7 abril 2016, Central Única dos
Trabalhadores--CUT http://www.cut.org.br (Brasil)
Bruno Bocchini, da Agência Brasil
A carta denuncia uma possível ruptura da legalidade no país
Pesquisadores e
professores universitários brasileiros lançaram na noite de ontem (6), na
Universidade de São Paulo (USP), na capital paulista, um manifesto
internacional contra o impeachment da presidenta da República Dilma Rousseff. A
carta, traduzida para inglês, espanhol, e o francês, conta com mais de três mil
assinaturas de acadêmicos de universidades brasileiras e estrangeiras.
O manifesto é assinado
por pesquisadores e professores como Fábio Konder Comparato, Miguel Nicolelis,
Wilson Cano, Eduardo Viveiros de Castro, Marilena Chauí, Wanderley Guilherme
dos Santos, Alfredo Bosi, Roberto Schwarz, Walnice Nogueira Galvão, Ruy Fausto,
Luis Felipe Alencastro e Leda Paulani.
A carta, disponível na
íntegra
em http://brazilianobservatory.com, aponta para uma possível ruptura da legalidade no
país.
“O risco da ruptura da
legalidade, por uma associação entre setores do Poder Judiciário e de meios de
comunicação historicamente alinhados com a oligarquia política brasileira, em
particular a Rede Globo de Televisão – apoiadora e principal veículo de
sustentação da ditadura militar (1964-1985) – pode comprometer a democracia
brasileira, levando a uma situação de polarização e de embates sem
precedentes”.
Segundo o texto, as
denúncias que emergem da operação Lava Jato têm sido usadas contra o mandato da
presidenta Dilma, mesmo sem que haja participação dela nas irregularidades. No
entanto, segundo o manifesto, as denúncias contra líderes da oposição têm sido
“em grande medida desprezadas nas investigações e silenciadas nos veículos
hegemônicos de mídia”.
“Embora não pese
qualquer denúncia contra a Presidenta Dilma Rousseff, a Operação Lava Jato tem
sido usada para respaldar a tentativa de impeachment em curso na Câmara dos
Deputados – que é conduzida pelo deputado Eduardo Cunha, presidente da Câmara
dos Deputados e oposicionista, acusado de corrupção e investigado pelo Conselho
de Ética dessa mesma casa legislativa”, acusam os autores da carta.
A carta ainda ressalta
que a Operação Lava Jato tem sido maculada pelo uso constante de medidas que a
legislação brasileira estabelece como excepcionais. “As prisões arbitrárias são
abertamente justificadas como forma de pressionar os acusados e deles obter
delações contra supostos cúmplices. Há um vazamento permanente e seletivo de
informações dos processos para os meios de comunicação. Existem indícios de que
operações policiais são combinadas com veículos de imprensa, a fim de ampliar a
exposição de seus alvos. Até a Presidenta da República foi alvo de escuta
telefônica ilegal”, afirma o texto.
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Relacionada
Brasil/Mais de 4 mil professores universitários divulgam carta aberta à comunidade acadêmica internacional contra o golpe
5 abril 2016,
Associação Filosofia Itinerante -- AFIN http://afinsophia.com (Brasil)
Leia carta na íntegra e tome sua posição democrática.
CARTA ABERTA À
COMUNIDADE ACADÊMICA INTERNACIONAL
Nós, pesquisadores e
professores universitários brasileiros, dirigimo-nos à comunidade
acadêmica internacional para denunciar um grave processo de ruptura
da legalidade atualmente em curso no Brasil.
Depois de um longo
histórico de golpes e de uma violenta ditadura militar, o país tem vivido,
até hoje, seu mais longo período de estabilidade democrática – sob a égide
da Constituição de 1988, que consagrou um extenso rol de direitos
individuais e sociais.
Apesar de importantes
avanços sociais nos últimos anos, o Brasil permanece um país profundamente
desigual, com um sistema político marcado por um elevado nível
de clientelismo e de corrupção. A influência de grandes empresas nas
eleições, por meio do financiamento privado de campanhas, provocou
sucessivos escândalos de corrupção que vêm atingindo toda a classe
política.
O combate à corrupção
tornou-se um clamor nacional. Órgãos de controle do Estado têm respondido
a esta exigência e, nos últimos anos, as ações anticorrupção
se intensificaram, atingindo a elite política e grandes empresas.
No entanto, há uma
instrumentalização política desse discurso para desestabilização de um
governo democraticamente eleito, de modo a aprofundar a grave
crise econômica e política atravessada pelo país.
Um dos epicentros que
instrumentaliza e desestabiliza o governo vem de setores de um poder que
deveria zelar pela integridade politica e legal do país.
A chamada “Operação
Lava Jato”, dirigida pelo juiz de primeira instância Sérgio Moro, que há
dois anos centraliza as principais investigações contra a corrupção,
tem sido maculada pelo uso constante e injustificado de medidas que a
legislação brasileira estabelece como excepcionais, tais como a prisão
preventiva de acusados e a condução coercitiva de testemunhas. As prisões
arbitrárias são abertamente justificadas como forma de pressionar os
acusados e deles obter delações contra supostos cúmplices. Há um vazamento
permanente e seletivo de informações dos processos para os meios de
comunicação. Existem indícios de que operações policiais são combinadas
com veículos de imprensa, a fim de ampliar a exposição de seus alvos. Até
a Presidenta da República foi alvo de escuta telefônica ilegal.
Trechos
das escutas telefônicas, tanto legais quanto ilegais, foram apresentados à
mídia para divulgação pública, ainda que tratassem apenas de assuntos
pessoais sem qualquer relevância para a investigação, com o intuito
exclusivo de constranger determinadas personalidades políticas.
As denúncias que
emergem contra líderes dos partidos de oposição têm sido em grande medida
desprezadas nas investigações e silenciadas nos veículos hegemônicos de
mídia. Por outro lado, embora não pese qualquer denúncia contra a
Presidenta Dilma Rousseff, a “Operação Lava Jato” tem sido usada para
respaldar a tentativa de impeachment em curso na Câmara dos Deputados –
que é conduzida pelo deputado Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos
Deputados e oposicionista, acusado de corrupção e investigado pelo
Conselho de Ética dessa mesma casa legislativa.
Quando a forma de
proceder das autoridades públicas esbarra nos direitos fundamentais dos
cidadãos, atropelando regras liberais básicas de presunção de inocência,
isonomia jurídica, devido processo legal, direito ao contraditório e à
ampla defesa, é preciso ter cautela. A tentação de fins nobres é forte o
suficiente para justificar atropelos procedimentais e aí é que reside um
enorme perigo.
O juiz Sérgio Moro já
não possui a isenção e a imparcialidade necessárias para continuar
responsável pelas investigações em curso. O combate à corrupção
precisa ser feito dentro dos estritos limites da legalidade, com respeito
aos direitos fundamentais dos acusados.
O risco da ruptura da
legalidade, por uma associação entre setores do Poder Judiciário e de
meios de comunicação historicamente alinhados com a oligarquia
política brasileira, em particular a Rede Globo de Televisão – apoiadora e
principal veículo de sustentação da ditadura militar (1964-1985) -, pode
comprometer a democracia brasileira, levando a uma situação de polarização e de
embates sem precedentes.
Por isso gostaríamos de
pedir a solidariedade e o apoio da comunidade acadêmica internacional, em
defesa da legalidade e das instituições democráticas no Brasil.
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