As Forças de Defesa e Segurança
moçambicanas tomaram ontem o controlo total do antigo quartel-general da
Renamo, no distrito de Marínguè, em Sofala.
A acção, segundo escreve o matutino
Notícias na sua edição desta quarta-feira, foi descrita por alguns dos seus
protagonistas como tendo decorrido sem derramamento de sangue e levada a cabo
por militares de diferentes especialidades e agentes especiais das autoridades
policiais.
A ocupação daquele que era tido
como o principal bastião da Renamo, desde o início da guerra dos 16 anos, de
acordo ainda com o Notícias, foi feita em apenas cinco horas. O avanço das
forças conjuntas em direcção ao local iniciou-se cerca das 13 horas da
segunda-feira, terminando por volta das 17 do mesmo dia, tendo a clarificação
da área sido concluída na tarde de ontem.
Aquela fonte refere ainda que, após
a ocupação efectiva do local, testemunhou vestígios de presença recente das
forças da Renamo e a sua saída apressada.
“Os indícios de uma recente presença
de homens deixados na base, dão a entender que os guerrilheiros da Renamo que
acabavam de abandonar o local sem, no entanto, poderem levar consigo os seus
haveres, entre os quais vários documentos da vida do antigo movimento armado.
Um outro elemento indicador de que os homens da Renamo acabavam de se retirar
estão relacionados com a presença de restos de amuletos e algumas bebidas
tradicionais, ainda frescas, tudo apontando que estariam ali envolvidos
momentos antes em cerimónias tradicionais, vulgo “ku phahla”, escreve o maior
diário moçambicano.
Um dos documentos deixados no
terreno é um dos passaportes que era usado pelo Líder da Renamo, Afonso
Dhlakama, durante a guerra dos 16 anos. No referido passaporte, Dhlakama
fazia-se passar por um empresário de nacionalidade queniana com nome de Alfonsi
Muanacato Barão. Com o documento terá viajado para alguns países do mundo,
nomeadamente africanos, europeus, americanos e asiáticos, como, por exemplo, a
África do Sul, Quénia, Suécia, Itália, França e Estados Unidos da América.
Na sua fuga, os guerrilheiros da
Renamo também abandonaram igualmente na base algumas quantidades de munições,
carregadores de metralhadoras e uma arma pesada já em avançado estado de
obsolescência, fazendo presumir que não tenha sido usada há mais de 20 anos.
Alguns militares das forças
governamentais ouvidos pelo Notícias pouco depois da tomada da base disseram
que nesta operação tudo foi feito para que se evitasse que em nenhum dos lados
houvesse baixas.
“Essa atitude deriva do facto de
não estarmos em guerra, mas sim de uma acção de reposição da Constituição e da
ordem pública que estava a ser violada”, comentou um dos oficiais.
Entretanto, a vila-sede de Marínguè
estava deserta durante todo o dia de ontem. Alguns moradores e funcionários
públicos não escondiam o seu ar de apreensão, temendo que fossem atingidos
pelas balas devido aos confrontos entre as forças de defesa e os guerrilheiros
da Renamo que na ocasião seguiram em diversas direcções, supostamente em busca
de lugares mais seguros na região de Marínguè.
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Moçambique/Estranho que não se condene ataques da Renamo – Edson Macuácuá
O Porta-voz do Presidente da
República, Edson Macuácua, disse hoje a jornalistas, na cidade da Beira, ser
estranho e preocupante que quando acontecem ataques da Renamo contra todo o
tipo de alvos, incluindo contra crianças, alguns membros da sociedade civil
‘fiquem em silêncio”.
Segundo Macuácua, é igualmente
estranho que quando as forças de defesa e segurança reagem a estes ataques
apareçam “discursos inflamatórios de condenação”.
De acordo com Macuácua, as forças
de defesa e segurança tem legitimidade para defender a soberania e a todos os
cidadãos moçambicanos sempre que forem atacados.
“Qual é a agenda desses
organismos?”, questionou o porta-voz, admitindo a possibilidade de tais
correntes ‘defenderem interesses inconfessáveis”.
Mesmo assim, Macuácua garantiu que,
face a esta escalada de ataques, as forças de defesa e segurança continuarão
com “a sua nobre missão, respondendo com a melhor e mais eficaz” actuação.
Quanto as vozes que advogam ser
inconstitucional a intervenção do exército contra as acções da Renamo, no lugar
de ser a polícia, Macuácua clarificou que esta intervenção tem amparo e
cobertura constitucional.
“O contrário seria uma
inconstitucionalidade”, disse ele, acrescentando que o exército está a cumprir
com o consagrado nos artigos 265 e 266 da Constituição da Republica.
Macuácua garantiu que apesar destes
ataques, o estadista moçambicano continua aberto ao diálogo e reitera o seu
convite ao dirigente da Renamo, ora em parte incerta, para abandonar os ataques
e a dialogar com o governo legalmente instituído. “A única solução de qualquer
diferença é o diálogo”, afirmou Macuácua.
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