quinta-feira, 5 de setembro de 2019

Mercosul, Brasil/Villas Boas e generais decidiram brigar com a Igreja Católica


2 de setembro de 2019, 21:33 h

O general Eduardo Villas Bôas, ex-comandante do Exército e atual assessor do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), criticou o posicionamento dos bispos da Igreja Católica sobre as questões ambientais brasileiras e disse que a igreja adquiriu “viés político”

247 - Ex-comandante do Exército e atual assessor do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), o general Eduardo Villas Bôas, criticou o posicionamento dos bispos da Igreja Católica em carta aberta sobre as questões ambientais. Segundo ele, a igreja adquiriu “viés político”. 

Enquanto líderes da igrejas evangélicas usam as redes sociais para se posiconar em favor de políticas adotadas pelo governo de Jair Bolsonaro e atacar a oposição, Villas Bôas manifestou incômodo quanto às críticas feitas pelos bispos em documento elaborado pelo cardeal Dom Cláudio Hummes, relator e porta-voz do papa Francisco
sobre o assunto.

Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, o general admitiu que o governo não gostou dos temas do Sínodo, a ser realizado no mês que vem, em Roma. "Estamos preocupados, sim, com o que pode sair de lá, no relatório final, com as suas deliberações. E, depois, como tudo isso vai chegar à opinião pública internacional porque, certamente, vai ser explorado pelos ambientalistas. Agora, que fique claro: não vamos admitir interferência em questões internas do nosso País. Lá, nas discussões, as coisas se misturam e o Sínodo escapou para questões ambientais e também tem o viés político", disse.

Ainda sobre carta escrita por bispos, que na semana passada se queixaram de serem tratados como “inimigos da Pátria”, Villa Bôas disse que “eles não são inimigos, mas estão pautados por uma série de dados distorcidos, que não correspondem à realidade do que acontece na Amazônia”.

Em carta, Bispos do Sínodo da Amazônia dizem ser tratados "como inimigos da pátria"

30 de agosto de 2019, 16:03 h, Brasil 247 (Brasil) https://www.brasil247.com/brasil/em-carta-bispos-do-sinodo-da-amazonia-dizem-ser-tratados-como-inimigos-da-patria https://www.brasil247.com/brasil/em-carta-bispos-do-sinodo-da-amazonia-dizem-ser-tratados-como-inimigos-da-patria

Em uma carta aberta, a Igreja Católica saiu em defesa dos bispos que participam do Sínodo da Amazônia, que será realizado em outubro, em Roma, para condenar o fato deles estarem sendo “criminalizados” e tratados como "inimigos da pátria" por integrantes do governo Jair Bolsonaro e por setores conservadores do clero

247 - Em uma carta aberta, a Igreja Católica saiu em defesa dos bispos que participam do Sínodo da Amazônia, que será realizado em outubro, em Roma,  para condenar o fato deles estarem sendo “criminalizados” e tratados como inimigos da pátria por integrantes do governo Jair Bolsonaro e por setores conservadores do clero.

“Lamentamos imensamente que hoje, em vez de serem apoiadas e incentivadas, nossas lideranças são criminalizadas como inimigos da pátria”, diz um trecho da carta.

Segundo reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, o documento foi elaborado pelo cardeal Dom Cláudio Hummes, relator e porta-voz do papa Francisco sobre o assunto. Segundo declarações anteriores ,o objetivo do papa ao elaborar o Sínodo é pressionar os governos locais a agirem em defesa da Amazônia, o que foi visto pelo governo Bolsonaro como uma ameaça a soberania nacional.

Na carta, os religiosos ressaltam que “a soberania brasileira sobre essa parte da Amazônia é para nós inquestionável. Entendemos, no entanto, e apoiamos a preocupação do mundo inteiro a respeito deste macro-bioma que desempenha uma importantíssima função reguladora do clima planetário. Todas as nações são chamadas a colaborar com os países amazônicos e com as organizações locais que se empenham na preservação da Amazônia, porque desta macrorregião depende a sobrevivência dos povos e do ecossistema em outras partes do Brasil e do continente", destaca o texto.
"Junto com o papa Francisco, defendemos de modo intransigente a Amazônia e exigimos medidas urgentes dos governos frente à agressão violenta e irracional à natureza, à destruição inescrupulosa da floresta que mata a flora e a fauna milenares com incêndios criminosamente provocados", destaca um outro trecho da carta.

Leia abaixo a íntegra da Carta do Encontro de Estudo do Instrumento de Trabalho do Sínodo da Amazônia

CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL

Comissão Episcopal Especial para a Amazônia

Carta do Encontro de Estudo do Instrumento de Trabalho do Sínodo da Amazônia

“Cristo aponta para a Amazônia”

São Paulo VI

Reunidos em Belém do Pará, com o objetivo de estudar o Instrumento de Trabalho do Sínodo da Amazônia, nós, bispos, padres, religiosas e religiosos, leigas e leigos das Igrejas amazônicas, como também irmãs e irmãos que compartilham a caminhada ecumênica, queremos manifestar nossas preocupações com a “Casa Comum” e uma missão evangelizadora encarnada, samaritana e ecológica.

Desde 1952, os bispos da Amazônia se reúnem periodicamente para se posicionar sobre a missão da Igreja na realidade peculiar da Amazônia. “Cristo aponta para a Amazônia” é a expressão profética e programática do Papa São Paulo VI que em 1972 repercutiu no Encontro de Santarém. A nossa Igreja assumiu, então, o compromisso de se “encarnar, na simplicidade”, na realidade dos povos e de empenhar-se para que por meio da ação evangelizadora se tornasse cada vez mais nítido o rosto de uma Igreja amazônica, comprometida com a realidade dos povos e da terra. No encontro de 1990, em Belém-Icoaraci, os bispos da Amazônia foram os primeiros a advertir o mundo para um iminente desastre ecológico com “consequências catastróficas para todo o ecossistema (que) ultrapassam, sem dúvida, as fronteiras do Brasil e do Continente” (Documento “Em defesa da Vida na Amazônia”).

Novamente reunidos em Icoaraci/PA em 2016, os bispos da Amazônia dirigiram uma carta ao Papa Francisco pedindo um Sínodo para a Amazônia. Acolhendo o desejo da Igreja nos nove países amazônicos, o Papa convocou em 15 de outubro de 2017 a “Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Pan-Amazônia”, com o tema “Amazônia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral”.

A Igreja Católica desde o século XVII está presente na Amazônia preocupando-se com a evangelização e a promoção humana ao mesmo tempo. Quantas escolas, hospitais, oficinas, obras sociais se construíram e foram mantidas durante séculos em todos os rincões da Amazônia. Vilas e cidades se edificaram a partir das “missões” da nossa Igreja. Quanto sangue, suor e lágrimas foram derramados na defesa dos direitos humanos e da dignidade, especialmente dos mais pobres e excluídos da sociedade, dos povos originários e do meio ambiente tão ameaçados. Lamentamos imensamente que hoje, em vez de serem apoiadas e incentivadas, nossas lideranças são criminalizadas como inimigos da Pátria. 
Junto com o Papa Francisco, defendemos de modo intransigente a Amazônia e exigimos medidas urgentes dos Governos frente à agressão violenta e irracional à natureza, à destruição inescrupulosa da floresta que mata a flora e a fauna milenares com incêndios criminosamente provocados.

Ficamos angustiados e denunciamos o envenenamento de rios e lagos, a poluição do ar pela fumaça que causa perigosa intoxicação, especialmente das crianças, a pesca predatória, a invasão de terras indígenas por mineradoras, garimpos e madeireiras, o comércio ilegal de produtos da biodiversidade.

A violência, que ultimamente cresceu de maneira assustadora, nos causa horrores e exige também o engajamento da nossa Igreja para que a paz e o respeito, a fraternidade e o amor prevaleçam.  

Defendemos vigorosamente a Amazônia, que abrange quase 60% do nosso Brasil. A soberania brasileira sobre essa parte da Amazônia é para nós inquestionável.

Entendemos, no entanto, e apoiamos a preocupação do mundo inteiro a respeito deste macro-bioma que desempenha uma importantíssima função reguladora do clima planetário. Todas as nações são chamadas a colaborar com os países amazônicos e com as organizações locais que se empenham na preservação da Amazônia, porque desta macrorregião depende a sobrevivência dos povos e do ecossistema em outras partes do Brasil e do continente. 

O Sínodo, convocado pelo Papa Francisco, chega num momento crucial de nossa história. Queremos identificar novos caminhos para a evangelização dos povos que habitam a Amazônia. Ao mesmo tempo, a Igreja se compromete com a defesa desse chão sagrado que Deus criou em sua generosidade e que devemos zelar e cultivar para as presentes e futuras gerações.
   
Cabe um agradecimento especial à Rede Eclesial Pan-Amazônica/REPAM por todo o esforço dedicado no importante processo de ESCUTA das comunidades e no envolvimento dos diversos segmentos do Povo de Deus, especialmente mulheres e com forte participação das juventudes e dos povos originários.

Pedimos que rezem por nós, irmãs e irmãos, para que a caminhada sinodal reflita “as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens e das mulheres de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem” (GS 1).

Que Maria de Nazaré, expressão da face materna de Deus no meio de nosso povo, por sua intercessão, acompanhe os passos da Igreja de seu Filho nas terras e águas amazônicas para que ela seja sinal e presença do Reino de Deus. Que ajude, com sua missão evangelizadora e humanizadora, a dignificar cada vez mais a vida em nossa região.
   
Participantes do Encontro de Estudo do Instrumento de Trabalho do Sínodo da Amazônia

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