terça-feira, 10 de setembro de 2019

BRICS, Rússia/O poder da diplomacia e da parceria no Fórum de Vladivostok


07 Setembro 2019, Resistir.info (Portugal) https://www.resistir.info/russia/vladivostok_06set19.html  

por Strategic Culture Foundation

 

– Silenciado pelos media ocidentais

Várias nações participaram esta semana do Fórum Económico Oriental (Eastern Economic Forum, EEF) anual, em Vladivostok. O encontro mostra o poder da diplomacia e da parceria para o desenvolvimento multilateral. Seria desejável que as potências ocidentais pudessem aprender.

Com mais razão porque muitas das nações participantes do EEF tiveram disputas desde longa data: Rússia-Japão, Coreia do Sul-Coreia do Norte, China-Índia, Mongólia-Japão, entre outras. Mas a disposição desses países de se empenharem e promoverem o desenvolvimento mútuo é um indicador claro dos benefícios da diplomacia e do multilateralismo.

O principal objectivo do EEF – agora no seu quinto ano – é
trazer investimento e desenvolvimento para o extremo oriente da Rússia. Mas o ambicioso plano regional, além disso, contém grandes promessas para toda a região hemisférica. Como afirmou o ex-embaixador de Singapura na Rússia, Michael Tay, nesta semana: "O extremo oriente russo é uma das oportunidades menos conhecidas para a maioria dos empresários".

Nesta semana, o presidente russo Vladimir Putin assinou duas parcerias estratégicas abrangentes com seus colegas indianos e mongóis.

Tanto Narendra Modi da Índia como Khaltmaagiin Battulga da Mongólia comentaram que "as relações com a Rússia estavam no seu nível mais alto".

Putin também recebeu o primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, durante uma visita de três dias à Rússia, que incluiu a sua participação no fórum de Vladivostok.

Os líderes russos e japoneses disseram que esperavam avançar nas negociações sobre a longa disputa territorial acerca das ilhas Curilas.

A Índia e a Coreia do Sul também anunciaram que estavam a formar uma grande parceria entre suas respectivas armadas.

Evidentemente, as relações multilaterais florescem com desenvolvimento mútuo e cooperação pacífica quando as nações se envolvem em diplomacia e respeito recíproco. Milhares de milhões de pessoas se beneficiam do pool de recursos para elevar materialmente suas vidas diárias, bem como, em última análise, do afastamento de possíveis conflitos. Todas as nações que esta semana participaram do EEF estiveram envolvidas em condutas combativas, incluindo guerras desastrosas. No entanto, hoje é aparente, e de facto realmente esperançoso, que o multilateralismo pode superar a divisão e a hostilidade.

Uma observação notável desta semana foi a escassez de reportagens dos media ocidentais acerca da conferência de Vladivostok, embora delegados ao fórum incluíssem investidores europeus. Um evento de tamanha importância, que envolveu importantes líderes mundiais, ser tão amplamente ignorado pela media ocidental constitui inequivocamente uma negligência. Os consumidores de tais media dificilmente podem apreciar a realidade de um mundo multilateral a tomar forma. Em segundo lugar, mais cinicamente, se os media ocidentais dessem qualquer cobertura normal ao EEF isso inevitavelmente perturbaria seu retrato estereotipado da Rússia como um poder isolado e maligno.

Outra observação notável é o agudo contraste entre o multilateralismo exibido em Vladivostok e o unilateralismo polarizador dos Estados Unidos. Mal se passa uma semana sem que Washington emita mais sanções contra uma nação ou outra. Nesta semana, o governo Trump impôs novas sanções ao Irão numa flagrante tentativa de encerrar a indústria vital de exportação de petróleo daquele país. Washington chegou a utilizar subornos e chantagens numa tentativa de confiscar um petroleiro que transportava exportações iranianas.

Não é exagero dizer que o antagonismo temerário dos EUA em relação ao Irão, China, Rússia e outros países é uma conduta mais afim à de um sindicato da máfia do que a um suposto Estado democrático, pouco importando ao tão louvado "líder do mundo livre".

Sanções, agressão, bullying e desprezo às normas internacionais básicas de diplomacia tornaram-se a marca registada nos EUA. Mesmo em relação aos supostos aliados europeus, Washington recorreu descaradamente a pancadas para colocá-los na linha. O governo Trump rejeitou uma proposta francesa de estender uma linha de crédito de US$15 mil milhões ao Irão, o que é mais um golpe americano no acordo nuclear internacional. A Alemanha foi advertida esta semana pelo senador norte-americano Ted Cruz que seria atingida com sanções devido ao projecto do gasoduto Nord Stream 2 com a Rússia.

Se alguma evidência adicional fosse necessária para demonstrar quanto desprezo os EUA têm pelos "aliados" europeus, esta semana houve uma multidão delas.

No entanto, os europeus mostram uma deferência estranha e contraditória em relação a Washington. A União Europeia esta semana prolongou sanções contra a Rússia – sanções essas que estão a prejudicar a economia vacilante da Europa; sanções que foram motivadas primariamente pelos EUA.

Uma nova era de multilateralismo e desenvolvimento multipolar está a desenrolar-se diante de nós, quer os media ocidentais reconheçam ou não. Essa nova era é sintetizada pela reunião bem-sucedida de nações do Leste Asiático em Vladivostok nesta semana.

O que também fica muito claro é que a era da hegemonia e de tratar os outros como vassalos está a chegar ao fim. É inviável, insustentável e indigna. O mundo não pode arcar com o unilateralismo briguento dos EUA e dos seus subordinados europeus.
06/Setembro/2019

O original encontra-se em www.strategic-culture.org/...

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