terça-feira, 3 de julho de 2007

Entidade aponta perigos na parceria estratégica com a Europa, para o Brasil e o Mercosul

Mylena Fiori / Enviada especial

Lisboa (Portugal), 2 de Julho de 2007 - O plano europeu de fortalecer a relação com o Brasil através de uma parceria estratégica preocupa setores da sociedade civil organizada.
Especialmente após a fracassada reunião do G 4, mês passado, na Alemanha, e a conseqüente paralisação da Rodada Doha, em que Brasil, Índia, União Européia e Estados Unidos negociavam aumento da liberalização comercial.
“Os europeus vão tentar fazer avançar os interesses de suas empresas transnacionais aqui na nossa região através de uma negociação bilateral, já que a Rodada Doha emperrou”, avalia Fátima Mello, secretária-executiva da Rede de Integração dos Povos (Rebrip), articulação de ONGs, movimentos sociais, entidades sindicais e associações profissionais que atuam sobre os processos de integração regional e comércio.
“A nosso ver, o acordo UE-Mercosul é uma negociação que inclui propostas muito agressivas na área de investimentos, serviços, agricultura. Em compras governamentais, chega a ser pior que a Alca [Área de Livre Comércio da Américas, que engloba Estados Unidos, México e Canadá]. Temos muito a perder”, destaca.
Ela também teme que uma relação privilegiada do Brasil com a Europa possa acirrar os ânimos com os parceiros do Mercosul – Argentina, Uruguai, Paraguai e Venezuela, esta última ainda em processo de adesão.
“Nossa grande preocupação é a repercussão que essa parceria entre Brasil e Europa pode ter para o futuro do Mercosul. Essa prioridade do diálogo com o Brasil pode dificultar muito o ambiente político no Mercosul, que já não está fácil”, observa Fátima, destacando que já há diferenças no bloco quanto às propostas de abertura dos setores industrial e de serviços nas negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC).
“Saiu-se das negociações na OMC com um relacionamento tenso no ambiente do Mercosul. Se, além disso, se agrega uma tentativa de liderança do Brasil na parceria com a Europa, a coisa pode piorar ainda mais”, afirma.
Na última semana, ao falar sobre a presidência portuguesa da União Européia e suas implicações para a América Latina, o embaixador de Portugal no Brasil, Francisco Seixas da Costa, procurou tranqüilizar os brasileiros. Disse que “a nova relação” entre União Européia e Brasil “em nada prejudica” o empenho de ambas as partes na conclusão de um acordo entre UE e Mercosul, segundo a Agência Lusa.
A aproximação entre Mercosul e União Européia começou em dezembro de 1995, com a assinatura de um acordo de cooperação, instrumento de transição para uma futura associação inter-regional, com implementação de um programa de liberalização comercial progressiva e recíproca, abrangendo os setores agrícola, industrial e de serviços. Foi criado um Comitê de Negociações Birregionais (CNB), que teve sua primeira reunião em Buenos Aires, em abril de 1999.
Os trabalhos prosseguiram em grupos técnicos. Em 2004, foram trocadas ofertas, com o objetivo de cumprir a data marcada para a finalização do acordo – 31 de outubro de 2004. As propostas foram consideradas insatisfatórias pelos dois blocos e não houve trato. Desde então, as conversas não evoluíram. Há um mês, porém, o diretor-adjunto de Comércio da União Européia e negociador-chefe para o Mercosul, Karl Falkenberg, esteve no Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, sinalizando interesse europeu na retomada das negociações.

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