20 abril
2016, Pátria Latina http://www.patrialatina.com.br
(Brasil)
Por Mariana Serafini, Vermelho
Da esquerda para a direita: Helenira Resende, Aurora Maria Nascimento Furtado, Soledad Barrett, Dinalva Oliveira Teixeira, Isis Dias de Oliveira, Ana Rosa Kicinski Silva
Há pouco mais de um ano, o mesmo Jair Bolsonaro que exaltou a tortura no último domingo (17) banalizou o crime de estupro no Salão Verde da Câmara Federal ao atacar a colega parlamentar Maria do Rosário afirmando que ela “não merece ser estuprada” por “ser feia”. Desta vez o alvo foi a presidenta Dilma Rousseff, contra quem ele não poupou crueldade ao exaltar um dos mais temidos torturador das Américas, o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra.
A reação nas redes sociais foi imediata, e os usuários do Twitter
somaram esforços com a hashtag #EmMemóriaDelas para contar as histórias de cada
uma das mulheres torturadas e assassinadas na
ditadura militar. Todas vítimas
desta atroz homenagem de Bolsonaro ao ex-chefe do Doi-Codi.Ustra, conhecido nos anos de chumbo como o “Dr. Tibiriçá”, chefiou o Doi-Codi entre 1970 e 1974, neste período matou 60 pessoas e torturou mais de 500, entre elas, a atual presidenta do país.
A Tag #EmMemóriaDelas busca contar a história das mulheres que no auge
da juventude entregaram a vida para defender a liberdade e a justiça quando
nosso país passava por um dos momentos mais sombrios de sua história. Entre
elas, Helenira Resende, Aurora Maria Nascimento Furtado, Soledad Barrett,
Dinalva Oliveira Teixeira, Isis Dias de Oliveira, Ana Rosa Kicinski Silva e
muitas outras.
Em memória delas e
tantas outras
Helenira Resende foi militante do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), desapareceu em 1972, na Guerrilha do Araguaia, quando tinha 28 anos. Presa em uma emboscada depois de ser metralhada nas pernas, foi presa, torturada e morta, sem entregar nenhum de seus companheiros de luta.
Helenira Resende foi militante do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), desapareceu em 1972, na Guerrilha do Araguaia, quando tinha 28 anos. Presa em uma emboscada depois de ser metralhada nas pernas, foi presa, torturada e morta, sem entregar nenhum de seus companheiros de luta.
Aurora Maria
Nascimento Furtado era ativa militante do movimento estudantil nos anos 1967–68, estudava
psicologia na USP e atuava na imprensa da UNE. Seu corpo foi encontrado crivado
de balas em uma rua no Rio de Janeiro. Em uma primeira necropsia a causa da
morte foi “ferimentos penetrantes na cabeça”. Porém a família conseguiu
uma nova negrópsia do IML que constatou inúmeros sinais de torturas, como
queimaduras, cortes profundos e hematomas generalizados; um afundamento no
crânio de cerca de 2 centímetros, afundamento no maxilar, um corte do umbigo à
vagina, fratura externa num dos braços os seios dilacerados e um olho saltado.
Soledad Barret foi uma militante
comunista paraguaia que viveu no Brasil e militou na Vanguarda Popular
Revolucionária. Casada com o Cabo Anselmo, um militar infiltrado, ela foi
entregue por ele à repressão. Ele sabia que ela esperava um filho dos dois. Foi
presa, barbaramente torturada e morta. Antes do Brasil, Soledad viveu no
Uruguai, onde nazistas a torturam e fizeram duas marcas enormes de suásticas em
suas pernas. Neste período ela se refugiava com a família da ditadura de
Alfredo Stroessner no Paraguai.
Dinalva Oliveira
Teixeira, a Dina, também foi militante na Guerrilha do Araguaia. Formada em
Geologia pela Universidade Federal da Bahia, participou ativamente do movimento
estudantil e realizou trabalhos sociais em favelas do Rio de Janeiro. Presa na
base de Xamboiá, foi torturada durante duas semanas e não entregou nenhuma
informação ao Exército. Antes de ser assassinada perguntou várias vezes ao seu
executor: “vou morrer agora?”. Escolheu morrer de frente, encarando-o nos
olhos. Seu corpo nunca foi encontrado.
Isis Dias de Oliveira
era estudante de Ciências Políticas na USP, mas não conseguiu concluir o
curso, em 1972 foi presa e levada ao Doi-Codi, nunca mais foi vista pelos
familiares e amigos.
Ana Rosa Kucinski integrou a ALN na
clandestinidade. Graduada em química e doutora em filosofia foi uma das mais
jovens professoras do Instituto de Química da USP. Em 22 de abril de 1974, após
sair do trabalho para encontrar o marido na Praça da República, no centro da
capital paulista, para um almoço em comemoração aos 4 anos de casamento, os
dois foram presos e nunca mais foram vistos. Em 2012 o torturador confesso
Cláudio Guerra afirmou que os corpos de Ana e seu marido foram incinerados no
forno da Usina Cambahyba, no Rio de Janeiro, junto com outros presos políticos.
Ela tinha marcas de mordias, provavelmente foi abusada sexualmente. O marido
não tinha unhas na mão direita.
Do Portal Vermelho
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