21 Outubro 2013, Jornal
de Angola EDITORIAL
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O termo lusofonia nunca foi do agrado dos
angolanos porque faz lembrar a “francofonia”, um instrumento fundamental para
perpetuar os interesses de França nas suas antigas colónias. Mas não havendo
melhor, foi aceite como plataforma de suporte à Comunidade dos Países de Língua
Portuguesa, um bloco muito importante que permitiu congregar afectos, boas
vontades e políticas capazes de cimentar os laços entre todos os que falam a
língua de Agostinho Neto, José Craveirinha, Eugénio Tavares, Alda do Espírito
Santo ou Camões.
A CPLP foi fundada há 17 anos, altura em que Angola estava em guerra, mas
foi fruto da vontade dos Governos dos povos que falam a Língua Portuguesa. Os
avanços têm sido muitos e Angola está na primeira linha dos esforços para
consolidar a organização.
O secretário executivo da CPLP, Murade Murargy, está em Luanda e a primeira coisa que disse no aeroporto foi que conta com Angola “como suporte fundamental” na consolidação da organização. Brasil, Moçambique, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau e Timor-Leste compreendem esta realidade e agem em conformidade. Só Portugal diverge perigosamente. E não venham desculpar-se com a situação de protectorado, porque já antes a sua cúpula tinha um comportamento que em muitos casos se assemelhava a relações pouco ou nada amistosas.
Em Angola, o Ministério Público informou que está a investigar vários casos de corrupção e lavagem de dinheiro que envolvem cidadãos portugueses. Nunca os Procuradores responsáveis por esses processos deram aos jornalistas angolanos informações que lhes permitissem fazer manchetes, assassinando na praça pública cidadãos que gozam da presunção de inocência e só podem ser julgados nos Tribunais. Não somos melhores que ninguém. Mas também não somos os piores do mundo, como dizem dirariamnete elites portuguesas ignorantes e corruptas.
Na democracia portuguesa, o antigo Primeiro-Ministro José Sócrates viu o seu nome referido na comunicação social como corrupto, a propósito do licenciamento da Freeport em Alcochete. O Ministério Público, durante sete anos, andou a julgá-lo na praça pública, com manchetes e notícias falsas. Depois o processo foi arquivado sem que alguma vez tivesse sido acusado nem constituído arguido. O mesmo Ministério Público quer fazer o mesmo a cidadãos angolanos e todos os titulares dos órgãos de soberania de Portugal consentem isso. Usando os impérios mediáticos que sobreviveram aos diamantes de sangue de Jonas Savimbi, os Procuradores vão julgando honrados cidadãos angolanos na praça pública e os comentadores dizem que querem vingança com um “Angolagate à Portuguesa”. A democracia deles não respeita o direito à inviolabilidade pessoal. E assim, de nada serve a separação de poderes. O “Angolagate” em França foi um autêntico fiasco, como se viu.
Esta situação configura uma agressão intolerável. A cúpula em Portugal, Presidência da República, Assembleia da República, Governo, Tribunais, tem pesadas responsabilidades no actual clima de agressão a Angola, que recrudesceu nas últimas semanas e atingiu níveis inaceitáveis.
Enquanto persistir a onda de deslealdade e agressão que vem de Lisboa não são aconselháveis cimeiras. E é um rotundo erro desvalorizar a posição tomada pelo nosso Chefe de Estado. Com isso, estão a enganar as pessoas. Dizem cinicamente que já está tudo bem, enquanto ao mesmo tempo o Ministério Público faz mais manchetes nos jornais e são violados os entendimentos feitos com Angola. Portugal já não está nas grandes obras públicas no nosso país. Não está no petróleo. Não está na transferência de tecnologias. Aí estão a China e o Brasil. Portugal parece estar apenas reduzido à chantagem e à falta de respeito. Está tudo mal e a CPLP é altamente prejudicada com isso. Assim, estão a dizer adeus à lusofonia.
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