Chakrabortty - The Guardian - Tradução de Margarida
timorlorosaenacao/6 julho 2008
Os biocombustíveis forçaram aumentos globais nos preços dos alimentos de 75% - muito mais do que previamente estimado – de acordo com um relatório confidencial do Banco Mundial obtido pelo Guardian.
A destruidora avaliação não publicada está baseada na análise mais detalhada até agora da crise, desenvolvida por economistas internacionalmente respeitados do órgão financeiro global.
O número contraria enfaticamente as declarações do governo dos USA que esses combustíveis derivados de plantas contribuíram para menos de 3% do aumento dos preços dos alimentos. Isso aumenta a pressão nos governos em Washington e através da Europa, que se viraram para combustíveis derivados de plantas para reduzir emissões de gases de estufa e reduzir a sua dependência em petróleo importado.
Fontes de topo de desenvolvimento acreditam que o relatório, completado em Abril, não foi publicado para evitar embaraçar o Presidente George Bush.
"Isso colocaria o Banco Mundial num ponto quente político contra a Casa Branca," disse um ontem.
A notícia chega numa altura crítica nas negociações mundiais sobre a política de biocombustíveis. Líderes dos países industrializados do G8 vão-se encontrar na próxima semana em Hokkaido, Japão, onde vão discutir a crise dos alimentos e estão sob intensa pressão dos activistas que pedem uma moratória na utilização de combustíveis derivados de plantas.
Isso também colocará pressão sob o governo Britânico, que deve emitir o seu próprio relatório sobre o impacto dos biocombustíveis, o relatório Gallagher. O Guardian noticiou antes que o estudo Britânico afirmará que combustíveis derivados de plantas têm tido uma parte "significativa" no aumento dos preços dos alimentos para níveis recorde. Apesar de ser esperado na semana passada, o relatório ainda não saiu.
"Líderes políticos parecem ter a intenção de suprimir e ignorar a forte evidência de os biocombustíveis serem um factor maior nos recentes aumentos dos preços dos alimentos," disse Robert Bailey, conselheiro político na Oxfam. "É imperativo termos o retrato completo. Ao mesmo tempo que os políticos se concentram em manter a felicidade dos grupos de pressão da indústria, aos povos nos países pobres não conseguem pagar o suficiente para comer."
O aumento dos preços dos alimentos empurrou 100 milhões de pessoas à escala mundial para baixo da linha de pobreza, estima o Banco Mundial, e desencadeou motins do Bangladesh ao Egipto. Ministros do governo aqui descreveram os preços mais altos de alimentos e combustíveis como "a primeira crise económica real da globalização".
O Presidente Bush ligou os preços mais altos dos alimentos a maior procura da Índia e China, mas o estudo do Banco Mundial disputa isso: "O crescimento rápido de rendimentos em países em vias de desenvolvimento não levou a grandes aumentos na consumo global de cereais e não foi um factor maior responsável pelos grandes aumentos de preços"
Mesmo secas sucessivas na Austrália, calcula o relatório, tiveram um impacto marginal. Argumenta, contudo, que as directivas da UE de dos USA para os biocombustíveis tiveram de longe o maior impacto no abastecimento e preços de alimentos.
Desde Abril, todo o petróleo e diesel na Grã-Bretanha têm de incluir 2.5% de biocombustíveis. A UE tem estado a considerar elevar esse alvo para 10% em 2020, mas está confrontada com crescente evidência que isso apenas elevará mais os preços dos alimentos.
"Sem o aumento nos biocombustíveis, os estoques globais de trigo e milho não teriam declinado bastante e os aumentos dos preços devido a outros factores teriam sido moderados," diz o relatório. O preço do cesto de alimentos examinados no estudo subiu de 140% entre 2002 e Fevereiro deste ano. O relatório estima que preços mais altos de energia e fertilizante foram responsáveis por um aumento de apenas 15%, enquanto os biocombustíveis foram responsáveis por um salto de 75% durante esse período.
Isso argumenta que a produção de biocombustíveis distorceu os mercados de alimentos em três maneiras principais. Primeira, isso desviou cereais da alimentação para os combustíveis, com mais de um terço do milho dos USA a ser usado agora na produção de etanol e cerca de metade do óleo vegetal na UE a ir para a produção de biodiesel. Segunda, agricultores estão a ser encorajados a separar terra para a produção de biocombustível. Terceira, isso tem desencadeado especulação financeira nos cereais, aumentando ainda mais os preços.
Outras revisões da crise dos alimentos feitas por um período muito mais longo, ao não ligaram estes três factores por isso chegaram a estimativas muito mais pequenas do impacto dos biocombustíveis. Mas o autor do relatório, Don Mitchell, é um economista de topo do Banco Mundial e fez uma análise detalhada mês-a-mês do aumento dos preços dos alimentos, o que possibilita um exame muito mais próximo da ligação entre biocombustíveis e abastecimento de alimentos.
O relatório aponta que biocombustíveis derivados da cana de açúcar, em que o Brasil se especializa, não tiveram um impacto tão dramático.
Apoiantes dos biocombustíveis argumentam que são uma alternativa mais verde ao petróleo e outros combustíveis fósseis, mas mesmo esse argumento tem sido disputado por alguns peritos, que argumentam que isso não se aplica à produção dos USA de etanol de plantações.
"Está claro que alguns biocombustíveis têm grandes impactos nos preços de alimentos," disse o Dr. David King, o antigo conselheiro cientista chefe, ontem à noite. "Tudo o que estamos a fazer, apoiando isto é subsidiar preços de alimentos mais altos, ao mesmo tempo que nada fazemos para resolver as mudanças climáticas."
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