12 abril
2016, Brasil 247 http://www.brasil247.com (Brasil)
Paulo Moreira Leite
Jornalista, escritor,
diretor do 247 em Brasília
O placar da Comissão
Especial do Impeachment, 38 votos contra 27, é um placar típico de ilha da
fantasia e não reflete a luta política real em curso no país. O enfraquecimento
do golpe parlamentar articulado pela oposição, apoiada pelo Judiciário e pela
mídia grande, é um fenômeno visível nas ruas, nas pesquisas de opinião, nas
articulações políticas e até por uma anedota significativa.
O discurso de Michel
Temer revelou um conspirador de ópera-bufa e constitui um vexame político com
poucos antecedentes comparáveis. O caso mais semelhante ocorreu em 1985,
quando
Fernando Henrique Cardoso sentou-se na cadeira de prefeito de São Paulo
48 horas antes de perder a eleição na maior cidade brasileira. O episódio
foi explicado como um descuido da equipe de marketing. Ontem e hoje, o que
ficou claro foi a falta de consideração de ambos pela vontade do eleitor e pela
soberania popular.
A diferença, como
observou o jornalista José Luiz Longo, é que Fernando Henrique buscava o cargo
através do eleitorado. Temer quer o presidir o país graças a uma conspiração,
depois de chegar ao Jaburu como aliado da presidente que agora tenta arrancar
do cargo através de um golpe sem base constitucional.
Ao contrário do que
os número da Comissão poderiam sugerir, assiste-se no país a um crescimento da
resistência democrática ao golpe parlamentar. Essa situação se expressa nas
pesquisas de opinião, que registram uma derrocada na imagem dos principais líderes
do PSDB de Serra, Aécio, Alckmin – e também do PMDB, a começar por Eduardo
Cunha e Temer.
Os protestos de massa
contra o golpe mantém sua força e seu curso, como se viu se viu na manifestação
da noite de ontem, com Lula e Chico Buarque, no Rio de Janeiro, numa
demonstração de que não se vai assistir de braços cruzados a um assalto
vergonhoso a democracia.
Retrato inesquecível
do atual momento político, a defesa de José Eduardo Cardozo demonstrou o
caráter irresponsável do projeto que pretende afastar uma presidente da
Republica, eleita por mais de 54 milhões de votos, sem apontar para um crime de
responsabilidade. Um dos mais competentes discursos pronunciados no Congresso
brasileiro em décadas, a intervenção coloca o debate no terreno real, da razão
e da lucidez – instrumentos decisivos para derrotar o projeto de golpe
parlamentar neste domingo.
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