21
março 2014, ODiário.info http://www.odiario.info (Portugal)
A
propaganda imperialista acusa sistematicamente as FARC-EP de serem uma “narco
guerrilha”. Pela voz de um dos principais responsáveis da heróica guerrilha
colombiana a grosseira acusação é devolvida. São a DEA e a CIA quem tem um longo
e documentado historial de ligação, protecção e financiamento através do
narcotráfico. E não haverá sucesso na luta contra esse flagelo sem o combate a
esses poderosíssimos tentáculos do imperialismo.
O
mundo está a travar a luta contra as drogas no meio das trevas. Todos os
esforços estão condenados ao fracasso se não acendemos a luz da verdade sobre o
nauseabundo crime do narcotráfico que lacera a humanidade. Rodeada por essa
obscuridade, a pobre Colômbia está enredada e perdida num labirinto mais intrincado
que o do mito do Minotauro.
Esta
certeza reafirma-se no impacto das denúncias do ex governador de Minnesota,
Jesse Ventura, director do programa de Televisão “Conspiracy Theory” (Teoria da
conspiração), um homem ao qual há que atribuir crédito, não apenas por ter sido
autoridade de um Estado dos Estados Unidos, mas também pelo seu rigor
investigativo e compromisso com a humanidade.
Não
estamos a chover no molhado ao reproduzir versões muito difundidas por todo o
mundo. Simplesmente consideramos como verdade irrefutável que não se pode
encobrir nem ocultar mais o sujo papel da CIA e da DEA enquanto motores e
geradores da calamidade humanitária do flagelo do narcotráfico.
A
CIA está desde há mais de meio século utilizando os lucros criminosos do tráfico
de drogas para financiar as suas operações encobertas de guerra suja, como
pérfido recurso para iludir a obrigação de prestar contas ao Congresso e ao
próprio povo norte-americano. Esses dinheiros são utilizados para
desestabilizar governos legítimos, eleitos democraticamente, financiar
atentados contra líderes do hemisfério que
se opõem à política hegemónica de
Washington… Mas o mais grave é que esse desvio -- conduta considerada como uma
traição à Constituição, aos princípios e às leis do país -- continua sendo
consentido e tolerado por autoridades corruptas dos Estados Unidos.
Jesse
Ventura sustenta que a participação da CIA no negócio está totalmente
documentada. Em França, entre 1947 e 1951. No Sudeste asiático nos anos 50. O
mesmo em Indochina, Panamá, Centro América, México e Colômbia. No decurso da
guerra – denuncia o ex governador - o Afeganistão converteu-se no maior
fornecedor de opio e heroína da Europa, e o cultivo de papoila, que
praticamente tinha sido erradicado no governo dos talibans, voltou a florescer
com a invasão dos Estados Unidos.
Michel
Levine, agente encoberto da DEA durante 25 anos -- o mais condecorado da
história --, afirma no seu livro Deep Cover que quando se dispunha a capturar
peixes gordos do narcotráfico recebeu ordens dos seus superiores para o não
fazer porque se tratava de colaboradores da CIA. O jornalista Gary Webb, que
revelou como a CIA introduziu através de Los Angeles centenas de toneladas de
cocaína para serem distribuídas em todo o território dos Estados Unidos, acabou
morto com duas balas en la cabeça. Já em 1976 o inspector-geral da CIA tinha
reconhecido em C-SPAN que essa instituição introduzira a epidemia do “crack”.
Tanto
a DEA como os barões da droga estão a fazer o negócio do século porque, segundo
os denunciantes, movimentam uma grande massa de dinheiro que oscila entre 500
mil milhares de milhões e um milhão de milhares de dólares ao ano, uma quantia
anual maior do que a do negócio do petróleo e do gás natural juntos, e o dobro
do da indústria automóvel. E situam nesse grande negócio a razão pela qual o
exército dos Estados Unidos, o maior aparelho militar do mundo, com um
orçamento de centenas de biliões de dólares, é totalmente incapaz de controlar
a entrada de drogas no seu país.
Por
isso a guerra contra as drogas é uma fraude e uma farsa total. Isto explica o
fracasso da política antidrogas. A causa da persistência nessa política são os
negócios, e Colômbia e México contribuem com as vítimas de um proibicionismo
hipócrita.
Onde
cheire a drogas aí estão las tropas estado-unidenses erradicando a cocaína, a
heroína e o opio dos demais, e protegendo os barões da droga que branqueiam o
seu dinheiro através dos bancos dos Estados Unidos e da Europa, como assinala
Ventura. Enquanto os insignificantes capos colombianos lavam a sua prata e
põem-na a circular nos circuitos financeiros do país, antes de serem
assassinados, encarcerados, ou extraditados para o norte.
Qualquer
um pode entender que nessas condições é estéril o esforço do Departamento das
Nações Unidas contra a Droga e o Delito, apontado a castigar os delinquentes do
sector financeiro responsáveis pela lavagem de activos, e que a legalização do
consumo que agora a ONU propõe para desestimular o negócio não é mais do que
uma vã prédica dispersa na solidão del deserto.
Tudo
o que está dito anteriormente obriga-nos a repensar o que se passou na
Colômbia. ¿O que é que levou Álvaro Uribe, o Karsai colombiano com antecedentes
de narcotráfico, a permitir a instalação de 7 bases militares norte-americanas
no nosso território? Nessa decisão anti soberana há muitas coisas obscuras e
ocultas. Há também razões geopolíticas. ¿Que papel desempenharam realmente
vários directores da policia da Colômbia nas últimas décadas? No fim de contas
não se sabe se trabalhavam atraídos pelos sumarentos estipêndios dos capos, ou
se trabalhavam como agentes encobertos para a DEA e a CIA.
O
ministro da Defesa de Colômbia, ao acusar a guerrilha, apenas se cobre de
ridículo. É melhor interrogarmo-nos sobre o que fazer para sair deste
labirinto. Pela nossa parte encerrámos o 21º ciclo de conversações de Havana
apresentando 50 propostas que, a serem assumidas com sensatez pelo governo,
podem coadjuvar o encontrar-se um caminho que ao menos, mediante a substituição
gradual, retire os camponeses do pântano de miséria em que se encontram. Uma
conferência de nações deverá traçar as linhas estratégicas que permitam dar,
com a espada da verdade, a estocada final a esse monstro que é o Minotauro do
narcotráfico.
*Membro
do Secretariado das FARC-EP
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