terça-feira, 30 de abril de 2019

BRICS/A histeria do Russiagate: Um caso de russofobia aguda



por Serge Lavrov

HISTERIA
"Se a democracia americana for destruída na próxima geração, não será destruída pelos russos ou pelos chineses, mas por nós próprios, pelos mesmos meios que usamos para a defender"
Senador J. William Fulbright
"American Militarism", 1970, Epilogue

"É uma tentativa de atirar as culpas para cima de outrem. O problema não é nosso. O problema está na política dos EUA… Quem perdeu foi a outra equipa. Não querem reconhecer o erro. É mais fácil dizer "A culpa não é nossa, a culpa é dos russos, eles interferiram nas nossas eleições". Faz-me lembrar o antissemitismo: a culpa é dos judeus, toda a culpa. Sabemos onde podemos chegar com estes sentimentos. Não chegamos a nada de bom. O que há a fazer é simplesmente trabalhar e pensar como endireitar as coisas"
Vladimir Putin
Presidente da Federação Russa,
(em resposta a uma pergunta da jornalista americana Megyn Kelly na reunião plenária do Fórum Económico Internacional em S. Petersburgo, a 2 de junho de 2017).


Em 18 de abril de 2019 a Embaixada da Federação Russa nos EUA divulgou o documento "A histeria do Russiagate: Um caso de russofobia aguda", com 121 páginas – o qual foi ignorado pela maior parte dos media corporativos.   Os interessados em ler a íntegra do documento poderão descarregá-lo AQUI .   O presente texto, agora publicado, é o prefácio de autoria do ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serge Lavrov.

"Acredito que este problema tem raízes nos desenvolvimentos internos nos Estados Unidos.

"Não estamos a gostar dos atuais desenvolvimentos, mas não fomos nós que os iniciámos. É distorcer a verdade dizer que isto é o castigo pela Ucrânia e pela Crimeia. Tudo começou com o Presidente Barack Obama, muito antes de Washington lançar o seu projeto da "revolução colorida" na Ucrânia. Começou com Edward Snowden, que ficou preso na Rússia porque não podia fugir para outro sítio qualquer – o passaporte dele foi cancelado. O Presidente dos EUA, o secretário de Estado e os diretores do FBI e da CIA pressionaram-nos para o entregar sem demora. Dissemos que não o podíamos fazer porque todas as informações disponíveis indicavam que ele enfrentava a pena de morte. Foi por isso que Obama proibiu contactos bilaterais e cancelou a sua visita antes da cimeira dos G20 em S. Petersburgo. A propósito, estávamos a preparar para essa reunião um acordo sobre mais uma redução de armas estratégicas ofensivas, que devia ser feita a seguir ao Tratado de Praga de 2010, assim como uma declaração que estabelecia uma agenda sobre estabilidade estratégica para muitos anos seguintes. A incapacidade de Obama de renunciar ao seu ressentimento pessoal enterrou um documento muito importante, que podia ser hoje de muita utilidade.

"A seguir, foram impostas sanções sobre o processo Magnitsky. Um olhar mais atento sobre o problema revelou que Bill Browder, que criou o alarido, teve problemas com a lei e não só com a lei russa. O gabinete do procurador-geral da Rússia fez acusações contra Browder nos Estados Unidos. Os tribunais americanos tiveram de reconhecer numerosos factos que apoiam as nossas suspeitas. Mas houve uma nítida interferência nos trabalhos do tribunal por aqueles não queriam aliviar a pressão sobre a Rússia, ou seja, pelo próprio Browder e pelos seus apoiantes. Por outras palavras, a Ucrânia não passou de mais um pretexto.

"A elite norte-americana não gostou das alterações verificadas na Rússia depois de Vladimir Putin se ter tornado nosso presidente, quando voltámos a pôr-nos de pé e reconquistámos a nossa independência. Mais importante ainda, começámos a pensar de forma independente e deixámos de dar ouvidos aos conselheiros que estavam infiltrados nos nossos ministérios principais nos anos 90.

"A derrota eleitoral do Partido Democrático forneceu o pretexto para impedir a normalização das relações com a Rússia. Três semanas antes de sair da Casa Branca, Barack Obama confiscou propriedade diplomática da Rússia. Isto aconteceu num país onde isso não pode acontecer por nenhuma razão, onde a propriedade privada é um direito sagrado e a propriedade de terceiros nunca pode ser tomada. Foi uma bomba relógio e esse relógio ainda está a trabalhar. Os Democratas fizeram o melhor que puderam para usar a carta russa a fim de criar o máximo prejuízo à atual administração. Quando uma grande nação gasta três anos a especular sobre a interferência estrangeira que, alegadamente, pré-determinou o resultado das eleições presidenciais, vemos isso como falta de respeito para com o grande povo americano.

"Por falar da turbulência eleitoral, gostava de me referir ao Partido Democrático. Contrariamente ao que a investigação chefiada pelo assessor especial Robert Mueller está a tentar provar, há factos sólidos que mostram que o Partido Democrático violou a lei quando usou de métodos ilegais para forçar Bernie Sanders a abandonar a corrida. Todos já se esqueceram disso, falando só sobre a Rússia em vez de falarem sobre o que está a acontecer nos Estados Unidos.

"Estamos abertos ao diálogo contanto que os Estados Unidos também estejam. O Presidente Vladimir Putin já disse isto mais de uma vez na sua reunião com o Presidente Donald Trump em Hamburgo, em 2017, em Helsínquia, no ano passado, assim como durante os seus contactos na cimeira dos G20 em Buenos Aires. Não queremos interferir, e não queremos dar razões para nos acusarem de interferências nas lutas e conflitos internos nos Estados Unidos. Temos uma agenda construtiva. Definimos uma série de áreas de cooperação, incluindo o establishment, com aprovação do nosso presidente, de um conselho comercial incluindo cinco, seis ou sete altos funcionários de cada uma das maiores empresas russas e norte-americanas. Tenho a certeza de que um conselho de alto nível como este seria um importante fator de estabilização, pelo menos para as nossas comunidades comerciais.

"Também propusemos a criação, se o nosso presidente o aprovar, de um conselho de importantes cientistas políticos russos e norte-americanos que podem ser encarregados de preparar uma agenda política. Apresentámos um extenso programa para um diálogo sobre estabilidade estratégica, incluindo o Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (Tratado INF) e um futuro acordo sobre armas estratégicas ofensivas, assim como sobre a cooperação no espaço e sobre formas de impedir a sua militarização com consequências imprevisíveis. Puseram tudo isto em segundo plano. Não recebemos uma clara resposta a estas propostas. Quando os Estados Unidos iniciaram o processo de retirada do Tratado INF, o Presidente Putin disse, numa reunião com o ministro da Defesa, Sergey Shoigu e comigo, que havíamos falado, mais de uma vez, aos nossos parceiros americanos sobre todas estas nossas iniciativas, e que os nossos parceiros já as conheciam. Se optavam por ignorar essas iniciativas, não vamos continuar a bater a uma porta fechada e vamos deixar de falar aos nossos parceiros sobre as nossas iniciativas. Os nossos colegas americanos podem avisar-nos quando estiverem preparados. Estaremos dispostos a começar as conversações". 

Serge Lavrov
Ministro dos Estrangeiros da Rússia
(Notas sobre uma reunião com a Associação Europeia de Negócios, Moscovo, 2/fevereiro/2019)

O original encontra-se em 
resistir.info/russia/the_russiagate_hysteria.pdf .
Tradução de Margarida Ferreira. 

Abyayala/Washington monta guerra colonial na América Latina



por José Goulão

Os acontecimentos sucedem-se em cascata nos últimos dias tendo como alvos a Venezuela e, por arrastamento, a Nicarágua e Cuba – a "troika da tirania", citando o triunvirato fascista que comanda Trump: Michael Pompeo, John Bolton e Michael Pence. Os movimentos militares não estão apenas em cima das mesas de conspiração, conforme reconhece a própria CNN, as sanções económicas e políticas multiplicam-se, as ondas de choque extravasam em muito a região latino-americana e desconcertam até alguns dos mais fiéis súbditos de Washington, como a União Europeia.

A CNN, citando fontes próprias do interior do establishment norte-americano, revelou a existência de actividades militares orientadas para a América Central e do Sul resultantes da coordenação do Estado-Maior conjunto do Pentágono com o Comando Sul (SouthCom), aprofundando a interacção com países vizinhos – sobretudo Colômbia e Brasil. De acordo com as mesmas fontes, trata-se de dissuadir a alegada penetração da Rússia e da China na região, que recentemente o secretário de Estado, Michael Pompeo, qualificou como "uma provocação" além de, imagine-se, uma "ingerência nos assuntos internos" da Venezuela.

Tais razões serão válidas apenas para consumo propagandístico e agitação de fantasmas; porque, em termos práticos, o que continua a ganhar forma, depois do espaço dado à vocação "humanitária", são os preparativos de uma agressão militar norte-americana contra a Venezuela, que Washington continua a preferir por procuração, isto é, através de exércitos e mercenários alheios. As movimentações militares, especialmente navais, serviriam de enquadramento das operações ofensivas e teriam igualmente cariz intimidatório.

Os sinais de reactivação da "opção militar coincidem com os fracassos sucessivos de outras formas de desestabilização da Venezuela testadas desde que o vice-presidente dos Estados Unidos, Michael Pence, telefonou a Juan Guaidó para este se auto-designar "presidente interino" da Venezuela, em 23 de Janeiro.

Um mês depois registou-se o falhanço estrondoso da intervenção contra Caracas a partir da Colômbia, sob capa de "ajuda humanitária", que acabou por se virar contra os promotores e deixar Guaidó em maus lençóis perante os patrocinadores de Washington.

Mais recentemente, em 6 de Abril, esteve programado o início de um "levantamento de massas" através da Venezuela, que deveria ir ganhando projecção e manter-se até à queda do governo eleito de Nicolás Maduro. Foi montada uma rede de células que deveria agitar manifestações em todo o país, mas tudo indica que a operação morreu no ovo: a resposta "das massas" está longe de ter o vigor ambicionado.

A conspiração de Washington
A perspectiva de novo fracasso parece ter esgotado a já pouca paciência de Washington. Em 10 de Abril, as estruturas conspirativas norte-americanas montaram uma "mesa-redonda" na capital federal, sob a capa do Centro de Estudo Estratégicos e Internacionais (CEEI), com um ponto único na ordem de trabalhos: "Avaliar a utilização da força militar na Venezuela".

A reunião deveria ter sido "privada", o que de facto aconteceu, mas o jornalista de investigação Max Blumenthal logrou acesso à lista de participantes – honrando a liberdade de imprensa e provando que a luta dos jornalistas dedicados à investigação e à busca da verdade foi ferida mas não liquidada com a prisão de Julian Assange.

A "lista de participantes" expõe uma autêntica associação de malfeitores, um conluio de índole mafiosa, gente para quem "a mudança de regime na Venezuela só é possível castigando a população", o que "não tem qualquer importância" – segundo palavras anteriormente proferidas por um dos presentes, o embaixador William Brownfield.

Desconhece-se o teor das intervenções na reunião sobre a intervenção militar na Venezuela. Mas averiguando o que pensam os conspiradores, pelo menos os principais, ficaremos com uma noção do que foi dito e preparado.

O já citado William Brownfield foi embaixador dos Estados Unidos na Venezuela a seguir ao golpe de 2002 contra Hugo Chávez e não descansou um momento no ataque à democracia venezuelana, sucessivamente como membro das administrações de George W. Bush, Obama e agora Trump. "Mais do que um narco-Estado, a Venezuela é um Estado mafioso", considera Brownfield. Por isso, "a melhor solução é acelerar o colapso, nem que produza um período de maior sofrimento durante meses, talvez anos".

Não será descabido supor, perante este tipo de afirmações, que o "combate ao narcotráfico" venha a ser um dos argumentos a brandir para justificar uma agressão militar contra a Venezuela. Já não seria a primeira vez, conhecendo o tipo de alegações que conduziram à invasão do Panamá e até do Afeganistão, país onde, desde a instalação da NATO, o comércio de estupefacientes floresce como nunca. O que acontece também com um dos grandes aliados norte-americanos na América Latina, a Colômbia, um narco-Estado que não necessita de ser invadido porque Washington já está presente e tirando proveito. 

Uma reunião que não foi académica
Olhando a lista de participantes na reunião promovida em 10 de Abril deduz-se que a intenção de "avaliar a utilização da força militar na Venezuela" fica muito aquém do que efectivamente se passou. Tratou-se muito provavelmente de uma reunião operacional, pois figuras como o almirante Kurt Tidd, o embaixador Brownfield ou o terrorista Roger Noriega não são pessoas de perder tempo e gastar experiência com debates académicos. E a presença de membros em funções no Departamento de Estado de Pompeo, como Stephen Dreikorn e Keith Mines, de um alto quadro do Conselho Nacional de Inteligência, como David Tapia, de três representantes da USAID, uma agência da CIA para mudanças de regimes, além de vários "assessores" da equipa usurpadora de Juan Guaidó indiciam um estado mais avançado de preparação do que uma simples troca de opiniões. Sem esquecer o significado da presença de delegações oficiais representativas da Colômbia e do Brasil.

O almirante Kurt Tidd foi, até há quatro meses, o comandante do Comando Sul das Forças Navais norte-americanas (SouthCom), com tarefas de controlo sobre a América Latina.

A sua presença numa reunião deste tipo tem enorme importância, não há outra interpretação possível; porque trata-se de alguém com anos de práticas desestabilizadoras e intimidatórias contra a Venezuela, incluindo planos golpistas organizados como o que esteve previsto para 2016 e foi frustrado pela Revolução Bolivariana.

"Há que continuar a manipular o cenário em que a Venezuela 'está à beira do colapso e da implosão', reforçando "a matriz mediática que liga a crise eléctrica à responsabilidade exclusiva de Maduro", incitou o almirante em ocasiões anteriores que não estão, porém, desactualizadas. A multiplicação de actos terroristas para provocar apagões que afectam a Venezuela é actual e provavelmente continua a ser testada não apenas para minar a situação interna mas também para ser uma arma em situação de agressão militar.

O terrorista Noriega 
A presença de uma figura como Roger Noriega na reunião de 10 de Abril, ainda que na discreta posição de representante do American Enterprise Institute, é todo um programa de conspiração operacional.
Noriega é um intervencionista veterano dos tempos do escândalo Irão-Contras, um braço executivo de Elliot Abrams no apoio a grupos de mercenários e esquadrões da morte patrocinados pelos Estados Unidos para lançar o terror contra as revoluções na Nicarágua e em El Salvador nas duas últimas décadas do século passado.

Sendo Elliot Abrams, actualmente, o enviado especial norte-americano para a entronização de Guaidó e o derrube de Maduro, a presença de Roger Noriega numa reunião sobre o uso da força militar na Venezuela significa que a sua realização tem de ser levada muito a sério.

Os planos contra Caracas desenvolvidos sob a alçada do almirante Kurt Tidd prevêem desde sempre o recurso a mercenários e esquadrões da morte que, para o efeito, continuam a ser preparados nas bases norte-americanas de Tona e Tolemaida, na Colômbia.

Perante os acontecimentos em cascata que se têm sucedido nos últimos dias torna-se evidente que Roger Noriega reaparece agora como uma peça-chave dos planos de Pompeo, Bolton e Adams para a América Latina - e que vão além da Venezuela.

O recentíssimo reforço das sanções contra a Nicarágua e, sobretudo, contra Cuba representam o agravamento de uma filosofia colonial intervencionista no "quintal das traseiras" e que tem vindo a ser considerada como a restauração plena da velha Doutrina Monroe. À luz da qual, obviamente, quaisquer apoios a países da região por parte de potências como a China e a Rússia são "provocações", como já declarou Michael Pompeo, o secretário de Estado e ex-director da CIA.

Além de antigo e actual colaborador próximo de Elliott Abrams na definição da estratégia terrorista contra a Venezuela, existem outras poderosas razões para considerar relevante o papel de Noriega em tudo o que está a passar-se na América Latina. Ele foi exactamente um dos autores da lei anti-cubana Helms-Burton, em 1996, agora restaurada em todo o seu articulado para agravar as sanções contra Havana.

Existe uma unidade estratégica na política de Pompeo, Bolton e Adams para a América Latina. E Roger Noriega é um dos elementos fulcrais da equipa que a desenvolve e aplica. Por isso, a sua presença na reunião de 10 de Abril, juntamente com o almirante Kurt Tidd e o embaixador William Brownfield, confirma o carácter operacional desta.

Roger Noriega, o terrorista que em tempos lamentou o facto de "os Estados Unidos se terem enganado ao não dar a devida importância a Hugo Chávez", defende que a mudança de regime é a única opção a tomar em relação à Venezuela. "Quando existe um regime cruel, não há outra solução", afirma.

A restauração plena da chamada Lei Helms-Burton é mais um reforço do bloqueio contra Cuba mas afecta também numerosas empresas e importantes negócios de outras regiões e entidades, incluindo a União Europeia.

Ora a União Europeia tem-se identificado com a estratégia latino-americana do triunvirato fascista que envolve Trump. O alargamento dessa estratégia a vários países, designadamente Cuba, afecta ainda mais directamente vastos e importantes interesses da União Europeia. Interesses que realmente contam para Bruxelas, como os dos negócios privados e das propriedades e lucros das empresas.

A imprensa espanhola revelou que a alta representante para a política externa da União Europeia, Federica Mogherini, escreveu uma carta para a Casa Branca garantindo que Bruxelas fará queixa dos Estados Unidos à Organização Mundial de Comércio se a aplicação da lei de Noriega contra Cuba for até às últimas consequências. O cenário resultante desta demanda europeia, se for concretizada, poderá criar atritos muito sérios entre a União e Washington.

Resta agora saber se este rasgo de "atrevimento" de Mogherini segue os seus trâmites ou não passará de um papel perante o qual Trump irá rir-se às gargalhadas.

Os acontecimentos dos últimos dias em relação a América Latina, incluindo a reunião de guerra efectuada em 10 de Abril, colocam, afinal, um dilema à União Europeia: reage à doutrina colonial de Washington ou continua, como até aqui, a sustentar uma figura golpista e cada vez mais desacreditada como Guaidó?

Tendo em consideração os antecedentes próximos ou afastados e o que está em jogo – não apenas regionalmente – é difícil acreditar que Bruxelas chegue a desafiar Washington. Nada faz prever que tenha chegado o dia das surpresas.

Brasil/Proposta de Bolsonaro pode legalizar o genocídio no campo



Gilvandro Filho*, para o Jornalistas pela Democracia

"Excludente de ilicitude". É um nome pomposo para uma outra expressão que já foi até nome de filme: "licença para matar". Foi um dos destaques do confuso pacote anticrime que o igualmente confuso ministro da Justiça, o juiz de primeira instância Sérgio Moro, apresentou, em fevereiro, e não conseguiu agradar nem mesmo a todo o governo. Na prática, a licença pretendida por Moro seria para os policiais, no enfrentamento com "a bandidagem", segundo o presidente e seus aliados.

Jair Bolsonaro escancarou a possibilidade de matança de quem não está ao lado dele e do seu governo. Nesta segunda-feira (29), falando a produtores rurais, seu público preferencial, o atual presidente da República abriu o jogo colocou na alça de mira o grupo que elegeu como o seu pior inimigo, junto com o PT (Partido dos Trabalhadores): o MST (Trabalhadores Rurais Sem Terra). O tal do "excludente de ilicitude, na visão tosca e ditatorial de Bolsonaro, poderá incluir os donos de terra e seus capangas que, agora, poderão abater trabalhadores sem-terra à vontade, sem se preocupar com qualquer punição.

A autorização para se iniciar um genocídio contra os sem-terra é a face cavernosa e carcomida de um governo autoritário e inconsequente. O que o seu chefe deseja é dar aos pistoleiros a serviço dos latifundiários o mesmo poder que Moro está querendo dar aos policiais quando subirem os morros do Rio de Janeiro, por exemplo. Nos dois casos, os alvos da licença para o abate são os pobres.

Sérgio Moro quer dar ao aparato policial um crachá de "exterminador de bandidos", com a classificação de quem está ou não na mira da bala vingadora sendo feita pela própria polícia. Bolsonaro ultrapassa todos os limites do bom senso e da irresponsabilidade. E entrega aos pistoleiros a mando dos proprietários de terra o poder de polícia, o que já seria uma anomalia sem precedente. Estender a este grupo uma licença de extermínio vai além. Se a concessão desse direito à polícia é irresponsabilidade, fazer o mesmo com pistoleiros, é crime.

A frase de Jair Bolsonaro para justificar tamanha insanidade política é lapidar e constitui, de per si, uma confissão de culpa sobre uma proposta que seria inacreditável se não fosse tristemente coerente com o approach bolsonariano para lidar com os movimentos sociais. Pior é que, pelo que o presidente informou, o projeto já está em discussão com membros do Legislativo.

"Tem um outro (projeto) que vai dar o que falar, mas que é uma maneira de ajudar a combater a violência no campo. Ao defender a sua propriedade privada ou a sua vida, o cidadão de bem poderá entrar no excludente de ilicitude. Ou seja, ele responde, mas não tem punição. É a forma que nós temos que proceder. Para que o outro lado que desrespeita a lei tema o cidadão de bem".

A frase de Jair Bolsonaro prescinde de comentário. Muito menos o que o presidente entende pode ser um "cidadão de bem", classificação sobejamente utilizada pelo eleitorado dele para definir o que parece ser, justamente, o contrário.

É preocupante essa fixação dos atuais governantes com os movimentos sociais que reivindicam lugar para morar e têm na ocupação de áreas improdutivas a sua ferramenta de luta. Vê-se, agora, pelas palavras do presidente da República, até onde pode chegar esse tipo de animosidade. Os sem-terra estão um passo de se tornarem, aos olhos da "justiça" brasileira, bandidos e terroristas.

Enquanto isto, na outra ponta, pistoleiros e milicianos agem desenvoltos e à solta, sem serem importunados. Em muitos casos, pelo contrário: convivem e são integrados ao poder. Em alguns casos, até homenageados pelos seus poderosos do momento.

*Gilvandro Filho Jornalista e compositor/letrista, tendo passado por veículos como Jornal do Commercio, O Globo e Jornal do Brasil, pela revista Veja e pela TV Globo, onde foi comentarista político. Ganhou três Prêmios Esso. Possui dois livros publicados: Bodas de Frevo e “Onde Está meu filho?”

(Conheça e apoie o projeto Jornalistas pela Democracia)


segunda-feira, 15 de abril de 2019

Prisão de Assange, uma advertência da História – O jornalismo real está a ser criminalizado por bandidos



por John Pilger*


O vislumbre de Julian Assange a ser arrastado para fora da embaixada equatoriana em Londres é um símbolo dos nossos tempos. A força contra a justiça. O músculo contra a lei. A indecência contra a coragem. Seis polícias maltrataram um jornalista doente, com os olhos contraídos diante da primeira luz natural que viam em quase sete anos.


Que este ultraje tenha acontecido no centro de Londres, na terra da Magna Carta, deve envergonhar e irar todos os que se preocupam por sociedades "democráticas". Assange é um refugiado político protegido pelo direito internacional, o beneficiário de asilo sob um convénio estrito do qual a Grã-Bretanha é signatária. As Nações Unidas deixaram isto claro na decisão legal do seu Grupo de Trabalho sobre Detenção Arbitrária (Working Group on Arbitrary Detention, WGAD). 

Mas para o inferno com tudo isso. Deixem os bandidos entrarem. Dirigido pelos quase fascistas na Washington de Trump, em conluio com Lenin Moreno do Equador, um Judas latino-americano e um mentiroso que procura disfarçar seu regime rançoso, a elite britânica abandonou seu último mito imperial: o da razoabilidade e justiça.

Imagine Tony Blair arrastado de sua casa georgiana de vários milhões de libras em Connaught Square, Londres, algemado, a fim de ser despachado para o banco dos réus em Haia. Pelo padrão de Nuremberg, Blasir cometeu o "crime supremo":   a morte de um milhão de iraquianos. O crime de Assange é o jornalismo:   responsabilizar os predadores, revelar suas mentiras e facultar a verdade aos povos de todo o mundo. 

A prisão chocante de Assange transmite uma advertência a todos os que, como escreveu Oscar Wilde, "preguem as sementes do descontentamento [sem as quais] não haveria avanço civilizacional". A advertência é explícita em relação aos jornalistas. O que aconteceu ao fundador e editor do WikiLeaks pode acontecer consigo num jornal, consigo num estúdio de TV, consigo na rádio, consigo a realizar um podcast.

O principal atormentador de Assange nos media, The Guardian, um colaborador do estado secreto, mostrou seu nervosismo esta semana com um editorial que atingiu novas alturas de dissimulação. O Guardian explorou o trabalho de Assange e da WikiLeaks no que seu editor anterior chamou de "o maior furo dos últimos 30 anos". O jornal fez matérias a partir das revelações da WikiLeaks e apropriou-se dos elogios e riquezas decorrentes.

Sem que nem um centavo fosse para Julian Assange ou para a WikiLeaks, um apregoado livro do Guardian levou a um lucrativo filme de Hollywood. Os autores do livro, Luke Harding e David Leigh, aproveitaram-se da sua fonte, abusaram dela e revelaram a password secreta que Assange dera ao jornal em confiança, a qual destinava-se a proteger um ficheiro digital contendo telegramas vazados de embaixadas dos EUA.

A revelação de guerras coloniais homicidas 
Quando Assange ainda estava na embaixada equatorina, Harding juntou-se à polícia do lado de fora e jactou-se no seu blog de que "a Scotland Yard pode ter a última gargalhada". The Guardian publicou então uma série de falsidades acerca de Assange, nada menos que uma desacreditada afirmação de que um grupo de russos e o homem de Trump, Paul Manafort, haviam visitado Assange na embaixada. Tais reuniões nunca aconteceram; era falso.

Mas o tom agora mudou. "O caso Assange é moralmente uma teia confusa", opinou o jornal. "Ele (Assange) acredita em publicar coisas que não deveriam ser publicadas ... Mas ele sempre lançou uma luz sobre coisas que não deveriam ter sido escondidas".

Tais "coisas" são a verdade acerca do modo homicida como a América conduz suas guerras coloniais, as mentiras do Foreign Office britânico na negação de direitos a povos vulneráveis, tais como os ilhéus das Chagos, a revelação de Hillary Clinton como uma apoiante e beneficiária do jihadismo no Médio Oriente, a pormenorizada descrição de embaixadores americanos sobre como os governos da Síria e da Venezuela podem ser derrubados e muito mais. Isto tudo está disponível no sítio da WikiLeaks .

The Guardian está compreensivelmente nervoso. Homens da polícia secreta já visitaram o jornal e pediram e obtiveram a destruição ritual de um disco rígido. Quanto a isto, o jornal tem tradição. Em 1983, uma empregada administrativa do Foreign Office, Sarah Tisdall, vazou documentos do governo britânico mostrando quando armas nucleares americanas chegariam à Europa. The Guardian foi coroado de louvores.

Quando um tribunal pediu para saber a fonte, ao invés de o editor ir para a prisão de acordo com o princípio fundamental de proteger a fonte, Tisdall foi traída, processada e cumpriu seis meses de prisão.

Se Assange for extraditado para a América por publicar o que The Guardian chama "coisas" verídicas, o que é que impede o actual editor, Katherine Viner, de segui-lo, ou o editor anterior, Alan Rusbridger, ou o prolífero propagandista Luke Harding?

E o que impede de seguirem o mesmo caminho os editores de The New York Times The Washington Post, os quais também publicaram parcelas da verdade com origem na WikiLeaks, assim como o editor de El Pais na Espanha, e de Der Spiegel na Alemanha e de The Sydney Morning Herald na Austrália? A lista é longa.

David McCraw, principal advogado de The New York Times, escreveu: "Penso que o processo [de Assange] seria um muito, muito mau precedente para editores ... de tudo o que sei, ele está na posição de uma editora clássica e a lei teria dificuldade em distinguir entre o New York Times e o WikiLeaks".

Mesmo se jornalistas que publicarem fugas da WikiLeaks não se deixarem intimidar por um grande júri americano, a intimidação de Julian Assange e Chelsea Manning será suficiente. O jornalismo real estará a ser criminalizado por bandidos à vista de todos. A divergência tornou-se uma complacência.

Na Austrália, o actual governo apaixonado pelos EUA está a processar dois denunciantes, os quais revelaram que os espiões de Canberra instalaram dispositivos de escuta para captar as reuniões de gabinete do novo governo de Timor-Leste com o propósito expresso de enganar aquela pequena e empobrecida nação a fim de tomar a sua parcela dos recursos de petróleo e gás no Mar de Timor. O julgamento deles será realizado em segredo. O primeiro-ministro australiano, Scott Morrison, é infame pela sua participação no estabelecimento de campos de concentração para refugiados nas ilhas do Pacífico de Nauru e Manus, onde crianças ferem-se a si próprias e suicidam-se. Em 2014, Morrison propôs campos de detenção em massa para 30 mil pessoas. 

Jornalismo: uma grande ameaça 
O jornalismo real é o inimigo destas desgraças. Uma década atrás, o Ministério da Defesa em Londres produziu um documento secreto que descrevia as "principais ameaças" à ordem pública como sendo tríplice: terroristas, espiões russos e jornalistas de investigação. Esta última era designada como ameaça principal.

O documento foi devidamente enviado à WikiLeaks, que o publicou. "Não tínhamos escolha", contou-me Assange. "É muito simples. O povo tem o direito de saber e o direito de perguntar e desafiar o poder. Isso é a verdadeira democracia".

E se Assange, Manning e outros no seu rastro – se houver outros – forem silenciados e "o direito de saber, questionar e desafiar" for retirado?

Na década de 1970 encontrei-me com Leni Reifenstahl, amiga próxima de Adolf Hitler, cujos filmes ajudaram a lançar o feitiço nazi sobre a Alemanha.

Ela contou-me que a mensagem nos seus filmes, a propaganda, não dependia de "ordens de cima" mas sim do que ela denominava o "vazio obediente" ("submissive void") do público.

"Será que este vazio obediente incluía a burguesia liberal e educada?", perguntei-lhe eu.

"Naturalmente", disse ela, "especialmente a intelligentsia ... Quando as pessoas já não perguntam mais questões sérias, elas são submissas e maleáveis. Tudo pode acontecer".

E aconteceu. O resto, ela podia ter acrescentado, é história. 
12/Abril/2019

Ver também: 
  If we lose WikiLeaks, we lose a whole stratum of freedom – Pilger

*
John Pilger Jornalista australiano-britânico e realizador de cinema. Seu sítio web é www.johnpilger.com .

O original encontra-se em consortiumnews.com/2019/04/12/assange-arrest-a-warning-from-history/
 

Venezuela/Seis batallas y victorias del presidente Nicolás Maduro





En seis años al frente de la Revolución Bolivariana, el presidente Nicolás Maduro se ha enfrentado a un ataque directo de EE.UU. contra la economía y la soberanía del país. Conoce cómo se ha librado esta batalla para defender la autodeterminación del pueblo venezolano.

Este 14 de abril, se cumplen seis años desde que Nicolás Maduro asumió por primera vez la presidencia de Venezuela. Dos elecciones y una gestión llena de constantes ataques a la soberanía del país, que han sido enfrentados con la diplomacia de paz.

El mandatario fue presidente interino de Venezuela tras el fallecimiento del Comandante Hugo Chávez, el 5 de marzo de 2013. Inmediatamente, el 14 de abril de ese año, se realizaron las elecciones en las que ganó con más del 60 por ciento de los votos para el periodo 2013-2019.

Las segundas elecciones se realizaron el 20 de mayo de 2018 y se alzó con el 67.7 por ciento de los votos para el mandato 2019-2025.

1. Fortalecer la democracia
En Venezuela el voto directo y secreto. Además, es electrónico y tiene mecanismos de respaldo y auditoría en papel para prevenir alteraciones informáticas. 
Durante los dos periodos presidenciales de Nicolás Maduro se han realizado ocho elecciones democráticas, estas son:

- Elecciones presidenciales de 2013. Ganó Nicolás Maduro.
- Elecciones parlamentarias de 2015 (oposición ganó mayoría de curules).
- Elecciones a la Asamblea Nacional Constituyente de Venezuela de 2017.
- Elecciones regionales de 2017 (ganó el chavismo en 18 de los 23 estados).
- Elecciones municipales de 2014 solo en los municipios San Diego y San Cristóbal, del estado Táchira, para sustituir a dos alcaldes presos por apoyar la violencias en las protestas de ese año. En ambas entidades gana la oposición.
- Elecciones municipales de Venezuela de 2017 (se eligieron alcaldes y el gobernador del estado Zulia).
- Elecciones municipales de Venezuela de 2018 (se eligieron 2.459 miembros de los concejos municipales).
- Elecciones presidenciales de 2018. Ganó Nicolás Maduro.

Ver imagen en Twitter El presidente de Venezuela, Nicolás Maduro, se reunió con líderes del Consejo Mundial de Paz y de la Federación Mundial de Juventudes Democráticas, quienes expresaron su respaldo a la Revolución Bolivariana http://bit.ly/2USrQCY 

2. Garantizar la paz
Sectores radicales de la oposición venezolana han intentado desestabilizar el país mediante hechos de violencia, planificados y encubiertos durante lo que la prensa internacional promovió solo como "protestas ciudadanas". 

En los años 2004, 2014 y 2017 ocurrieron las llamadas "guarimbas", que consistieron en focos de violencia en algunas zonas del país. Las de 2004 dejaron 50 muertos y 193 heridos, las de 2014 culminaron con 43 fallecidos y más de 800 personas heridas, mientras que las de 2017 dejaron 172 muertos en más de 100 días de violencia.

Ante estas situaciones, el Gobierno de Nicolás Maduro se mantuvo firme en el llamado a la paz. En 2014 propuso un diálogo con la oposición, el cual se dio con el apoyo de Unasur y el Vaticano. En 2017, el presidente convocó las elecciones a la Asamblea Nacional Constituyente, lo que acabó con las acciones violentas.

Desde 2014, se han realizado más de 400 llamados de diálogo a la oposición, siendo el más reciente el del 6 de abril de 2019

No obstante, la paz de Venezuela también se ha visto amenazada con intentos de magnicidio e intentos de intervención militar por parte de EE.UU. El primer escenario ocurrió el 4 de agosto de 2018 y fue neutralizado. El segundo ha sido una agresión reiterada que el Gobierno venezolano ha vencido a través de sus denuncias ante la comunidad internacional y la campaña "Hands Off Venezuela", que ha resonado en todos los rincones del mundo.


¡Si vienen como el 11, saldremos como el 13! grita el pueblo de #Venezuela en su 9° jornada de manifestaciones contra la injerencia de #EEUU

3. Enfrentar sanciones y el bloqueo financiero
Las sanciones económicas y el bloqueo financiero de EE.UU. han sido las batallas cruciales de la presidencia de Nicolás Maduro desde que asumió su primer mandato en 2013.

Estas medidas unilaterales han dejado pérdidas de 350 mil millones de dólares en producción de bienes y servicios entre 2013 y 2017, según un informe de la Unidad de Debates Económicos del Centro Estratégico Latinoamericano de Geopolítica (Celag).

Para enfrentar esta situación, el mandatario ha ampliado los lazos de cooperación  e intercambio comercial con países como China, India, Rusia, Irán, Turquía, entre otros, con el uso de monedas locales como el yuan, el rublo y el euro.

Asimismo, el presidente Maduro creó en octubre de 2018 la criptomoneda Petro, que sirve como moneda digital en el mercado nacional e internacional para la compra y venta de productos y servicios. Está sustentado en reservas naturales como el petróleo, diamante, hierro y oro.

También se crearon planes de ahorro en oro y petro proteger el ingreso de los venezolanos. De este modo, se busca vencer las sanciones y el bloqueo financiero de EE.UU.

Al menos 400 venezolanos serán beneficiados en esta jornada de conexión aérea

4. Diplomacia de paz
A medida que las agresiones de EE.UU. y sus aliados en la región latinoamericana han ido incrementando, el Gobierno Bolivariano continuó defendiendo la soberanía del pueblo mediante la diplomacia de paz.

Venezuela ha participado en diversas plataformas mundiales, como la Asamblea General y el Consejo de Seguridad de las Naciones Unidas, para denunciar las amenazas de guerra y medidas coercitivas de EE.UU., a la vez que ha dejado claro su apoyo al multilateralismo y respeto por la autodeterminación de los pueblos.

Aunado a esto, el Gobierno Bolivariano ha fortalecido las alianzas estratégicas con Rusia, China, Turquía, India y países de África. También se retiró de la Organización de Estados Americanos (OEA), que asumió una política de injerencia directa contra Venezuela.

5. Protección social
Actualmente, el índice de pobreza extrema en Venezuela se ha reducido 4.4 de los 12 puntos en que se ubicaba antes. Mientras que el Coeficiente de Gini, que mide el nivel de desigualdad, está en 0,38 tras registrar un valor de 0,49. La meta es reducir el valor a 0,26 para el año 2025.

Para mantener estos índices, el Gobierno venezolana destina más del 70 por ciento del presupuesto nacional a la inversión social.

Por otro lado, la presidencia de Nicolás Maduro ha dado continuidad y mejorados los programas sociales creados por Hugo Chávez. De esta forma, se creó el Carnet de la Patria para atender las necesidades de la población de forma directa a través de una plataforma online. Con este carnet, se puede ahorrar en oro y petro.

Otros logros sociales en los seis años de presidencia son: entrega de 2.600.000 viviendas a la población, Venezuela fue declarada territorio 100 por ciento de pensionados y se crearon los Clap (organizaciones populares para la distribución organizada de alimentos), que actualmente proteger a 6 millones de familia.

El mandatario @NicolasMaduro destacó que la meta para diciembre de este 2019 es llegar a las 3 millones de viviendas otorgadas

6. Defensa del sistema eléctrico
Los venezolanos fueron víctimas de ataques al sistema eléctrico nacional, que ocasionaron largos apagones en la mayoría del país. Esto trajo como consecuencia problemas en el suministro de agua potable, equipos electrodomésticos dañados, alimentos perecederos perdidos, y, en general, interrupción en la vida cotidiana de los ciudadanos.

El 7 de marzo ocurrió un sabotaje cibernético al cerebro informático de la Central Hidroeléctrica Simón Bolívar, en la represa de Guri, estado Bolívar (sur). Luego, el 25 de marzo, fueron afectadas las líneas de transmisión con pulsos electromagnéticos. Mientras que el 29 y 30 de marzo ocurrieron nuevos ataques sincronizados, específicamente a las 19H00 (hora Caracas).

Todos estos ataques, el Gobierno venezolano implementó varias medidas para proteger los servicios públicos del país mediante el despliegue de las fuerzas públicas y planes para edificar un sistema eléctrico impenetrable a los sabotajes eléctricos.
También se creó un programa de registro para sustituir los equipos electrónicos dañados durante los apagones.


Brasil/Bolsonaro assume posturas de ditador

15 de Abril de 2019, Brasil 247 (Brasil) https://www.brasil247.com/author/Aldo+Fornazieri

Aldo Fornazieri
Cientista político e professor da Fundação Escola
de Sociologia e Política (FESPSP)

A sociedade brasileira mergulha num crescente mal-estar com o governo Bolsonaro. Alguns milhões de eleitores do presidente estão perplexos com as suas desastradas ações e declarações, com sua falta de decoro e de civilidade. Muitos se arrependeram do voto que depositaram na urna e se sentem culpados por terem conduzido o Brasil a esta situação. Cresce o medo em relação ao futuro, pois a quebra de expectativas em relação ao governo afeta o desempenho da economia e gera um ambiente social negativo. O consumo já está se retraindo e a fome voltou a se fazer sentir com força. O que se constata, de forma crescente, é que o Brasil tem um governo que é contra a sociedade e uma sociedade que é contra o governo. Na medida em que a corda da tensão desse arco se estica a cada dia que passa, tudo indica que haverá um ponto de ruptura no futuro, pois, o mal-estar, a falta de perspectivas e a falta de futuro não podem continuar indefinidamente.

O governo definiu duas prioridades para este ano: a reforma da Previdência de Paulo Guedes, e o pacote anticrime de Sérgio Moro, que eram tidos como dois superministros, mas que foram engolfados pelo início desastroso do governo. Os dois projetos são contra a sociedade. A proposta de reforma da Previdência ataca direitos dos mais pobres, a exemplo do BPC e da aposentadoria rural, e criará gerações futuras de idosos desprotegidos por conta da vontade de impor um regime de capitalização. A parte mais desprotegida da sociedade, os mais pobres e as mulheres, são os setores que mais refutam essa proposta de reforma da Previdência. Considerando a sociedade em geral, 51% são contra e 41% são a favor da reforma.

Em relação à segunda prioridade – o pacote anticrime de Moro – a discordância da sociedade com o governo ganha amplitude maior. Neste ponto, na verdade, a sociedade se volta contra Moro, contra Bolsonaro e contra o governador Witzel, entre outros. Essa turma incentiva a violência indiscriminada de quem está armado contra uma sociedade cada vez mais indefesa, principalmente nos seus setores mais vulneráveis: novamente pobres, mulheres e jovens.

Pesquisa do Datafolha mostra que 64% dos brasileiros querem a proibição da venda de armas e 72% refutam a tese de que a sociedade se sente mais segura com as pessoas armadas. Já 81% entendem que a polícia não pode atirar livremente em suspeitos, 79% defendem que policiais que matam precisam ser investigados e 82% sustentam que aquele que atira em alguém por estar muito nervoso deve ser punido. O fuzilamento do músico Evaldo, com 80 tiros disparados por soldados do Exército, e as mortes quase diárias por balas perdidas ou equívocos de policiais são fatos contundentes e mostram que é preciso dar um basta nesta carnificina estimulada por Bolsonaro, Moro e Witzel. Eles respaldam, com suas propostas, a matança indiscriminada. De qualquer forma, esses dados da pesquisa, entre outros, são uma refutação veemente das propostas desse trio que quer ampliar o campo de batalha e de morte em que o Brasil já está transformado.

Mas a sociedade não está apenas contra as duas prioridades do governo. Está contra o próprio governo, como mostram as pesquisas de avaliação dos primeiros 100 dias da nova gestão. O fato de Bolsonaro ter vencido as eleições no segundo turno não lhe deu a maioria absoluta dos votos da totalidade do eleitorado. Se forem somados os votos recebidos por Haddad com aqueles brancos, nulos e abstenções se verá que sólida maioria dos brasileiros não votou em Bolsonaro. Ele recebeu 57,7 milhões de votos, contra 47 milhões em Haddad e uma soma de 42,1 milhões de eleitores que votaram branco, nulo ou se abstiveram. Ou seja: 89,1 milhões de eleitores não votaram em Bolsonaro. Mas as pesquisas mostram que até mesmo eleitores que votaram em Bolsonaro começam a se voltar contra o seu governo.

Não há democracia sem participação popular, sem a participação na esfera pública da sociedade civil organizada. Bolsonaro age para desarticular essa parca participação da sociedade brasileira. Primeiro, emitiu decretos para enfraquecer os sindicatos. Depois, por novo decreto, suspendeu os Conselhos participativos da sociedade em várias esferas da atividade governamental. Agora pretende atacar as agremiações estudantis retirando-lhe a prerrogativa de emitir carteiras de estudante. As várias ações somadas do governo de cunho antiparticipativo e antissocial apontam para uma intenção deliberada de enfraquecer e sufocar a sociedade, suas organizações e seus movimentos. Quanto mais fraca e quanto menos participativa a sociedade, mas liberdade terá o governo para promover o seu arbítrio.

Os ditadores governam com minorias contra maiorias, embora isto não seja exclusividade deles. Os primeiros sinais de que Bolsonaro optaria por governar com uma minoria contra a sociedade vieram no dia da posse e, depois, se multiplicaram ao longo dos 100 primeiros dias. Bolsanaro optou por um discurso e por atitudes divisionistas, de guerra ideológica, de desunião do país. Não emitiu nenhum sinal de que pretendia unir o país, de que encetaria um diálogo democrático e de que buscaria ampliar apoios na sociedade. Pelo contrário: com mentiras, se esmerou em alimentar a divisão e o ódio e não passa dia sem que faça um ataque ideológico. Nem mesmo no Congresso buscou construir uma base de apoio, dividindo os congressistas entre os adeptos da "velha política" em contraposição aos iluminados da "nova política". É de duvidar de que os encontros quem vem mantendo com líderes e presidentes de partidos tenham propósitos sinceros e não manipulatórios para depois se justificar em face de um possível fracasso da reforma da Previdência.

Portador de uma mentalidade ditatorial – não por a caso elogia ditadores sanguinários - Bolsonaro não se preocupa muito com as avaliações da opinião pública. Não se preocupa com a liturgia e o decoro do cargo. Não se preocupa com a pertinência ou impertinência de suas palavras. Não se preocupa se suas relações com outros governos podem ou não provocar danos graves aos interesses do Estado e do Brasil enquanto nação. Desprovido de qualquer prudência, a sua preocupação central é a sua vontade, definida pela sua visão de mundo, pela sua ideologia. As ações de Bolsonaro não se definem por um suposto mero despreparo. Elas se definem por uma vontade ideológica autoritária e nisto reside todo o perigo que ele representa.

Em quase todos os ditadores se perceberam atitudes que resvalavam para as sandices, para as esquisitices para um modo doentio de ser. Não por acaso, Bolsonaro dorme com a arma ao lado da cama. Isto significa que ele não confia em ninguém, que vê inimigos por todos os lados, que tem um caráter intolerante. Na origem de cada ditadura o que menos importam são os planos de governo, a racionalidade da administração. Os ditadores, no começo, agem, com discurso moralista, para consolidar sua ideologia em nome do combate a inimigos que podem variar segundo as circunstâncias. No final, terminam como tiranos corruptos.

Os políticos vocacionados às ditaduras tornam-se cada vez mais perigosos à medida crescente do seu isolamento. Começam a intervir em quase todas as partes da administração e em quase todos os assuntos. Bolsonaro quer opinar sobre o exame do Enem, sobre vídeos de educação sexual de adolescentes, intervém de forma intempestiva na Petrobras, cancela ações do Ibama de combate à exploração ilegal de madeira, manda suspender a implantação de oito mil radares pelas rodovias da morte que cruzam o Brasil, perdoa o holocausto, critica a China (nosso maior parceiro comercial), manda demitir e nomear assessores e quadros técnicos em ministérios e outras repartições públicas.

Mandos e desmandos arbitrários constituem a essência do método de governo dos ditadores. Bolsonaro indica que está resvalando para este caminho. Um caminho perigoso. E, por ser perigoso, Bolsonaro precisa ser contido. Para contê-lo, além de uma oposição consistente que denuncia e propõe alternativas, a sociedade precisa organizar-se e mobilizar-se para não colher novas derrotas desestruturadoras.

Brasil/Nazistas brasileiros odeiam a esquerda e veneram Bolsonaro


7 de Abril de 2019, 14h44, The Intercept (Brasil) https://theintercept.com/2019/04/07/nazistas-bolsonaro-esquerda-israel/


JAIR BOLSONARO mais uma vez virou chacota internacional. Após visitar o Memorial do Holocausto em Israel, escreveu no livro de visitas do museu: “aquele que esquece seu passado está condenado a não ter futuro”. Minutos depois, em entrevista aos jornalistas brasileiros, Bolsonaro desrespeitou a memória das vítimas do holocausto ao dizer que o nazismo foi um movimento de esquerda. É uma versão fabricada por doentes que não encontra respaldo de nenhum historiador vivo ou morto, de esquerda ou de direita, mas que virou um hit da internet na Nova Era. Nunca houve dúvidas de que o nazismo abominava os ideais de esquerda, tanto que judeus dividiam os campos de concentração e as câmaras de gás com esquerdistas.

É inacreditável que tenhamos que entrar nesse falso debate para defender uma obviedade histórica: o nazismo foi um regime de extrema direita. E dessa vez não foi o youtuber Nando Moura babando em seu canal que colocou o assunto em pauta, mas o maior representante do Brasil ao sair de um museu israelense, criado para contar a história dos 6 milhões de judeus mortos pelo nazismo. O próprio memorial visitado pelo presidente define o regime nazista de Hitler como sendo de extrema direita. Até mesmo o ministério das relações exteriores israelense teve que confirmar publicamente que Bolsonaro está errado. É uma vergonha para os brasileiros.

Mas enquanto Bolsonaro joga o nazismo alemão no colo da esquerda, nazistas brasileiros combatem as esquerdas e veneram Bolsonaro. Os fatos falam por si.
Em 2011, quando Bolsonaro fez declarações homofóbicas no CQC e respondeu a Preta Gil que não correria o risco de ver seus filhos apaixonados por uma negra porque foram bem educados, grupos neonazistas organizaram um ato de apoio ao então deputado no Museu de Arte de São Paulo, o Masp. “Quando vi o que estão fazendo com ele, entrei na comunidade. Sou fã do dep. Jair Bolsonaro’ do Orkut e lancei a ideia de fazer um ato cívico na Paulista”, contou o extremista de direita Marcio Galante para o Diário de São Paulo. Segundo ele, participariam do ato organizações militares extra-quartel, separatistas, católicas radicais e grupos de extrema direita. O ato de apoio a Bolsonaro também foi convocado no fórum “Stormfront.org”, comandado pelo movimento neonazista internacional White Pride Worldwide. Um membro do fórum chamado “Erick White” escreveu: “Vamos dar o nosso apoio ao único Deputado que bate de frente com esses libertinos e Comunistas!!! Será um manifesto Cívico, portanto, levem a família, esposas, filhos e amigos”. O convite para o ato é finalizado com um “14/88″. O número 14 refere-se às 14 palavras da frase do supremacista branco americano David Lane: “Devemos assegurar a existência de nosso povo e um futuro para as Crianças Brancas”. Já o número 88 significa “Heil Hitler”, com o número 8 representando a letra H, a oitava do alfabeto.

Bolsonaro afirmou que não poderia estar presente, mas apoiou o ato: “Fico feliz se o movimento for voltado contra as propostas que estão aí, de invadir as escolas de primeiro grau simulando o homossexualismo e preparando nossos jovens para a pedofilia”.

Estiveram presentes ao ato vários grupos neonazistas como o Kombat RAC (Rock Against Communism) e o Ultra Defesa. Alguns se identificavam com roupas, bandeiras e tatuagens alusivas ao nazismo. Grupos de esquerda apareceram no Masp para protestar contra os nazistas, e o clima ficou tenso. A Polícia Militar precisou fazer um cordão de isolamento para evitar o confronto. No mundo inteiro, aliás, episódios de pancadaria entre esquerdistas e neonazistas nas ruas acontecem com frequência. Se eles conhecessem a História segundo Bolsonaro, estariam se beijando.

Eduardo Thomaz, líder do Ultra Defesa, afirmou “a gente está dando apoio ao deputado Jair Bolsonaro porque ele representa a família brasileira e nós temos o direito de apoiá-lo”. Em seu site, o Ultra Defesa afirma que seus princípios fundamentais são “Deus, Brasil e Família”. Os integrantes do grupo também são adeptos da “Saudação Romana”, que é o ato de estender o braço para a frente com a palma da mão para baixo. Sim, aquele mesmo gesto utilizado para saudar Adolph Hitler.

Policiais civis que investigam crimes de intolerância estiveram presentes no Masp e identificaram manifestantes pró-Bolsonaro que já foram presos por ações violentas contra minorias. Sete deles foram detidos. Entre eles, um dos neonazistas responsáveis pelo atentado à bomba na Parada Gay de 2009.

Durante as eleições, Bolsonaro entrou com uma ação por danos morais contra uma charge que o associava ao nazismo. A desembargadora Cristina Tereza Gaulia negou o pedido. Ela justificou afirmando que, se Bolsonaro não ficou constrangido em aparecer na foto com um correligionário fantasiado de Hitler, não haveria também dano moral na charge.

A foto (No original) é essa: O sósia de Hitler (refiro-me ao homem à direita na foto) é o Professor Marco Antonio, que foi candidato a vereador do Rio de Janeiro pelo PSC, o mesmo partido de Bolsonaro à época.

Carlos Bolsonaro chegou a convidá-lo para discursar numa sessão sobre o projeto Escola sem Partido na Câmara do Rio, mas Marco Antonio foi impedido pelo presidente da sessão por estar fantasiado de Hitler. O professor nega ter feito cosplay do ditador nazista. Afirmou que foi à Câmara com “cabelo cortado no estilo militar e estava com bigode estilo francês”.

A candidatura de Professor Marco Antonio chegou a receber doação financeira de Flávio Bolsonaro para a sua campanha.

Em 2015, Jair Bolsonaro começava a construir sua candidatura viajando pelo Brasil. Quando foi a Recife (PE), muita gente apareceu no aeroporto para recepcionar a família Bolsonaro, entre eles um skinhead dos Carecas do Brasil. O grupo é acusado pelo Ministério Público por ter espancado um jovem negro e gay em Recife. Também são suspeitos de espalhar cartazespela cidade com a frase “Hitler tinha razão”.

Em 2013, neonazistas mineiros foram presos por apologia ao nazismo, entre outros crimes. A investigação começou depois que um integrante postou foto no Facebook enforcando um morador de rua com uma corrente de aço numa avenida em Belo Horizonte. Na casa de um deles, a polícia apreendeu os seguintes objetos: “um livro sobre Hitler; uma touca ninja; uma camisa preta do Movimento Pátria Nossa; um envelope contendo uma carta enviada por Jair Bolsonaro”.

Sim, o então deputado escreveu para um nazista brasileiro. A carta foi encaminhada para a apuração do Ministério Público. O conteúdo dela não é conhecido, pois o processo corre sob segredo de Justiça. Pode não ser nada demais. Pode ser apenas uma carta com conteúdo de campanha eleitoral padrão, mas também pode não ser. Pelo fato de ter sido apreendida e enviada para averiguação do MP, suponho que o seu conteúdo não seja tão inocente. Aliás, a imprensa não deveria mais ficar perguntando para o Bolsonaro se o nazismo é de direita ou de esquerda, como fez em Israel. A gente já conhece a resposta. Tem que perguntar o que tinha naquela carta enviada para o seu simpatizante nazista de Minas Gerais. É um direito do brasileiro conhecer que tipo de relação seu presidente mantinha com um extremista criminoso.

É evidente a sintonia entre algumas das principais pautas de Bolsonaro e as dos nazistas: o ataque às minorias, a defesa da família, o nacionalismo e o combate ao comunismo. Isso não faz de Bolsonaro um nazista, mas não deixa dúvidas de que o bolsonarismo e o nazismo estão em espectros ideológicos muito próximos. Mas muito mesmo. Bolsonaro pode não ser nazista, mas tem amigos que são.

*João Filhojoao.filho@​theintercept.com@jornalismowan