1 março 2013, ODiário.info http://www.odiario.info (Portugal)
Os EUA gastaram nos últimos 20 anos mais de cinco mil milhões de
dólares a subsidiar a subversão na Ucrânia. Entretanto são retiradas as ajudas
alimentares aos norte-americanos com fome porque «não há dinheiro».
Da Ucrânia à Venezuela, de África e Médio Oriente aos mares da
China, multiplicam-se os sinais de que a tendência predominante nas potências
imperialistas é para a guerra generalizada, o autoritarismo mais violento e o
fascismo. Seja pela via da agressão aberta e directa, seja através de grupos
mercenários a soldo, os imperialismos em crise sistémica estão em guerra aberta
contra os povos e em guerra surda entre si, como ainda recentemente comprovou o
telefonema da «diplomata» dos EUA Victoria Nuland ao seu embaixador em Kiev. No
combate contra governos que se atrevem a dar mostras de soberania, lançam mão
de paleo-fascistas, cuja ligação directa às hordas nazis na II Guerra Mundial
ninguém pode contestar. Tal como o fundamentalismo religioso mais retrógrado e
reaccionário é kosher na Líbia ou na Síria, também o anti-semitismo dos
fascistas ucranianos torna-se «europeu» e «democrático». A sra. Nuland
confessou numa Conferência Internacional de Negócios patrocinada pela
petrolífera Chevron (13.12.13) que nos últimos 20 anos os EUA gastaram mais de
cinco mil milhões de dólares a subsidiar a subversão na Ucrânia. Entretanto são
retiradas as ajudas alimentares aos norte-americanos com fome porque «não há
dinheiro».
Quem ache que isto é exagero faria bem em dar ouvidos a alguém que
vem do coração do sistema e lhe conhece as entranhas, embora seja hoje
dissidente. Paul Craig Roberts (PCR) pertenceu a governos de Ronald Reagan e
foi vice-editor do Wall Street Journal. Hoje escreve que «a União Soviética
servia de entrave ao poder dos EUA.
O colapso soviético possibilitou a ofensiva
neoconservadora pela hegemonia mundial dos EUA. A Rússia sob Putin, a China e o
Irão são os únicos entraves à agenda neoconservadora. Os mísseis nucleares
russos e a sua tecnologia militar tornam a Rússia o mais forte obstáculo
militar à hegemonia dos EUA. Para neutralizar a Rússia, os EUA romperam acordos
[…] expandiram a NATO para antigas partes constitutivas do império soviético
[…] e Washington alterou a sua doutrina de guerra nuclear para permitir um
ataque nuclear inicial. […] O desenlace provável da ameaça estratégica
audaciosa com que Washington está a confrontar a Rússia será a guerra nuclear»
(14.2.14). Sob o título «Washington empurra o Mundo para a guerra», PCR escreve
(14.12.13): «a guerra fatal para a humanidade é a guerra com a Rússia e a China
para a qual Washington está a empurrar os EUA e os estados fantoches de
Washington na NATO e na Ásia. […]. A única razão por que Washington quer
estabelecer bases militares e mísseis nas fronteiras da Rússia é para negar à
Rússia a possibilidade de resistir à hegemonia de Washington. A Rússia não
ameaçou os seus vizinhos e […] tem sido extremamente passiva face às
provocações dos EUA. Isto está a mudar […] tornou-se claro para o governo russo
que Washington prepara um ataque inicial decapitador contra a Rússia. […] A
postura militar agressiva de Washington face à Rússia e a China indicia uma
autoconfiança extrema que costuma conduzir à guerra». Sobre a Ucrânia, escrevia
PCR há mais de um mês (4.12.13): «A UE quer que a Ucrânia adira para que a
Ucrânia possa ser pilhada, tal como o foram a Letónia, Grécia, Espanha, Itália,
Irlanda e Portugal. […] Os EUA querem a adesão da Ucrânia para poderem aí
posicionar bases missilísticas contra a Rússia».
O ex-governante de Reagan não reconhece que o entrave decisivo ao
belicismo imperialista é a luta dos povos. Mas é mais lúcido do que muitos que
se afirmam “de esquerda” quando adverte a China e a Rússia contra as ilusões e
concessões. «É pouco provável que a China se deixe intimidar, mas poderá
minar-se caso a sua reforma económica abra a economia chinesa à manipulação
ocidental» diz PCR (4.12.13), que também alerta contra a «quinta coluna» de
«licenciados programados pelos EUA que regressam à China». E é cáustico para
com a tolerância da Rússia e da Ucrânia «que de forma tola permitiram que
grande número de ONG financiadas pelos EUA agissem como agentes de Washington
sob a capa de “organizações dos direitos do homem”, “construtores de
democracia”, etc.» (14.2.13). As ilusões sobre a natureza do imperialismo e
sobre a traição dos aspirantes a serventuários ricos pagam-se caro. Os povos do
mundo já pagaram um preço demasiado elevado.
*Este artigo foi publicado no “Avante!” nº 2100, 27.02.2014
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