16 março 2014, Odiário.info
http://www.odiario.info (Portugal)
A solidariedade cubana prestada a outros
países através da deslocação de dezenas de milhares de médicos e outros
profissionais de saúde constitui um dos mais notáveis exemplos de
internacionalismo do nosso tempo. A essa incomparável acção humanitária o
imperialismo responde com os mais rasteiros métodos mafiosos.
Uma das
iniciativas mais mesquinhas na guerra de desgaste do governo dos Estados Unidos
contra Cuba chama-se Cuban Medical Professional Parole. É o programa do
Departamento de Estado que procura a deserção e compra de profissionais médicos
que integram as brigadas de solidariedade cubana no mundo.
Um verdadeiro
escândalo moral de que os grandes meios de comunicação têm todos os pormenores,
mas de que preferem nada informar. Mencionar esse assunto tão lamentável
obrigá-los-ia a citar dados sobre o gigantesco trabalho solidário de Cuba no
campo médico. Por exemplo: este país tem mais de 37 mil cooperantes da saúde em
77 nações pobres, o mais elevado número do mundo; que cobre 45% dos programas
de cooperação Sul-Sul na América Latina; ou 40% da atenção contra a cólera no
Haiti; que operou à vista, gratuitamente, um milhão e meio de pessoas sem
recursos; ou que subsidia actualmente quase 4 mil estudantes de medicina
procedentes de 23 países, incluindo alguns dos Estados Unidos.
Que tudo isso
seja oferecido por um país pobre e bloqueado como Cuba é demasiado espectacular
para ser dado a conhecer à opinião pública, que apenas sabe das suas carências
e défices.
O Cuban
Professional Parole é uma iniciativa que coordena, desde o ano de 2006, o
Departamento de Estado e o Departamento de Segurança Nacional dos Estados
Unidos. Tal como se pode ler na sua página Web, oferece tratamento especial nas
embaixadas norte-americanas em qualquer país do mundo e uma via rápida para
entrar nos Estados Unidos, a profissionais médicos e de enfermagem,
fisioterapeutas, técnicos de laboratório e treinadores desportivos integrados
nas missões médicas cubanas.
Um telegrama da
embaixada norte-americana em Caracas, filtrado pela Wikileaks, dá mais
detalhes, tais como — as missões diplomáticas facilitam o transporte para Miami
em aviões especiais aos que entrarem nesse programa.
O jornal The
Wall Street publicou em Janeiro de 2011 uma reportagem, propagandística, em que
assegurava que 1.574 cooperantes tinham entrado no citado programa em 65 países
diferentes, nos quatro anos e meio que levava de existência. O número parece
elevado, mas vamos fazer um cálculo simples para avaliar o impacto real da
iniciativa. Se levarmos em conta que, como afirmava o jornal, só num ano
(2010), havia mais de 17 mil cooperantes cubanos, e que o período de permanência
no exterior — embora variado, segundo a missão — é de mais ou menos dois anos,
nos referidos 4 anos e meio Cuba teria enviado para o exterior pelo menos 83
mil profissionais médicos. Os 1.574 médicos perfazem assim 1,89% do total.
Estes resultados são um fracasso claro, se calcularmos que a iniciativa conta
com dinheiro federal e centenas de funcionários, que é apoiada por todas as
embaixadas dos Estados Unidos, e que conta com poderoso aliados políticos e
mediáticos em vários países.
Não é por acaso
que o maior número de profissionais que entrou no programa trabalhou na
Venezuela. Nesse país está o maior número de cooperantes médicos cubanos,
integrado em comunidades desfavorecidas dentro do programa de saúde Missão
BairroAdentro. É evidente que existe, neste caso, um objectivo adicional: minar
o prestígio social da Missão Bairro Adentro, possivelmente o programa social
com maior sucesso do governo Hugo Chávez, onde a cooperação médica de Cuba
continua a ser a pedra angular.
Esta iniciativa
do governo dos Estados Unidos incide na utilização do tema da emigração cubana
com o fim de desestabilização social e politica. Recordemos que uma lei de
1966, A Lei de Ajuste Cubano, outorga a todo o cubano que pise o território
norte-americano autorização de residência e numerosas vantagens laborais e
sociais, algo negado ao resto da emigração latino-americana, a que se aplica
uma política sistemática de expulsão. Apesar disso, os números da emigração
cubana nos Estados Unidos são claramente inferiores aos dos outros países da
área.
O programa de
captação de médicos cubanos conta com o apoio, directo ou indirecto, de outros
factores. Em primeiro lugar, o dos grandes meios de comunicação. A grande
imprensa privada dos países onde mais incide a ajuda cubana, como a Venezuela,
Nicarágua ou Bolívia, silenciam o grande impacto social dos citados programas
médicos, enquanto dão uma extraordinária cobertura ao abandono de um só dos
médicos cubanos.
A partir de
Miami, supostas «organizações não-governamentais» também apoiam o programa de
captação de médicos. É o caso de «Solidariedade sem Fronteiras», que denomina
«Bairro afora» a sua colaboração particular com o governo dos Estados Unidos.
Na sua web facilita até os impressos que os médicos devem preencher, e as
direcções de consulados e embaixadas dos Estados Unidos a que se devem dirigir.
Esta
organização apoiou até a demanda de vários médicos cubanos desertores, no
Tribunal Federal de Miami, contra a companhia venezuelana de petróleo PDVSA, da
quem reclamam 450 milhões de dólares, como indemnização ao que chamam
«trabalhos forçados», ou trabalho de «modernos escravos», expressões com que
definem o trabalho de medicina solidária que exerceram em bairros e comunidades
rurais desfavorecidos na Venezuela, lugares para onde de certeza ninguém os
obrigou a viajar. Devemos lembrar que a cooperação médica cubana na Venezuela
tem características especiais em relação a outros programas de ajuda médica
cubana: faz parte de um acordo bilateral em que Cuba fornece milhares de
profissionais de saúde, educação, desporto, agricultura e outros sectores, e a
Venezuela envia para a ilha petróleo em condições especiais.
Apesar do
silêncio mediático Cuba conseguiu, com os seus programas de solidariedade
internacional, um grande prestígio entre populações e governos de numerosos
países do Terceiro Mundo. Para o destruir, o governo dos Estados Unidos utiliza
todo o seu potencial económico e diplomático. Entretanto, os grandes meios de
comunicação, esquecendo o seu objectivo social, continuam a silenciar tudo
isto: o exemplo de solidariedade internacional que Cuba oferece ao mundo e a
existência de uma das iniciativas de diplomacia suja mais imorais e
escandalosas dos últimos tempos.
Fonte: Cubadebate
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