23 Março 2016, Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil (CNBB) http://www.cnbb.org.br (Brasil)
Por Dom Luiz Demétrio Valentini, Bispo Emérito de Jales
Estamos na iminência de uma ruptura constitucional. Em momentos assim, se faz necessário um apelo à consciência democrática, e uma advertência dos riscos de uma decisão política profundamente equivocada.
Falando claro e sem
rodeios: com a tentativa de impeachment da Presidente Dilma, procura-se
revestir de legalidade uma iniciativa política com a evidente intenção de
destituir do poder quem foi legitimamente a ele conduzido pelo voto popular.
Isto fere o âmago do
sistema democrático, que tem como pressuposto básico o respeito aos resultados
eleitorais.
É preciso desmascarar a
trama que foi sendo urdida, para criar artificialmente um pretenso consenso
popular, para servir de respaldo aos objetivos que se pretende alcançar.
É notável que desde as
últimas eleições presidenciais, os derrotados não aceitaram o resultado das
urnas, e traduziram seu descontentamento em persistentes iniciativas de deslegitimar
o poder conferido pelas eleições.
Outra evidência é a
contínua e sistemática obstrução das iniciativas governamentais, praticada
especialmente por membros do Congresso Nacional, com o evidente intuito de
inviabilizar o governo, e aplainar o caminho para o golpe de misericórdia
contra ele.
Está em andamento um
verdadeiro linchamento político, conduzido
sutilmente por poderosos meios de
comunicação, contra determinados atores e organizações partidárias, que são
continuamente alvo de acusações persistentes e generalizadas, e que se pretende
banir de vez do cenário político nacional.
Causa preocupação a
atuação de membros do Poder Judiciário, incluindo componentes da Suprema Corte,
que deixam dúvidas sobre as reais motivações de suas decisões jurídicas,
levando-nos a perguntar se são pautadas pelo zelo em preservar a Constituição e
fazer a justiça, ou se servem de instrumento para a sua promoção pessoal ou
para a vazão de seus preconceitos.
Em meio a esta situação
limite, cabe ao povo ficar atento, para não ser ludibriado.
Mas cabe ao Judiciário
a completa isenção de ânimo para garantir o estrito cumprimento da
Constituição.
E cabe ao Congresso
Nacional terminar com sua sistemática obstrução das iniciativas governamentais,
e colaborar com seu apoio e suas sugestões em vista do bem comum, e não de
interesses pessoais ou partidários.
Em vez deste
impeachment sem fundamento legal e sem justificativa, que nos unamos todos em
torno das providências urgentes para que o Brasil supere este momento de crise,
e reencontre o caminho da verdadeira justiça e da paz social.
------------ Relacionadas: Dossiê: IGREJA CATÓLICA FIRME PELA DEMOCRACIA
1) Nota da CNBB sobre o momento atual do Brasil
2) Carta Aberta em Defesa da Democracia
3) Fala do bispo de Crateús, dom Ailton Menegussi
4) Democracia posta à prova
Brasil/Dossiê: IGREJA CATÓLICA FIRME PELA DEMOCRACIA
26 de março de 2016,
Caritas in Veritate http://www.caritasinveritate.teo.br (Brasil)
Escrito por Leandro
Arndt
Esse dossiê foi publicado
originalmente no Visão Católica. O momento vivido pelo Brasil hoje exige que os
católicos conheçam a orientação da Igreja, governada pelos bispos conforme a
determinação divina — são os bispos que devem nos guiar, como pastores do
rebanho divino, rumo ao céu, e que recebem o especial auxílio divino para
guardar íntegro o depósito da fé. Se não ouvimos os bispos, como ouviremos a
Palavra de Deus?
Mesmo que alguém
divirja do pensamento geral do episcopado brasileiro, expresso pela CNBB e
explicado pelas autoridades aqui citadas, peço gentilmente que mantenha o
respeito e procure, no silêncio do coração, compreender as razões de nossos
pastores. O papel dos bispos não é agradar os fiéis, mas guiá-los especialmente
nos momentos de maior tensão e dificuldade. O papel dos fiéis é serem dóceis ao
ensinamento daqueles que Deus ordenou para guiar a Igreja.
Dossiê: Igreja Católica firme pela democracia
Chama a atenção o
posicionamento firme da Igreja Católica e de seus bispos e organismos em favor
da democracia e contra o golpe cívico-jurídico-legislativo em curso no país.
Antes de continuar, sendo este um portal de notícias, cabe esclarecer os termos
utilizados: depor um governante por crime de responsabilidade e manter a
política escolhida nas urnas é impeachment, mas depor um governante, por
qualquer motivo, e mudar a política é golpe.
Conclamamos a todos que
zelem pela paz em suas atividades e em seus pronunciamentos. Cada pessoa é
convocada a buscar soluções para as dificuldades que enfrentamos. Somos
chamados ao diálogo para construir um país justo e fraterno.
No dia 17, a Caritas e
quatro pastorais nacionais lançaram manifesto em defesa da democracia – o que foi notícia até mesmo na Rádio Vaticano. Em vídeo sem data, o bispo de Crateús (CE), dom
Ailton Menegussi, explica didaticamente o significado dos acontecimentos
políticos, criticando os que tentam derrubar o atual governo – não se preocupam
com os pobres, mas com a tomada do poder que não conquistaram nas urnas. Ontem
(23), o bispo emérito de Jales, dom Luiz Demétrio Valentini, denuncia a tentativa de “deslegitimar o poder conferido pelas
eleições” e “banir de vez
[determinados atores e organizações partidárias] do cenário político nacional”.
Dom Luiz exorta:
Em vez deste
impeachment sem fundamento legal e sem justificativa, que nos unamos todos em
torno das providências urgentes para que o Brasil supere este momento de crise,
e reencontre o caminho da verdadeira justiça e da paz social.
Esse posicionamento
firme da Igreja, por parte especialmente de seus bispos – incumbidos de
governá-la, de apascentar o rebanho de Deus rumo ao aprisco celeste e de manter
íntegro o depósito da fé – vem recebendo críticas dos que são favoráveis à
deposição de Dilma Rousseff. Mas, como disse o servo de Deus dom Hélder
Câmara: “Claro que dirão,
Mariama, que é política, que é subversão. É Evangelho de Cristo, Mariama.”
Veja a íntegra dos
documentos:
1) Nota da CNBB sobre o momento atual do Brasil
“O fruto da justiça
é semeado na paz, para aqueles que promovem a paz” (Tg 3,18)
Nós, bispos do Conselho
Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil–CNBB, reunidos em
Brasília-DF, nos dias 8 a 10 de março de 2016, manifestamos preocupações diante
do grave momento pelo qual passa o país e, por isso, queremos dizer uma palavra
de discernimento. Como afirma o Papa Francisco, “ninguém pode exigir de nós que
releguemos a religião a uma intimidade secreta das pessoas, sem qualquer influência
na vida social e nacional, sem nos preocupar com a saúde das instituições da
sociedade civil, sem nos pronunciar sobre os acontecimentos que interessam aos
cidadãos” (EG, 183).
Vivemos uma profunda
crise política, econômica e institucional que tem como pano de fundo a ausência
de referenciais éticos e morais, pilares para a vida e organização de toda a
sociedade. A busca de respostas pede discernimento, com serenidade e
responsabilidade. Importante se faz reafirmar que qualquer solução que atenda à
lógica do mercado e aos interesses partidários antes que às necessidades do
povo, especialmente dos mais pobres, nega a ética e se desvia do caminho da
justiça.
A superação da crise
passa pela recusa sistemática de toda e qualquer corrupção, pelo incremento do
desenvolvimento sustentável e pelo diálogo que resulte num compromisso entre os
responsáveis pela administração dos poderes do Estado e a sociedade. É
inadmissível alimentar a crise econômica com a atual crise política. O
Congresso Nacional e os partidos políticos têm o dever ético de favorecer e
fortificar a governabilidade.
As suspeitas de
corrupção devem ser rigorosamente apuradas e julgadas pelas instâncias
competentes. Isso garante a transparência e retoma o clima de credibilidade
nacional. Reconhecemos a importância das investigações e seus desdobramentos.
Também as instituições formadoras de opinião da sociedade têm papel importante
na retomada do desenvolvimento, da justiça e da paz social.
O momento atual não é
de acirrar ânimos. A situação exige o exercício do diálogo à exaustão. As
manifestações populares são um direito democrático que deve ser assegurado a
todos pelo Estado. Devem ser pacíficas, com o respeito às pessoas e
instituições. É fundamental garantir o Estado democrático de direito.
Conclamamos a todos que
zelem pela paz em suas atividades e em seus pronunciamentos. Cada pessoa é
convocada a buscar soluções para as dificuldades que enfrentamos. Somos
chamados ao diálogo para construir um país justo e fraterno.
Inspirem-nos, nesta hora,
as palavras do Apóstolo Paulo: “trabalhai no vosso aperfeiçoamento,
encorajai-vos, tende o mesmo sentir e pensar, vivei em paz, e o Deus do amor e
da paz estará convosco” (2 Cor 13,11).
Nossa Senhora
Aparecida, padroeira do Brasil, continue intercedendo pela nossa nação!
Brasília, 10 de março
de 2016.
Dom Sergio da Rocha Dom Murilo S. R.
Krieger
Arcebispo de
Brasília-DF Arcebispo de S. Salvador da Bahia-BA
Presidente da CNBB
Vice-Presidente da CNBB
Dom Leonardo Ulrich Steiner
Bispo Auxiliar de Brasília-DF
Secretário-Geral da
CNBB
2) Carta Aberta em Defesa da Democracia
“Assim também vós: por
fora pareceis justos aos olhos dos homens, mas por dentro estais cheios de
hipocrisia e de iniquidade” (Mt 23,28)
Neste momento em que
vivenciamos a ameaça de golpe sobre a democracia brasileira, não podemos
permitir que as conquistas democráticas e que os direitos civis, políticos e
sociais sejam mais uma vez afrontados pela força da intolerância, do
conservadorismo e da violência, física e/ou institucional.
O golpe civil militar
de 1964 imprimiu na sociedade brasileira um quadro de pavor e sofrimento
àqueles que lutavam por direitos e liberdades e a todo o povo brasileiro.
Prisões arbitrárias, tortura e morte de lideranças populares, estudantes,
sindicalistas, intelectuais, artistas e religiosos davam a tônica do estado de
exceção que então se instalava.
Na nossa ainda jovem
democracia, estamos presenciando o mesmo discurso de embate à corrupção
propagado pelos meios de comunicação às vésperas do golpe de 1964. Mais uma vez
a sociedade brasileira corre o risco de vivenciar o mesmo cenário de horror e
pânico. As últimas ações de setores conservadores, incluindo os meios de
comunicação, repercutem nas ruas e geram um clima de instabilidade, violência e
medo.
Diante do risco de
aprofundamento dessa situação e da quebra da ordem constitucional e social, a
Cáritas Brasileira, a Comissão Pastoral da Terra – CPT, o Conselho Indigenista
Missionário – CIMI, o Conselho Pastoral dos Pescadores – CPP e o Serviço
Pastoral dos Migrantes – SPM vêm a público manifestar preocupações com a grave
crise. Queremos que todos os fatos sejam apurados e que seja garantida a
equidade de tratamento a todos os denunciados nas investigações em curso no
país, respeitando-se o ordenamento jurídico brasileiro.
Tememos que os direitos
constitucionais dos jovens, das mulheres, dos sem-teto, das comunidades
tradicionais, dos povos indígenas, dos quilombolas e dos camponeses,
especialmente aos seus territórios, sejam ainda mais violentamente negados.
Reafirmamos nosso
compromisso com o combate à corrupção, resguardando que esse processo não
represente retrocessos nas conquistas dos direitos historicamente conquistados
pelo povo brasileiro.
Brasília, 17 de março
de 2016
Cáritas Brasileira
Comissão Pastoral da Terra – CPT
Conselho Indigenistsa Missionário – CMI
Conselho Pastoral dos Pescadores – CPP
Serviço Pastoral dos Migrantes – SPM
Comissão Pastoral da Terra – CPT
Conselho Indigenistsa Missionário – CMI
Conselho Pastoral dos Pescadores – CPP
Serviço Pastoral dos Migrantes – SPM
3) Fala do bispo de Crateús, dom Ailton Menegussi
Sobre esse momento de
crise política do Brasil, podem todos saber que o episcopado brasileiro é
composto de quase 500 bispos. Vocês não vão pensar que 500 bispos pensem
igualzinho ao outro. Mas, como CNBB, duas coisas posso dizer a vocês.
É claro que nenhum
bispo concorda com corrupção, e nós apoiamos que as investigações sejam feitas,
queremos que as denúncias sejam apuradas e que, uma vez provadas, e não antes
de serem provadas — escutem bem isto: o que está acontecendo no Brasil é que já
estão tratando de “criminosos” antes de se provar as coisas —, uma vez
provadas, que se punam os culpados.
Agora, os culpados não são desse partido ou
daquele só não, não sejamos bobos: tem corrupto em tudo que é partido, e a
corrupção não foi inventada de quinze anos pra cá. Não sejamos inocentes. O que
está acontecendo é que agora se está permitindo que as coisas apareçam. Isso é
bom, não é ruim. Esse é o primeiro pensamento da CNBB.
Segundo, nós não
aceitamos que partido político nenhum aproveite essa crise para dar golpe no
país. Não é hora de virar: “vamos aproveitar agora para tirar essa turma do
poder, porque nós queremos voltar”. Nós não estamos interessados de trocar
governo, simplesmente: nós queremos que o país seja respeitado. Que os cidadãos
brasileiros sejam respeitados, é isto que quer a CNBB. Nós não vamos
simplesmente apoiar troca de governos, de pessoas interesseiras, que estão
apenas querendo se apossar, porque são carreiristas. Não vamos acreditar que —
muito desse barulho aí — estejam preocupados conosco, não. Tem muita gente lá
posando de santinho, mas que nunca pensou em pobre e não pensa em pobre. Tão
fazendo discurso bonito porque querem o poder. E com isso a CNBB não concorda.
4) Democracia posta à prova
Dom Luiz Demétrio Valentini
Bispo Emérito de Jales
Bispo Emérito de Jales
(Ver o texto de abertura desta postagem)
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