Por Jorge Heitor
1 Agosto 2009
A forma como o pregador fundamentalista islâmico Mohammed Yusuf foi morto esta última semana no Norte da Nigéria fez-me lembrar certas execuções de elementos rebeldes por vezes executados, sem se aguardar que sejam julgados e eventualmente condenados.
Esta aparente execução de um muçulmano pela polícia nigeriana recordou-me a eventual execução do timorense Alfredo Alves Reinado na manhã de 11 de Fevereiro de 2008, na residência do Presidente José Ramos-Horta, no Boulevard John Kennedy, em Díli.
Naquele dia Reinado e alguns dos seus homens chegaram à residência presidencial pouco depois das 06h00 da manhã, tinha Ramos-Horta partido há pouco para uma caminhada, acompanhado por dois guardas.
Nove dos 13 guardas que tinham ficado lá em casa quando o Presidente saiu para o passeio acabaram por abandonar o local durante a permanência de Reinado e dos seus homens, só por volta das 06h50 se tendo começado a ouvir tiros na zona, à aproximação de um jipe militar.
Mais ou menos por essa altura Ramos-Horta passava por um bar, de regresso a casa. Recebeu um telefonema de uma sua irmã a dar-lhe conta de que tivera conhecimento de que se tinham ouvido tiros na residência. Ele respondeu-lhe que já sabia disso e que ia averiguar.
Pelas 07h04 o conselheiro presidencial Paulo dos Remédios telefonou ao Presidente e este contou-lhe que fora atingido a tiro e que necessitava de auxílio. É isso que se lê num relatório da Missão Integrada das Nações Unidas em Timor-Leste (UNMIT), relatório de que uma pessoa que tem acompanhado toda esta questão me facultou há pouco uma cópia.
No entanto, nem Paulo dos Remédios nem Arsénio Horta, irmão do Presidente que lá estava em casa, se apressaram a chamar a polícia ou uma ambulância para o Presidente. Outra pessoa, não identificada, é que teria chamado a ambulância.
Estes são apenas alguns dos pormenores de tudo o que se passou na área da residência presidencial por volta das 06h50/06h59 do dia 11 de Fevereiro de 2008.
Às 07h23 a GNR começava a prestar os primeiros socorros a José Ramos-Horta: Às 08h00 viria a encontrar os corpos de Alfredo Reinado e do seu companheiro de armas Leopoldino Exposto, que teriam sido mortos alguns minutos antes de se saber que o Presidente fora gravemente alvejado a tiro. Possivelmente por um dos homens de Reinado que fugia do local, depois de ter visto que haviam disparado sobre o seu chefe.
O relatório confidencial da ONU, de 58 páginas, fornece montes de testemunhos, por vezes algo contraditórios, com discrepância de horas, ou de minutos, sobre tudo o que teria acontecido na cidade de Díli pelas 06h47/07h00 do dia 11 de Fevereiro do ano passado. Mas a verdade é que nesse período de cerca de um quarto de hora Alfredo Alves Reinado morreu e José Ramos-Horta correu risco de vida.
O andar da História talvez nos esclareça se o major rebelde foi de facto executado e se haveria até mesmo alguém que não se importasse de ver Ramos-Horta morto, tentando atribuir as culpas a Reinado. (O Máximo)
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