5 set 2019 13:57, Lusa (Portugal)
https://noticias.sapo.mz/actualidade/artigos/francisco-critica-pilhagem-e-espoliacao-e-pede-desenvolvimento-inclusivo
O Papa Francisco é recebido pelo presidente Filipe Nyusi
O Papa Francisco criticou hoje "a pilhagem e espoliação" no
país, apelando ao desenvolvimento inclusivo, durante um discurso no palácio
presidencial da Ponta Vermelha, em Maputo.
O líder da igreja católica reconheceu os esforços feitos em pacificar o
país, mas notou que a paz passa por olhar para a nossa “casa comum".
"Moçambique é uma nação abençoada e vós especialmente sois
convidados a cuidar desta bênção", referiu para a plateia, composta por
membros do Governo, titulares de órgãos de soberania, corpo diplomático e
outras figuras políticas.
O Papa apelou "à defesa da terra e defesa da vida que reclama
atenção especial quando há tendência para a pilhagem, espoliação, guiada por
uma ânsia de acumular", disse, sem detalhar.
Uma ânsia que, acrescentou, “em geral não é cultivada por pessoas que
habitam nestas terras, nem pelo bem comum do vosso povo".
Francisco defendeu um desenvolvimento "produtivo e inclusivo, em
que cada moçambicano possa sentir” que
o país é seu, em que prevaleçam boas
relações com o mundo em redor.
A utilização dos recursos naturais de Moçambique a favor de toda a
população, por um lado, e o combate à corrupção e desigualdades, por outro, são
temas que têm motivado debate aceso pela sociedade moçambicana nos últimos
anos.
Por outro lado, as pilhagens de ataques protagonizados por grupos
armados com indícios de radicalização islâmica, no Norte do país, uma das menos
desenvolvidas, têm estado também na ordem do dia -- e o presidente da
república fez-lhes referência direta no discurso que antecedeu o do Papa.
"A paz efetiva tem vindo a ser ameaçada na província nortenha de
Cabo Delgado, onde malfeitores ainda sem rosto semeiam atos de terror, matam e
pilham populações indefesas”, frisou.
Filipe Nyusi disse ter fé em que "o povo moçambicano, pacífico e
resiliente, se livrará desta provação", que desde há três anos já terá
provocado mais de 200 mortos, sobretudo em aldeias remotas de Cabo Delgado, mas
com ataques também nas principais estradas e imediações dos projetos em
implantação para extração de gás natural.
Moçambique deverá tornar-se na próxima década num dos 10 principais fornecedores
de gás natural liquefeito do mundo, criando riqueza que deverá catapultar o
crescimento económico do país e com capacidade para reduzir bastante a pobreza --
que ainda afeta cerca de metade dos 28 milhões de habitantes.
CPLP, Moçambique/Papa aos jovens de Moçambique: continuem sendo testemunho de paz e reconciliação ao país
05/09/2019 17:00, Vatican News (Cidade do Vaticano)
https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2019-09/papa-francisco-mocambique-discurso-jovens-inter-religioso.html
Numa
festa inter-religiosa e culturalmente rica da juventude, o Papa Francisco
pronunciou o segundo discurso do dia em Maputo, em Moçambique, nesta
quinta-feira (5). Os jovens foram a expressão da paz e da reconciliação do
país, através de cantos, apresentações artísticas e tradições religiosas,
sempre encorajados pelo Pontífice que incentivou a não se resignar diante das
provações e ter cautela com a ansiedade que pode criar barreiras para realizar
os sonhos.
O Papa
Francisco, no seu segundo discurso oficial em Maputo nesta quinta-feira (5),
encontrou os jovens no Pavilhão do Clube de Desportos do Maxaquene, conhecido
como Maxaca - uma sociedade com tradição no futebol, tanto que já ganhou cinco
títulos nacionais. Do esporte, porém, hoje o espaço acolheu mais de 4 mil
jovens cristãos, muçulmanos e hinduístas para um grande encontro
inter-religioso com o Pontífice.
Durante
cerca de uma hora intensa com a juventude de Moçambique, o Papa conseguiu
conhecer um pouco da realidade local das diferentes confissões religiosas que
se apresentaram, através da arte do canto e de coreografias especiais,
demonstrando diferentes temas e motivos de preocupação dos jovens do país. Um
hino comum às denominações religiosas também foi interpretado na ocasião que
precedeu o discurso do Pontífice.
Jovens: vocês são importantes e precisam saber disso!
“ O que
há de mais importante para um pastor do que encontrar-se com os seus jovens?
Vocês são importantes! Precisam saber disso, precisam acreditar nisso: vocês
são importantes! Mas com humildade porque não são apenas o futuro de Moçambique
ou da Igreja e da humanidade; vocês são o presente de Moçambique! Com tudo o
que são e fazem, já estão contribuindo para ele com o melhor que hoje podem
dar. ”
O Papa
iniciou o discurso enaltecendo a expressão tão autêntica da alegria que
caracteriza o povo de Moçambique. É uma “alegria que reconcilia e se torna o
melhor antídoto capaz de desmentir todos aqueles que querem dividir, fragmentar
ou contrapor. Como faz falta, em algumas regiões do mundo, a alegria de viver
de vocês!”, sublinhou Francisco.
A
presença das diferentes confissões religiosas no local também foi elogiada pelo
Pontífice, demonstrando a união familiar através do “desafio da paz”, da
esperança e da reconciliação. Com essa experiência, disse ele, é possível
perceber que “todos somos necessários: com as nossas diferenças, mas
necessários”.
“Vocês,
jovens, caminham com dois pés como os adultos, mas, ao contrário dos adultos
que os mantêm paralelos, vocês colocam um atrás do outro, pronto a arrancar, a
partir. Vocês têm tanta força, são capazes de olhar com tanta esperança! São
uma promessa de vida, que traz em si um certo grau de tenacidade (cf.
Francisco, Exort. ap. pós-sinodal Christus vivit, 139), que não devem perder
nem deixar que lhe roubem.”
As inimigas da esperança: resignação e ansiedade
O Papa,
então, procurou responder a duas perguntas feitas pelos jovens, em questões
interligadas, sobre como realizar os sonhos da juventude e como contribuir para
solucionar os problemas que afligem o país. A indicação do Pontífice veio do
próprio caminho de riqueza cultural apresentado pelos jovens, através da arte,
uma expressão “de parte dos sonhos e realidades”, sempre regada de esperança,
mas também de ilusões. Além disso, o Papa voltou a insistir com os jovens para
não deixar que “roubem a sua alegria”, para não deixar de cantar e se expressar
conforme as tradições de casa.
Francisco
também alertou para ter cautela com “duas atitudes que matam os sonhos e a
esperança: a resignação e a ansiedade”.
“São
grandes inimigas da vida, porque normalmente nos impelem por um caminho fácil,
mas de derrota; e a porta que pedem para passar é muito cara… O pedágio que
pedem para passar é muito caro! É muito caro. Paga-se com a própria felicidade
e até com a própria vida. Resignação e ansiedade: duas atitudes que roubam a
esperança. Quantas promessas de felicidade vazias que acabam por mutilar vidas!
Certamente conhecem amigos, conhecidos – ou pode mesmo ter acontecido com vocês
– que, em momentos difíceis, dolorosos, quando parece que tudo cai em cima de
vocês, ficam prostrados na resignação. É preciso estar muito atento, porque
essa atitude «faz com que encaminhe pela estrada errada. Quando tudo parece
estar parado e estagnante, quando os problemas pessoais nos preocupam, as
dificuldades sociais não encontram as devidas respostas, não é bom dar-se por
vencido» (Ibid., 141).”
A inspiração do esporte: Eusébio da Silva e Maria Mutola
E para
dar um exemplo de inspiração em pleno tempo do futebol, o Papa recordou o
jogador Eusébio da Silva, o “pantera negra”, que começou a carreira no clube de
Maputo. O atleta não se resignou diante de graves dificuldades econômicas da
família e da morte prematura do pai. O futebol o ajudou a perseverar, disse
Francisco, “chegando a marcar 77 gols para o Maxaquene!”
O
Pontífice então fez a analogia do jogo em equipe para falar da importância de
se empenhar pelo país com a tática da união e independentemente daquilo que
diferencia as pessoas.
“Como
é importante não esquecer que «a inimizade social destrói. E uma família se
destrói pela inimizade. Um país se destrói pela inimizade. O mundo se destrói
pela inimizade. E a inimizade maior é a guerra porque são incapazes de sentar e
falar, de sentar e falar. Sejam capazes de criar a amizade social!"
O Papa
lembrou, então, o provérbio africano conhecido e citado mundialmente para
“sonhar junto”, que diz: «Se quiser chegar depressa, caminha sozinho; se quiser
chegar longe, vai acompanhado». Mas sem que a ansiedade seja inimiga dos sonhos
da juventude por um país melhor, alertou o Papa, porque eles são conquistados
com “esperança, paciência e determinação, renunciando às pressas”.
O outro
exemplo do esporte citado pelo Papa veio do testemunho de Maria Mutola, que
aprendeu a perseverar, apesar de perder a medalha de ouro nos três primeiros
Jogos Olímpicos que disputou. O tão sonhado título dourado veio na quarta
tentativa, quando a atleta dos 800 metros alcançou venceu nas Olimpíadas de
Sidney. “A ansiedade não a deixou absorta em si mesma”, ao conseguir nove
títulos mundiais”, comentou Francisco.
A importância dos idosos e da Casa Comum
O Papa
ainda aconselhou a não esquecer do apoio dos idosos, que podem ajudar a
realizar sonhos sem que “o primeiro vento da dificuldade” venha a impedir. Escutar
as pessoas mais experientes, valorizando as tradições e fazendo a própria
síntese, como aconteceu com a música, o ritmo tradicional de Moçambique: da
marrabenta nasceu o pandza, com toque moderno.
O
comprometimento com o cuidado da Casa Comum também foi lembrado pelo Papa, num
país que tamanha beleza natural, mas que também já sofreu com o embate de dois
ciclones. O desafio de proteger o meio ambiente é um forma de permanecer unidos
para ser “artesãos da mudança tão necessária”.
O poder da mão estendida e da amizade ao país
Dessa
forma explicativa, Francisco procurou encorajar os jovens a encontrar novos
caminhos de paz, liberdade, entusiasmo e criatividade, e “com o gosto da
solidariedade”, para responder às provações e problemas vividos no país. “Grande
é o poder da mão estendida e da amizade”, acrescentou o Papa, para que “a
solidariedade cresça entre vocês e se torne na melhor arma para transformar a
história. A solidariedade é a melhor arma para transformar a história”.
E Francisco finalizou o discurso lembrando os jovens que não esqueçam o quanto
Jesus os ama:
“[ É o amor do Senhor que se entende mais de
levantamentos que de quedas, mais de reconciliação que de proibições, mais de
dar nova oportunidade que de condenar, mais de futuro que de passado» (Ibid.,
116). Eu sei que vocês acreditam nesse amor que torna possível a reconciliação.
] ”
(atualizado
às 13h49)
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