quinta-feira, 5 de setembro de 2019

Na rota das contra-revoluções "coloridas"

04 setembro 2019, Resistir.info (Portugal) https://www.resistir.info/v_carvalho/c_revolucoes_coloridas.html


por Daniel Vaz de Carvalho*
 
As ações contra-revolucionarias do imperialismo que diretamente não usam meios militares, ditas por perverso eufemismo necessário à manipulação, "revoluções coloridas" levam-nos a colocar as clássicas questões do: "quem, como, quando, onde e porquê". É este o tema que nos propomos abordar. 
 

1 - QUEM
Não esqueço uma frase de um filme francês de 1958, que vi ainda adolescente, num cinema de bairro, intitulado "As grandes famílias" (segundo o romance homólogo de Maurice Druon). Num diálogo entre dois donos de uma fábrica, dizia um deles (Jean Gabin) para o irmão (Pierre Brasseur): "Eu sou de direita para defender os meus interesses, tu és de direita porque odeias os operários."

Esta frase, define muito de "quem" lidera e apoia, sobretudo financeiramente, movimentos contra-revolucionários. Para além destes juntam-se as massas do lumpen proletariado, os contaminados pelo anticomunismo, os que seduzidos pela propaganda da direita se revoltam contra o que
percecionam como males, a maioria das vezes causados pelas políticas de direita e acham necessário "dar uma volta a isto tudo" sob a liderança do poder hegemónico transnacional "pois são os que vão dar dinheiro", outras camadas seguem a forma como se movimenta maioritariamente o meio em que se inserem.

Podemos questionar como foi possível um troglodita político como Bolsonaro ter-se tornado Presidente de um país como o Brasil, cujas tradições revolucionárias não devem ser esquecidas sobretudo neste momento crítico da sua História. Como foi possível um títere como Macron, ser Presidente da França. Como foi possível nulidades políticas como Cavaco Silva ou Passos Coelho serem erigidos em líderes da direita e ocuparem funções das mais elevadas do Estado, etc, etc.

Estes processos contra-revolucionários têm como intenção destruir tudo o que de progressista subsista nos países e cumprir religiosamente as imposições do imperialismo. Vejamos como nos protestos anti-China de Hong Kong se encontra gente local intimamente ligada aos EUA. [1]

-- Joshua Wong, 22 anos alardeado nos media ocidentais como "defensor da liberdade", promovido através de seu documentário na Netflix e recompensado com o apoio dos EUA. Por detrás de porta-vozes televisivos como Wong estão elementos mais extremistas, do Partido Nacional de Hong Kong, cujos membros participaram nos protestos agitando a bandeira dos EUA. Este partido banido oficialmente apela à independência de Hong Kong, objetivo dos radicais de Washington.

-- Jimmy Lai, 70 anos, "chefe dos media de oposição", descrito como o Rupert Murdoch da Ásia, mistura de jornalismo de estilo tablóide obsceno, fofocas de celebridades e uma forte dose anti-China. Lai é o fundador e acionista maioritário da Next Digital, a maior empresa de media de Hong Kong, usada para proclamar "o fim da ditadura" chinesa".

Lai esteve recentemente em Washington, coordenando ações com membros da equipe de Trump, incluindo John Bolton. Emails revelaram que Lai entregou mais de 1,2 milhão de dólares para partidos políticos anti-China. Milhões de dólares foram entregues para projetos de mudança de regime pelo National Endowment for Democracy (NED) para organizações políticas anti-China.


-- Edward Leung, 28 anos, dirigente do partido pró-independência brandiu bandeiras coloniais britânicas e assediou turistas chineses da parte continental. Em 2016, foi visto com autoridades diplomáticas dos EUA num restaurante local.

-- Andy Chan, ativista pró-independência do Partido Nacional de Hong Kong, proibido, combina o ressentimento contra a China com pedidos para que os EUA intervenham. Embora não tenha ampla base de apoio, atrai uma atenção internacional desproporcional. Chan pediu que Trump intensifique a guerra comercial e acusou a China de colonialista e de realizar uma "limpeza nacional" contra Hong Kong.

-- Joey Gibson, fundador da Patriot Prayer, apareceu recentemente num protesto anti-extradição em Hong Kong, transmitindo o evento para dezenas de milhares de seguidores. "Precisamos saber que a América nos apoia. Ao apoiar-nos, os Estados Unidos também estão semeando a sua autoridade moral, porque somos o único lugar na China, que compartilha seus valores, que é a mesma guerra que têm com a China".
-- Martin Lee, um dos aliados de Lai, teve uma audiência com Pompeo e outros líderes dos EUA, incluindo Nancy Pelosi e o ex-vice-presidente Joseph Biden.

Wong, Martin Lee e Benny Tai Lee, professor de Direito da Universidade de Hong Kong, foram homenageados pela Freedom House, uma organização de direita financiada pela NED. A visita de Wong proporcionou ocasião para dois dos neoconservadores mais agressivos do Senado, Marco Rubio e Tom Cotton, apresentarem a "Lei dos Direitos Humanos e Democracia de Hong Kong".

Se olharmos para os países ex-socialistas da Europa dos Leste e a URSS, encontramos na liderança dos projetos de contra-revolução desde social-democratas deslumbrados pelo fausto imperialista e oligárquico com Vaclav Havel e Gorbatchov, ou corruptos (e alcoólicos) como Walesa e Yeltsin que juntaram à sua volta uma rede de traidores e ambiciosos sem escrúpulos [2] . Proclamavam a democracia, os direitos humanos e a liberdade, escamoteando os crimes do imperialismo e mesmo de líderes social-democratas como no México, Venezuela, Egito, Tunísia, etc. [3]

2 - COMO
Na génese destes processos encontramos constante manipulação mediática, promoção dos protagonistas e das suas ideias. A rede por trás das manifestações é cultivada com a ajuda de milhões de dólares dos EUA, oligarquia local ligada a Washington e ONG que são a ponta visível do icebergue das conspirações organizadas pela CIA.

Relembremos Beaumarchais, em o "O Barbeiro de Sevilha": "A calúnia, senhor! Acredite que não há malícia mais repleta de horrores, não há conto absurdo, que não seja adotado pelos ociosos de uma cidade grande, (…) Primeiro um leve ruído, rasando o chão como andorinha antes da tempestade, suave, suave sussurra murmura e segue, semeando o traço envenenado. O mal está feito".

Os oligarcas dos media, organizam o processo de lavagem ao cérebro das massas populares – "para defenderem os seus interesses ou por ódio ao proletariado" – através das "fake news". Mentiras, deturpação da realidade, manipulação de imagens, omissão de factos, tornam-se o quotidiano da desinformação. Trata-se introduzir a visão de que políticas progressistas de defesa da soberania e recusa em submeter-se aos ditames do capital transnacional, constituem violação dos direitos humanos e totalitarismo. Agentes locais logo se tornam porta-vozes destas acusações, apelando à intervenção imperialista e aplicação de sanções.

Em Hong-Kong, mesmo depois da lei de extradição – que se justificava [1] – ter sido suspensa as demonstrações degeneraram em cenas de provocação e exigências impossíveis de satisfazer por qualquer Estado. Centenas de desordeiros mascarados ocuparam o aeroporto e o metro, assediaram viajantes e agrediam violentamente jornalistas e policiais. Tal como na Venezuela e noutros locais, nos media da oligarquia o vandalismo é apresentado como expressão democrática, "revolta popular" e luta "pró-democracia". A defesa de bens e a segurança dos 7,3 milhões de cidadãos de Hong-Kong é apresentada como violência policial.

Em 10 de agosto realizou-se uma manifestação em Moscovo, cujo motivo começou por ser o protesto contra candidaturas não aceites para a autarquia, dado que algumas das assinaturas dos proponentes eram falsas ou de pessoas falecidas. A jornalista Karine Bebechet-Golovko descreve o que ocorreu: [4]

Além da promoção feita pela Voz da América os media ocidentais divulgaram, como prova da ditadura do Kremlin, que candidatos da oposição tinham sido excluídos de participar nas eleições municipais em Moscovo. Uma rede social prometeu uma retribuição a quem comparecesse. Era indicado um local e hora para receber 1 000 rublos, desde tivessem tirado uma selfie e 10 fotos da manifestação transmitidas nas redes sociais. Diga-se que nada foi pago, o objetivo era juntar participantes e conseguir agitação sobretudo para os media estrangeiros.

Como verificou um jornalista local infiltrado na manifestação, havia de tudo, desde gente que não fazia a mínima ideia em termos políticos do que estava ali a fazer até jovens que foram para se divertirem e mostrar que eram "grandes", até quem estava ali "porque queria ir para a UE". A missão desta oposição politicamente ultra-minoritária é quebrar os mecanismos eleitorais, substituindo-os por efeitos de rua, onde podem participar menores, nacionais de outro país, não eleitores, etc.

A oligarquia, através dos seus media, domina e condiciona a opinião publica. Problemas sociais, reais ou não, criteriosamente escolhidos são ampliados, dramatizados e repetidos à exaustão, deixando na sombra as contradições e os dramas do sistema que defendem.

Veja-se, por exemplo, a direita PSD e CDS cavalgando as deficiências do SNS, causadas em primeira análise pelos constrangimentos das políticas orçamentais e financeiras da UE, que apoiam, quando seu objetivo ideológico, comprovado pela prática no passado, é reduzi-lo a uma expressão quase medieval em proveito de grupos privados e das Instituições Privadas de Solidariedade Social (IPSS).

3 - ONDE
Desde o final da II Guerra Mundial, não incluindo ameaças nucleares ou outras, contam-se umas 56 intervenções militares diretas dos EUA ou com o comando das operações. Entre 1902 e 2002, registaram-se 327 golpes de Estado em 25 países latino-americanos. [5]

John Perkins em "Confessions of an Economic Hit Man" descreve com rigor e conhecimento de causa os processos de desestabilização e intervenção do imperialismo. [6]

Há dois casos típicos na escolha dos "alvos": derrubar governos progressistas, governos que mesmo não seguindo políticas progressistas defendam a sua soberania não aceitando o controlo externo de natureza imperialista ou neocolonial; países cujos recursos escapem ao controlo das transnacionais dos "países democráticos" – terminologia mediática usada para referir o domínio da oligarquia.

Um país que pretenda libertar-se do domínio do dólar, pretenda realizar uma política financeira soberana, torna-se de imediato alvo de sanções e conspirações sendo considerado totalitário e violador dos direitos humanos. Os dramas impostos à população pelas sanções, bombardeamentos, violência dos mercenários são apresentados como ações pró-democracia e de "combatentes da liberdade".
Dizia Goebbels que quanto maior a mentira, mais gente acredita nela. Estes ensinamentos não foram esquecidos, sobretudo quando se trata de caluniar tudo o que tenha a ver com soberania, socialismo ou apenas políticas de cariz progressista. A partir daqui estudam-se os pontos fracos do país, como o descontentamento de camadas que se considerem lesadas nos seus privilégios por políticas populares.

O separatismo é impulsionado por oportunistas com um mínimo de escrúpulos e gente de extrema direita, promovidos a líderes. Procura-se criar um caos que alastre para todo o país, levando à sua rendição perante o imperialismo. É o caso de Hong-Kong, como foi no Tibete, o separatismo para liquidar a Jugoslávia, a URSS, depois Rússia com a Tchetchenia, Ossécia do Norte, etc. [2]

Onde possa ser fomentado o separatismo, a região fica sujeita à depredação de mercenários ("combatentes da liberdade"), o povo é entorpecido com promessas de dinheiro fácil do imperialismo ou dos "países amigos" (como os da UE, na terminologia da social-democracia) "que nos querem ajudar". Claro que, o país assim criado acaba com o povo dominado pela corrupção, por máfias e com uma dívida insustentável, garantia da sua submissão.

Na Rússia estes processos foram praticamente bloqueados obrigando organizações e ONG a apresentarem contas das suas finanças e proibindo financiamento estrangeiro.

4 - QUANDO
A passagem do capitalismo para o socialismo realiza-se através de fases de transição nas quais as leis económicas de um sistema vão dando lugar às leis económicas do outro sistema. São períodos em que se mantêm estruturas produtivas, interesses e portanto modos de pensar e agir próprios do capitalismo. Tal torna-se evidente em Hong-Kong e em muitas outras partes (como na Venezuela), independentemente do que possam ser considerados erros das políticas postas em prática.

Milhões de dólares da NED foram despejados em grupos separatistas, movimentos de estudantes e falsos "formadores de opinião" sob o lema de "construção da democracia".

Em Hong Kong desde 2017, a NED aplicou 1,7 milhão de dólares em subsídios, um aumento significativo em relação aos 400 milhões aquando do fracassado "Ocuppy HK" de 2014.

Quando o trabalho preparatório permite criar uma massa crítica de descontentamento, a ação é desencadeada num momento decidido pelos EUA em conluio com as "quintas colunas" locais, aproveitando a tomada de qualquer decisão mais polémica.

Precedendo o fim da URSS foi realizado um referendo em que, apesar da intensa propaganda anticomunista da "perestroika", a população manifestou-se de forma esmagadora a favor da manutenção da URSS (entre 70,4% na Ucrânia e 90% em Repúblicas da Ásia). Mas o social-democrata Gorbatchov considerou que não era vinculativo (!) e Ieltsin agravou a tragédia bombardeando um Parlamento que era desfavorável aos desígnios de traição e submissão ao imperialismo.

PORQUÊ
Sanções, promoção de contra-revoluções, ameaças ou intervenções militares, são formas de violência a que os EUA/NATO recorrem dado que perderam a capacidade de defender o que consideram serem os seus interesses (os da oligarquia). Os invertebrados políticos e éticos da UE aderem sem peso na consciência. Mas não são sintomas de força, são de perda de poder e de controlo sobre o resto do mundo.

A propaganda mediática apoiada com milhões de dólares difunde uma visão idílica da "american way of life" hollywoodesca, ignorando uma sociedade disfuncional com 40 milhões de pobres, centenas de milhares de sem abrigo, mais de 2 milhões de presos, enquanto cada ano centenas de pessoas são mortas pela polícia e 70 mil morrem de overdose, sem falar nos massacres de tresloucados que disparam sobre multidões.

Porém, o que deve ser considerado exemplo de disfuncionalidade social e crise – de que o povo dos EUA é também vítima – são atributos para os que querem ser líderes aliados ao "excecionalismo dos EUA" (versão atual do Herrenvolk) e "meter o proletariado na ordem"

Gente incensada no ocidente (NATO e aliados) como Vaclav Havel ou a corrupta corte de Ieltsin apelava à intervenção direta do imperialismo para estabelecer a "democracia". Mas esta democracia oligárquica não vai além da arbitrariedade feudal, reclamada então como "liberdades feudais".

O rasto destas contra-revoluções "coloridas" está pleno de crimes e miséria humana: guerras civis, horrores das "máfias" e dos mercenários (Afeganistão, Líbia, Síria, Sudão, Iémen, etc) domínio de poderes fascistas como na Ucrânia, Polónia, etc, apoiados pelas "democracias". Situações que a UE dos "valores" silencia ou distorce e apoia.

A questão é que os EUA perderam a superioridade militar. A Rússia tem capacidade militar para ripostar no próprio território dos EUA. [7] Nestas condições o Pentágono elaborou um estudo baseado numa guerra nuclear contra Rússia a partir da Europa (claro!) em que sairiam vencedores (claro, claro!). Por outro lado, o desenvolvimento das capacidades militares da China dotou-a de um potencial balístico capaz de destruir bases e navios dos EUA na Ásia e no Pacífico.

Os EUA e a UE encaminham-se para mais uma crise sem terem resolvido a de 2008, porém aumentam as despesas militares e cortam nas sociais. Acresce o endividamento federal dos EUA (22, 5 milhões de milhões de dólares, 105,6% do PIB, crescendo ao ritmo de 1 milhão de milhões por ano), Esta situação de crise económica e social, assente numa montanha de capital fictício de dívidas e especulação, não tem fim nem solução à vista dentro do sistema, conduzindo a uma crescente insanidade agressiva.

Nos EUA as divergências políticas não são entre partidos, para além de protagonismos reduzem-se a como expandir e consolidar o imperialismo e o mecanismo de domínio do dólar. Podem reduzir-se a duas variantes: os adeptos da guerra a curto prazo, criando conflitos armados em zonas que chocam com a segurança e interesses estratégicos da Rússia e da China. A outra corrente defende um prazo mais longo de desgaste prosseguindo com as contra-revoluções ditas coloridas, aplicando sanções, criando conflitos artificiais e mobilizando a opinião pública contra todos os que não aceitem a suserania de Washington.

A questão é que o tempo passa e as contradições do capitalismo agravam-se. A necessidade objetiva do capital de contrariar a lei da queda tendencial da taxa de lucro, seja com tecnologias mais avançadas, com maior taxa de exploração, com a expansão de mercados submetidos aos seus interesses, conduzem de imediato ao agravar das contradições, para além de alguma aparente recuperação transitória.

Por isso, podemos dizer que o imperialismo e associados se encontram num labirinto, do qual a insanidade de tresloucados constitui o principal perigo para a paz no mundo, ardilosamente camuflado com hipócritas "boas intenções" ambientalistas.

Perante a ofensiva contra-revolucionária impõe-se como uma prioridade o esclarecimento ideológico das camadas populares, a par de medidas visando a soberania nacional, políticas anti-monopolistas e anti-oligárquicas e avanço de formas de transição para o socialismo, única via para superar as crescentes contradições antagónicas do capitalismo, dar lugar à paz e também à real defesa do ambiente.

Notas
[1] Dan Cohen, Behind a made-for-TV Hong Kong protest narrative, Washington is backing nativism and mob violence,
www.informationclearinghouse.info/52123.htm
[2] Ver: Do fim da URSS à atual Russofobia Notas de Dimitri Rogozin, um embaixador russo junto da NATO
resistir.info/v_carvalho/rogozin_resenha_1.html e resistir.info/v_carvalho/rogozin_resenha_2.html
[3] Carlos Andrez Perez, Venezuela, tratado por "camarada" por Filipe Gonzalez, responsável por 3 000 mortos no Caracazo de 1989; Paz Zamora, Bolívia, apoiado pela IS; os ditadores Ben Ali da Tunísia e Mubarac do Egito membros da IS. Ben Ali só excluído da IS após a repressão de 2011. A IS silencia os crimes da Colômbia, silenciou os crimes de Israel, dos contra na Nicarágua e o derrube de Jacob Arbenz, mas ataca todos os que se opõem ao FMI e ao neoliberalismo.
[4] Karine Bechet-Golovko Russie : Comment ont été recrutés les manifestants du 10 août par l'opposition www.legrandsoir.info/...
[5] Ángeles Maestro, E o génio escapou-se da garrafa… Uma imagem da Revolução Bolivariana da Venezuela em Março de 2018, www.odiario.info/e-o-genio-escapou-se-da/
[6] John Perkins Confessions of an Economic Hit Man, Berrett-Koehler Publishers, Disponível em
resistir.info/livros/john_perkins_confessions_of_an_economic_hit_man.pdf
[7] A perda da supremacia militar e a miopia do planeamento estratégico dos EUA, um livro de Andrei Martyanov,
resistir.info/v_carvalho/martyanov_resenha_1.html e resistir.info/v_carvalho/martyanov_resenha_2.html

Ver também:
  Sobre quem é quem na oposição venezuelana, ver Clodovaldo Hernandez, Who are the Bosses and Allies of the Venezuelan Opposition?
  How 'Color Revolutions' Are Made

*Autor de Amanhecer em Porto Desejado, uma história de amor, união e resistência, no cenário da América do Sul,
www.facebook.com/EmporiumEditora/videos/1974035789374330/ (wook.pt, fnac.pt) e O triunfo de Diana e outros Contos (bertrand.pt)


BRICS, China/USA vs Chine : les phases de la guerre hybride

Par Christopher Black
Paru sur New Eastern Outlook et Global Research sous le titre China And the Zombies Of The Past

La guerre hybride menée contre la Chine par les États-Unis et leur troupeau d’États marionnettes, du Royaume-Uni au Canada en passant par l’Australie, est entrée dans une nouvelle phase.

La première étape impliquait le transfert massif de forces aériennes et navales américaines dans le Pacifique, ainsi que des provocations constantes contre la Chine dans la mer de Chine méridionale et dans le détroit de Taïwan.

La deuxième étape a été une campagne de désinformation sur le traitement de ses groupes minoritaires par la Chine, en particulier au Tibet et en Chine occidentale.
Le fait que cette campagne de propagande ait été menée par des pays comme les États-Unis, le Canada et l’Australie, qui ont les pires bilans au monde en matière de droits de l’homme à l’égard de leurs minorités autochtones –  soumises à des siècles de génocide culturel et physique par ces gouvernements -, et qui refusent de protéger leurs peuples minoritaires contre les attaques physiques et la discrimination dont ils sont l’objet, malgré leurs lois sur les droits de l’homme, a de quoi bouleverser tout observateur objectif.

Mais non contents de cela, la propagande a été étendue au développement économique de la Chine, à son commerce international, à l’Organisation de coopération de Shanghai, à son Initiative Belt and Road (nouvelle Route de la soie), à sa banque de développement et à d’autres installations et initiatives commerciales à travers lesquelles la Chine est accusée de vouloir contrôler le monde ; une accusation portée par la nation même qui menace de sanctions économiques ou pire, de destruction nucléaire quiconque, ami ou ennemi, s’oppose à ses tentatives de contrôler le monde.

La quatrième phase est la tentative américaine de dégrader l’économie chinoise via des « tarifs » douaniers punitifs, ce qui revient essentiellement à un embargo sur les produits chinois. La preuve que l’objectif de Washington n’est pas d’obtenir de nouveaux accords commerciaux plus profitables aux USA, mais de mettre la Chine à genoux est que l’effet négatif de ces taxes douanières sur les consommateurs, les agriculteurs et les fabricants américains soit considéré comme secondaire par rapport au principal objectif.

L’année dernière, la guerre larvée est passée à une cinquième phase, avec l’enlèvement et de la détention illégale de Meng Wanzhou, directrice financière de la société technologique chinoise Huawei, synchronisés avec une campagne massive menée par les États-Unis pour forcer leurs alliés-marionnettes à abandonner toute relation avec cette société. Meng Wanzhou est toujours détenue contre son gré au Canada sur ordre des États-Unis. Des Chinois ont été harcelés aux États-Unis, en Australie et au Canada.

La dernière phase en date de cette guerre hybride est l’insurrection provoquée par les États-Unis, le Royaume-Uni, le Canada et autres à Hong Kong, en utilisant des tactiques visant à inciter la Chine à réprimer les émeutiers pour amplifier la propagande anti-chinoise, ou à pousser les « protestataires » à déclarer l’indépendance de Hong Kong envers la Chine et ensuite à la soutenir.

Mitch McConnell, un sénateur américain, a implicitement menacé d’un tel scénario dans une déclaration du 12 août, en déclarant que les États-Unis avertissaient la Chine de ne pas bloquer les manifestations et que si elles étaient réprimées, des troubles suivraient. En d’autres termes, les États-Unis affirment leur soutien envers les voyous en chemises noires, les chemises des fascistes. Cette nouvelle phase est très dangereuse, comme le gouvernement chinois l’a déclaré à maintes reprises, et doit être gérée avec toute l’intelligence et la détermination du peuple chinois.

De nombreux éléments démontrent aujourd’hui que le Royaume-Uni et les États-Unis sont à l’origine des événements de Hong Kong. Lorsque l’ordre des avocats de Hong Kong s’est joint aux protestations, l’Occident a prétendu que même les avocats soutenaient les protestations dans le but de rendre justice au peuple. Mais les dirigeants de cette association sont tous soit des avocats britanniques, soit des membres de cabinets d’avocats basés à Londres, comme Jimmy Chan, chef du Human Civil Rights Front créé en 2002 dans le but de séparer Honk Kong de la Chine, comme Kevin Lam, associé dans un autre cabinet basé à Londres, et Steve Kwok et Alvin Yeung, membres du parti anti-Chine Civic qui vont rencontrer la semaine prochaine des responsables américains.

Kwok a appelé à l’indépendance de Hong Kong lors d’autres visites, certaines parrainées par le Conseil national de sécurité des États-Unis, et a demandé aux États-Unis d’invoquer leur Hong Kong Policy Act, qui, entre autres choses, charge le président américain de prendre une ordonnance suspendant son traitement de Hong Kong comme un territoire distinct en matière commerciale. Cela aurait pour effet de nuire au commerce global de la Chine, car une grande partie de ses revenus provient de Hong Kong. Le président peut invoquer la loi s’il décide que Hong Kong « n’est pas suffisamment autonome pour justifier de la traiter séparément de la Chine ».

Parallèlement à l’appel de Kwok en faveur de l’application de cette loi, le sénateur américain Ted Cruz a déposé un projet de loi intitulé Loi de réévaluation de Hong Kong, et demandé au président de rapporter « la manière dont la Chine exploite Hong Kong pour contourner les lois des États-Unis ».

Mais il semble que la campagne de propagande anti-chinoise n’ait pas l’effet escompté. Le New York Times a publié un article le 13 août intitulé : « La Chine mène une guerre de désinformation contre les manifestants. » Embarrassés par le fait que des fonctionnaires consulaires américains aient été pris en flagrant délit de collusion avec des dirigeants protestataires dans un hôtel de Hong Kong, et par des déclarations ouvertes de soutien aux manifestants de la part des États-Unis, du Canada et du Royaume-Uni, ainsi que par des tentatives un peu trop visibles de traiter Hong Kong comme un État indépendant, les services secrets américains ont dû tenter de contrer les comptes rendus chinois des faits en déclarant que tout ce que dit la Chine est de la désinformation.

Les objectifs des États-Unis et du Royaume-Uni ont été révélés dans ce passage de l’article,

“Hong Kong, que la Grande-Bretagne a rendue à la domination chinoise en 1997, reste en dehors du grand firewall de la Chine, et se trouve donc sur l’une des plus grandes lignes de faille de l’Internet mondial. Préserver sa liberté de vivre sans contrôle de la Chine continentale est devenu l’une des causes qui motivent maintenant les protestations. »

Cette déclaration va à l’encontre de l’accord entre le Royaume-Uni et la Chine passé lorsque le Royaume-Uni a finalement accepté de quitter Hong Kong. Nous devons être conscients de ce que dit l’Accord. Promulgué le 4 avril 1990 mais entré en vigueur le 1er juillet 1997, date de la rétrocession du territoire à la Chine, son préambule stipule : *

Hong Kong fait partie du territoire de la Chine depuis l’Antiquité ; elle a été occupée par la Grande-Bretagne au cours des Guerres de l’opium, en 1840. Le 19 décembre 1984, les Gouvernements chinois et britannique ont signé une Déclaration commune sur la question de Hong Kong, affirmant que le Gouvernement de la République populaire de Chine reprendra l’exercice de sa souveraineté sur Hong Kong avec effet au 1er juillet 1997, répondant ainsi à l’aspiration commune, chère au peuple chinois depuis longtemps, du retour de Hong Kong dans le giron de sa mère patrie.

Défendant l’unité nationale et l’intégrité territoriale, préservant la prospérité et la stabilité de Hong Kong et tenant compte de son histoire et de ses réalités, la République populaire de Chine a décidé qu’une Région administrative spéciale de Hong Kong serait établie conformément aux dispositions de l’article 31 de la Constitution de la République populaire de Chine et que, selon le principe « un pays, deux systèmes », le système et les politiques socialistes ne seraient pas appliqués à Hong Kong lorsque la Chine reprendra la souveraineté sur Hong Kong. Les politiques fondamentales de la République populaire de Chine concernant Hong Kong ont été développées par le gouvernement chinois dans la Déclaration conjointe sino-britannique.

Conformément à la Constitution de la République populaire de Chine, l’Assemblée nationale populaire adopte la Loi fondamentale de la Région administrative spéciale de Hong Kong de la République populaire de Chine, qui prescrit les systèmes à appliquer dans la Région administrative spéciale de Hong Kong, afin d’assurer la mise en œuvre des politiques fondamentales de la République populaire de Chine concernant Hong Kong. »

Hong Kong fait partie de la Chine. C’est le fait essentiel énoncé dans la Loi fondamentale approuvée par le Royaume-Uni et la Chine. C’est une région administrative de la Chine. Ce n’est pas un État indépendant et ne l’était pas lorsque la Grande-Bretagne l’a pris et occupé par la force.

L’affirmation selon laquelle les manifestants tentent de préserver quelque chose qui n’a jamais existé – de se soustraire au contrôle de la Chine, puisque Hong Kong serait soumis au contrôle de la Chine – est donc nulle et non avenue. Le fait que la Chine ait permis à Hong Kong de conserver son système capitaliste le confirme. Le fait que la Chine puisse lui imposer le socialisme 50 ans après la signature du traité de rétrocession, ou plus tôt si certaines conditions sont remplies, le confirme également [La Chine a accepté de laisser le système capitaliste en place à Hong Kong pour une durée de 50 ans après la rétrocession, NdT].

Les prétextes aux émeutes, le premier étant un projet de loi sur l’extradition entre la Chine continentale et Hong Kong semblable à ceux qui existent entre certaines provinces du Canada et des États des États-Unis, le second étant l’affirmation selon laquelle l’insistance de la Chine sur sa souveraineté sur le territoire l’emporterait, en quelque sorte, sur l’autonomie limitée qui lui est accordée et menacerait cette autonomie, sont sans aucun fondement.

On pourrait facilement diviser le Canada en États séparés sur la base de ces arguments, ou encore diviser les États-Unis, ou même le Royaume-Uni, alors que Londres voit son pouvoir contesté en Irlande, dans le Pays de Galles et en l’Écosse par des groupes nationalistes. Et nous savons très bien que des manifestations violentes entraîneraient une rapide répression de ces séparatistes si les gouvernements centraux se sentaient menacés, en particulier si elles étaient aussi violentes que celles des chemises noires de Hong Kong. Nous avons vu ce qui s’est passé en Espagne, lorsque les Catalans ont tenté de se séparer de l’Espagne. Les dirigeants du mouvement sont maintenant en exil. Nous avons vu ce dont les États-Unis sont capables contre les manifestants lorsqu’ils ont ouvert le feu, à Kent State en 1970, sur des étudiants qui manifestaient pacifiquement. Ces choses ne sont pas oubliées. Nous savons comment les Britanniques réagiraient à de nouvelles tentatives en faveur d’une Irlande unie.

La Chine fait face à des attaques sur plusieurs fronts à la fois et il faudra de la sagesse, de l’endurance et la détermination du peuple chinois pour défendre sa révolution et se débarrasser une fois pour toutes de la domination coloniale et impérialiste. Ceux qui portent des drapeaux britanniques et américains lors des manifestations à Hong Kong, révèlent qui ils sont. Ils ne sont pas l’avenir de la Chine. Ils sont l’incarnation vivante d’une histoire morte et d’idées mortes, des zombies du passé.

*Christopher Black est un avocat spécialisé en droit pénal international basé à Toronto. Il est connu pour un certain nombre d’affaires de crimes de guerre célèbres et a récemment publié son roman « Beneath the Clouds ». Il écrit des essais sur le droit international, la politique et l’actualité mondiale. 

* Note de la traduction :
Au vu de l’ingérence occidentale avérée à Hong Kong, on pourrait également citer l’Article 23, chapitre II de la Loi fondamentale de la région administrative spéciale de Hong Kong approuvée par la Grande-Bretagne et la Chine :

“La Région administrative spéciale de Hong Kong promulguera ses propres lois pour interdire tout acte de trahison, de sécession, de sédition, de subversion contre le Gouvernement populaire central ou de vol de secrets d’État, pour interdire aux organisations ou organes politiques étrangers de mener des activités politiques dans la région et pour interdire aux organisations ou organes politiques de la région d’établir des liens avec des organisations ou organes politiques étrangers. »

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