segunda-feira, 14 de abril de 2008

Após sucessivos golpes e guerras, paraguaios ainda não consolidaram democracia

Ana Luiza Zenker/Agência Brasil

Brasília, 14 abril 2008 - Um país que ainda busca consolidar um regime democrático, depois de passar por sucessivos golpes de Estado, revoluções e guerras. É assim que o historiador e diretor do Instituto de História e Museu Militar do Ministério da Defesa Nacional do Paraguai, Hugo Ramon Mendoza Martinez, descreve o momento histórico vivido no país vizinho ao Brasil, que elege um presidente para substituir Nicanor Duarte no próximo domingo (20).
Primeiro país latino-americano a conseguir independência do Império Espanhol, em 1811, e primeiro a se declarar uma república, em 1813, o Paraguai conheceu logo o que é uma ditadura. De 1814 a 1840, foi governado por Gaspar Rodríguez Francia, seguido pelos também ditadores Antônio López e Solano López. Apesar do regime, Martinez diz que “o Paraguai seguiu um processo de desenvolvimento econômico e social muito importante no contexto latino-americano.
Em 1865, veio a Guerra do Paraguai, contra a Tríplice Aliança formada por Brasil, Argentina e Uruguai. O conflito deixou o país “devastado e tutelado pela Aliança” e criou uma "cicatriz profunda na alma popular, pois interrompeu um processo muito importante do Paraguai", diz o historiador. "Perdemos muito da nossa auto-estima com a derrota”, acrescenta. Dois terços da população morreram (300 mil pessoas) e "ficaram somente as crianças, os velhos e as mulheres”.
Após a Guerra do Paraguai, seguiu-se um período de disputas políticas entre os dois principais partidos, o Liberal e o Colorado. Este último prevaleceu até 1904. Daí até a Revolução Febrerista de 1936, que derrubou o governo liberal e colocou o coronel Rafael Franco na Presidência, com um governo populista e nacionalista, os liberais estiveram no poder, e voltaram logo em seguida, em 1937. Nesse período, além de guerras civis e revoluções, houve mais uma guerra contra um país vizinho, a Bolívia.
Na Guerra do Chaco, de 1932 a 1935, estava em jogo o controle do território do Chaco, no norte do Paraguai. Apesar de pouco preparado para o confronto, uma vez que em 1922 o país passou por mais uma guerra civil de disputa pelo poder, o exército paraguaio venceu. “Essa vitória contra a Bolívia nos devolveu um pouco a confiança, a auto-estima. A partir dali, o Paraguai teve um pouco de política externa relativamente independente”, lembra Martinez.
Em uma nova revolução, em 1947, a Aliança Nacional Republicana (Partido Colorado) chega ao poder, e dá as cartas por um período ainda instável politicamente, até 1954. “As pessoas estavam cansadas de tanta instabilidade, porque de 1904 até 1954 houve uma grande quantidade de revoluções, golpes de Estado e guerras civis, então praticamente apoiaram a ditadura do general Stroessner”, afirma o historiador.
O colorado Alfredo Stroessner ficou no poder até 1989, quando foi deposto por um novo golpe de Estado, liderado pelo também colorado Andrés Rodríguez. Desde então, os presidentes são eleitos. Mas todos eles até agora são do Partido Colorado, que este ano completa 62 anos seguidos na Presidência paraguaia.
Apesar desse domínio do partido, Martinez destaca que “continuamos a ser uma democracia”. “Temos o processo democrático mais longo de toda a nossa história, são 18 anos de democracia, praticamente inéditos no país”, diz. No entanto, ele lembra que falta a alternância no poder, condição necessária para a consolidação da democracia. “Isso não ocorreu ainda no Paraguai”, conclui.
Quando a democracia estiver consolidada, alguns milhões de paraguaios viverão nela, já que a população, devastada na Guerra do Paraguai, hoje passa dos 6 milhões. Houve um salto a partir da década de 1980, quando o número de habitantes praticamente dobrou por causa do início das atividades da Usina Hidrelétrica Binacional de Itaipu.

http://www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2008/04/12/materia.2008-04-12.6464035279/view

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