sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Luísa Diogo contra "euforia e entusiasmo" sobre recursos naturais em Moçambique



17 outubro 2013, Radio Moçambique http://www.rm.co.mz

Lisboa (AIM) --- Luísa Dias Diogo, antiga Primeira-ministra moçambicana, juntou a sua voz aos que apelam para a necessidade dos moçambicanos conterem a 'euforia e entusiasmo' sobre os recursos naturais.

A visão de Luísa Diogo vem juntar-se aos apelos do chefe do Estado moçambicano que, não sendo novos, são sempre recorrentes nos discursos de Armando Guebuza, reafirmando que o advento da contínua descoberta de recursos naturais, nomeadamente carvão mineral e gás natural, não deve servir para 'nos dividir'.

Em Março deste ano, durante a visita a Austrália, Armando Guebuza, advertiu aos moçambicanos radicados naquele país para que não se deixem 'baralhar' com a abundância de recursos naturais que se anunciam no horizonte, evitando que se criem expectativas acima daquilo que é real e do que é possível.

Em Lisboa para participar, como uma das oradoras, na Conferência Internacional 'O futuro da Agenda Global de Desenvolvimento: visões para a CPLP',
que se realizou esta quinta-feira, na Fundação Gulbenkian, e apresentar a sua obra, 'A sopa da madrugada', evento que decorreu esta quarta-feira na sede da Comunidade dos Países de Língua portuguesa, Luísa Diogo falou à jornalista, à margem da apresentação do livro, sobre o actual desempenho da economia em Moçambique.

Segundo a antiga Primeira-ministra, o crescimento económico de Moçambique obriga a “gerir a expectativa” das pessoas, que nele “querem participar”, sublinhando que o crescimento económico inclusivo “é um desafio prevalecente em África e especialmente em Moçambique”.

Em Moçambique, a questão “coloca-se com mais acuidade”, sobretudo devido à “expectativa” criada pelo crescimento económico, no qual as pessoas “querem participar”, referiu.

Acrescentou que para que as pessoas possam participar no crescimento económico, precisam de ter “conhecimento da agenda nacional', realçando que a 'partilha de informação é fundamental para que o crescimento, efetivamente, seja inclusivo”.
Defendeu que é preciso “encontrar formas de fazer com que o desenvolvimento do país seja inclusivo”, reconhecendo que, para o conseguir com megaprojectos, “é preciso enfrentar vários desafios”.

Com micro, pequenas e médias empresas, “automaticamente a distribuição da riqueza acontece”, disse, sublinhando que “é preciso criar a ligação entre o megaprojecto e a comunidade”.

Luísa Dias Diogo, Primeira-ministra de Moçambique entre 2004 e 2010, propõe que essa inclusão seja feita “através do diálogo, do debate dos assuntos, da definição de estratégias de uma forma inclusiva, em que todos dão a sua opinião”. Antes de ser Primeira-ministra assumiu o cargo de ministra do Plano e Finanças.

Recorde-se que em Abril deste ano, o antigo ministro moçambicano do Comércio, Manuel Aranda da Silva, sublinhou, na capital portuguesa, a necessidade dos moçambicanos conterem a 'euforia e entusiasmo' sobre os recursos naturais.

'Numa visão conservadora, se houver investimento o Produto Interno Bruto aumentará três vezes o que é hoje nos próximos 18 anos, mas, para isso, tem de haver extracção de recursos. Há uma espécie de euforia e entusiasmo que pode levar as pessoas a sonhar com coisas que não acontecem”, afirmou.

Para ele, existem potencialidades mas o actual crescimento económico não tem tido correspondência no crescimento social do país porque é ainda sustentado em poucos investimentos nas áreas do carvão, no gás natural e nas areias pesadas.

'A transformação deste crescimento não tem uma correspondência no desenvolvimento económico e social. Sendo que os primeiros investimentos externos, as isenções fiscais de que se beneficiou - as transferências para os restantes sectores da economia - ainda não são suficientes e isto tem de se alterar no futuro à medida que aparecem novos investimentos', defendeu Aranda da Silva.

Segundo ele, 'primeiro tem de haver recursos minerais vendidos' porque a existência de poços de gás só por si economicamente não significam nada, 'só significa' quando o produto é vendido.

'Depois de se ter o rendimento é preciso saber onde se usa. É preciso que haja uma concentração nos sectores estratégicos da economia de apoio à transformação da produtividade agrícola, apoio ao investimento no capital humano, para a futura gestão desse recurso, e que tudo isso em paz social e segurança', disse Aranda da Silva defendendo a promoção do investimento nas áreas de extracção dos recursos naturais.

'As empresas que têm capacidade de exploração são as que controlam o mercado mundial, não há outras. As pessoas pensam que qualquer um pode fazer mas não faz porque ninguém vai conseguir extrair, transportar e vender ao preço que essas cinco ou seis companhias que controlam o mercado mundial estabelecem”, referiu o antigo ministro moçambicano.

Manuel Aranda da Silva acrescentou que compete aos governos a defesa das contrapartidas e que a presença de multinacionais não limita a soberania dos Estados, seja em que continente for.

Aranda da Silva foi ministro do Comércio (1980-1989) do governo moçambicano e mais tarde coordenador de programas das Nações Unidas em Angola, na Somália e no Sudão.

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