8 abril
2016, Pátria Latina http://www.patrialatina.com.br (Brasil)
Robert Parry, Consortium News
“Ano passado, a USAID distribuiu um documento
(fact sheet) no qual resume os próprios serviços de pagar jornalistas amigáveis em
todo o mundo, inclusive para“formação e treinamento de jornalistas,
desenvolvimento de negócios de mídia-empresa, construção de capacidade para
instituições de apoio e reforço de ambientes legal-regulatórios para a livre
empresa de comunicações em geral.”
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Infelizmente, alguns dos importantes deveres do jornalismo, como aplicar padrões equilibrados aos abusos de direitos humanos e de corrupção financeira, já foram tão pervertidos e corrompidos, pelas demandas da propaganda, de governos e de empresas – e pelo carreirismo de tantos, incontáveis jornalistas –, que já desconfio muito, sempre que a mídia-empresa comercial dominante põe-se a trombetear alguma história suposta ‘sensacional’, cujo protagonista sempre é algum “vilão da hora”, selecionado para a ocasião.”
Incontáveis vezes
esse tipo de ‘jornalismo’ não passa de abre-alas para o ataque de “mudança de
regime” que logo aparece, para cobrir de lama ou deslegitimar algum governante
estrangeiro, antes do inevitável advento de uma “revolução colorida” sempre organizada
por ONGs de ‘promoção da democracia’, praticamente sempre com dinheiro de
organizações do governo dos EUA, como National Endowment for Democracy [Dotação
Nacional para a Democracia] ou de algum financista neoliberal feito George
Soros [ou todas as anteriores].
O que vemos agora tem todas as características de mais uma fase
preparatória para a próxima rodada de “mudança de regime”, cujo abre-alas é uma
enxurrada de acusações de corrupção, sem provas, contra o ex-presidente do
Brasil, Luiz Ignacio Lula da Silva e o presidente da Rússia, Vladimir Putin. As
mais recentes
acusações contra Putin – espalhafatosamente ‘repercutidas’ pelo Guardian
do Reino Unido e outros veículos – viraram especialmente ‘midiáticas’ por causa
dos chamadosPanama Papers, que supostamente implicariam o presidente
russo em negócios financeiros com empresas offshore, mesmo que o nome de
Putin não apareça em nenhum daquele mar de ‘documentos’.
“Embora o nome do presidente não apareça em nenhum dos documentos, os
dados mostram um padrão – amigos dele ganharam milhões em negócios que,
aparentemente, não poderiam ter sido feitos sem o patrocínio de Putin. Os
documentos sugerem que a família de Putin beneficiou-se desse dinheiro – a
fortuna dos amigos é como se pertencesse ao presidente russo.”
Impossível não perceber que nada nessa ‘notícia’ é específico, e que
tudo aí é castelo erguido sobre especulações: “um padrão”, “aparentemente”,
“sugerem”, “é como se”. De fato, se Putin já não fosse a figura mais demonizada
na/pela mídia-empresa ocidental, tal fraseado jamais passaria sem correção pela
tela do computador de qualquer editor de jornal de bairro. A única informação
que pode ser verificada e eventualmente confirmada em todo esse parágrafo é “o
nome do presidente não aparece em nenhum dos documentos”.
Uma publicação britânica de supervisão crítica do que publica a grande
mídia-empresa no Reino Unido, Off-Guardian, que critica praticamente
tudo que o Guardian oferece ao público, publicou, como título/manchete do artigo sobre
Putin: “Colapso:Guardian e a autoparódia nos Panama Papers“.
Mas, seja qual for a verdade sobre alguma “corrupção” de Putin ou de
Lula, o aspecto relevante para o jornalismo sério é que qualquer noção de
objetividade já foi há muito esquecida, para favorecer o que mais diretamente
favoreça interesses ‘ocidentais’ e lhes pareça útil como propaganda de ativa
desdemocratização.
Atualmente, alguns daqueles interesses ‘ocidentais’ dão sinais de extrema preocupação com o crescimento do sistema
econômico conhecido como BRICS – Brasil, Rússia,
Índia, China e África do Sul – como reais concorrentes do G-7 e do Fundo
Monetário Internacional ‘ocidentais’. Afinal, controlar completamente o sistema
financeiro global sempre foi o alicerce central do qual depende o poder dos EUA
no mundo pós-2ª Guerra Mundial. Nenhum rival que ameace o monopólio chamado
‘ocidental’, mas monopólio que é, de fato, dos EUA, será jamais bem-vindo.
O viés contra esses e outros governos pouco “amistosos” significa, na
prática, que se aplica um determinado padrão a Rússia ou Brasil; mas outro,
completamente diferente, muito mais laxo e condescendente, se o acusado de
corrupção for líder político nos EUA ou na Europa.
Considere-se, por exemplo, os milhões de dólares que a ex-secretária de
Estado Hillary Clinton recebeu como pagamento por conferências que fez/faz,
pagos por interesses especiais de alguns muito ricos que sempre souberam que
ela teria boa probabilidade de vir a ser presidenta dos EUA. [Vide Consortiumnews.com, “Clinton
Stalls on Goldman-Sachs Speeches” (Clinton empacou nas palestras
para Goldman-Sachs)].
Ou, do mesmo modo, os milhões e mais milhões de dólares investidos nos super-PACS para Clinton, Sen.
Ted Cruz e outros candidatos ainda cheios de esperanças. Pode bem parecer
corrupção, se se aplica aí um padrão objetivo de análise; mas é tratado como
mero aspecto ‘desagradável’ do processo político nos EUA.
Mas imagine só por um instante que Putin recebesse milhões de dólares
por algumas rápidas palavras dirigidas a corporações poderosas, bancos, grupos
de interesse que estivessem fazendo negócios com o Kremlin. Qualquer coisa que
aparecesse seria imediatamente ostentada na mídia-empresa, como alguma espécie
de prova de facto de corrupção e ganância.[1]
Jornalismo -noção
Assim também, se se trata de demonizar governante de país não
‘amistoso’, vale qualquer “corrupção”, mínima ou inventada que seja.
Por exemplo, nos anos 1980s, o presidente Ronald Reagan ‘denunciou’ o
presidente da Nicarágua Daniel Ortega, por causa dos óculos: “O ditador de
óculos degriffe” – disse Reagan, no mesmo momento em que Nancy Reagan
aceitava vestidos grátis de costureiros ‘da moda’ e mobiliário novo para a Casa
Branca, tudo grátis, pagos por interesses do Big Petróleo & Gás.
De fato, a “corrupção”, quando se trata de demonizar governante
‘oposto’, como o presidente Viktor Yanukovych da Ucrânia, pode ser qualquer
coisa, inclusive uma sauna na casa dele, ‘assunto’ que mereceu manchete de
primeira página no New York Times e em outros veículos da grande
mídia-empresa ocidental, todas empenhadas em justificar o golpe injustificável
que derrubou Yanukovych, em fevereiro de 2014.
Vale anotar que ambos, Ortega e Yanukovych, foram eleitos. Mas não
interessavam ao governo dos EUA e, portanto, viraram alvo de Washington e seus
beleguins, que montaram contra eles violentas campanhas de desestabilização.
Nos anos 1980s, a guerra chamada “dos Contra”, que a CIA organizou na
Nicarágua, matou 30 mil pessoas; e a ‘mudança de regime’ que os EUA
orquestraram na Ucrânia desencadeou uma guerra civil que fez 10 mil mortos.
Evidentemente, nos dois casos a Washington Oficial culpou Moscou por todas
essas desgraças.
Nesses dois casos também, os políticos e beleguins que se
autoempoderaram por efeito dos conflitos eram, praticamente com total certeza,
muito mais corruptos que os Sandinistas da Nicarágua ou o governo de
Yanukovych. Os Contras nicaraguenses, cuja violência ajudou a pavimentar
o caminho para a eleição, em 1990, da candidata patrocinada pelos EUA, Violeta
Chamorro, estavam profundamente implicados no tráfico de cocaína. [Vide Consortiumnews.com,
“The Sordid Contra-Cocaine Saga.“]
Hoje, o governo ucraniano que os EUA acobertam está naufragado em
corrupção tão profunda, que a corrupção já provocou OUTRA crise política. [Vide
Consortiumnews’com, “Reality Peeks Through in Ucrânia.“]
Por ironia, um dos políticos cujo nome realmenteaparece nos Panama
Papers por ter conta clandestina num paraíso fiscal offshore é o
presidente que os EUA instalaram no governo da Ucrânia, Petro Poroshenko, que
imediatamente ‘terceirizou’ sua culpa para Putin (Poroshenko negou que haja
qualquer coisa imprópria em suas finanças mantidas offshore.)
Duplifalar, duplos
padrões
O jornalismo que as mídia-empresas dominantes no ocidente vendem aos
cidadãos consumidores já nem tenta fingir, que fosse, que usa padrões claros e
estáveis no que tenha a ver com noticiário sobre corrupção. Se você é governo
‘favorecido’, o que mais se ouve são lamúrias sobre a necessidade de mais
“reformas” – o que sempre significa cortar aposentadorias e pensões para idosos
e cortar programas sociais de apoio aos mais pobres. – Mas se você é governante
a ser demonizado, nesse caso só se admite condenação, mesmo sem provas; e/ou
‘mudança de regime’.
Exemplo notável desses duplos padrões é a atitude não-há-crime-algum que
hoje acoberta a corrupção da ministra de Finanças da Ucrânia, Natalie Jaresko,
citada incansavelmente nos veículos da mídia-empresa ‘ocidental’ como exemplo
de boa governança e reformadora sábia na Ucrânia. A verdade fartamente
documentada, contudo, é que Jaresko enriqueceu graças ao controle que teve
sobre um fundo de investimento mantido por contribuintes norte-americanos, que
todos esperavam que ajudasse os cidadãos ucranianos, não a ministra de
Finanças.
Conforme os termos do fundo de investimento de $150 milhões criado pela
Agência dos EUA para Desenvolvimento Internacional [ing. USAID], a
retirada de Jaresko não poderia ultrapassar os $150 mil dólares anuais,
‘salário’ que muitos norte-americanos invejariam. Mas não satisfez Jaresko:
primeiro ela simplesmente estourou o limite dos próprios salários e ‘retirou’
centenas de milhares de dólares a mais; depois fez desaparecer os próprios ‘salários’
das prestações oficiais de contas, quando já inventara para ela mesma
‘salários’ de $2 milhões ou mais.
Há vasta documentação que comprova tudo isso. Eu mesmo publiquei várias
matérias sobre as provas de que ela recolhia para si ‘salários’ ilegais e,
também, sobre as estratégias ‘legais’ de que se servia para encobrir qualquer
prova de malversação de dinheiro público [Vide Consortiumnews.com “How Uckraine’s Finance Minister Got Rich” e “Carpetbagging Crony Capitalism in Uckraine.”]
Pois apesar de todas as provas, nenhum único jornalista de qualquer
único veículo de notícias da mídia-empresa ‘ocidental’ jamais seguiu as
‘pistas’ que recolhi e divulguei, sequer hoje, quando a mesma Jaresko já
aparece incensada como candidata “das reformas”, ao posto de primeira-ministra
da Ucrânia.
Esse desinteresse assemelha-se muitos aos imensos antolhos em que se
metem The New York Times e outros grandes veículos da mídia-empresa
dominante, quando têm de ‘noticiar’ ou ‘comentar’ se o presidente Yanukovych da
Ucrânia foi deposto por golpe em fevereiro de 2014, ou se só saiu para um
passeio e esqueceu-se de voltar ao governo.
Em grande matéria dita “investigativa”, o Times resolveu que não
houve golpe na Ucrânia (resolveu também que não houve o telefonema interceptado
entre Victoria Nuland, vice-secretária de Estado dos EUA para Assuntos Europeus
e Asiáticos, e o embaixador dos EUA na Ucrânia, Geoffrey Pyatt [que entrou para
a história como “o telefonema do Foda-se-a-União-Europeia” (NTs)], no qual
Nuland informa o embaixador de que “Yats é o cara” e – surpresa, surpresa –
Arseniy Yatsenyuk logo apareceu já primeiro-ministro).
O Times também ignorou a observação de George Friedman,
presidente da firma global de inteligência privada, Stratfor, que avaliou que o
golpe na Ucrânia foi “o mais escancarado golpe da história”. [Vide Consortiumnews.com “NYT Still Pretends No Coup in Ucrânia.“]
A propaganda como
arma (de desdemocratização)
Outra vantagem da “corrupção” como arma de propaganda para desacreditar
alguns líderes não amigáveis, é que em todos os governos há sempre muita
corrupção, bem como em todos os setores privados, em todo o mundo. Acusar
qualquer um de corrupção é fácil como fisgar peixe gordo apertado em barril
pequeno. Claro, alguns barris são mais apertados que outros e, claro, há muita
gente honesta. O xis da questão é o barril que cada um escolhe para pescar, de
cada vez.
Essa precisamente é a razão pela qual o governo dos EUA gasta centenas
de milhões de dólares em todo o planeta para financiar mídia-empresas de
‘jornalismos’ e ‘jornalistas’; para treinar ativistas políticos e apoiar com
dinheiro e profissionais as tais “organizações não governamentais”, ONGs que
promovem as políticas dos EUA dentro da sociedade dos países atacados. Por
exemplo, antes do golpe de 22/2/2014 na Ucrânia, havia lá incontáveis
organizações desse tipo financiadas e protegidas pela National Endowment for
Democracy (NED), cujo orçamento é previsto no orçamento do Congresso dos
EUA e ultrapassa $100 milhões anuais.
Mas essa NED, presidida desde a fundação, em 1983, pelo
neoconservador Carl Gershman, é apenas parte do quadro. Há outras frentes de
propaganda operantes sob o guarda-chuva do Departamento de Estado e da USAID.[2] Ano passado, a USAIDdistribuiu
um documento,
um fact sheet no qual resume os próprios serviços de pagar jornalistas amigáveis em
todo o mundo, inclusive para “formação e treinamento de jornalistas,
desenvolvimento de negócios de mídia-empresa, construção de capacidade para
instituições de apoio e reforço de ambientes legal-regulatórios para a livre
empresa de comunicações em geral.”
A USAID estimava o próprio orçamento para programas de
“fortalecimento da mídia-empresa em mais de 30 países” em mais de $40 milhões
anuais, incluindo ajuda financeira a “organizações de mídia-empresa
independente e blogueiros, em mais de 12 países”.
Na Ucrânia antes do golpe, a USAID oferecia treinamento em
“segurança para comunicação por telefones celulares e para websites” –
expressões que soam muito semelhantes a “operação para burlar os serviços de
inteligência dos governos locais”, posição muito suspeita, no caso dos EUA e
sua obsessão nacional com vigilância e criminalização e acusações criminais contra vazadores
de informação, baseadas, não raras vezes, em ‘provas’ de que teriam falado com
jornalistas.
A USAID, trabalhando com a ONG Open Society [Sociedade Aberta] do
bilionário George Soros, também financia e promove o Projeto de Jornalismo
contra o Crime Organizado e a Corrupção [sigla ing.OCCRP], que reúne e
paga “jornalistas investigativos” que vivem de caluniar e perseguir governos
que não se ‘comportem’ como reza a cartilha dos EUA, e os quais, sempre, são
‘denunciados’, nos veículos da mídia-empresa comercial por prática de
‘corrupção’. OOCCRP que é mantido pela USAID também colaboracom Bellingcat, website
de “jornalismo investigativo” fundado pelo blogueiro Eliot Higgins.
Higgins já várias vezes distribuiu informação falsa pela Internet,
inclusive ‘notícias’ – hoje já desmentidas – que envolviam o governo sírio no ataque com gás sarin
em 2013; foi também quem desencaminhou uma equipe da TV australiana para um
local onde ‘filmaram’ uma bateria BUK antiaérea que supostamente
estaria voltando para a Rússia, depois de ‘ter derrubado’ o avião da Malaysia
Airlines, dia 17/7/2004.
Mas apesar desse duvidoso currículo de confiabilidade, Higgins
rapidamente caiu nas graças da mídia-empresa dominante, em parte porque seus
“furos” sempre combinam bem com o tema da propaganda que o governo dos EUA e
seus aliados ocidentais estejam promovendo. Enquanto blogueiros genuinamente
independentes são ignorados pela empresas que dominam o mercado da comunicação,
Higgins já teve seus serviços elogiados pelo New York Times e pelo The
Washington Post.
Em outras palavras, o governo dos EUA tem estratégia robusta para distribuir
e fazer agir seus agentes diretos e indiretos para influenciar a opinião
pública.
Verdade é que já durante a primeira Guerra Fria, a CIA e a velha
Agência de Informação dos EUA cuidavam de refinar a arte da “guerra de
informação”: são pioneiras de várias práticas que utilizam até hoje, como
sustentar financeiramente entidades e ONGs, divulgadas como se tivessem
“opinião independente”, e cuja missão é distribuir propaganda dos EUA para um
público ao qual a mídia-empresa comercial ensinou a não acreditar no que digam
os próprios governos, e a confiar cegamente em “jornalistas cidadãos” e
“blogueiros” de aluguel.
Mas o maior perigo que advém dessa perversão do jornalismo, entregue a jornalistas pervertidos, é que ela prepara o cenário para “mudanças de regime” que desestabilizam países inteiros, pervertem a democracia (pela qual se manifesta o desejo do povo) e os mecanismos de democratização, e sempre põem os países atacados sob ameaça de guerra civil. Hoje, o sonho dos neoconservadores, de promover uma “mudança de regime” em Moscou [e no Brasil (NTs)] é especialmente perigoso para o futuro da Rússia, dos EUA e de todo o mundo.
Mas o maior perigo que advém dessa perversão do jornalismo, entregue a jornalistas pervertidos, é que ela prepara o cenário para “mudanças de regime” que desestabilizam países inteiros, pervertem a democracia (pela qual se manifesta o desejo do povo) e os mecanismos de democratização, e sempre põem os países atacados sob ameaça de guerra civil. Hoje, o sonho dos neoconservadores, de promover uma “mudança de regime” em Moscou [e no Brasil (NTs)] é especialmente perigoso para o futuro da Rússia, dos EUA e de todo o mundo.
Independente do que cada um pense sobre o presidente Putin, não há como
negar que é líder político racional, cujo sangue frio já legendário blinda-o
quase totalmente contra decisões emocionais. O tipo de liderança do presidente
Putin agrada ao povo russo, que o apoia em amplas maiorias, como mostra
pesquisas de opinião pública.
Por mais que os neoconservadores norte-americanos fantasiem que sejam
capazes de gerar suficientes dor econômica e dissenção política dentro da
Rússia, que levariam à derrubada de Putin, o sonho deles – de que Putin seria
substituído por governante ‘dócil’ como o ex-presidente Boris Yeltsin, que
deixou que operadores dos EUA voltassem à Rússia, onde puderam continuar a
saquear riquezas russas – não passa de fantasia.
Muitíssimo mais provável – no caso de os EUA conseguirem armar,
sabe-se-lá como, uma “mudança de regime” – é que Putin fosse substituído por um
nacionalista linha-dura que pode, sim, considerar seriamente abrir as portas do
arsenal nuclear russo, no caso de os EUA aparecerem por lá com ares de quem
quer humilhar a Mãe Russa. Na minha avaliação, Putin não é motivo de
preocupações; mas, sim, quem surja depois dele, no caso de golpe que o derrube.
Assim sendo, claro que devem prosseguir investigações legítimas que por
acaso haja sobre a “corrupção” de Putin – e de qualquer outra figura pública.
Mas não se deve admitir que sejam rebaixados os padrões de comprovação e devido
processo que a lei impõe.
Nenhum crime se tornaria ‘justificável’ apenas porque o ‘ocidente’
ordenou que Putin [ou o ex-presidente Lula do Brasil] seja(m) tratado como ‘o
perigo’ da hora. É indispensável manter padrões únicos e coerentes de
investigação, não padrões arranjáveis, dúbios, duplos, conforme o freguês.
Os ares de ultraje extremo que a mídia-empresa comercial ocidental
alardeia contra a “corrupção” dos outros, deve-se manifestar com igual
eloquência também contra agentes políticos e empresariais dos EUA, de outros
países do G-7, não exclusivamente contra os agentes políticos eleitos nos
países BRICS.
*****
[1] É exatamente o tipo
de golpe ‘jornalístico’ que está sendo construído contra a presidenta Dilma e o
ex-presidente Lula, já candidato a reeleição, no Brasil. O UOL News, um dos braços mais militantes do desjornalismo
que opera no Brasil-2016, ‘noticia’, absolutamente sem prova alguma de coisa alguma:
“Segundo o procurador da República Carlos Fernando Lima, 60% (R$ 20 milhões) das doações ao Instituto Lula e 47% (R$ 10 milhões) dos valores pagos a LILS Palestras, Eventos e Publicações (empresa que tem o ex-presidente como sócio) vieram das maiores empreiteiras envolvidas na Lava Jato – Odebrecht, OAS, Camargo Corrêa, Queiroz Galvão, Andrade Gutierrez e UTC. – É o núcleo duro do cartel que dilapidou o patrimônio da Petrobras”, afirmou o procurador”.
Tudo isso é, no mínimo, com certeza, suposição. Para começar, aquelas empreiteiras são tradicionais doadoras para as campanhas de TODOS os candidatos com chances de vencer. E, além disso, o patrimônio da Petrobrás absolutamente NÃO FOI ‘DILAPIDADO’. E não há nem fiapo de prova de coisa alguma disso que UOL ‘noticia’ que o Procurador “afirmou”. Houvesse cuidado de encontrar provas, antes de espalhar ‘notícias’, o mais provável é que “afirmações” e “detalhamentos” feitos pelo Procurador já estivessem saudavelmente desmentidos [NTs].
[2] A USAID
[sigla em ing. de Agência dos EUA para Desenvolvimento Internacional] teve
destacado e macabro papel no golpe de 1964-68 no Brasil, sobretudo no que
tivesse a ver com a ‘reforma’ da educação brasileira feita do bojo dos“Acordos MEC-USAID”, de sinistra memória e consequências que
perduram até hoje [NTs].
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