Lisboa, 17 agosto 2009 (Lusa) - Uma equipe de pesquisadores do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC) descobriu que um remédio com efeitos idênticos aos de uma enzima natural protege contra formas graves da malária sem favorecer o aparecimento de estirpes resistentes do parasita.
A descoberta, descrita num estudo publicado nesta segunda-feira pela revista norte-americana Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), teria implicações diretas no tratamento desta doença causada pelo Plasmodium e que é uma das principais causas de mortalidade a nível mundial.
Miguel Soares e a sua equipe do Laboratório de Inflamação do IGC já tinham observado anteriormente que a multiplicação do parasita dentro dos glóbulos vermelhos leva à sua ruptura e à libertação de hemoglobina no sangue, onde por sua vez liberta os chamados grupos heme, causadores dos sintomas graves da doença.
No estudo agora publicado, os cientistas mostram que ratos infectados com o parasita produzem níveis elevados da enzima heme-oxigenase-1 (HO-1), que degrada os grupos heme livres e, deste modo, protege ratos infectados das formas mais graves de malária.
O mesmo efeito desta enzima pode ser obtido através da administração a ratos infectados do fármaco anti-oxidante N-acetilcisteína (NAC).
O efeito anti-oxidativo da enzima HO-1 faz parte do sistema de defesa natural do hospedeiro contra o parasita da malária, pelo que lhe confere uma forte proteção contra a doença, sem, surpreendentemente, interferir diretamente com o parasita, segundo Miguel Soares.
Na sua perspectiva, "esta observação abre caminho a terapias alternativas contra a malária, que, ao contrário dos tratamentos existentes, não interfiram diretamente com o parasita mas antes reforcem o estado de saúde do hospedeiro, assegurando que seja capaz de eliminar o parasita sem pôr em risco a sua própria sobrevivência".
Outro dado importante é que o remédio poderia proteger contra formas graves da malária, salvando vidas, sem favorecer o aparecimento de estirpes de parasitas resistentes, salienta o pesquisador, num comunicado do IGC.
O seu Laboratório de Inflamação está agora investigando as implicações desta descoberta nos tratamentos de outras doenças inflamatórias.
O estudo - iniciado no contexto de um projecto transversal sobre malária da Fundação Calouste Gulbenkian - contou com o apoio financeiro da Fundação para a Ciência e a Tecnologia, do projeto Xenome do 6º Programa Quadro (FP6) da Comissão Europeia e do fundo Gemi Fund (Linde Healthcare).
Miguel Soares, 41 anos, é doutorado em Biologia Celular pela Universidade de Lovaina (Bélgica) e pesquisador principal no IGC e no Laboratório Associado de Oeiras.
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