
Indigenista Missionário (Cimi)
Brasília,
27 de agosto de 2019
Fonte:
Secretariado Nacional - Conselho Indigenista Missionário (Cimi)
Nenhum comentário:
Postar um comentário