9 março 2014,
Pátria Latina http://www.patrialatina.com.br (Brasil)
Panamá (Prensa
Latina) -- O sacerdote jesuíta panamenho Jorge F. Sarsaneda Del Cid formula na
rede 15 perguntas ignoradas pela grande imprensa que colocam em evidência
diversos aspectos e permitem analisar as motivações da violência desatada pela
direita fascista na Venezuela:
1. Por que
dizem que na Venezuela se sofre com uma grave falta de alimentos, justificando
assim destruição e incêndios, se foi um dos quatro países da América Latina com
menos fome em 2012 (de acordo com a FAO e a OMS), inferior a 5%, e um dos
países com maior índice de crianças e jovens obesos?
Seguindo a
lógica dominante, por que não há protestos piores em um país vizinho como a
Colômbia, no qual a fome foi sentida por 12.6% da população, isto é, quase o
triplo da Venezuela?
2. Se as causas
dos ataques, incêndios e manifestações é a escassez de produtos básicos, por
que se observam ações de tipo político e não roubo de lojas e armazéns, o que
seria de se esperar quando se trata de carência generalizada? Por que um dos
dirigentes opositores, Henrique Capriles, afirma que se deve a "falta de
remédios" se os avanços em saúde na Venezuela estão entre os mais
destacados da região?
3. Por que
tanta violência pela suposta "ausência" ou falta de acesso a comida
se a revista 'The Economist' publicava esta semana que a escassez só afetou
cerca de 28% dos produtos? Por que os mesmos analistas não preveem algo
parecido na República Dominicana, país no qual o 'Latinobarómetro' detectou que
ao redor de 70% da população não tem dinheiro suficiente para comprar a comida
do mês?
4. Por que o
epicentro dos protestos pela "escassez" é a Praça Altamira, no meio
de bairros de classe alta e habitantes com pele tão branca? Não seria mais
lógico em bairros pobres e população mestiça, já que a Venezuela é o segundo
país com maior proporção de afrodescendentes da América do Sul, depois do
Brasil?
5. Por que a
Unesco reconhece a Venezuela como o quinto país com maior matrícula
universitária do mundo, que cresceu mais de 800%, sendo que ao redor de 75% em
educação superior é pública, e no entanto não se conhece nenhuma luta do
"movimento estudantil" atual, enquanto há "estudantes"
marchando contra "torturas" e por "comida"?
6. Se os
estudantes da educação superior na Venezuela já superam 2,6 milhões (isto é, ao
redor de 20 vezes a população estudantil do Panamá), por que as manifestações
são mais em forma de focos ou grupos de dezenas ou, no máximo, centenas de
pessoas?
7. Se o comum e
corrente é que os estudantes ou sindicatos marchem por mais benefícios e
serviços públicos, assim como leis mais democráticas e equitativas, por que os
"estudantes" que marcham na Venezuela o fazem por papel higiênico,
defendendo a propriedade privada da imprensa ou do comércio para bens de
consumo?
8. Por que não
se sabe ainda o nome de nenhuma federação ou organização estudantil, nenhuma
pauta de reivindicações, nem o nome de nenhum de seus mais importantes
dirigentes ou membros de diretoria, mas sim os nomes de notórios e antigos
líderes da oposição partidária e eleitoral, envolvidos nas ações golpistas de
2002 e 2013?
9. Por que e
quem produzem as imagens falsas de torturas, assassinatos e humilhações
posteriores aos confusos fatos de 12 de fevereiro de 2014, manipulando fotos do
Chile, da Europa ou da Síria para que apareçam nas redes sociais e até em meios
de comunicação como a CNN como se fossem na Venezuela? Que liderança
democrática e civil já usou manobras como essa na história universal?
10. Se os
bolivarianos e seus aliados ganharam as eleições de 2012 e 2013, incluídas as
municipais mais recentes de dezembro passado, quando obtiveram 55% dos votos e
76% das prefeituras, por que se fala que o oficialismo é hoje
"minoria"? Por que sua renúncia ou um referendo revocatório é
proposta como saída para "a crise", fora de todos os prazos e procedimentos
legalmente estabelecidos para isso na Constituição feita com a própria
liderança bolivariana?
11. Por que se
invoca a falta de diálogo se há apenas dois meses foi realizado na Venezuela um
encontro histórico entre o Executivo nacional e todos os prefeitos recém
eleitos, incluindo opositores, contando assim com a participação de todos os
partidos e posições? Com quem se dialoga, quem dirige ou lidera "a
crise"?
12. Por que o
principal - e praticamente único - porta-voz das manifestações, supostamente
pacíficas e alentadas pela "ineficiência" do governo, é Leopoldo
López, pessoa que não conta com nenhuma representatividade, salvo a de seu
minúsculo partido, e seu chamado mais importante é há meses "tirar aqueles
que governam"? O que o Tea Party (ultra-direita dos EUA) tem a ver com
tudo isso, já que a relação extremamente próxima com López é muito conhecida?
13. Por que não
usam os governos dos estados, as prefeituras e os assentos nas Assembleias
nacional e estatais para propor um programa de ações pacífico e político, e por
que não canalizam através de sua enorme incidência midiática as denúncias de
"corrupção", "fraude", "totalitarismo",
"fome" e "repressão" com provas contundentes e inegáveis -
não por twits, nem cápsulas de Youtube - como sim faziam as oposições a
Trujillo, Balaguer, Pinochet ou Videla?
14. Por que se
protesta, se na Venezuela mais de 42% do orçamento do Estado é destinado aos
investimentos sociais? Segundo dados internacionais, cinco milhões de pessoas
saíram da pobreza, então quem está protestando? Por que se protesta se o
analfabetismo foi erradicado? Do que reclamam os estudantes se o número de
professores nas escolas públicas se multiplicou por cinco (de 65 mil a 350 mil)
e foram criadas 11 novas universidades?
15. Por que...?
Poderíamos
seguir acrescentando perguntas. A verdade é que, como latino-americanos,
enquanto nos insultamos, acusamos e desqualificamos, os "grandes do
mundo" fazem seus cálculos para nos tirar o petróleo, o cobre, o lítio, a
água e tantas outras riquezas que temos. Aí é onde temos que colocar nossa
atenção...
*Correspondente da Prensa Latina no Panamá.
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