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por Jorge Figueiredo
Ninguém a culpar pelas crises!
Sobre nós, imutáveis e inescrutáveis, dominam
As leis da teoria económica.
E catástrofes naturais repetem-se
Em ciclos terríveis.
Sobre nós, imutáveis e inescrutáveis, dominam
As leis da teoria económica.
E catástrofes naturais repetem-se
Em ciclos terríveis.
Bertold Brecht, Santa Joana dos Matadouros
No one's to blame for crises!
Over us, changeless and inscrutable, rule
The laws of economics.
And natural catastrophes recur
In dreadful cycles.
Over us, changeless and inscrutable, rule
The laws of economics.
And natural catastrophes recur
In dreadful cycles.
Bertolt Brecht, Saint Joan of the Stockyards
Na linguagem corrente, quando se fala em saída da crise a maioria
das pessoas pensa na recuperação dos níveis de emprego e de crescimento. No
entanto, na óptica da classe dominante, saída da crise significa outra coisa:
trata-se, sim, do restabelecimento da taxa de lucro para os níveis que
consideram normais. Esta ambiguidade de linguagem tem sido útil para os
comentaristas económicos que grassam na TV portuguesa: tais confusões facilitam
o trabalho deles de desinformação.
Há numerosas saídas possíveis de uma crise económica mas isso raramente é mencionado. Uma boa tipologia para caracterizar as possíveis saídas de uma crise é examinar o que se segue à descida ao "fundo do poço". Grosso modo, os gráficos assemelham-se às seguintes letras:
A saída em V é a clássica dos ciclos de conjuntura normais do capitalismo. Depois de atingir o mínimo há uma vigorosa retomada das taxas de lucro (e consequentemente do produto e do emprego). Foi este tipo de saída que se verificou ao longo dos 30 anos gloriosos que se seguiram à II Guerra. Era o tempo em que os economistas do sistema tinham a pretensão de poder controlá-lo e
a arrogância de pensarem que o mérito das saídas era deles próprios.
Assemelhavam-se à história daquele galo que pretendia que o Sol nascia pela manhã
porque ele emitia o seu cocoricó. Na época dos ciclos "certinhos",
alguns economistas do sistema até ousavam afirmar que tinham o poder de fazer a
"sintonia fina" (fine tuning) da economia nacional. As realidades
que se seguiram aos anos 70 desmentiram tais basófias.Há numerosas saídas possíveis de uma crise económica mas isso raramente é mencionado. Uma boa tipologia para caracterizar as possíveis saídas de uma crise é examinar o que se segue à descida ao "fundo do poço". Grosso modo, os gráficos assemelham-se às seguintes letras:
A saída em V é a clássica dos ciclos de conjuntura normais do capitalismo. Depois de atingir o mínimo há uma vigorosa retomada das taxas de lucro (e consequentemente do produto e do emprego). Foi este tipo de saída que se verificou ao longo dos 30 anos gloriosos que se seguiram à II Guerra. Era o tempo em que os economistas do sistema tinham a pretensão de poder controlá-lo e
A saída em L é a longa depressão. Foi o que sucedeu a partir da crise de 1929, uma crise da taxa de lucro. Não havia investimento porque os retornos não atraíam os capitalistas investidores. A longa depressão só acabou devido à II Guerra. A gigantesca destruição de activos fixos verificada – e a contenção forçada da procura de bens civis – possibilitou, no pós guerra, a tão almejada recuperação da taxa de lucro sobre o investimento. Isto não significa dizer que só uma guerra possa restabelecer a taxa de lucro e por fim à crise (a grande crise de 1870 acabou sem guerra). No entanto, a actuação prática do imperialismo após o fim da URSS não descarta esta possibilidade. As provocações contra a Rússia (cerco pelos mísseis da NATO, Ucrânia, ...) e contra a China (o que Hillary Clinton chama de "contenção" na Ásia-Pacífico) apontam nesse sentido: mostram que a classe dominante das potências imperiais não põe de lado esta saída de emergência.
A saída em W é surpreendente e frustrante. Após o fundo do poço há uma retomada que dá a esperança de uma saída em V. Mas logo a seguir, por vezes sem chegar a recuperar o nível anterior da crise, há um novo mergulho. É assim que após o colapso de 2008 (bancarrota do Lehman Brothers, subprimes, crise hipotecária, etc) em 2011 houve uma ligeira recuperação que deixou muita gente eufórica – e a seguir novo afundamento. Diga-se de passagem que a actual recuperação será mais complicada e difícil que a dos anos 30 do século XX pois não basta destruir activos fixos para acabar com ela: será necessário também destruir o capital fictício acumulado pela financiarização do capitalismo (financiarização essa determinada pela queda da taxa de lucro nas actividades da economia real). A luta pela paz continua portanto na ordem do dia.
A saída em raiz quadrada é outra possibilidade preocupante. Depois de chegar ao fundo do poço há uma recuperação que deixa todos eufóricos – mas esta recuperação é muito pequena e não consegue sequer atingir os níveis de produção anteriores à crise. Ou seja, a economia permanece estagnada num nível apenas um pouco superior ao do fundo do poço. Actualmente esta parece uma possibilidade bastante real. A classe dominante não consegue restabelecer as taxas de lucro dos "bons tempos" e portanto continua a retrair-se no investimento e a desviar recursos para a financiarização (o que aumenta o stock de capital fictício).
Tudo indica que esta perspectiva é a que mais se aproxima do panorama actual. Ela vem confirmar a grande descoberta de Paul Sweezy de que a tendência imanente do capitalismo na sua fase monopolista é no sentido da estagnação. Assim, o que realmente deve ser explicado não é porque há estagnação e sim porque há crescimento. A descoberta notabilíssima de Sweezy foi feita numa época em que a tendência estagnacionista mal se manifestara, o que aumenta o seu mérito científico.
Uma variação possível da saída anterior poderia ser chamada de raiz ondulante . Isso significa que na fase da recuperação haverá fortes e contínuas oscilações. Esta possibilidade parece bastante real quando se considera o Pico Petrolífero (Peak Oil). A estagnação da produção de petróleo levará a um aumento tendencial do preço do barril pois as reservas do petróleo de baixo custo (o convencional) que estão agora a ser exploradas já estão na fase de esgotamento. Os novos petróleos de alto custo (deep offshore, shale, etc) têm de ser vendidos a preços mais altos. Mas há um limite para o preço mais alto que a economia pode suportar. Assim, poderá verificar-se uma situação de para-arranca (stop & go): cada ligeiro início de recuperação poderá ser travado por nova alta do barril, o pequeno afundamento que se segue travará esta alta e assim por diante.
Em suma: o capitalismo já ultrapassou a sua data de validade e está agora em metásteses, em meio a convulsões. Nesta fase de decadência todas as saídas são más para os povos. O sistema já não pode ser consertado, apenas prolongado por meio de cuidados cada vez mais intensivos. O mundo velho está podre, mas o mundo novo – o socialismo – ainda não tem forças para nascer. As tentativas desesperadas da classe dominante de restabelecer a taxa de lucro – e ela é capaz dos maiores crimes para alcançar esse objectivo – ameaçam de extermínio a maior parte da humanidade. A Terceira Guerra Mundial pode não ser um cenário de ficção.
Ver também
Tendências, disparadores e tulipas,
Michael Roberts
Por que caem as taxas de juro das obrigações do tesouro?, Manuel Brotas
Por que caem as taxas de juro das obrigações do tesouro?, Manuel Brotas
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