Rio de Janeiro, 16 abril 2008 - Os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) vão fracassar no cumprimento da meta do milénio sobre o acesso universal à prevenção, tratamento, cuidados e apoios a pessoas que vivem com o VIH/SIDA até 2010.
O alerta foi feito terça-feira pelo representante do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre o HIV/Sida (UNAIDS) no Brasil, Pedro Chequer, na abertura do II Congresso dos Países de Língua Portuguesa sobre Doenças Sexualmente Transmissíveis e Sida, a decorrer no Rio de Janeiro.
"Mantidas a actual tendência de alocação de recursos e as acções em curso, a CPLP não atingirá a meta em 2010.
A situação é bastante privilegiada em Portugal e no Brasil, mas há países, como Moçambique, que vão exigir um grande esforço", afirmou Chequer à agência Lusa.
As metas de desenvolvimento do milénio foram adoptadas em Setembro de 2000 pelos 189 estados membros das Nações Unidas, que assumiram o compromisso de melhorar a vida e o destino de milhões de pessoas até 2010.
Segundo Chequer, os PALOP conseguirão atingir apenas metade da meta estabelecida de acesso universal ao tratamento do HIV/Sida.
Na avaliação do coordenador da UNAIDS no Brasil, a falta de recursos não é o único obstáculo, mas também a incapacidade de gerir esses recursos.
"Nós observarmos que alguns países têm recursos disponíveis, mas a capacidade operacional não é suficiente. Há países em que a rede pública é quase inexistente", explicou.
Chequer citou o caso de Moçambique, onde a situação, segundo frisou, é "muito grave com a ausência de profissionais de saúde".
"O mais importante é a boa utilização dos recursos já existentes. Se forem bem utilizados de modo ágil e adequado, eu creio que conseguiríamos avançar muito mais", opinou.
Por seu turno, o consultor da Organização Mundial da Saúde (OMS) para a Sida na África, Ruy Gama Vaz, informou que 67 por cento da população que vive actualmente com HIV/Sida se concentra na África Subsaariana, sendo mais da metade dos casos de mulheres entre 15 e 24 anos .
"É o que chamamos de feminização da epidemia, que está principalmente associada à dependência económica da mulher, à falta de acesso ao emprego e à carência de informação", ressaltou.
Apenas no ano passado, foram notificados 1,7 milhões de novas infecções por sida na África Subsaariana.
A estimativa da OMS é de que 4.600 novos casos surjam diariamente no continente africano, o que causa implicações sérias a nível económico e de força de trabalho.
O consultor da OMS alertou ainda que metade da população africana infectada não tem acesso aos medicamentos antiretrovirais, embora a cobertura tenha aumentado significativamente nos últimos anos.
"Há quatro anos, eram menos de cem mil pessoas que estavam sob o tratamento de antiretrovirais. Actualmente, são 2,1 milhões, o que já é um crescimento considerável tendo em conta o fragilizado sistema de saúde africano e de capacidade de diagnóstico", afirmou Ruy Vaz. O consultor da OMS acredita ser possível aproveitar a experiência do Brasil e de Portugal no combate à epidemia, nomeadamente o apoio técnico para facilitar a produção destes medicamentos no continente, ainda muito dependente da importação de antiretrovirais.
Ruy Gama defendeu igualmente que toda a intervenção na luta contra o HIV/Sida tem que ser discutida dentro de um contexto mais abrangente que implique a diminuição da pobreza. Aproximadamente doze milhões de pessoas vivem em estado de pobreza crónica na África.
O II Congresso dos Países de Língua Portuguesa sobre Doenças Sexualmente Transmissíveis e Sida prossegue até quinta-feira, quando será divulgada a Carta do Rio de Janeiro sobre as estratégias comuns a serem adoptadas pelos membros da CPLP no combate e prevenção à sida. (Notícias Lusófonas)
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