4 abril 2016, Sputnik Brasil http://br.sputniknews.com
(Rússia)
Apesar de não figurar na lista da Mossack Fonseca, o nome do presidente russo Vladimir Putin estampa as manchetes de grande parte da mídia corporativa ocidental nesta segunda-feira (4). Apesar dos 11,5 milhões de registros vazados, não há uma referência sequer a empresas dos EUA. O que está de fato em jogo no suposto “maior vazamento” da História?
Vamos aos fatos:
O jornal
que recebeu o vazamento, o Sueddeutsche
Zeitung, foi o
primeiro a receber da administração militar norte-americana na Bavária uma
licença de circulação na Alemanha após a Segunda Guerra Mundial.
A publicação relata
detalhadamente a metodologia que a mídia corporativa usou para pesquisar os arquivos vazados pelo escritório panamenho de advocacia, e revela que a principal
categoria de busca foi orientada para nomes associados a regimes submetidos a
sanções da ONU.
O jornal The Guardian
relata a mesma informação e menciona, especificamente, o Zimbábue, a Coreia do
Norte, a Rússia e a Síria.
Um rápido relance
evidencia bem rapidamente que a filtragem midiática das informações vazadas
segue uma agenda governamental direta do Ocidente. Não há menção alguma à
contratação dos serviços da Mossack Fonseca por parte de grandes corporações ou
bilionários ocidentais.
A aparição
do primeiro-ministro britânico David Cameron nos Panama Papers, longe de ser
exceção, acontece no momento em que ele
prepara um referendo de saída de seu
país da União Europeia, o que desagrada boa parte da Europa ocidental e,
particularmente, a Alemanha.
A seletividade das
informações publicadas não é nada surpreendente, porém, dado que o vazamento
está sendo gerido pelo pomposamente autodenominado "Consórcio
Internacional de Jornalistas Investigativos" (ICIJ, na sigla em inglês).
Trata-se, na verdade, de uma entidade financiada e organizada inteiramente pela
organização norte-americana Center for Public Integrity (CPI) – “Centro
para a Integridade Pública”, cujos financiadores incluem a Fundação Ford, a
Fundação Carnegie, o Fundo da Família Rockefeller, a Fundação W.K. Kellogg e a
Fundação Open Society (criada por ninguém menos que George Soros).
Ou seja: como
advertiu o ex-embaixador britânico Craig Murray ainda no domingo
(3), “não espere uma verdadeira exposição do capitalismo ocidental. Os segredos
sujos das corporações ocidentais permanecerão inéditos”.
“A mídia corporativa (…) tem acesso exclusivo ao banco de dados que você
e eu não podemos ver. Eles estão se protegendo de até mesmo olhar
as informações confidenciais das corporações ocidentais olhando apenas
para os documentos levantados por buscas específicas, como violadores das
sanções da ONU. Nunca se esqueça de que o Guardian destruiu suas cópias dos
arquivos Snowden por instrução do MI6”, observou Murray.
Os Panama Papers não
citam o nome de Vladimir Putin: implicam pessoas próximas ao presidente ligadas
a cerca de 2 bilhões de dólares escondidos em paraísos fiscais. Apesar disso, o
rosto de Putin estampa nesta segunda-feira a maior parte das capas dos grandes
jornais do Ocidente, o que não é exatamente uma prática incomum. Segundo
reitera o Kremlin, a demonização do presidente russo é uma das facetas mais
corriqueiras da estratégia midiática de poder usada pelos EUA e seus aliados a
fim de enfraquecer o projeto russo de um mundo multipolar.
Além de
focar em Moscou e ignorar as corporações norte-americanas, o escândalo do
dia também mira o presidente da África do Sul, Jacob Zuma, que está sofrendo um
processo de impeachment em seu país por supostamente ter usado dinheiro público
para reformar sua residência particular.
Além da Rússia e da
África do Sul, a lista vazada dos clientes da Mossack Fonseca que teriam
empresas offshore não declaradas também implica altos membros do governo
chinês, bem como uma série de companhias transnacionais indianas e figuras
políticas e empresariais do país.
Por fim, completando
os BRICS, o Brasil também figura fortemente na relação do ICIJ, com nomes como
Eduardo Cunha, Joaquim Barbosa e dezenas de outros envolvidos na Operação Lava
Jato (e não, Lula não está na lista).
“Observe que o vazamento não tem uma empresa norte-americana sequer, nem
um figurão (que eles chamam de power player), mas em todos os lugares tidos
como ‘problemáticos’ pela diplomacia americana aparecem citados,
especialmente nos BRICs. Ou este pessoal dos Estados Unidos usa outras offshore
ou são extremamente honestos desde o ano de fundação da Mossack&Fonseca, em
1977. Não é estranho, nenhuma citação sequer? A pulga está atrás da orelha…”,
escreve o jornalista Ricardo Costa, no Viomundo.
Não se trata de
teoria da conspiração. Basta ver o que a mídia controlada pelas grandes
corporações estrangeiras não quer que você veja.
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