Por Patrick O'Connor
14 de abril de 2008 / World Socialist Web Site / www.wsws.org
Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês, no dia 8 Abril 2008. Mari Alkatiri, o antigo primeiro-ministro Timorense e o atual Secretário-geral da Fretilin, o partido de oposição, alegou que a noticiada tentativa de assassinato do Primeiro-Ministro Xanana Gusmão em 11 de Fevereiro foi falsa. Numa entrevista à Portuguese News Network, ele afirmou que a Fretilin tem fotos que mostram que o veículo, que supostamente esteve sob fogo, inicialmente tinha apenas dois buracos de balas, mas, que depois apareceu em público com 16 perfurações. Alkatiri levantou também uma séria de questões sérias relacionadas com os disparos do Presidente José Ramos-Horta e a morte do amotinado major Alfredo Reinado.
As declarações do antigo primeiro-ministro lançam ainda mais dúvidas sobre a explicação oficial dos eventos de 11 de Fevereiro. De acordo com o Primeiro-Ministro Gusmão, os Australianos e a mídia internacional, Reinado foi morto quando estava a liderar uma tentativa de golpe ou assassinatos coordenados contra as duas lideranças do Timor, Ramos-Horta e Gusmão. Esta versão, contudo, continua a ser a menos provável.
Reinado, que com vários dos seus homens se tinha amotinado em Maio de 2006 e se juntara a ataques armados contra forças do governo, era procurado por acusações de homicídio e de posse de armas. Em meados de Janeiro, o antigo major chegou a um acordo com Ramos-Horta, a partir do qual ele render-se-ia à justiça em troca de uma anistia presidencial total. Por volta dessa altura, Reinado emitiu para o público um DVD no qual amargamente denunciou Gusmão, o seu antigo patrão, acusando-o de ter instigado diretamente a divisão militar de 2006 que levou à intervenção militar Australiana e à saída da administração da Fretilin de Alkatiri.
Em 7 de Fevereiro de 2008, Ramos-Horta tinha convocado um encontro na sua residência envolvendo Gusmão, Alkatiri, e outros parlamentares. O presidente disse aos participantes que tinha concordado com o pedido da Fretilin de eleições antecipadas. Formado em Agosto de 2007, o governo de coligação liderado por Gusmão estava envolvido por divisões internas e tornava-se cada vez mais impopular.
Consideradas estas circunstâncias, torna-se inteiramente implausível a explicação oficial de "golpe" dos eventos de 11 de Fevereiro. Reinado supostamente tentou assassinar um presidente que se preparava duplamente para lhe dar uma anistia total pelos seus crimes e que tinha decidido apoiar os esforços para derrubar a administração de Gusmão através de eleições antecipadas. As tentativas da mídia da Austrália para explicar estas contradições apoiaram-se apenas na afirmação de que Reinado era instável. Uma possibilidade alternativa mais coerente é que Reinado, e talvez Ramos-Horta também, foram alvos de tentativa de assassinato por Gusmão ou por forças próximas de Gusmão, com o apoio provável ou pelo menos com o conhecimento dos assessores Australianos em Dili. O governo de Canberra (sede do governo australiano) e Gusmão se beneficiaram ambos dos eventos de 11 de Fevereiro. O governo Timorense tomou uma série de medidas autoritárias para reforçar a sua governabilidade, ao mesmo tempo que o governo Labor do Primeiro-Ministro Kevin Rudd usou a alegada tentativa de golpe como um pretexto para despachar mais tropas para reforçar a sua ocupação neo-colonial no Timor, país rico em petróleo.
Na sua entrevista com a Portuguese News Network (PNN), publicada em 4 de Março, Alkatiri descreveu a alegada emboscada sobre Gusmão como uma "ficção barata". Ele afirmou que um representante da Fretilin tirou fotos do veículo de Gusmão com dois buracos de balas quando estava estacionado na estrada. Mais tarde, contudo, como foi dito acima, o mesmo veículo foi mostrado caído com 16 buracos de balas.
O líder da Fretilin questionou também as circunstâncias da morte de Reinado. "Como é que Alfredo Reinado ia atacar a pessoa [Ramos-Horta] que estava a encontrar uma solução elegante para ele?" perguntou. "Quem é que foi atacado primeiro, foi Reinado ou o Presidente da República? Se foi Reinado, de acordo com os primeiros fatos, ele teria estado morto uma hora antes. Se ele foi morto antes, porque é que os homens de Reinado e os do Presidente da República ficaram a olhar uns para os outros até o Presidente ter chegado?"
Alkatiri fala com o World Socialist Web Site
O World Socialist Web Site contactou Alkatiri em 2 de Abril. Ele disse que nada tinha a acrescentar ao que dissera ao PNN na entrevista, mas deixou também claro que não estava a recuar nas suas declarações anteriores.
Referindo-se ao acordo alcançado em Janeiro entre Ramos-Horta e Reinado, Alkatiri afirmou, "É por isso que tudo isto é muito estranho, muito irônico, que Reinado tenha vindo para atacar exatamente a pessoa que estava a tentar o seu melhor para trabalhar com Reinado". O WSWS perguntou se a Fretilin iria emitir publicamente as fotos do veículo de Gusmão. "Continuo à espera que os investigadores me peçam isso e depois entregarei as fotos a eles," respondeu.
Na sua entrevista à PNN, Alkatiri pediu uma comissão independente de inquérito, excluindo pessoal da Austrália. "Países que têm uma presença aqui, na área da justiça ou conselheiros na área da segurança, não podem ter elementos a fazerem parte desta comissão," disse ao WSWS, acrescentando que os ataques de Fevereiro ocorreram, "com toda esta presença [militar],e se a investigação incriminar a presença internacional ou a da ONU, naturalmente que a tendência será tapá-los". Perguntado acerca dos investigadores do FBI a trabalharem correntemente no caso, Alkatiri respondeu: "Numa análise final, estão a ser usados. Mesmo se quiserem ser sérios, não o podem ser."
Alkatiri declinou dizer ao WSWS se acreditava que as forças Australianas estiveram envolvidas na violência de 11 de Fevereiro, e em vez disso repetiu a sua exigência por uma investigação internacional. "Tudo tem de ser investigado, é por isso que deixamos claro que uma comissão internacional para a investigação não pode nunca incluir pessoas de países que já estão a operar em Timor-Leste."
Na entrevista ao PNN, Alkatiri deixou claramente implícito que forças de dentro do governo podem ter instigado o duplo ataque. "O Presidente da República [Ramos-Horta] tinha dito claramente que haverá eleições antecipadas em 2009," disse. "É claro que os que governam não gostaram disso. Esta dúvida tem de ser clarificada para o bem das pessoas que estão envolvidas. Se eu estivesse no lugar do Xanana, eu seria o primeiro a dizer que queria que esta investigação fosse feita de forma independente."
Quando perguntamos se estava a sugerir que Gusmão era pessoalmente responsável pelos ataques de 11 de Fevereiro, Alkatiri respondeu "Não, eu não sugeri nenhum nome [mas] penso que a investigação deixará isso claro, realmente." Ele recusou responder sobre as razões do governo de Gusmão ter bloqueado a formação duma investigação internacional.
Ele denunciou o "estado de sítio", sob o qual há um recolher obrigatório rigoroso e que proíbe reuniões e manifestações, como um "disparate". "É realmente uma maneira para o governo impor as suas regras, disse-nos. "Isto não é o primado da lei, é domínio pela lei; estão a usar a maioria deles para imporem as suas próprias leis."
Falando ao PNN, ele tinha anteriormente explicado: "A emergência está a ser usada para intimidar o povo. A população vai cansar-se destas medidas, particularmente nos bairros de Dili. Já estamos a voltar aos tempos da Indonésia, com as pessoas a não dormirem em casa. Nos bairros de Tunanara e Pité há jovens com medo que a polícia venha buscá-los durante a noite.... Os que estão no poder devem acreditar que a melhor forma de controlar esta população é meter-lhes medo, [para deter] manifestações ou qualquer outra ação violenta. Não há nenhum direito de manifestar, não há nenhum direito de fazer ajuntamentos públicos. Eu estou habituado a encontrar-me na minha casa com muita gente, e agora há dias em que a polícia aparece aqui e pergunta à minha segurança o que é que nós andamos a fazer."
Alkatiri disse ao WSWS que a coligação no poder "pagará a conta disto" nas próximas eleições, que ele espera se realizem no princípio de 2009. O líder da Fretilin disse que na última vez que falou com Ramos-Horta, há três ou quatro semanas atrás, que o presidente se mantém comprometido em avançar com a data das eleições. Perguntado como é que ele pensava que Gusmão responderia a essa questão, disse ele: "Ele não tem opções, ele não tem nenhumas opções. Ele não tem nenhuma autoridade para governar este país, ele não foi eleito. Nós precisamos dum país democrático, não de um país que é dirigido por um antigo guerrilheiro."
Papel de Canberra
O WSWS perguntou a Alkatiri acerca do presente papel das 1,000 tropas lideradas pelos Australianos na Força Internacional de Estabilização. Ele respondeu, "O problema aqui, o principal problema aqui, é quem comanda quem? Quem é que está realmente a comandar a força? Nações Unidas, o governo, o brigadeiro Australiano, eu ainda não sei.... A única coisa que posso dizer é que a força chegou aqui em 2006 a meu pedido, nessa altura assinado pelo Presidente Xanana [Gusmão] e pelo presidente do parlamento, Lu-Olo [Guterres], mas desde então as coisas estão a desenvolver-se numa tal maneira que penso precisamos de saber claramente quem é que está a comandar a força."
A respeito da intervenção Australiana de 2006, que Alkatiri defendeu como um meio de pôr fim ao conflito da polícia e militares, ocorreu a seguinte troca de informações na entrevista realizada pelo WSWS:
WSWS: Seria verdade que como Reinado alegou, Gusmão instigou esse conflito como parte de uma tentativa de golpe contra a sua administração?
Alkatiri: Se isso é verdade, se isso é verdade, isso explicará muita coisa.
WSWS: E também explicará muita coisa se é verdade que Canberra (governo australiano) esteve envolvida nisso também.
Alkatiri: Isso explicará muita coisa, tudo, coisas que se desenvolveram internamente em Timor-Leste, com algum tipo de interferência do exterior.... quero aqui explicar que em 2006, o Primeiro-Ministro Howard foi o único que deixou claro, muito claro publicamente, que preferia que eu saísse. Isso já é uma maneira de interferir nos assuntos doutro país.
O antigo primeiro-ministro disse então que com a eleição do novo governo do Labor pode-se afirmar o seguinte:
"Penso que temos muito espaço, espaço político, para trabalharmos juntos. Estou certo que virão muitas mudanças. Ainda é demasiadamente cedo para se falar disso, mas estou certo, sim."
Perguntado sobre as mudanças que antecipava, Alkatiri respondeu:
"Respeito mútuo entre a Austrália e Timor-Leste e outros países é uma coisa, e obviamente mais cooperação, um pouco de mais cooperação para benefício dos dois países seria outra coisa."
E sobre a resposta de Rudd aos eventos de 11 de Fevereiro quando o novo primeiro-ministro do Labor despachou imediatamente mais tropas Australianas incluindo pessoal da elite SAS?
Alkatiri respondeu: "Ele estava no governo há menos de 100 dias e tinha de responder como fez, mas estou certo que mais cedo que tarde muita coisa mudará."
Na realidade o governo Labor de Rudd da Austrália manterá a mesma orientação estratégica do antigo governo Howard. O Labor tem um histórico desgraçado sobre Timor-Leste, incluindo o encorajamento ativo pelo governo de Whitlam da invasão da Indonésia em 1975 e a negociação do governo Hawke-Keating do Tratado do Timor Gap de 1989, sob o qual Canberra e Jacarta dividiram os recursos de gás e de petróleo de Timor em violação da lei internacional. A morte do antigo ditador da Indonésia Suharto no princípio do ano viu o espetáculo miserável de ministros do Labor do passado e do presente a prestarem honras ao assassinato de massas.
Durante a estadia de 11 anos de Howard no governo australiano, o Labor suportou todos os passos do governo em Timor. A oposição do Labor apoiou as tácticas rudes de medir forças do governo Howard durante as negociações sobre a exploração do petróleo do Mar de Timor com a antiga administração de Alkatiri, numa altura juntando-se mesmo ao governo para expulsar o Senador dos Verdes Bob Brown do parlamento depois dele ter feito críticas limitadas à postura de Canberra. O Labor endossou ambas as intervenções militares de 1999 e 2006, que foram guiadas pela determinação da elite governante Australiana para assegurar o controle sobre a parte de leão do petróleo e do gás de Timor e afastar poderes rivais, acima de todos, aqueles de Portugal e China. O destacamento de mais tropas por Rudd em Fevereiro foi motivado pela sua determinação de avançar mais nesta estratégia neo-colonial.
Apagamento da versão da mídia internacional
Nem uma única publicação da mídia na Austrália noticiou as declarações de Alkatiri ao PNN. Esta extraordinária auto-censura é indicadora do importante papel da mídia institucional como cúmplice ativo do imperialismo Australiano em Timor-Leste e através do Pacífico Sul. Continuam a repetir as versões oficiais de "golpe" e "assassinato" dos eventos de 11 de Fevereiro—que virtualmente ninguém em Dili acredita—como moeda boa. Não levantaram ainda questões essenciais, ignoraram pistas óbvias para potenciais investigações e declarações importantes de figuras públicas de topo.
Alkatiri não está sozinho a levantar questões sérias em relação à morte de Reinado e à alegada emboscada ao veículo de Gusmão.
Mário Carrascalão — o antigo governador Timorense nomeado pela Indonésia e agora lider do PSD que faz parte da coligação do governo de Gusmão — deu uma entrevista à agência Lusa de Portugal que foi publicada em 19 de Fevereiro. Carrascalão disse que estavam a acontecer "coisas estranhas" em Timor-Leste, e questionado como é que o veículo de Gusmão esteve supostamente debaixo de fogo e ninguém ficou ferido, disse "Quem quer que conheça aquela estrada [onde o alegado ataque ocorreu], sabe que lá ninguém escapa duma emboscada". E acrescentou: "Mas ninguém ficou ferido."
Carrascalão também disse que acreditava que Reinado não atacou Ramos-Horta e que em vez disso talvez alguém tenha montado uma "armadilha" ao antigo major. Levantou a possibilidade de serem responsáveis ou "os Australianos", peticionários ou outra seção dos militares Timorenses. "Qualquer uma destas três hipóteses é plausível," concluiu ele. .
Tal como aconteceu sobre as alegações de Alkatiri, nenhuma secção da mídia Australiana noticiou os comentários de Carrascalão.
Carrascalão deu também uma série de detalhes do encontro realizado na residência de Ramos-Horta em 7 de Fevereiro, onde ele foi um dos parlamentares que participou. Ao lado de deputados do governo, estiveram presentes uma dúzia de representantes de topo da Fretilin. Carrascalão disse à Lusa que depois de uma hora de discussão, Ramos-Horta declarou que já não acreditava mais que o governo de Gusmão fosse capaz de resolver os problemas de Timor e que se deviam fazer eleições antecipadas. Gusmão respondeu insistindo que o seu governo continuaria a trabalhar sozinho. Ramos-Horta concluiu dizendo que haveria mais encontros para se tentar chegar a um acordo.
Esses encontros, contudo, nunca se fizeram. A chamada "tentativa de golpe" ocorreu quatro dias depois, seguido pelo anúncio de Gusmão do "estado de sítio".
Ramos-Horta questiona a resposta militar Australiana.
No final do mês passado, o Presidente Ramos-Horta deu várias entrevistas, providenciando o seu primeiro relato do que levou aos seus ferimentos em 11 de Fevereiro. Conquanto Ramos-Horta e Alkatiri, sem dúvida, sabem muito mais do que dizem publicamente acerca das circunstâncias que rodearam a alegada tentativa de duplo assassinato, os seus comentários são significativos.
Falando com Lindsay Murdoch da Fairfax, Horta explicou que andava num passeio matinal quando ouviu pela primeira vez duas séries de tiros. Murdoch relatou: "Horta disse que inicialmente olhou aos dois soldados das forças armadas Timorenses que estavam com ele e que disse ‘sim, os tiros são na minha casa'. Mas depois ele encontrou o gerente em Dili do banci ANZ, que andava de bicicleta."
Ramos-Horta disse a Murdoch: "Ele [o gerente] disse num modo casual e relaxado que a ISF [Força Internacional de Estabilização liderada pelos Australianos] andava a fazer um exercício perto da minha casa. Bem, sendo esse o caso, senti-me relaxado e decidi ir para casa." Noutra entrevista com a TVTL de Timor-Leste, Ramos-Horta disse: "Ele [o gerente do ANZ] disse-me que a ISF estava a fazer um exercício perto da minha residência. Ele perguntou se eu estava ou não informado disso, mas eu respondi-lhe que nunca recebi nenhuma informação disso [sic] do que a ISF estava a fazer perto da minha casa. Fiquei muito zangado porque se a ISF estava a fazer exercícios perto da minha casa sem o meu conhecimento, isso é um pouco [sic] errado."
De acordo com o presidente, depois, ele aproximou-se da sua casa e viu um veículo das forças armadas Timorenses mas não viu nenhum contingente das tropas Australianas.Nessa altura dos acontecimentos, Reinado já estava morto depois de ter sido baleado na cabeça, de acordo com alguns relatos, cerca de uma hora mais cedo. Ramos-Horta encontrou depois o que ele chamou de "um dos homens de Alfredo em uniforme completo [militar]" que o baleou nas costas quando ele se virou para fugir. Ramos-Horta foi atingido com balas "avariadas" — que estão proibidas sob a Convenção de Genebra porque se expandem e fragmentam no impacto — e mais tarde sofreu seis operações num hospital Australiano.
Ramos-Horta contou à Rádio ABC que imediatamente depois de ter sido baleado, "Ouvi-os [os soldados que estavam com ele] a praguejarem contra o gerente do banco ANZ, acusando-o pelo que tinha acontecido porque ele enganara-nos para irmos para casa. Por causa disso eu estava preocupado que ele pudessem fazer represálias contra ele, por isso disse-lhes, ‘não, não pensem isso,' porque ele também não sabia, ele pensava que era um exercício militar porque nunca lhe ocorreu a ele, ou a mim, que a minha casa estava sob ataque."
Ramos-Horta levantou mais questões relacionadas com o fracasso dos militares Australianos na captura dos envolvidos no tiroteio. "Eu não vi nenhum elemento da ISF ou da UNPOL [polícia] na área ... normalmente é suposto eles aparecerem instantaneamente, e neste caso de extrema gravidade normalmente eles fechariam toda a área, bloqueando qualquer estrada de saída dos atacantes. Isso não aconteceu. Tanto quanto sei, durante vários dias não houve qualquer perseguição hostil aos atacantes. Como é que aconteceu que o Sr Alfredo Reinado estivesse em Dili totalmente sem ter sido detectado quando era suposto que a ISF estivesse a manter um olho nos seus movimentos?" Ramos-Horta declarou o seu apoio a uma comissão de inquérito para investigar essas questões.
Sob influência de Angelita Pires, ligada a Reinado
Perguntado pela ABC Radio porque é que pensava que os soldados amotinados o quisessem matar, Ramos-Horta respondeu: "Não tenho a mínima idéia. Porque eu era o único líder no país em quem eles diziam que confiavam. O Sr Alfredo Reinado disse-me um mês antes, e disse isso a todos os indivíduos que falavam com ele, que eu era o único líder que ele conhecia que não estivera envolvido na crise de 2006. Eu era o único em quem eles confiavam e eu fui o único que passou meses muitas vezes a viajar para a área do mato, para as montanhas, para os vales, para encontros com eles para tentar encontrar uma solução digna para o país, que seja aceitável por todos."
Ramos-Horta apesar disto insistiu que o ataque foi uma tentativa de assassinato. Reinado, disse Horta, à imprensa da Fairfax, "era uma pessoa muito instável, nunca consistente com o que dizia ... ele fazia uma coisa diferente no dia a seguir quando estava sob a influência da sua associada íntima e amante Srª Angelita Pires e outros que estavam por detrás dele. Enquanto eu conseguia criar um certo clima de confiança entre ele e os seus homens, havia alguns elementos por detrás dele que manipulariam e influenciariam a situação." Angelita Pires, uma cidadã com dupla nacionalidade Timorense-Australiana, atuou como advogada e representante de Reinado em Dili. Detida em 17 de Fevereiro, alegaram que ela tinha sabido dos preparativos para os alegados ataques a Ramos-Horta e Gusmão, mas tem negado as acusações. Também ela emitiu uma declaração pública rejeitando a alegação de Ramos-Horta de que ela tinha manipulado Reinado.
Quando o WSWS perguntou a Alkatiri sobre o papel de Pires, ele respondeu: "Não quero realmente comentar sobre uma pessoa individual, porque muita gente, mesmo as pessoas mais importantes, estiveram sempre com Reinado."
Tal como acontece com muitos aspectos desta caso, quanto mais de perto se examina Angelita Pires e as suas conexões, mais lamacenta parece a situação.
Angelita Pires, que passou a maior parte da sua vida na Austrália, parece ter tido uma relação de trabalho muito estreita com oficiais de topo Australianos em Dili. Até 1 de Fevereiro — dez dias antes dos tiros na residência de Ramos-Horta — ela estava empregada num contratante da AusAID, Enterprise Challenge Fund (ECF). Um artigo do The Australian de 20 de Fevereiro afirmava: "Autoridades locais afirmaram que ela foi despedida dum programa da ECF por causa dos seus alegados laços com o líder amotinado Alfredo Reinado. Acredita-se que a AusAID tinha levantado preocupações sobre a Srª Pires no final do mês passado, mas que já tinha sido tomada a decisão de despedir a mulher de 42 anos pelos gestor do programa, Coffey International, a conselho dos seus funcionários locais. A AusAID confirmou ontem à noite que a Srª Pires tinha um histórico de trabalhar para contratantes financiados pelos Australianos em Timor-Leste, mas declinou comentar as circunstâncias à volta da sua demissão."
Angelita Pires afirma ter atuado como uma intermediária, coordenando os movimentos de Reinado com as agências de segurança Timorenses e os militares Australianos. A ISF confirmou isto quando contou ao The Australian que a tinha encontrado "num local público em Dili" em Janeiro para assegurar que os homens de Reinado e a ISF sabiam os movimentos gerais de cada um. Os militares Australianos disseram também que ela "não era uma informadora paga pela ISF e que nenhum dinheiro ou subsídio foram alguma vez passadas para a Srª Pires".
Esta declaração pareceu ser em resposta a rumores em Dili sobre a origem duma grande quantia em dinheiro encontrada no corpo de Reinado. "Não foram $29,000. Não foram $31,000. Foram exactamente $30,000, em notas de $US100 ," disse o The Australian citando uma fonte de topo do governo Timorense, num artigo publicado em 18 de Março.
O mesmo artigo revelou que Gusmão considerava Angelita Pires responsável pela quebra das negociações entre Reinado e o governo que precederam a emissão pública do DVD do antigo major onde acusava o primeiro-ministro de instigar a crise de 2006. De acordo com a fonte do governo do The Australian, tinha sido arranjado um encontro entre Gusmão e Reinado em Dili no princípio de Dezembro, ma o antigo major nunca apareceu. "Angelita Pires telefonou e disse, ‘Ele não vem,'" disse a fonte. "O primeiro-ministro estava muito preocupado e muito perturbado por uma terceira parte estar a mandar pedras a isto. Alfredo nunca nos ligou a explicar". Disse ela.
Ela estava a dizer que o plano real era "prender Reinado e depois matá-lo a tiro em frente do primeiro-ministro."
Angelita Pires, segundo relatos, indicou que acredita que Reinado fora alvo duma cilada em 11 de Fevereiro. De acordo com The Age: "Depois dos ataques, Pires disse a amigos que Reinado foi atraído a casa do Sr Ramos Horta para ser assassinado porque estava prestes a revelar conspirações por figuras políticas poderosa."
http://www.wsws.org/pt/2008/apr2008/tipt-a14.shtml
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