23 outubro 2013, Jornal Notícias
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(Moçambique)
Não conseguindo prosseguir livre e
publicamente os objectivos para os quais se constituiu, nomeadamente concorrer
a eleições dentro das condições fixadas na Lei Eleitoral e definir os seus
projectos de governação, entre outros, a Renamo decidiu enveredar pela
violência armada, atacando posições das Forças Armadas de Defesa de Moçambique
(FADM) e outros objectivos militares e civis, o que encontrou, segunda-feira
última, uma resposta à altura que culminou com a tomada da sua base central em
Santungira, na província de Sofala, onde se encontrava a residir o respectivo
líder, Afonso Dhlakama.
Esta acção está a provocar,
naturalmente, reacções de vários sectores da sociedade que aconselham à
necessidade de tudo ser feito para a defesa da paz, da soberania e da
integridade territorial, condição “sine qua non” para o prosseguimento da luta
pelo bem-estar político, económico e social de todos os moçambicanos.
Expurgar o mal -- afirma
Edmundo Galiza Matos Júnior
Falando na qualidade de porta-voz
da bancada da Frelimo na Assembleia da República, o deputado Edmundo Galiza
Matos Júnior considerou que a posição assumida pelo comando conjunto das Forças
Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) e Força de Intervenção Rápida (FIR) é
oportuna, pois concorre para a reposição da ordem e tranquilidade ora posta em
causa por homens armados da Renamo.
Disse, porém, que o desejo da sua
bancada era ver a solução do problema entre o Governo e a Renamo resolvida em
sede de diálogo, nomeadamente através dos encontros que decorrem semanalmente
no Centro Internacional de Conferencias Joaquim Chissano e prosseguindo a nível
de outras instituições, como é o caso da Assembleia da República.
O porta-voz lembrou que,
discursando semana finda na abertura da VIII sessão ordinária da Assembleia da
República, a chefe da bancada da Frelimo, Margarida Talapa, referiu que, fiel
aos seus princípios e busca de construção de consensos, o seu partido fez de
tudo para que o pacote eleitoral, um dos principais pomos da discórdia, fosse
aprovado por consenso. Todavia, a Renamo empenhou-se num exercício de obstrução
dos debates e de arrastamento da decisão sobre esta matéria, mudando de
posicionamento. Abandonou os debates em sede da Assembleia da República
decidindo ir à busca de um alegado acordo político com o Governo.
Ainda segundo Galiza Matos Júnior,
a bancada maioritária convidou o maior partido da oposição a não recear e a
depositar o seu projecto de revisão da legislação eleitoral na Assembleia da
República, garantindo, porém, que tal será considerado prioridade de debate nas
comissões de especialidade, não sendo consideradas com validade as proposições
que forem motivadas pela lógica da força.
Afirmou que, apesar da situação
prevalecente em Santungira, o diálogo e o bom-senso devem prevalecer e que a
paz não deve ser nem tão-pouco minada.
Na sua intervenção, o porta-voz da
bancada da Frelimo indicou que, no exercício dos seus direitos democráticos, o
líder da Renamo já devia ter abandonado as matas, fixando-se na capital do país
onde, aliás, existe a sede do seu partido, a sede do Governo, as instituições
de justiça, o Corpo Diplomático, entre vários outros órgãos.
A partir da cidade de Maputo,
segundo o porta-voz, o líder da Renamo poderia abordar com as autoridades
governamentais a questão da desmilitarização do seu partido e apresentaria as
suas inquietações relacionados com o pacote eleitoral para debate em sede
própria.
O interlocutor apelou à Renamo para
que cesse imediata e incondicionalmente os ataques armados contra alvos
militares e civis, pois deles resulta a morte de cidadãos e a destruição de
infra-estruturas económicas e sociais, fazendo regredir o processo de
desenvolvimento do país. Indicou que a população precisa de se movimentar de um
lugar para o outro e que as crianças precisam de ir à escola, o que não podem
fazer facilmente temendo eventuais ataques protagonizados por homens armados da
Renamo.
Dhlakama deve
entregar-se --- Vitorino Lino Mazuze
O Comando conjunto das Forças
Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) e Força de Intervenção Rápida (FIR)
cumpriu o seu mandato constitucional, tomando o “santuário” da Renamo, em
Santungira, local a partir do qual eram desenhadas as estratégias de ataques a
posições militares e civis na zona centro do país, segundo defendeu Vitorino Mazuze,
gestor e promotor de espectáculos.
A fonte aconselhou Dhlakama a
abandonar o seu esconderijo e entregar-se às autoridades de modo a que a
normalidade constitucional seja restabelecida no país, através da eliminação de
exércitos paralelos.
“Se ele tem algum receio em
entregar-se às autoridades, pode fazê-lo através dos líderes religiosos que
desde sempre estiveram empenhados no processo de busca e preservação da paz
para o nosso país. O Governo decerto que acolherá Dhlakama como um cidadão
nacional que no passado já deu mostras de estar comprometido com a pacificação
nacional”.
Vitorino Mazuze lembrou à Renamo
que Moçambique é um Estado de Direito, baseado no pluralismo de expressão, na
organização política democrática, no respeito e garantia dos direitos e
liberdades do Homem, sem que tal signifique um Estado anárquico.
“É assim que, prosseguindo uma
política de paz, as nossas FADM, percursoras das gloriosas Forças Populares de
Libertação de Moçambique, foram obrigadas a recorrer à força, em legítima defesa
contra as incursões dos homens armados da Renamo. O país inteiro, à excepção da
Renamo, defende a primazia da solução negociada de conflitos”, disse Vitorino
Mazuze, acrescentando que o território nacional é uno, indivisível e
inalienável, abrange toda a superfície terrestre, a zona marítima e o espaço
aéreo delimitados pelas fronteiras, não podendo a Renamo possuir suas zonas
exclusivas, como pretendia ao ocupar e instalar o seu bastião em Santungira.
Para Mazuze, todo o cidadão,
incluindo o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, tem o dever de respeitar as leis
existentes em Moçambique, pois os actos contrários são sujeitos a sanções, tal
como aconteceu com Dhlakama e os seus correligionários na passada
segunda-feira.
Vitorino Mazuze rejeitou a ideia de
que a tomada de Santungira pelas FADM e FIR seja uma declaração de guerra. Pelo
contrário, segundo o gestor e promotor de espectáculos, as Forças de Defesa e
Segurança tomaram Santungira para a garantia da lei, salvaguarda da segurança
de pessoas e bens e ainda em busca da tranquilidade pública, respeito pelo
Estado Democrático e observância estrita dos direitos e liberdades fundamentais
dos cidadãos.
“Ao tomarem o “santuário” da
Renamo, as nossas Forças de Defesa e Segurança pretendem defender a independência
nacional, preservar a soberania e a integridade territorial do país, e
pretendem ainda garantir o funcionamento normal das instituições e a segurança
dos cidadãos contra a agressão armada protagonizada por este partido”, disse
Vitorino Mazuze, aconselhando a Renamo e o seu líder a respeitarem as leis
vigentes e a contribuírem para a consolidação da paz, da unidade nacional e
desenvolvimento do país.
Manter a paz --- Salomão Muchanga
A organização cívica Parlamento
Juvenil (PJ) manifestou-se preocupada com o actual cenário político
caracterizado, segundo sublinha, pela decadência de valores democráticos,
degradação do diálogo político e social, o que limita a capacidade de
reconciliação e resgate do prestígio de Moçambique como exemplo internacional de
paz.
No seu comunicado distribuído ontem
à Imprensa, Muchanga indica que, como consequência, Moçambique vive uma paz sem
confiança, precária e armada, e defende a urgência de um encontro entre o
Presidente da República, Armando Guebuza, e o líder da Renamo, Afonso Dhlakama,
para a superação das diferenças, sejam elas de índole político, económico,
social ou cultural.
“A nossa organização
associa-se aos esforços de manter a paz no país e continuará a encorajar o
diálogo entre as partes para a superação das diferenças. Defendemos uma geração
de jovens que querem a paz, alicerçada no respeito pelos direitos civis e
políticos, na garantia da segurança e oportunidades económicas”, referiu.
Paz não está em perigo
--- Alexandre Chivale
A tomada de Santungira pelas Forças
de Defesa e Segurança não tem como perigar a paz no país, da mesma maneira que
os ataques protagonizados por homens armados da Renamo contra alvos civis e
militares em nenhum momento perigaram a paz – disse o advogado Alexandre
Chivale, instado pelo “Notícias” a comentar os últimos acontecimentos políticos
na região centro do país.
De acordo com o advogado Chivale,
Santungira é parte integrante do território nacional e, como tal, não deve
constituir surpresa para ninguém que este lugar tenha sido tomado, pois é parte
do indivisível país.
Alexandre Chivale lembrou que a
tomada de Santungira decorre numa altura em que o Presidente da República,
Armando Guebuza, efectua uma visita de trabalho à província de Sofala, no
quadro da Presidência Aberta e Inclusiva, o que é revelador de que o país vive
uma estabilidade do ponto de vista político-militar.
Acrescentou que a acção das Forças
de Defesa e Segurança não deve ser vista como surpresa, pois elas cumpriram a
sua missão de defender a pátria, a soberania e a integridade territorial.
Para o interlocutor, uma acção
contrária das FADM é que deveria ser vista como surpresa, porque seria permitir
a existência de um Exército paralelo, contrariando a Constituição e demais
legislação.
“A paciência das FADM chegou ao
limite, e testaram a sua prontidão combativa perseguindo os que pretendiam pôr
em causa a ordem e tranquilidade públicas”, disse o advogado, acrescentando que
a acção das FADM já havia sido anunciada na sequência dos ataques levados a
cabo por guerrilheiros da Renamo contra as suas posições.
Chivale lembrou que certas
hierarquias militares disseram, e com razão, que não permitiriam novos ataques
contra as suas posições militares e que, se isso acontecesse, as FADM
perseguiriam os autores dos ataques até aos locais de esconderijo.
“O assalto a Santungira é resultado
da advertência feita por essas hierarquias militares”, disse, acrescentando que
agora e mais do que nunca a população residente em Santungira se sente mais
aliviada porque está protegida por forças com legitimidade de se manterem
armadas.
Daqui para a frente, segundo
Alexandre Chivale, cabe à própria Renamo definir o seu futuro. Todavia, Chivale
entende que a Renamo continuará na Assembleia da República onde ocupa a segunda
maior bancada.
“…e não tem outra alternativa senão
se conformar com o quadro jurídico-legal vigente no país”, afirmou.
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