Vermelho / 3 julho 2007 - 13h30
De 27 de junho a 1.º de julho a cidade americana de Atlanta sediou o primeiro Fórum Social organizado nos Estados Unidos, reunindo mais de dez mil ativistas de todo o país em torno de atividades e debates sobre a política do país e as estratégias para mudá-la.
O tema do Fórum, "Para um outro mundo ser possível, precisamos de outros Estados Unidos", serviu como pano de fundo para delegados que vieram de todos os Estados americanos e também de outras regiões do mundo, como Europa, Caribe, México e Canadá.
De 27 de junho a 1.º de julho a cidade americana de Atlanta sediou o primeiro Fórum Social organizado nos Estados Unidos, reunindo mais de dez mil ativistas de todo o país em torno de atividades e debates sobre a política do país e as estratégias para mudá-la.
O tema do Fórum, "Para um outro mundo ser possível, precisamos de outros Estados Unidos", serviu como pano de fundo para delegados que vieram de todos os Estados americanos e também de outras regiões do mundo, como Europa, Caribe, México e Canadá.
A reconstrução da Costa do Golfo, a organização dos sindicatos, os direitos dos imigrantes, saúde pública, movimento anti-belicista e contra o recrutamento, a solidariedade antiimperialista, a existência de prisioneiros políticos e o aprisionamento de jovens foram alguns dos temas debatidos. Os partidos de esquerda americanos, como o Workers World Party, pretendem fazer um balanço nos próximos dias do encontro.
Leia abaixo o artigo "FSM: Índios e imigrantes debatem problemas comuns nos EUA", publicado pela agência IPS e traduzido pela revista Envolverde:
"Os povos indígenas americanos vivem neste país há milênios, enquanto os imigrantes são "recém-chegados", mas os dois grupos têm em comum a alienação e opressão das quais são vítimas, denunciaram ativistas e líderes comunitários no Fórum Social dos Estados Unidos. O encontro reuniu cerca de 10 mil ativistas da sociedade civil de todo o país, que debateram temas relacionados a gênero, direitos dos aborígines e homossexuais, imigração e pacifismo. "Os direitos dos indígenas são a base dos direitos humanos neste país, e temos de aceitá-lo", disse Julie Fishel, do Projeto de Defesa dos Shoshone de Nevada.
Fishel participou junto com representantes de diversas comunidades indígenas de um painel que debateu a herança dos povos originários, a gradual invasão de suas terras e os persistentes efeitos negativos da opressão de seus membros. "Experimentamos muitas coisas que passam de geração para geração", disse Patty Grant-Long, dos Cherokee da zona ocidental da Carolina do Norte. "Graças ao nosso espírito e à relação com nosso Criador e nossos ancestrais, ainda estamos aqui", afirmou. Os pais de Grant-Long foram criados em internatos, onde foram forçados a abandonar sua identidade.
"O fato de os povos indígenas ainda estarem aqui é um assombroso testemunho de resistência", afirmou Iikaiki Hussey, da Sociedade Aloha Anina do Hawai. "Fala às claras sobre sua fortaleza e sua capacidade de resistir diante de todas as dificuldades", acrescentou. Hussey falou sobre a militarização do Hawai, que se prolonga por tanto tempo e se tornou tão comum que muitos visitantes nem mesmo a reconhecem como um problema. A Sociedade Aloha Anina lidera uma ofensiva pela desmilitarização desse país, "porque é bom para seus habitantes e também por ser um passo para desmantelar o império americano", acrescentou.
Faith Gemmill, da Rede Redoil do Alasca, disse que 95% das terras dos indígenas nesse país estão abertos à exploração e extração de gás e petróleo. "Tenho a esperança de viver para ver nossa terra ser devolvida aos seus legítimos donos. As pessoas devem mudar seu estilo de vida. Temos de dar tempo à Mãe Terra para que cure a si mesma", afirmou Gemmil. Por sua vez, Enei Begaye, da Coalizão de Água de Black Mesa, afirmou que "nossa Mãe Terra não está à venda". Esta coalizão reúne membros das comunidades navajo e hopi, que lutam para evitar que as empresas contaminem a água e destruam suas terras para extrair recursos. "Há um caminho para a paz. Mas requer que todos nós nos mantenhamos unidos", afirmou Begaye.
Os pontos de vista dos povos originários foram debatidos em vários dos 900 seminários que aconteceram durante o Fórum Social dos Estados Unidos. "Noventa e oito por cento dos indígenas morreram" durante o período de expansão do homem branco desde o Atlântico até o Pacífico (a chamada conquista do Oeste), disse Carrie Dann, dos Shoshone de Nevada. "Por que os Estados Unidos não querem falar sobre isto?", perguntou. Dann falou em um seminário intitulado "Para onde foram os índios?", em que os participantes informaram sobre os sofrimentos dos aborígines na medida em que os pioneiros avançavam para o oeste durante o século 19. Os shoshone ainda são proprietários de terras no Estado de Nevada, onde foram feitos mais de mil testes com bombas nucleares e onde mineradoras levam adiante uma perigosa e destrutiva exploração das jazidas de ouro.
"Estão destruindo a terra enquanto a exploram por dinheiro. É preciso cuidar da Terra e isto não acontece", disse Dann. "Quase não se presta atenção aos povos indígenas", disse, por sua vez, Ward Churchill, cuja família é cherokee. É importante que as pessoas se interessem pelas práticas que estão destruindo as terras dos shoshone de Nevada, acrescentou.
O conselheiro geral do Conselho Internacional de Tratados Índios (IITC), Alberto Saldamadndo, disse que "levamos muita gente ao âmbito da Organização das Nações Unidas, porque reunir os povos indígenas além de suas fronteiras é importante. O conselho fomenta a participação de base dos povos indígenas para que possam abordar seus problemas e trabalhar em conjunto par alcançar seus objetivos. "Estamos todos oprimidos, que de diferentes formas’, afirmou Shauna Larson, da Rede Ambiental Indígena. "É preciso que todos trabalhemos juntos para conseguir o que queremos", acrescentou. O IITC está interessado em se relacionar com grupos que centram sua ação na justiça ambiental e nos direitos das mulheres, já que estes dois temas se superpõem, disse Salamando.
Em outro seminário, que se desenvolveu tanto em inglês quanto em espanhol, os participantes discutiram a história da imigração nos Estados Unidos, as leis positivas e negativas que a regularam e os esforços dos ativistas no Estado da Flórida para mobilizar os imigrantes de língua espanhola. Neste contexto se debateu um plano de cinco pontos, a ser desenvolvido durante três anos, para passar de estratégias de organização defensivas para outras mais ativas em níveis local e estatal. No debate foi dito que os hispanos devem trabalhar em conjunto com a comunidade negra por sua história de opressão e luta.
"Há um objetivo: respeitar todos os seres humanos como tais", afirmou Herman Martínez, do Comitê de Serviço dos Amigos Americanos. "A única forma de estabelecer alianças duradouras é nos entendermos mutuamente", afirmou Gerald Lenoir, da Aliança Negra por uma Imigração Justa. Também foi destacado como fundamental que os sindicatos incorporem imigrantes e que os dois grupos trabalhem em conjunto para atingir seus objetivos.
"Demonstramos o poder das pessoas quando saem às ruas. Queremos um mundo em que todos tenham seu lugar", afirmou Rubén Solís, da União de Trabalhadores do Sudoeste. "Estamos fazendo história porque estamos construindo um novo mundo", afirmou, por sua vez, Glory Kilanko, do capítulo africano da organização Women Watch. "Se começarmos a permitir que os opressores construam muros, então os estamos ajudando a ganhar", afirmou Kilanko. "
Por Jonathan Springston, para a Agência IPS/Envolverde
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