30 setembro 2013, ODiário.info
http://www.odiario.info (Portugal)
As eleições autárquicas realizadas
em Portugal ontem 29 de Setembro de 2013 testemunham algumas tendências significativas
na correlação entre forças político-partidárias e confirmam o acelerado
isolamento dos partidos do governo.
O partido que desde há dois anos e
meio lidera o governo – Partido Social Democrata (PSD/PPD) - sofreu acentuada
quebra de votação, (23,0 → 16,7%), de número de mandatos e de presidências de
câmaras municipais. O seu parceiro de governo – Partido Popular (CDS/PP) –
manteve uma diminuta votação (3%) e expressão no governo local do país. Longe
de compensar a queda do PSD, multiplicaram-se e cresceu ligeiramente o peso de
arranjos eleitorais deste com o CDS e outros pequenos partidos sem real
implantação nacional (14,5 → 15,2 %).
O Partido Socialista (PS), ainda
que tenha tentado apresentar-se com “alternativa” e “oposição” às políticas do
governo, não aumentou nem a sua votação nacional (37,6 → 36,3%) nem o número de
mandatos,
embora, beneficiando do grande recuo do PSD, tenha ganho a maioria de
presidências de câmaras municipais do país.
O quadro eleitoral completa-se com
o incremento da votação em listas ditas “independentes” (4,1 → 6,9%) e de
número de eleitos por estas, incluindo a conquista da segunda maior autarquia
do país – Porto. Este maior número de candidaturas “independentes” provém de e
reflecte sobretudo dissensões no seio quer do PSD quer do PS, igualmente
abalados pelo descontentamento popular face ao curso antissocial da política
nacional em que ambos têm pesadas responsabilidades. A abstenção subiu
significativamente (41 → 47%).
O Bloco de Esquerda (BE) sofreu
ligeira quebra de eleitorado e do diminuto número de mandatos e perdeu a única
presidência que detinha.
A coligação CDU (Partido Comunista/ Partido Ecologista Os Verdes) foi a única força política a aumentar a votação (9,8 → 11,1%). Aumentou o número de mandatos e de presidências de câmara. Num quadro de bipolarização mediática e em que o PS tentou demarcar-se das políticas do governo, a CDU ganhou ao PS importantes municípios, incluindo duas capitais de distrito (Évora e Beja).
A campanha foi muito influenciada pela
situação política geral do país, sufocado pelo saque conduzido sob a égide do
“memorando” da troika, assinado pelo PS há dois anos e meio e posto em execução
pelo governo PSD/CDS. Assim se entende tanto o grande recuo do PSD como o facto
de o PS não ter aumentado a sua votação, e a perda por parte deste de
importantes autarquias para a CDU.
A nível regional, são de destacar
as pesadas perdas do PSD para o PS no Norte e Centro do Continente e na Madeira
– Porto Santo. E do PS para a CDU a Sul.
Deve ser registada a intervenção do
Presidente da Republica na véspera do ato eleitoral invocando, inoportuna e
descabidamente, a desatualização do quadro legislativo eleitoral, forma que
encontrou para, antecipando o descalabro dos resultados do PSD, principal
suporte do atual governo, procurar apagar o real significado e alcance do ato
eleitoral, e branquear a responsabilidade do governo e do próprio PR na
persistência e no agravamento da crise a que o povo português tem vindo a ser
sujeito pelo capital financeiro.
Estas eleições têm uma importante
leitura local que não deve ser subestimada. Mas têm um significado nacional que
não pode ser ocultado: o da condenação do actual governo e da sua política, e
do crescimento do apoio e da confiança nas forças que mais consequentemente se
lhes têm oposto. A batalha eleitoral das eleições autárquicas deu um forte
contributo para a luta de massas que, nas empresas e nas ruas, prosseguirá até
à derrota dos que vêm conduzindo o país ao desastre.
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