3 de Setembro de 2019, Rede Voltaire (Itália) https://www.voltairenet.org/article207517.html
Manlio Dinucci*
Aliados
de ontem, inimigos de hoje: são os países que investiram no Brasil e que
obrigaram a sua indústria a explorar as suas riquezas sem tomar precauções que,
doravante, denunciam a devastação desse modelo económico.
Perante a propagação dos incêndios na Amazónia, a Cimeira do G7 mudou a
sua agenda para ‘enfrentar a emergência’. Os Sete -- França, Alemanha, Grã-Bretanha,
Itália, Japão, Canadá e Estados Unidos -- assumiram, juntamente com a União
Europeia, o papel de Corpo de Bombeiros planetário.
O
Presidente Macron, como bombeiro chefe, lançou o alarme “a nossa casa está a
arder”. O Presidente Trump prometeu o máximo empenho dos EUA no trabalho de
extinção.
Os
holofotes da comunicação mediática concentram-se nos incêndios no Brasil,
deixando todo o resto na sombra. Primeiro de tudo, o facto de que está a ser
destruída não só a floresta amazónica (dois terços da área são do Brasil),
reduzida quase 10 mil km2 por ano em 2010-2015, mas também a floresta tropical
da
África equatorial e a floresta meridional e oriental da Ásia. As florestas
tropicais perderam, em média, a cada ano, uma área equivalente à área total do
Piemonte, Lombardia e Veneto.
Embora as
condições sejam diferentes de área para área, a causa fundamental é a mesma: a
exploração intensiva e destrutiva dos recursos naturais para obter o máximo
lucro.
Na
Amazónia, abatem-se árvores para obter madeira valiosa destinada à exportação.
A floresta residual é queimada para usar essas áreas para culturas e
agricultura intensiva também destinadas à exportação. Esses terrenos muito
frágeis, uma vez degradados, são abandonados e, portanto, são desarborizadas novas
áreas. O mesmo método destrutivo é adoptado, provocando graves danos
ambientais, para explorar os depósitos amazónicos de ouro, diamantes, bauxite,
zinco, manganês, ferro, petróleo e carvão. Também contribui para a destruição
da floresta amazónica, a construção de enormes bacias hidroeléctricas,
destinadas a fornecer energia para as actividades industriais.
A
exploração intensiva e destrutiva da Amazónia é praticada por empresas
brasileiras, fundamentalmente controladas -- por meio de participações, mecanismos
financeiros e redes comerciais -- pelos principais grupos multinacionais e
financeiros do G7 e de outros países.
Por exemplo, a JBS, proprietária de 35 fábricas de
processamento de carne no Brasil, onde 80 mil bovinos são abatidos por dia,
possui filiais importantes nos EUA, Canadá e Austrália e é amplamente
controlada através de parcelas de dívida dos credores: JP Morgan (EUA),
Barclays (GB) e os grupos financeiros da Volkswagen e da Daimler (Alemanha).
A Marfrig, em segundo lugar depois da JBS, pertence 93%
a investidores americanos, franceses, italianos e outros investidores europeus
e norte-americanos.
A Noruega, que hoje ameaça retaliação económica contra o
Brasil pela destruição da Amazónia, provoca na mesma Amazónia, graves danos
ambientais e sanitários através do seu grupo multinacional Hydro (metade do
qual é propriedade do Estado norueguês), que explora as jazidas de bauxite para
a produção de alumínio, tanto que foi colocado sob investigação no Brasil.
Os
governos do G7 e outros, que hoje criticam formalmente o Presidente brasileiro
Bolsonaro, para limpar a consciência perante a reacção do público, são os
mesmos que favoreceram a sua ascensão ao poder, para que as suas multinacionais
e os seus grupos financeiros tivessem as mãos ainda mais livres, na exploração
da Amazónia.
A ser
atacadas estão, sobretudo, as comunidades indígenas, em cujos territórios se
concentram as actividades de desflorestação ilegal. Sob os olhos de Tereza
Cristina, Ministra da Agricultura de Bolsonaro, cuja família de latifundiários,
tem uma longa história de ocupação fraudulenta e violenta, das terras das
comunidades indígenas.
Tradução Maria
Luísa de Vasconcellos
Fonte Il
Manifesto (Itália)
Últimas
publicações :
Laboratorio di
geografia, Zanichelli 2014
Diario di
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Guerra nucleare.
Il giorno prima. Da Hiroshima a oggi: chi e come ci porta alla catastrofe, Zambon
2017
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